Nos bastidores da campanha, críticas recaem sobre o marqueteiro Luiz González. Os que reclamam acham que o candidato tucano tem que ser mais agressivo não só contra Dilma, mas também para cima do próprio Lula
Serra derrapa na campanha e críticas recaem cada dia mais sobre a equipe que produz seus programas de TV
Serra derrapa na campanha e críticas recaem cada dia mais sobre a equipe que produz seus programas de TV
Rudolfo Lago
No início da tarde da quarta-feira (18), no teatro TUCA, em São Paulo, logo depois do final do debate UOL/Folha de São Paulo com os candidatos à Presidência, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), esquivava-se com um sorriso educado de perguntas sobre dois temas. O primeiro: por que ele, vestido com uma jaqueta de couro preta e uma camisa esportiva rosa, era o único político ali que não estava de paletó e gravata? O que tinha achado do programa eleitoral de Serra, iniciado um dia antes, com referências ao presidente Lula e o candidato chamado de “Zé”, em frente a uma favela de mentira, desenhada virtualmente?
À primeira pergunta, ele explicava que tinha ido para São Paulo participar de reuniões com a cúpula da campanha de Serra que foram se estendendo além do previsto. Resultado: não tinha mais camisas sociais limpas. Para a segunda, a esquivada era total: “Não vi o programa. Ficou ruim essa favela, é? Vamos ter que ver”.
O que Sérgio Guerra evitava dizer é que mesmo ali, recém iniciado o horário eleitoral, já começavam as primeiras avaliações que apontavam para a desconfiança de que a campanha do candidato do PSDB tinha errado feio na concepção dos programas de TV. O mau desempenho de Serra esticava as reuniões de cúpula, que mantinham Sérgio Guerra, mesmo sem roupas limpas, em São Paulo. E as críticas só cresceram nos bastidores ao longo da semana. E começaram a se explicitar, ainda que de forma tímida, depois de divulgada no sábado (21) a última rodada da pesquisa Datafolha, que mostra a candidata do PT, Dilma Rousseff, 17 pontos na frente. Se as eleições fossem hoje, segundo o Datafolha, Dilma detonaria Serra ainda no primeiro turno.
A favela virtual do programa parece ser o símbolo máximo do artificialismo do programa de Serra. Afinal, o que é o candidato que se apresenta? O que ele deseja? Por que se apresenta como “Zé” se a vida inteira foi Serra? Se é de oposição, por que usa parte de seu programa para mostrar pontos de contato com o presidente Lula? Por que evita tanto atacar o atual governo?
Por enquanto, a maioria dos envolvidos na campanha de Serra evita fazer explicitamente críticas ao programa de TV. Mas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco ponderam que ele deveria ser mais agressivo. Em um momento anterior da campanha, quando Serra liderava as pesquisas, havia um contingente grande do eleitorado que ainda não conhecia Dilma e que, portanto, não a associava com o presidente que tem mais de 80% de popularidade. Naquela época, era correto Serra não polemizar com Lula: ganhava pelo desconhecimento que se tinha de Dilma, ganhava por ser um nome mais conhecido e ganhava não se desgastando com um presidente popular. Mas agora, Dilma é cada vez mais conhecida pelo eleitorado como “a mulher do Lula”. “Se o eleitor sabe que ela é a mulher do Lula, então nós temos que nos apresentar muito claramente como sendo uma candidatura que se opõe ao atual governo. Do contrário, não vamos fazer sentido na cabeça do eleitorado”, avalia um deputado do DEM.
Para esse político, o marketing de Serra organizou-se para uma situação de manutenção da vantagem de Serra, um quadro que era verdadeiro há cerca de quatro meses. Mas Dilma ultrapassou o candidato do PSDB numa velocidade inesperada, e vem consolidando uma vantagem grande numa rapidez que os articuladores da campanha tucana também não previam. Havia um parâmetro nos quais os tucanos e os demistas acreditavam fortemente: mesmo o próprio Lula, na disputa com Geraldo Alckmin em 2006, não conseguira ganhar no primeiro turno. Não parecia possível que ele tivesse agora uma capacidade de transferência de votos maior do que a própria votação que obtivera. E Serra, acreditavam, era um candidato mais forte que Alckmin.
O problema é que a popularidade de Lula não parou de subir. E, avaliam alguns na campanha do PSDB, não houve agilidade para se compreender que essa situação exigia uma postura mais agressiva. Serra, considera esse grupo da campanha, precisa ir para o tudo ou nada.
Franco-atirador
Como não disputa cargo nenhum, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, virou uma espécie de franco-atirador, que diz claramente o que outros pensam nos bastidores. Os comentários que tem postado em seu blog nos últimos dias têm apoio especialmente no DEM, mas também em parte do PSDB e do PPS, outros partidos da aliança de Serra. No sábado (21), após a pesquisa do Datafolha, ele comentava: “A luz vermelha pisca sem parar no núcleo de marquetagem de Serra, no entanto, o noticiário é que vai manter a mesma estratégia até a Semana da Pátria. Esse pessoal é mesmo uma pérola”.
