Em uma entrevista cheia de mágoa e angústia, para a BBC Brasil, o presidente do DEM, deputado Federal Rodrigo Maia (RJ) acusa o PSDB de "não ser solidário ao aliado", diante do escândalo Arruda, único governador do partido, acusado de montar uma rede de comunicação no Distrito Federal. Diante da atitude tucana de "ficar querendo tratar de candidatura a vice" na chapa presidencial da oposição em 2010, num "momento de crise de um aliado", Maia chega a ameaçar que "pode não ter aliança".
Rodrigo Maia na BBC: "Faltou um pouco de solidariedade"
Rodrigo Maia na BBC: "Faltou um pouco de solidariedade"
Mesmo dizendo que "não quero julgar o movimento deles" (tucanos), Rodrigo Maia deixa claro até que ponto os dirigentes do DEM estão à beira de um ataque de nervos com o 'Mensalão Candango'. E levanta um argumento sensível: o tempo de TV na campanha eleitoral.
"A coisa mais importante em uma campanha nacional não são nem os palanques regionais. É o tempo de TV. E o deles [tucanos] é igual ao nosso. Talvez sem o nosso tempo de televisão, a oposição não tenha chance de vencer as eleições", comenta o presidente do DEM, 39 anos, filho e companheiro de partido do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia.
O ex-prefeito, que mantém um boletim eletrônico diário (o Ex-blog do Cesar Maia), tem sido lacônico sobre o 'Mensalão do DEM', mas nesta sexta-feira (4) saiu em defesa do comportamento do filho durante o escândalo. "Nas crises, a taxa de oportunismo cresce. Antecipar a luta pelo poder nos partidos é no mínimo imprudência, pois com o jogo aberto fica mais fácil identificar os atores. E nada ficará sem troco", escreveu o ex-prefeito, num texto interpretado como dirigido para a luta interna no DEM.
A BBC Brasil, filiada à famosa rede pública de comunicação inglesa, publica nesta sexta-feira uma opinião do professor David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília) que não deve ter agradado a Rodrigo Maia. O analista avalia que as denúncias de corrupção podem fazer o DEM virar 'um partido pequeno'. Veja a entrevista da BBC.
BBC Brasil: Como foi o clima na reunião de terça-feira, que discutiu a situação do governador Arruda?
Rodrigo Maia: Você tinha no partido um sentimento de perplexidade muito grande. E você tinha uma posição que era de todos: uma certeza de que nós precisávamos tomar uma posição em relação ao caso do governador Arruda. E aí você tinha duas posições: uma que foi minoritária, dos que queriam o rito sumário; outros, que queriam garantir ao governador o que ele tinha pedido, ou seja, o prazo de defesa. Prevaleceu a decisão da maioria.
BBC: O senhor é a favor da expulsão?
Maia: Vou julgar com base no relatório do ex-deputado (José Thomaz) Nonô (AL, relator do processo disciplinas contra Arruda no partido). Se eu antecipar meu voto, estou fazendo um pré-julgamento. Se não for a favor dele, posso estar dando argumentos para que, na Justiça, ele recupere a filiação dele. O procedimento correto é não pré-julgá-lo e esperar a decisão. É claro que o clima é tenso, é claro que as denúncias são gravíssimas, mas a nossa obrigação é esperar o relatório do deputado Nonô.
BBC: E como o senhor o avalia os comentários do senador Demóstenes (Torres, DEM-GO), por exemplo, de que "faltou coragem" ao partido, ao não decidir pela expulsão sumária?
Maia: Acho que, da mesma forma que foi coragem dele (Demóstenes) pedir o rito sumário para um governador do partido, foi também muita coragem da maioria ter a convicção de que deveria dar o direito à defesa ao governador. Acho que as duas posições são corajosas: a de defender o rito sumário e a de optar pelo direito defesa. Com toda a pressão da imprensa, eu acho que essa é uma posição corajosa também.
BBC: O senhor fala em uma “decisão majoritária”. Mas há representantes do partido que falam que foi uma decisão sua...
Maia: Não foi. Foi uma proposta do deputado Onyx (Lorenzoni, DEM-RS) e que eu coloquei em votação e todos...
BBC: Houve votação, então?
Maia: Não foi votação. O que houve foi, vamos dizer assim... ninguém se manifestou contra a proposta. Nem os que defendiam o rito sumário. Ninguém pediu votação nominal. Todo mundo acatou aquela decisão pela proposta que o deputado Onyx apresentou e que eu encampei e encaminhei.
BBC: E como está o planejamento do partido em relação a outros quadros mencionados no inquérito, como o vice-governador, Paulo Octávio?
Maia: Ninguém pediu abertura de processo para nenhum dos outros dois citados. Só posso me manifestar, só posso encaminhar abertura do processo se algum filiado do partido encaminhar o pedido.
BBC: A situação deles é comparável a do governador Arruda?
Maia: Todas as situações são muito complicadas. E vamos avaliar aquelas representações que forem encaminhadas ao partido.
BBC: Como o senhor avalia a postura do PSDB nesse episódio?
Maia: Como eu não tive a oportunidade ainda de falar com nenhum deles, não quero julgar o movimento deles. Mas olhando, e pelo que tenho lido, a impressão que me dá é de que faltou um pouco de solidariedade. No momento de crise de um aliado, de crise que nós vivemos hoje, e que o PSDB já viveu no passado, ficar querendo tratar de candidatura a vice, eu acho que é um pouquinho de... é diminuir o problema e tentar se esquivar do problema e não ser solidário ao aliado. Mesmo porque essa é uma decisão que cada partido vai tomar em suas convenções. Eles podem decidir chapa puro-sangue e nós podemos decidir indicar o vice.
BBC: E aí, rompe-se a aliança?
Maia: Se tiver incompatibilidade, pode não ter aliança. Mas não acontecerá isso. Agora, nós temos o direito de, na nossa convenção, decidir o que a gente quiser. Aliança com o PSDB, indicação do vice ou não... Cada um vai decidir. Mas tratar disso agora? Até porque a coisa mais importante em uma campanha nacional não são nem os palanques regionais. É o tempo de TV. E o deles é igual ao nosso. Talvez sem o nosso tempo de televisão, a oposição não tenha chance de vencer as eleições.
Fonte: BBC Brasil
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