OS DIFERENTES VIPs BRASILEIROS
Recife (PE) - O repórter Paulo Sampaio, na coluna de Mônica Bergamo, chama atenção para os diferentes VIPs de São Paulo e do Rio de Janeiro. O repórter fez suas observações no show de Caetano Veloso e Roberto Carlos, em homenagem a Tom Jobim, nas duas cidades. No Rio, o VIP é ator da TV Globo. Em São Paulo, VIPs são banqueiros e industriais. É para eles que se põem cadeiras de última hora, em frente à platéia, que pagou caro, e somente pelo preço pago também se julga, vá lá, meio VIP.
Há diferenças entre eles, no comportamento e roupas. As atrizes – na falta de melhor termo – das telenovelas usam vestidos florais com alcinhas, mais tamancão. E, é claro, com eventual ausência de peças mais íntimas, porque nesse mundo aparece mais quem se veste menos. As mulheres de São Paulo, queremos dizer, as dignas senhôras esposas, namoradas ou “amigas” dos grandes empresários, expõem suas grifes. Comparadas na Daslu. O fino do fino.
Os atores e atrizes – na falta de melhor definição – da TV Globo, os astros, enfim, chegam cheios de declarações, sob as luzes e flashes, que não lhes faltam. Vêm para o show porque o Caetano é maravilhoso, o Roberto é maravilhoso, o Tom é maravilhoso, e o encontro dos três só pode ser, adivinhem, maravilhoso. Tudo é divino.
Em São Paulo os milionários não querem aparecer. Fogem dos fotógrafos e, pela recepção, acham que todo repórter é um seqüestrador. De suas ilibadas reputações, talvez. Abílio Diniz - lembram-se dele, em um seqüestro real? - não declara que todos são maravilhosos. Ele e seus iguais vêm por causa do Roberto Carlos, o Rei. E justificam a sua opção estética: “Roberto é do meu tempo”. Então tá. Fico a pensar como seria esse show de Caetano e Roberto em Olinda ou no Recife. Fico a imaginar a natureza da elite pernambucana que apareceria. A julgar pelas colunas sociais, os nossos VIPs são empresários do comércio, coronéis políticos, novos-ricos e furões locais da Rede Globo.
Os empresários compareceriam todos com suas dignas esposas e dignamente vestidos, porque a um show tão elevado somente se pode ir como quem vai a uma solenidade. Os políticos, se estivessem solteiros, iriam com o gênero de companhia que chamamos de “namorada para a notícia”, aquela morena que as colunas descrevem como estonteante, que aparece nos flashes e logo some. Os novos-ricos com suas roupas e acessórios comprados nos Estados Unidos, a terra da moda, como se sabe. Os furões locais, com a felicidade de aparecer em rede nacional, exibiriam o ar de quem está entre os mortais, mas só de passagem.
A julgar pelo último show de João Gilberto no Recife, estariam de corpo presente e o pensamento longe, bem longe, magnificamente longe, em cochilos acintosos. Alguns até com sonoros roncos, que fizeram o extraordinário João reclamar de ruídos. E aqui e ali um celular tocaria, porque celular também dá samba. Na saída, iriam declarar que estavam ali em razão da bela música de Tom. Tão bem interpretada por Roberto e Caetano, é claro. Mas na balada e night a seguir, explodiriam: “Que saco! Nunca mais vou a um show de Roberto que não tenha música do Rei”.
Para Scott Fitzgerald, os ricos eram diferentes. Para Hemingway, os ricos apenas tinham mais dinheiro. Acredito que a realidade da elite no Brasil é uma mistura de Fitzgerald e de Hemingway, com um acréscimo de farsa. Os nosso VIPs nem sempre são ricos. Mas todos têm esse primor de consumo artístico. Diferem de uma cidade para outra como uma praga traduzida.
Uraniano Mota
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