Em seguida, Jefferson acrescentava-se: “Revive-se o drama da candidatura de Alckmin em 2006: enquanto tantos clamavam por mudanças na TV, dia após dia, no final nada veio. E, no desespero, o tucano enfim partiu para cima de Lula em um debate na TV, deixando-nos perplexos mas esperançosos. Não funcionou. O eleitor não aprovou: perdeu-se o timing”.
Evitar campanhas mais agressivas é uma característica do marqueteiro Luiz González, responsável tanto pela campanha de Alckmin em 2006 quanto da de Serra agora. Os que o criticam acham é que a sua ideia de fazer programas mais dóceis, apostando no alto astral, pode funcionar com candidatos que estão em vantagem (e, acrescentam, com candidatos que estão em vantagem qualquer coisa costuma funcionar). Se o candidato precisa, porém, reverter situações de desvantagem, ele precisa aparecer como contraponto de forma mais contundente. E é isso o que estaria faltando, avalia Jefferson e os que criticam González, nos atuais programas.
De um total de 270 pessoas que trabalham na estrutura de comunicação da campanha de Serra, nada menos que 140 estão na equipe de televisão. Sinal do valor que se dá para essa ferramenta como alavanca da campanha. A estrutura responsável pela propaganda eleitoral responde por um terço do orçamento previsto pela campanha tucana. Por isso é que, agora, quando tudo dá errado, atribui-se tanto os erros a essa mesma propaganda.
O primeiro erro apontado está em chamar Serra, que é assim conhecido desde que era presidente da UNE na década de 60, de “Zé”. A ideia era tirar de Serra sua cara de professor e aproximá-lo do povo, reforçando sua origem humilde, de filho de comerciante de frutas e legumes no mercado de São Paulo. Ocorre que ninguém chama Serra de “Zé”. Chamá-lo assim agora, criticam, é tão artificial quanto a favela que apareceu no programa. Por que uma favela de mentira? Serra não tem coragem de gravar o programa numa de verdade? Ainda que seja verdadeiro que Serra e Lula estiveram do mesmo lado em vários momentos, reforçar essa fato agora, dizem os críticos do programa, não faz sentido se Serra é o candidato da oposição. Os eleitores já sabem quem é a candidata do presidente.
As críticas ao programa começam a sair dos bastidores. No domingo, o senador Arthur Virgílio, candidato à reeleição no Amazonas, também criticou a estrutura centralizada do programa de Serra, pouco permeável a sugestões e críticas.
Por enquanto, como comentou e criticou Roberto Jefferson em seu blog, a intenção dos responsáveis é manter o mesmo tom para os programas de Serra, apesar das reclamações, até o feriado de 7 de setembro. Mas, no sábado (21) à noite, já houve um primeiro esboço de postura mais agressiva. Num apêndice, ao final do programa, algo que nem parecia fazer parte do programa de Serra, foi ao ar uma crítica mais dura a Dilma. Um locutor dizia que o Brasil perfeito que aparecia nos programas da candidata do PT não correspondia à realidade. Que aquela não era a verdadeira situação da saúde ou da educação brasileiras. E dirigia-se ao eleitor dizendo que ele sabia disso. Na campanha, os que esperam mais agressividade torcem para que seja só o começo. Mas, como comenta Jefferson, rezam para que já não seja tarde demais. Congresso Em Foco.
No início da tarde da quarta-feira (18), no teatro TUCA, em São Paulo, logo depois do final do debate UOL/Folha de São Paulo com os candidatos à Presidência, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), esquivava-se com um sorriso educado de perguntas sobre dois temas. O primeiro: por que ele, vestido com uma jaqueta de couro preta e uma camisa esportiva rosa, era o único político ali que não estava de paletó e gravata? O que tinha achado do programa eleitoral de Serra, iniciado um dia antes, com referências ao presidente Lula e o candidato chamado de “Zé”, em frente a uma favela de mentira, desenhada virtualmente?
À primeira pergunta, ele explicava que tinha ido para São Paulo participar de reuniões com a cúpula da campanha de Serra que foram se estendendo além do previsto. Resultado: não tinha mais camisas sociais limpas. Para a segunda, a esquivada era total: “Não vi o programa. Ficou ruim essa favela, é? Vamos ter que ver”.
