Publicado em 03 de fevereiro de 2009
Por Rodrigo Vianna, em O escrevinhador
Lula bateu novo recorde de popularidade. Em plena crise econômica, com demissões já avançando em várias empresas do país, ele atinge 84% de aprovação na pesquisa CNT/Sensus.
Lula caminha para se transformar numa espécie de Getúlio, no imaginário popular. Só que Vargas era o pai dos pobres. Lula, no máximo, é o irmão mais velho. O problema de Lula é que, às vezes, se parece mais com Jango do que com Vargas (e Brizola) na disposição de combater os golpistas e conservadores.
O que eles têm em comum?
Com esses números da pesquisa, demos e tucanos devem estar morrendo de medo do terceiro mandato - correspondente lulista do “queremismo”* de Getúlio.
Sou contra o terceiro mandato (o que não tem a menor importância). Lula também parece ser contra (o que, aí sim, faz toda a diferença).
Vamos falar claramente: se FHC, a essa altura de seu governo, tivesse essa popularidade toda, a emenda do terceiro mandato já estaria em tramitação. Com apoio do Palácio do Planalto, da mídia e dos economistas de sempre, a defender que “a continuidade e a estabilidade são a melhor forma de enfrentar a crise”.
A pesquisa CNT/Sensus (http://www.cnt.org.br) também mostra que Serra segue na liderança pela disputa da cadeira presidencial em 2010. Teve leve queda, acompanhada de leve crescimento de Dilma. Heloisa Helena segue no páreo.
O que mais me chama atenção, entretanto, não é nada disso. Para 71,4% dos entrevistados, a violência e a criminalidade estão fora do controle no país. A violência parece preocupar mais do que a crise econômica já que “apenas” 34,4% dos entrevistados conhecem alguém que perdeu o emprego, mas 39,9% não conhecem ninguém nessa condição.
Vocês sabem que muitos tucanos torcem para a crise econômica se agravar. Serra, a essa altura, seria uma espécie de corvo (era assim que a “Última Hora” – Jornal de Samuel Wainer - chamava Carlos Lacerda, o homem que liderava os golpistas da velha UDN contra Vargas e Jango), à espreita da crise que o levará ao Planalto. Com uma vantagem: ele se parece muito mais com um corvo do que Lacerda.
O que eles têm em comum?
Os corvos só não perceberam o seguinte: o brasileiro teme mais perder a vida do que o emprego.
Se a crise econômica se agravar, a criminalidade vai crescer. A barbárie crescerá ainda mais, também em São Paulo.
Como Serra pretende “faturar” com a crise, enquanto dirige um Estado em que as polícias trocam tiros no meio da rua ?
Um Estado em que a PM – segundo o site do Paulo Henrique Amorim – só age quando a “Globo” está no ar: foi o que teria ocorrido ontem, nos confrontos de rua em Paraisópolis (espécie de Rocinha paulistana), imensa favela encravada no Morumbi.
A violência pode arrancar os olhos do corvo.
Quanto a Lula, veja a explicação de Clésio Andrade (presidente da CNT) sobre a popularidade recorde do presidente:
“(...) a popularidade do presidente Lula cresce, registrando recorde histórico na avaliação do governo e de seu desempenho pessoal, sustentado na forte crença e na esperança que o povo deposita em seu discurso e, provavelmente, a sensação, por parte da população, de que o governo está agindo e tomando medidas contra a crise.”
*”Queremismo” era o nome do movimento político que, em 1945, ao fim do Estado Novo, defendia que Vargas seguisse no poder. O PCB de Prestes, por exemplo, aderiu ao “queremismo”. Vargas não ficou. Retirou-se para São Borja, mas conseguiu eleger Dutra, um general sem carisma, para governar o Brasil.
Colaboração da amiga Nancy Lima.
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