"Não dá para virar a face, depois de uma bofetada, para levar outra”, diz vice de Alckmin
Mauricio Stycer
ImprimirEnviarCorrigirFale ConoscoSe, no esporte, parece não valer nada, ser vice, em política, é posição disputadíssima. A história republicana brasileira está repleta de casos em que o vice, escolhido para atrair um partido menor a uma coalizão, acabou tendo papel fundamental no processo político. No caso mais recente, Gilberto Kassab (DEM), vice de José Serra (PSDB) na eleição municipal de 2004, tornou-se prefeito da maior cidade do país desde que o titular se afastou para disputar o governo do Estado, dois anos depois.
Não é possível entender a eleição municipal em São Paulo, em 2008, sem levar em conta as conseqüências da ascensão do então pouco conhecido Kassab, em 2006. Esse é um dos motivos, ao lado da oportunidade de mostrar quem são essas figuras aparentemente coadjuvantes, que leva o iG a dar início hoje à publicação de uma série de reportagens com os principais candidatos a vice-prefeito de São Paulo.
Antônio Carlos Campos Machado, candidato a vice-prefeito na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), tudo indica, terá um papel de destaque nesta campanha. Parece caber a ele a missão de tornar público o constrangimento que Alckmin está enfrentando – ainda em silêncio – devido ao apoio dado por vereadores e militantes tucanos à candidatura Kassab.
"A conciliação vai até certo ponto. Não dá para apanhar quieto. Acho que a temperatura vai subir. Não tem como não subir. Estamos no começo da campanha", avalia, antes de anunciar: "Defendo a tese que, se apanharmos, temos que bater. Não podemos atirar a primeira pedra, mas não dá para virar a face, depois de uma bofetada, para levar outra".
Campos Machado se vê no meio de uma guerra. "Estou articulando agora colocar o exército petebista nas ruas", avisa, orgulhoso de informar que o PTB tem mais filiados no Estado de São Paulo que o PSDB (251 mil contra 230 mil, segundo dados do TRE de 2007). "Estou fazendo um trabalho de motivação. Preciso motivar essa gente a ir para a guerra. Percebo que existem vereadores e diretórios do PSDB que não estão na luta. É a minha maneira de compensar essa deficiência."
Revoltado com essa situação, o todo-poderoso do PTB manda bala: "Se a traição fosse no meu partido? Qualquer vereador do PTB que não faça campanha, que não apóie o Geraldo Alckmin, eu casso a legenda dele. Qualquer candidato que não apóie o Geraldo Alckmin, eu casso o registro da candidatura e expulso do partido. Se eu não agir assim, acabou tudo que eu acredito em política. Lealdade é fundamental em quadros políticos".
Na convenção estadual do PTB, em 24 de maio, Campos Machado levou Alckmin e falou: "No meu partido não tem traidores, não tem vendilhões, não tem vendidos, não tem bandoleiros morais, não tem répteis que se arrastam pelo chão que só levantam a cabeça diante de poderosos". Repetiu o discurso em junho, na convenção municipal.
Indagado por este repórter se é viável fazer uma campanha nestas condições, Campos Machado destila ironia: "Acho possível, sim, fazer uma campanha sem o apoio de parte do PSDB. Porque o grande produto do PSDB é o candidato. O que o PSDB tem de bom é o candidato".
As alfinetadas não se encerram aí. "Nós estamos levando essa campanha a sério. Nós somos um vice mais que atuante. É como se eu fosse o candidato a prefeito com o nome Geraldo Alckmin. Estamos fazendo um trabalho intenso." Campos Machado garante que o PTB não está fazendo figuração para o candidato tucano. "Eu iria navegar na cretinice se eu dissesse que o programa (do Alckmin) é meu. É do prefeito, mas contribuímos em todas as áreas com nomes de peso."
No esforço de afastar o rumor que a candidatura Alckmin é apenas um trampolim para a disputa eleitoral de 2010, Campos Machado jura que, em caso de vitória do tucano, não será prefeito daqui a dois anos. "Não tem acordo com o Geraldo para 2010. Eu tinha um outro compromisso para 2010, mas quando aceitei ser candidato a vice do Geraldo, aceitei ficar até o fim. Temos que colocar em prática a máxima ‘ganhar juntos, governar juntos’. Só Jânio ganhava com os amigos e governava com os inimigos."
