Gustavo Gantois, iG Brasília
Ao contrário de 2002, quando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva lançou mão da "Carta aos Brasileiros" para acalmar os ânimos do mercado financeiro, desta vez o Partido dos Trabalhadores não está com receio de apresentar um programa de governo mais à esquerda, nem de que a ministra e candidata à presidência da República Dilma Rousseff fique com a imagem de uma grande gerente estatizante.
O principal documento discutido pelo no 4º Congresso Nacional do PT, intitulado "A Grande Transformação", permite uma leitura ainda superficial do que poderá vir a ser a economia segundo Dilma. Mesmo assim, ele é suficiente para verificar que há três eixos de pensamento: maior presença do Estado na economia; fortalecimento das empresas estatais e das políticas de crédito para o setor produtivo; e expansão dos recursos e aceleração do combate à pobreza.
"O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor, num modelo que podemos chamar de bem-estar social à moda brasileira", escreveu a ministra no livro "Brasil, Entre o Passado e o Futuro", organizado pelo cientista político Emir Sader e por Marco Aurélio Garcia, autor do documento apresentado pelo PT.
As linhas gerais vão ao encontro dos personagens que cercam Dilma Rousseff e são apontados como grandes colaboradores do perfil gerencial que marca a ministra. Ainda que o PT tenha levado 11 meses para anunciar oficialmente a candidatura, Dilma Rousseff há muito já havia definido os principais formuladores de seu programa econômico.
No topo da lista estão Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte; Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda; e José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras. De uma forma ou outra, os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Paulo Bernardo, do Planejamento, têm feito contribuições esporádicas.
Em comum, todos já demonstraram complacência com o controle estatal sobre pontos fundamentais da economia. Luciano Coutinho é um adepto feroz da construção de grandes conglomerados brasileiros que possam competir no mercado internacional. Gabrielli é outro que se aproxima deste modelo, também apreciado por Dilma. Já Nelson Barbosa não só elogia como atua para que o governo intervenha diretamente na economia, seja por meio de estímulos ou desonerações fiscais.
Neodesenvolvimentistas
Todos estes nomes compõem o que se convencionou chamar de perfil neodesenvolvimentista. Trata-se de uma linha de pensamento econômico baseada na complementaridade entre Estado e mercado que permita compatibilizar o crescimento econômico sustentável com uma melhor distribuição de renda.
Seu principal expoente é o americano Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia. No Brasil, os principais nomes desse pensamento estão na Faculdade de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, na Unicamp e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Papéis definidos
Para cada um dos nomes pinçados por Dilma, há uma área de atuação definida. Luciano Coutinho, por exemplo, é o mentor da elaboração do projeto de governo, especialmente na parte que trata da política de juros e da taxa de investimentos, suas áreas preferidas.
Professor de Dilma na Unicamp, Coutinho defende que o mercado não pode continuar sendo autorregulável e que o Brasil precisa de uma taxa de investimentos no patamar de 25% do Produto Interno Bruto – hoje, ela está em 19%. Em uma recente viagem a Londres, Dilma chamou Coutinho de ministro. Percebendo o ato falho, emendou: "Quem sabe um dia, Luciano".
Fernando Pimentel, por sua vez, é o que possui uma relação mais próxima a Dilma. Amigos desde o movimento estudantil, Pimentel é elogioso da política fiscal atual, da atuação do Banco Central no controle da inflação e das desonerações que amenizaram os efeitos da crise internacional na economia brasileira. Mas critica a rigidez das metas de superávit e às vezes, num tom meio de brincadeira, sugere a extinção delas. Também deverá ser o principal conselheiro político de Dilma.
Outro nome que tem ganhado cada vez mais respaldo da ministra é o de Nelson Barbosa. De todos é o que mais tem contribuído com os programas atuais do governo. De sua cabeça, saíram quase todas as medidas adotadas no segundo mandato, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os estímulos fiscais dados pela Fazenda, o marco regulatório do pré-sal e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Barbosa e Dilma trocam e-mails diariamente e, em vários deles, eles chegam a discorrer sobre livros como "A Doutrina do Choque", no qual a ativista canadense Naomi Klein põe em xeque a ética de economistas liberais como Milton Friedman, e "Ou Tudo à Venda", de Robert Kuttner, professor de economia da Universidade de Berkeley, sobre os papéis do Estado e do mercado.
"Barbosa é a espinha dorsal da Fazenda hoje", avalia um secretário-adjunto do ministério. "Às vezes, ele passa o dia inteiro no gabinete do ministro e isso chamou a atenção da Dilma".
O time escolhido por Dilma dá sinais de que não deverá haver muitas mudanças na condução da economia. Ajustes com toques estatizantes aqui ou acolá já são vistos em muitos dos programas federais que precisam da chancela da Casa Civil. E Dilma faz questão de autorizar cada um deles.
