Para analista, proposta do partido de maior intervenção econômica capitaliza políticas que tiraram país da crise
SÃO PAULO - Em meio a repercussão do artigo publicado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no Estado de domingo, 7, e da polarização entre petistas e tucanos sobre os legados que deixarão os governos FHC e Lula, pelo menos um ponto deixa claro que os dois partidos costumam traçar caminhos diferentes quando o assunto é o papel do Estado na economia. É o que se conclui do programa de governo do PT, que propõe um novo "projeto nacional de desenvolvimento" através de uma maior presença do Estado na economia.
"O projeto é coerente ao que o PT tem feito no atual governo. E é coerente com a visão que o PT tem sobre o papel do Estado. E também é uma forma do PT marcar uma posição diferente da posição do PSDB", disse em entrevista ao estadao.com.br o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade Nacional de Brasília.
Peixoto acredita ser cedo para avaliar se o partido optará por posições mais à esquerda em um eventual governo da candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Além de ver coerência entre o que está proposto no texto intitulado "A grande transformação" e as diretrizes históricas do partido, Peixoto destaca ainda a oportunidade abraçada por setores do PT que, com a crise financeira mundial, encontraram argumentos fortes para justificar políticas como o fortalecimento das empresas estatais e de concessão de crédito pelos bancos públicos - parte da receita que ajudou o Brasil a sair mais rápido da crise.
"Talvez aproveitando esse momento particular que vive o capitalismo e a economia de mercado, como resultado da crise financeira global, parte do PT esteja aproveitando para afirmar sua posição estatista", diz Peixoto.
Ele relativiza, entretanto, o esforço de parte do PT para se esquivar das acusações de que o programa represente um retrocesso no processo de privatizações iniciado na década de 1990. "Essa coisa de dizer que é estatista mas não é estatizante, é algo que a gente vai ter que esperar pra ver. Depende da ênfase que se dá a intervenção do Estado na economia. Você pode ter um Estado forte, mas não significa dizer um estado interventor", diz o cientista político, que é especialista em políticas e finanças públicas.
Governo por conferências
Peixoto também atribui a convocação de conferências proposta pelo programa do PT a uma posição coerente do partido com o seu programa. "Essa mobilização da sociedade civil é coerente com as propostas de um governo de esquerda, como é o governo do PT", explica. Ele ressalva, entretanto, que esses instrumentos não implicam numa ferramenta de democracia direta. "Mas uma mobilização de grupos de pressão da sociedade para atingir determinados objetivos. Na verdade é uma tentativa do governo de passar por cima do Congresso e estabelecer relações diretas com a sociedade", conclui. AE.
SÃO PAULO - Em meio a repercussão do artigo publicado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no Estado de domingo, 7, e da polarização entre petistas e tucanos sobre os legados que deixarão os governos FHC e Lula, pelo menos um ponto deixa claro que os dois partidos costumam traçar caminhos diferentes quando o assunto é o papel do Estado na economia. É o que se conclui do programa de governo do PT, que propõe um novo "projeto nacional de desenvolvimento" através de uma maior presença do Estado na economia.
"O projeto é coerente ao que o PT tem feito no atual governo. E é coerente com a visão que o PT tem sobre o papel do Estado. E também é uma forma do PT marcar uma posição diferente da posição do PSDB", disse em entrevista ao estadao.com.br o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade Nacional de Brasília.
Peixoto acredita ser cedo para avaliar se o partido optará por posições mais à esquerda em um eventual governo da candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Além de ver coerência entre o que está proposto no texto intitulado "A grande transformação" e as diretrizes históricas do partido, Peixoto destaca ainda a oportunidade abraçada por setores do PT que, com a crise financeira mundial, encontraram argumentos fortes para justificar políticas como o fortalecimento das empresas estatais e de concessão de crédito pelos bancos públicos - parte da receita que ajudou o Brasil a sair mais rápido da crise.
"Talvez aproveitando esse momento particular que vive o capitalismo e a economia de mercado, como resultado da crise financeira global, parte do PT esteja aproveitando para afirmar sua posição estatista", diz Peixoto.
Ele relativiza, entretanto, o esforço de parte do PT para se esquivar das acusações de que o programa represente um retrocesso no processo de privatizações iniciado na década de 1990. "Essa coisa de dizer que é estatista mas não é estatizante, é algo que a gente vai ter que esperar pra ver. Depende da ênfase que se dá a intervenção do Estado na economia. Você pode ter um Estado forte, mas não significa dizer um estado interventor", diz o cientista político, que é especialista em políticas e finanças públicas.
Governo por conferências
Peixoto também atribui a convocação de conferências proposta pelo programa do PT a uma posição coerente do partido com o seu programa. "Essa mobilização da sociedade civil é coerente com as propostas de um governo de esquerda, como é o governo do PT", explica. Ele ressalva, entretanto, que esses instrumentos não implicam numa ferramenta de democracia direta. "Mas uma mobilização de grupos de pressão da sociedade para atingir determinados objetivos. Na verdade é uma tentativa do governo de passar por cima do Congresso e estabelecer relações diretas com a sociedade", conclui. AE.
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