A tragédia causada pelas chuvas recentes no Rio de Janeiro insuflou o discurso pela remoção das favelas, reeditando os tempos de Carlos Lacerda, quando os moradores destas comunidades eram retirados de suas casas e jogados para lugares bem distantes, sem a mínima infraestrutura, gerando novas favelas e focos de violência, como a Cidade de Deus retratada no livro de Paulo Lins e no filme de Fernando Meireles.
Desde que estivessem bem longe das vistas da zona sul, tudo bem, as elites e a classe média davam-se por satisfeitas e aplaudiam. A situação renasce agora e seria oportuno indagar se o interesse é realmente com a segurança dessas populações ou o de afastá-las de áreas nobres da cidade, que se valorizariam mais, atiçando a cobiça imobiliária?
Em meio ao frenesi, o prefeito Eduardo Paes parece uma Sandra Cavalcanti de saias, pregando remoção para tudo que é lado como a panacéia para resolver os problemas das chuvas no Rio de Janeiro. O discurso é de preservação de quem vive em áreas de risco, o que deveria servir para os moradores do alto Leblon, Gávea, Humaitá e Jardim Botânico, entre outros. Será que o prefeito cogita remover as mansões da família do presidente da Firjan, que ficaram penduradas na encosta do Corcovado? Ou para os ricos vale obras de contenção que garantam a segurança nessas áreas?
Ninguém é contra assegurar segurança a cidadãos, mas a política de remoção é delicada e do jeito como vem sendo apregoada é irresponsável. Atinge, sobretudo, os mais pobres, não lhes dando nenhum poder de argumentação ou defesa. O Rio é uma cidade de encostas e vários bairros se desenvolveram nelas. Desde que tratadas adequadamente, com obras de drenagem e contenção, podem abrigar residências sem maiores problemas. É assim no mundo todo, com as casas encarapitadas nas costas européias vistas com admiração e como pontos turísticos.
A mídia aproveita o momento para estimular e legitimar as remoções, condenando todos que se preocuparam com estas comunidades antes das tragédias. Os políticos que as urbanizaram e tentaram criar condições de vida decentes para os favelados são tachados de criminosos e oportunistas. As ONGs e entidades que defendem estas populações são demagogas e irresponsáveis.
Nessa sanha procura deslegitimar organizações responsáveis que lutam pela regularização fundiária e titulação de áreas faveladas, como prevê a própria Lei Orgânica do município. A Fundação Bento Rubião foi uma das colocadas no saco das correntes contrárias a remoções e questionada por sua política. O jornal que a interpelou sequer citou que a fundação acabara de receber, no Fórum Urbano Mundial que se realizara no Rio, prêmio da agência Habitat, da ONU, pelo programa Terra e Habitação, que atua na assessoria jurídico-fundiária a famílias em situação de risco e no estímulo ao funcionamento de cooperativas habitacionais populares.
A fundação leva o nome do advogado Bento Rubião, que evitou a remoção dos moradores da favela do Vidigal para a longínqua Antares, na zona oeste do Rio. Ao receber o prêmio da ONU, o arquiteto Ricardo Gouvêa, coordenador do programa, lembrou Dom Helder Câmara para quem as políticas sociais não devem ser feitas “para os pobres”, mas “com os pobres”.
A prefeitura do Rio devia se inspirar mais em Dom Helder do que em Lacerda, frear o ímpeto das remoções pelas remoções e debater a situação com quem mais será mais afetado por ela.
Desde que estivessem bem longe das vistas da zona sul, tudo bem, as elites e a classe média davam-se por satisfeitas e aplaudiam. A situação renasce agora e seria oportuno indagar se o interesse é realmente com a segurança dessas populações ou o de afastá-las de áreas nobres da cidade, que se valorizariam mais, atiçando a cobiça imobiliária?
Em meio ao frenesi, o prefeito Eduardo Paes parece uma Sandra Cavalcanti de saias, pregando remoção para tudo que é lado como a panacéia para resolver os problemas das chuvas no Rio de Janeiro. O discurso é de preservação de quem vive em áreas de risco, o que deveria servir para os moradores do alto Leblon, Gávea, Humaitá e Jardim Botânico, entre outros. Será que o prefeito cogita remover as mansões da família do presidente da Firjan, que ficaram penduradas na encosta do Corcovado? Ou para os ricos vale obras de contenção que garantam a segurança nessas áreas?
Ninguém é contra assegurar segurança a cidadãos, mas a política de remoção é delicada e do jeito como vem sendo apregoada é irresponsável. Atinge, sobretudo, os mais pobres, não lhes dando nenhum poder de argumentação ou defesa. O Rio é uma cidade de encostas e vários bairros se desenvolveram nelas. Desde que tratadas adequadamente, com obras de drenagem e contenção, podem abrigar residências sem maiores problemas. É assim no mundo todo, com as casas encarapitadas nas costas européias vistas com admiração e como pontos turísticos.
A mídia aproveita o momento para estimular e legitimar as remoções, condenando todos que se preocuparam com estas comunidades antes das tragédias. Os políticos que as urbanizaram e tentaram criar condições de vida decentes para os favelados são tachados de criminosos e oportunistas. As ONGs e entidades que defendem estas populações são demagogas e irresponsáveis.
Nessa sanha procura deslegitimar organizações responsáveis que lutam pela regularização fundiária e titulação de áreas faveladas, como prevê a própria Lei Orgânica do município. A Fundação Bento Rubião foi uma das colocadas no saco das correntes contrárias a remoções e questionada por sua política. O jornal que a interpelou sequer citou que a fundação acabara de receber, no Fórum Urbano Mundial que se realizara no Rio, prêmio da agência Habitat, da ONU, pelo programa Terra e Habitação, que atua na assessoria jurídico-fundiária a famílias em situação de risco e no estímulo ao funcionamento de cooperativas habitacionais populares.
A fundação leva o nome do advogado Bento Rubião, que evitou a remoção dos moradores da favela do Vidigal para a longínqua Antares, na zona oeste do Rio. Ao receber o prêmio da ONU, o arquiteto Ricardo Gouvêa, coordenador do programa, lembrou Dom Helder Câmara para quem as políticas sociais não devem ser feitas “para os pobres”, mas “com os pobres”.
A prefeitura do Rio devia se inspirar mais em Dom Helder do que em Lacerda, frear o ímpeto das remoções pelas remoções e debater a situação com quem mais será mais afetado por ela.
Mair Pena Neto, Direto da Redação
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