"Tanto ela quanto seus eleitos sabem que seria suicídio tirar o Brasil da rota generosa que foi colocado não só por Lula, mas pela política formulada ainda pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", analisa o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. "Ela precisa, agora, aprimorar este trabalho, principalmente no aspecto fiscal. E credenciais todos eles têm de sobra".
O principal documento discutido pelo no 4º Congresso Nacional do PT, intitulado "A Grande Transformação", permite uma leitura ainda superficial do que poderá vir a ser a economia segundo Dilma. Mesmo assim, ele é suficiente para verificar que há três eixos de pensamento: maior presença do Estado na economia; fortalecimento das empresas estatais e das políticas de crédito para o setor produtivo; e expansão dos recursos e aceleração do combate à pobreza.
"O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor, num modelo que podemos chamar de bem-estar social à moda brasileira", escreveu a ministra no livro "Brasil, Entre o Passado e o Futuro", organizado pelo cientista político Emir Sader e por Marco Aurélio Garcia, autor do documento apresentado pelo PT.
As linhas gerais vão ao encontro dos personagens que cercam Dilma Rousseff e são apontados como grandes colaboradores do perfil gerencial que marca a ministra. Ainda que o PT tenha levado 11 meses para anunciar oficialmente a candidatura, Dilma Rousseff há muito já havia definido os principais formuladores de seu programa econômico.
No topo da lista estão Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte; Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda; e José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras. De uma forma ou outra, os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Paulo Bernardo, do Planejamento, têm feito contribuições esporádicas.
Em comum, todos já demonstraram complacência com o controle estatal sobre pontos fundamentais da economia. Luciano Coutinho é um adepto feroz da construção de grandes conglomerados brasileiros que possam competir no mercado internacional. Gabrielli é outro que se aproxima deste modelo, também apreciado por Dilma. Já Nelson Barbosa não só elogia como atua para que o governo intervenha diretamente na economia, seja por meio de estímulos ou desonerações fiscais.
Neodesenvolvimentistas
Todos estes nomes compõem o que se convencionou chamar de perfil neodesenvolvimentista. Trata-se de uma linha de pensamento econômico baseada na complementaridade entre Estado e mercado que permita compatibilizar o crescimento econômico sustentável com uma melhor distribuição de renda.
Seu principal expoente é o americano Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia. No Brasil, os principais nomes desse pensamento estão na Faculdade de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, na Unicamp e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Papéis definidos
Para cada um dos nomes pinçados por Dilma, há uma área de atuação definida. Luciano Coutinho, por exemplo, é o mentor da elaboração do projeto de governo, especialmente na parte que trata da política de juros e da taxa de investimentos, suas áreas preferidas.
Professor de Dilma na Unicamp, Coutinho defende que o mercado não pode continuar sendo autorregulável e que o Brasil precisa de uma taxa de investimentos no patamar de 25% do Produto Interno Bruto – hoje, ela está em 19%. Em uma recente viagem a Londres, Dilma chamou Coutinho de ministro. Percebendo o ato falho, emendou: "Quem sabe um dia, Luciano".
Fernando Pimentel, por sua vez, é o que possui uma relação mais próxima a Dilma. Amigos desde o movimento estudantil, Pimentel é elogioso da política fiscal atual, da atuação do Banco Central no controle da inflação e das desonerações que amenizaram os efeitos da crise internacional na economia brasileira. Mas critica a rigidez das metas de superávit e às vezes, num tom meio de brincadeira, sugere a extinção delas. Também deverá ser o principal conselheiro político de Dilma.
Outro nome que tem ganhado cada vez mais respaldo da ministra é o de Nelson Barbosa. De todos é o que mais tem contribuído com os programas atuais do governo. De sua cabeça, saíram quase todas as medidas adotadas no segundo mandato, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os estímulos fiscais dados pela Fazenda, o marco regulatório do pré-sal e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Barbosa e Dilma trocam e-mails diariamente e, em vários deles, eles chegam a discorrer sobre livros como "A Doutrina do Choque", no qual a ativista canadense Naomi Klein põe em xeque a ética de economistas liberais como Milton Friedman, e "Ou Tudo à Venda", de Robert Kuttner, professor de economia da Universidade de Berkeley, sobre os papéis do Estado e do mercado.
"Barbosa é a espinha dorsal da Fazenda hoje", avalia um secretário-adjunto do ministério. "Às vezes, ele passa o dia inteiro no gabinete do ministro e isso chamou a atenção da Dilma".
O time escolhido por Dilma dá sinais de que não deverá haver muitas mudanças na condução da economia. Ajustes com toques estatizantes aqui ou acolá já são vistos em muitos dos programas federais que precisam da chancela da Casa Civil. E Dilma faz questão de autorizar cada um deles.
"Tanto ela quanto seus eleitos sabem que seria suicídio tirar o Brasil da rota generosa que foi colocado não só por Lula, mas pela política formulada ainda pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", analisa o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. "Ela precisa, agora, aprimorar este trabalho, principalmente no aspecto fiscal. E credenciais todos eles têm de sobra".
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