Natural de Cerqueira Cesar, interior de São Paulo, Campos Machado começou a carreira política na esteira de Jânio Quadros (1917-1992), amigo do seu pai, e de quem foi advogado criminalista nos últimos anos de vida. "Trago no peito essa medalha. Ele disse que eu era o filho homem que ele não teve." Em tempo: curiosamente, esta entrevista foi concedida no dia 25 de agosto, exatos 47 anos depois da renúncia de Jânio à Presidência.
Eleito deputado estadual em 1990, pelo PTB, Campos Machado deu início então a uma carreira peculiar. Desde 1991, quando foi eleito líder da bancada petebista na Assembléia estadual, nunca mais deixou o cargo. Há 18 anos, consecutivamente, é eleito líder da bancada. "Há uma ligação muito forte do partido comigo, não sei se você já percebeu. É como religião. No interior, as pessoas querem tocar em mim", diz. Em seu amplo escritório político, nos Jardins, em São Paulo, quase todas as salas são decoradas com fotos do político.
Campos Machado acumula dois reveses em eleições municipais. Foi candidato, derrotado, a prefeito, em 1996, e foi candidato a vice-prefeito na chapa, igualmente derrotada, de Geraldo Alckmin, em 2000. Casado pela segunda vez, tem três filhos (dois do primeiro casamento e uma filha do segundo) e um neto. A mulher, Marlene, é presidente do PTB Mulher.
Campos Machado vê nessa eleição a possibilidade de dar um salto. Em 2007, assumiu a presidência do PTB em São Paulo e a secretaria geral do partido em termos nacionais. Apesar de estar ao lado de Alckmin, em oposição à Serra em São Paulo, o candidato a vice-prefeito expõe os seus planos para 2010: levar o PTB a apoiar a eventual candidatura de José Serra à Presidência.
Mas, como fazer isso, se o PTB integra o governo Lula, com o ministro José Múcio? "A Executiva sou eu e o Roberto Jefferson. O PTB do José Múcio? Hoje quem tem que definir é o diretório, e acho que não perdemos fácil, não. Do que depender de mim, do meu grupo político, nós vamos apoiar o Serra."
Depois de 18 anos como deputado estadual, Campos Machado parece não se abalar com as acusações de clientelismo e favorecimento que, volta e meia, são associadas ao seu nome. "Já disseram que eu tenho 3 mil cargos no Estado. Eu indiquei o secretário de Esporte e Turismo do governo Serra (Claury Santos Alves da Silva). E o chefe de gabinete. Mais nada. Não posso dizer, como Maluf: 'Tenho procuração para demitir’. Dizem que eu mando na Assembléia. Não é verdade."
Também garante não ter nenhuma relação com a nomeação de funcionários da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), ligada à Secretaria de Habitação, cargo que foi ocupado pelo PTB durante o governo Alckmin. "Não tenho uma pessoa na CDHU."
Campos Machado também passa tranqüilo por outro constrangimento. Em 2004, o PTB nacional apoiou o PT e Roberto Jefferson pediu votos para Marta Suplicy. "Em 2004, não apoiei a Marta", garante o candidato a vice. "Foi um acordo do líder do partido, o Roberto Jefferson. Nenhum candidato do PTB saiu com santinho da Marta. Era uma coligação, mas ninguém fez campanha. Eu dizia que o meu partido era o PNA, partido da neutralidade absoluta. Fiquei onze meses sem falar com o Roberto."
Como um mantra, repete as frases que diz orientá-lo nesta e em outras campanhas políticas: "Eu posso ter todos os defeitos em política, mas sou leal. Eu acho que a verdade é a cicatriz da alma da pessoa. E eu carimbo o coração de um homem".
