segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

GIULIANI, BATTISTI, CACCIOLA E BERLUSCONI



Ricardo Giuliani Neto

Criminosos? Opa!!! Falo por mim e contra o Cacciola. Sobre Battisti, não me cabe julgá-lo. Cacciola, brasileiro como Eu, falo de condenado pelas leis do meu país, ou melhor, do nosso país. Berlusconi, dono do Milan; por ele, ou dele, falem os italianos.

O que temos os quatro em comum? Somos fruto da mesma Itália-mãe.

O que tenho com Berlusconi, o primeiro-ministro da Itália? Um —quem sabe dois— gostos em comum. Ambos somos fãs do atacante Pato. Maravilhoso “boleiro” revelado nos gramados do glorioso e centenário Sport Clube Internacional de Porto Alegre. E só. Nada mais. O Berlusconi, de direita, Eu, sei lá, mas de direita não; ele apreciador de factóides, Eu os detesto. Berlusconi faz bolinhas com detritos nasais e os come com cafezinho (ver You Tube), Eu, já prefiro bolinhas de bacalhau. Mas acredito que ambos gostemos da Itália, em que pese no amistoso de aqui alguns dias, esteja Eu desejando que o Brasilsilsil toque uns 3X0 na squadra azurra. Belusconi faz política; Eu, sobre ela, escrevo!!! Ah! E sobre direito... também.

O Battisti, esse italiano até pouco tempo asilado na França de François Mitterrand, refugiou-se no Brasil após a mudança na Chefia de Estado Francês, quando Jacques Chirac, modificando a política anteriormente praticada, decidiu-se por conceder a extradição requerida pelo governo italiano. O que tenho em comum com Battisti? Lá na juventude, nos idos tempos que não voltam mais, fui um comunista de “quatro costados”. Acreditava que a luta de classes conduzir-nos-ia ao inexorável sonho socialista; os trabalhadores do mundo colheriam igualdade e justiça.

Continuo a luta nesse caminho, mas hoje, feliz ou infelizmente, só acredito em “luta de classes” quando dá briga no colégio (me perdoem pelo mau gosto, mas é o que penso). Vou convencido de que há explorados e exploradores e tudo o mais. Trinta anos mais velho, sou outra pessoa, mas ainda capaz de reconhecer o sonho sonhado com milhares de outros cidadãos em construir um mundo melhor. Lutava, talvez, usando métodos que hoje reprovo. A reprovação atual é autocrítica e não desvalor!

Duros aqueles tempos! Não consigo esquecer quantos dos nossos honestamente caíram, morreram, diante da ditadura militar para garantir que hoje esteja Eu aqui, livre, afirmando-me como um quase-velho sonhador. Ainda bem, mesmo de uma maneira diferente —uns diriam, mais maduro, quiçá—, ainda sonhador a homenagear os que deram a vida pela democracia e por todos nós.

Dentre esses milhares de sonhadores juvenis, este ainda quase-velho sonhador, tinha, inclusive como Battisti, o mesmo sonho e, por que não, nas palavras de Lênin, os mesmos equívocos produzidos por um esquerdismo infantil?
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Mitterrand acatou Battisti mediante sua formal e expressa renúncia à luta armada. Eu mudei! Por que Battisti não poderia ter mudado? Não há possibilidade de perdão no mundo? Ou há?

Sim, sim, imagino! Pensas na condenação por homicídios, prisão perpétua, no livre direito da Mãe Itália em exercer a execução da pena soberanamente.

Bem. A questão não é mais jurídica. Transformou-se em querela política. Para cada argumento dessa ordem, me vem a Constituição Federal, afirmando nos seus princípios fundadores, inciso X do artigo 4º, que concederemos o asilo político. Lembro da Declaração Universal dos Direitos do Homem, artigo XIV, no que é seguido pela Declaração da ONU sobre Asilo Territorial, onde “todo homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar gozar asilo em outros países”.

Calma Itália-mãe, muita calma nessa hora. Falo dos direitos de um mundo civilizado, não da tua prestigiosa e respeitada cozinha!!!

Depois de 30 anos, ainda há perseguição.

Olhemos pra dentro de casa, pra nossa própria cozinha! Final dos anos 60, começo dos 70, centro de São Paulo, Araguaia... O que foi o nosso processo de Anistia?! Um processo que abandonou o princípio da verdade jurídica. Quem matou quem? Quem torturou quem? Por que matar os fatos? Se com atos de terrorismo de Estado mataram, podem continuar livres com as nossas verdades encarceradas nas suas memórias? Não temos o direito de saber o que aconteceu? Não queremos condenar ninguém. Não faz tanto tempo... mas faz tanta falta!!!

Os carcereiros da nossa memória histórica merecem nossa eterna perseguição?

O que diz o pedido de extradição do governo italiano quando afirma os atos praticados por Battisti? “... por terem feito propaganda no território nacional para a subversão violenta do sistema econômico e social do próprio país”. Ora, se esse não é um juízo político, o que então será?

Bom, restou-nos Cacciola. O que temos em comum? Vivo na terra onde ele foi preso. Foi aqui na serra gaúcha que foi pra trás das grades. Só! Não temos mais nada um com o outro. Depois de sua fuga pra Itália, diante da negativa de extradição pelo governo italiano, foi passear nas charmosas terras monegascas, preso e deportado. Olha, o cara lesou toda sociedade e o Brasil não chamou seu embaixador de volta. O embaixador brasileiro continuou em Roma, respeitando a Constituição italiana que assegura, tal qual a nossa, a não extradição dos seus nacionais.

O Berlusconi convocou seu embaixador para tomada de explicações (ato diplomático que antecede o rompimento de relações entre os países). Por que não aproveitou e chamou também o seu embaixador em Paris? Há semanas o governo francês, igualzinho ao brasileiro, negou a extradição de uma senhora que também integrava a mesma organização política de Battisti. Será que a direita brasileira e a direita italiana não caíram na mesma ladainha porque o ministro da Justiça da França não se chama Monsieur TarssÔ GenrrÔ!! O presidente não é Monsieur LulÁ?! Aqui é Tarso Genro e Lula-lá... brasileiros... mesmo!!

Não é por ser Giuliani, que sobra autoridade para repelir os exageros italianos. Os repilo com veemência!! Me sobra é o afeto italiano que me faz esquentar o sangue ao ver gente da minha gente fazendo pirotecnias burlescas para satisfazer pretensões políticas mesquinhas, menores e inúteis!!!

Sugestão de leitura: Minha fuga sem fim: dos anos de chumbo na Itália, de leis ao revés na França, ao inferno do cárcere no Brasil (2007). Cesare Battisti.

Segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

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