sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A política amarrada ao caixa 2


Mauricio Dias

A operação Caixa de Pandora, desencadeada em torno de tenebrosas transações no governo do Distrito Federal, é mais uma prova de como a administração pública brasileira está afundada na lógica do mercado do voto.

As eleições nas sociedades de massa apoiadas, mais e mais, na incorporação dos cidadãos ao processo democrático, exigem recursos. Isso tornou o poder econômico a força motriz da competição eleitoral. Isso tem arrastado interesses legítimos para o ralo do caixa 2.

“Tem cara de caixa 2”, comentou o ministro Ayres Britto, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ao ver as imagens do governador de Brasília, José Roberto Arruda, recebendo um pacote de notas. Dinheiro que, segundo o advogado do governador, era destinado à compra de panetones para distribuir à população pobre.

Nesse episódio, a Polícia Federal gravou muitas imagens e conversas suspeitas. Flagrantes que revelam indícios de vários crimes.

Independentemente das fortunas que, à custa dos cofres públicos, são geradas por negociações escusas entre empresários e governantes, o pretexto é a acumulação de recursos para sustentar campanhas eleitorais que, a cada rodada, tornam-se mais dispendiosas.

Nem tudo, é claro, vai para a política. O dinheiro não contabilizado nem sempre passa da mão por onde passa. E isso vem de longe.

O paulista Ademar de Barros foi o primeiro grande vulto da política brasileira a ter o nome associado à formação de caixa 2. A famosa “caixinha do Ademar”. Juscelino Kubitschek, no entanto, foi o primeiro a ter revelados alguns segredos do sistema financeiro de campanha. O autor do feito, o pesquisador americano Edward Riedinger, chamou o financiamento de “donativos”:

“A maior parte das doações era feita anonimamente (...) as contribuições geralmente implicavam retribuição (...) o doador seria recompensado com alguma doação para cargo público e/ou vantagem pessoal”.


Era assim. É assim. E assim será. O problema, grave no Brasil, existe em todo o mundo. Aqui, sempre que pipoca um escândalo desses, surge a proposta de instituir o financiamento público com simultânea proposta de proibir doações privadas de pessoas físicas e jurídicas. Como o sistema de financiamento público não foi testado, há quem acredite, equivocadamente, que ele seria a fonte de restauração de virtudes que nunca existiram no processo político eleitoral.

Foi assim, em 2005, no escândalo do caixa 2 do PT, armado pelo publicitário Marcos Valério, que criara, em Minas Gerais, o caixa 2 para a campanha do tucano Eduardo Azeredo. Esse curioso processo de terceirização do operador foi adotado também pelo governador Arruda. Durval Barbosa, o operador, servira anteriormente ao governador Joaquim Roriz.

Diante de tantos escândalos, como restaurar a confiança da população na política?


Ninguém deve se deixar levar pelo desânimo apoiado no fato de que a polícia se impõe à política brasileira.

No caso específico dos problemas gerados pelo processo eleitoral eles só serão sanados com a continuidade do processo eleitoral.

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