Na intenção de defender a bandeira da manutenção do status quo no financiamento de campanhas políticas, pelo qual o dinheiro de empresas privadas jorra em benefício dos partidos políticos e seus principais chefes, Veja lembrou que o escândalo do chamado mensalão é "prova candente" de que o dinheiro não contabilizado advindo de fontes privadas mantidas em sigilo foi o combustível do esquema. Essa foi, exatamente, a tese de defesa dos réus. Durante o curso do julgamento, porém, Veja não admitiu nenhuma vez sequer que não havia dinheiro público nas operações.
A mudança de lado da revista se dá em razão de outra campanha, com um tanto de atraso, que Veja inicia. Quando o STF já marca em seu placar 4 votos a favor contra zero na votação da Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada pela OAB, pelo fim do financiamento privado de campanhas eleitorais, a revista sai a campo em defesa do dinheiro privado nas eleições. Só isso, segundo a publicação dos Civita, evitaria a multiplicação da corrupção nos poderes públicos. Veja não registra, porém, que é exatamente em razão do modelo atual, com o sistema de doações privadas aos borbotões, que chegou-se a este ponto de a corrupção atingir patamares mais que alarmantes.
Abaixo, o post de hoje feito pela equipe do blog Zé Dirceu :
Editorial da Veja admite caixa dois no "mensalão"
Após passar os últimos oito anos pregando que o chamado escândalo do mensalão foi um esquema de compra de parlamentares no Congresso com dinheiro público, a revista Veja admitiu finalmente que o esquema se referia, na verdade, ao caixa dois.
A admissão está no editorial da mais recente edição da revista, a seção chamada Carta ao Leitor.
Os réus sempre disseram que nunca houve compra de venda de votos na Câmara – e, sim, o caixa dois. A Veja sempre atacou essa versão.
Mas, em seu editorial defendo as doações de empresas para as campanhas eleitorais, a revista é explícita ao concordar com a defesa dos réus: "A reportagem de Veja mostra que a prioridade mais óbvia nesse campo em que a iniciativa privada se encontra com as eleições é a repressão intensa às doações ilegais, pois elas, sim, estão na origem dos grandes escândalos de corrupção. É o dinheiro do caixa dois que azeita as engrenagens mais perversas da corrupção. Está aí o escândalo do mensalão como prova candente desse fato".
Ou seja, a revista admite que o dinheiro envolvido no mensalão tem origem em caixa dois. Durante o julgamento, Veja endossou a tese que condenou os réus, acusados de desviar dinheiro público para financiar o mensalão. Mas, agora, na hora de defender as doações privadas, a verdade sobre o caixa dois vem à tona na Veja.
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