ImprimirEnviarCorrigirFale ConoscoSe, no esporte, parece não valer nada, ser vice, em política, é posição disputadíssima. A história republicana brasileira está repleta de casos em que o vice, escolhido para atrair um partido menor a uma coalizão, acabou tendo papel fundamental no processo político. No caso mais recente, Gilberto Kassab (DEM), vice de José Serra (PSDB) na eleição municipal de 2004, tornou-se prefeito da maior cidade do país desde que o titular se afastou para disputar o governo do Estado, dois anos depois.
Não é possível entender a eleição municipal em São Paulo, em 2008, sem levar em conta as conseqüências da ascensão do então pouco conhecido Kassab, em 2006. Esse é um dos motivos, ao lado da oportunidade de mostrar quem são essas figuras aparentemente coadjuvantes, que leva o iG a dar início hoje à publicação de uma série de reportagens com os principais candidatos a vice-prefeito de São Paulo.
Antônio Carlos Campos Machado, candidato a vice-prefeito na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), tudo indica, terá um papel de destaque nesta campanha. Parece caber a ele a missão de tornar público o constrangimento que Alckmin está enfrentando – ainda em silêncio – devido ao apoio dado por vereadores e militantes tucanos à candidatura Kassab.
"A conciliação vai até certo ponto. Não dá para apanhar quieto. Acho que a temperatura vai subir. Não tem como não subir. Estamos no começo da campanha", avalia, antes de anunciar: "Defendo a tese que, se apanharmos, temos que bater. Não podemos atirar a primeira pedra, mas não dá para virar a face, depois de uma bofetada, para levar outra".
Campos Machado se vê no meio de uma guerra. "Estou articulando agora colocar o exército petebista nas ruas", avisa, orgulhoso de informar que o PTB tem mais filiados no Estado de São Paulo que o PSDB (251 mil contra 230 mil, segundo dados do TRE de 2007). "Estou fazendo um trabalho de motivação. Preciso motivar essa gente a ir para a guerra. Percebo que existem vereadores e diretórios do PSDB que não estão na luta. É a minha maneira de compensar essa deficiência."
Revoltado com essa situação, o todo-poderoso do PTB manda bala: "Se a traição fosse no meu partido? Qualquer vereador do PTB que não faça campanha, que não apóie o Geraldo Alckmin, eu casso a legenda dele. Qualquer candidato que não apóie o Geraldo Alckmin, eu casso o registro da candidatura e expulso do partido. Se eu não agir assim, acabou tudo que eu acredito em política. Lealdade é fundamental em quadros políticos".
Na convenção estadual do PTB, em 24 de maio, Campos Machado levou Alckmin e falou: "No meu partido não tem traidores, não tem vendilhões, não tem vendidos, não tem bandoleiros morais, não tem répteis que se arrastam pelo chão que só levantam a cabeça diante de poderosos". Repetiu o discurso em junho, na convenção municipal.
Indagado por este repórter se é viável fazer uma campanha nestas condições, Campos Machado destila ironia: "Acho possível, sim, fazer uma campanha sem o apoio de parte do PSDB. Porque o grande produto do PSDB é o candidato. O que o PSDB tem de bom é o candidato".
As alfinetadas não se encerram aí. "Nós estamos levando essa campanha a sério. Nós somos um vice mais que atuante. É como se eu fosse o candidato a prefeito com o nome Geraldo Alckmin. Estamos fazendo um trabalho intenso." Campos Machado garante que o PTB não está fazendo figuração para o candidato tucano. "Eu iria navegar na cretinice se eu dissesse que o programa (do Alckmin) é meu. É do prefeito, mas contribuímos em todas as áreas com nomes de peso."
No esforço de afastar o rumor que a candidatura Alckmin é apenas um trampolim para a disputa eleitoral de 2010, Campos Machado jura que, em caso de vitória do tucano, não será prefeito daqui a dois anos. "Não tem acordo com o Geraldo para 2010. Eu tinha um outro compromisso para 2010, mas quando aceitei ser candidato a vice do Geraldo, aceitei ficar até o fim. Temos que colocar em prática a máxima ‘ganhar juntos, governar juntos’. Só Jânio ganhava com os amigos e governava com os inimigos."
Natural de Cerqueira Cesar, interior de São Paulo, Campos Machado começou a carreira política na esteira de Jânio Quadros (1917-1992), amigo do seu pai, e de quem foi advogado criminalista nos últimos anos de vida. "Trago no peito essa medalha. Ele disse que eu era o filho homem que ele não teve." Em tempo: curiosamente, esta entrevista foi concedida no dia 25 de agosto, exatos 47 anos depois da renúncia de Jânio à Presidência.
Eleito deputado estadual em 1990, pelo PTB, Campos Machado deu início então a uma carreira peculiar. Desde 1991, quando foi eleito líder da bancada petebista na Assembléia estadual, nunca mais deixou o cargo. Há 18 anos, consecutivamente, é eleito líder da bancada. "Há uma ligação muito forte do partido comigo, não sei se você já percebeu. É como religião. No interior, as pessoas querem tocar em mim", diz. Em seu amplo escritório político, nos Jardins, em São Paulo, quase todas as salas são decoradas com fotos do político.
Campos Machado acumula dois reveses em eleições municipais. Foi candidato, derrotado, a prefeito, em 1996, e foi candidato a vice-prefeito na chapa, igualmente derrotada, de Geraldo Alckmin, em 2000. Casado pela segunda vez, tem três filhos (dois do primeiro casamento e uma filha do segundo) e um neto. A mulher, Marlene, é presidente do PTB Mulher.
Campos Machado vê nessa eleição a possibilidade de dar um salto. Em 2007, assumiu a presidência do PTB em São Paulo e a secretaria geral do partido em termos nacionais. Apesar de estar ao lado de Alckmin, em oposição à Serra em São Paulo, o candidato a vice-prefeito expõe os seus planos para 2010: levar o PTB a apoiar a eventual candidatura de José Serra à Presidência.
Mas, como fazer isso, se o PTB integra o governo Lula, com o ministro José Múcio? "A Executiva sou eu e o Roberto Jefferson. O PTB do José Múcio? Hoje quem tem que definir é o diretório, e acho que não perdemos fácil, não. Do que depender de mim, do meu grupo político, nós vamos apoiar o Serra."
Depois de 18 anos como deputado estadual, Campos Machado parece não se abalar com as acusações de clientelismo e favorecimento que, volta e meia, são associadas ao seu nome. "Já disseram que eu tenho 3 mil cargos no Estado. Eu indiquei o secretário de Esporte e Turismo do governo Serra (Claury Santos Alves da Silva). E o chefe de gabinete. Mais nada. Não posso dizer, como Maluf: 'Tenho procuração para demitir’. Dizem que eu mando na Assembléia. Não é verdade."
Também garante não ter nenhuma relação com a nomeação de funcionários da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), ligada à Secretaria de Habitação, cargo que foi ocupado pelo PTB durante o governo Alckmin. "Não tenho uma pessoa na CDHU."
Campos Machado também passa tranqüilo por outro constrangimento. Em 2004, o PTB nacional apoiou o PT e Roberto Jefferson pediu votos para Marta Suplicy. "Em 2004, não apoiei a Marta", garante o candidato a vice. "Foi um acordo do líder do partido, o Roberto Jefferson. Nenhum candidato do PTB saiu com santinho da Marta. Era uma coligação, mas ninguém fez campanha. Eu dizia que o meu partido era o PNA, partido da neutralidade absoluta. Fiquei onze meses sem falar com o Roberto."
Como um mantra, repete as frases que diz orientá-lo nesta e em outras campanhas políticas: "Eu posso ter todos os defeitos em política, mas sou leal. Eu acho que a verdade é a cicatriz da alma da pessoa. E eu carimbo o coração de um homem".
Comentários.
Enqunto eles brigam, Marta nada de braçada, rumo à vitória no 1º turno.
Quero ver sangue.
Um comentário:
O deputado Estadual, Campos Machado, é uma pessoa integra.
Não trai os seus militantes e nunca os deixa na mão.Sempre fiel ao partido e aos seus filiados. Eu Robson Moraes, sempre apoiei e sempre apoiarei os candidatos do PTB e sempre serei fiél ao partido e ao deputado.O PTB, não se vende e nem faz acordo atrás de bastidores. Sempre PTB e "A FORÇA DO PTB EM SÃO PAULO É CAMPOS MACHADO"
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