O que Sérgio Guerra evitava dizer é que mesmo ali, recém iniciado o horário eleitoral, já começavam as primeiras avaliações que apontavam para a desconfiança de que a campanha do candidato do PSDB tinha errado feio na concepção dos programas de TV. O mau desempenho de Serra esticava as reuniões de cúpula, que mantinham Sérgio Guerra, mesmo sem roupas limpas, em São Paulo. E as críticas só cresceram nos bastidores ao longo da semana. E começaram a se explicitar, ainda que de forma tímida, depois de divulgada no sábado (21) a última rodada da pesquisa Datafolha, que mostra a candidata do PT, Dilma Rousseff, 17 pontos na frente. Se as eleições fossem hoje, segundo o Datafolha, Dilma detonaria Serra ainda no primeiro turno.
A favela virtual do programa parece ser o símbolo máximo do artificialismo do programa de Serra. Afinal, o que é o candidato que se apresenta? O que ele deseja? Por que se apresenta como “Zé” se a vida inteira foi Serra? Se é de oposição, por que usa parte de seu programa para mostrar pontos de contato com o presidente Lula? Por que evita tanto atacar o atual governo?
Por enquanto, a maioria dos envolvidos na campanha de Serra evita fazer explicitamente críticas ao programa de TV. Mas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco ponderam que ele deveria ser mais agressivo. Em um momento anterior da campanha, quando Serra liderava as pesquisas, havia um contingente grande do eleitorado que ainda não conhecia Dilma e que, portanto, não a associava com o presidente que tem mais de 80% de popularidade. Naquela época, era correto Serra não polemizar com Lula: ganhava pelo desconhecimento que se tinha de Dilma, ganhava por ser um nome mais conhecido e ganhava não se desgastando com um presidente popular. Mas agora, Dilma é cada vez mais conhecida pelo eleitorado como “a mulher do Lula”. “Se o eleitor sabe que ela é a mulher do Lula, então nós temos que nos apresentar muito claramente como sendo uma candidatura que se opõe ao atual governo. Do contrário, não vamos fazer sentido na cabeça do eleitorado”, avalia um deputado do DEM.
Para esse político, o marketing de Serra organizou-se para uma situação de manutenção da vantagem de Serra, um quadro que era verdadeiro há cerca de quatro meses. Mas Dilma ultrapassou o candidato do PSDB numa velocidade inesperada, e vem consolidando uma vantagem grande numa rapidez que os articuladores da campanha tucana também não previam. Havia um parâmetro nos quais os tucanos e os demistas acreditavam fortemente: mesmo o próprio Lula, na disputa com Geraldo Alckmin em 2006, não conseguira ganhar no primeiro turno. Não parecia possível que ele tivesse agora uma capacidade de transferência de votos maior do que a própria votação que obtivera. E Serra, acreditavam, era um candidato mais forte que Alckmin.
O problema é que a popularidade de Lula não parou de subir. E, avaliam alguns na campanha do PSDB, não houve agilidade para se compreender que essa situação exigia uma postura mais agressiva. Serra, considera esse grupo da campanha, precisa ir para o tudo ou nada.
Franco-atirador
Como não disputa cargo nenhum, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, virou uma espécie de franco-atirador, que diz claramente o que outros pensam nos bastidores. Os comentários que tem postado em seu blog nos últimos dias têm apoio especialmente no DEM, mas também em parte do PSDB e do PPS, outros partidos da aliança de Serra. No sábado (21), após a pesquisa do Datafolha, ele comentava: “A luz vermelha pisca sem parar no núcleo de marquetagem de Serra, no entanto, o noticiário é que vai manter a mesma estratégia até a Semana da Pátria. Esse pessoal é mesmo uma pérola”.
Em seguida, Jefferson acrescentava-se: “Revive-se o drama da candidatura de Alckmin em 2006: enquanto tantos clamavam por mudanças na TV, dia após dia, no final nada veio. E, no desespero, o tucano enfim partiu para cima de Lula em um debate na TV, deixando-nos perplexos mas esperançosos. Não funcionou. O eleitor não aprovou: perdeu-se o timing”.
Evitar campanhas mais agressivas é uma característica do marqueteiro Luiz González, responsável tanto pela campanha de Alckmin em 2006 quanto da de Serra agora. Os que o criticam acham é que a sua ideia de fazer programas mais dóceis, apostando no alto astral, pode funcionar com candidatos que estão em vantagem (e, acrescentam, com candidatos que estão em vantagem qualquer coisa costuma funcionar). Se o candidato precisa, porém, reverter situações de desvantagem, ele precisa aparecer como contraponto de forma mais contundente. E é isso o que estaria faltando, avalia Jefferson e os que criticam González, nos atuais programas.
De um total de 270 pessoas que trabalham na estrutura de comunicação da campanha de Serra, nada menos que 140 estão na equipe de televisão. Sinal do valor que se dá para essa ferramenta como alavanca da campanha. A estrutura responsável pela propaganda eleitoral responde por um terço do orçamento previsto pela campanha tucana. Por isso é que, agora, quando tudo dá errado, atribui-se tanto os erros a essa mesma propaganda.
O primeiro erro apontado está em chamar Serra, que é assim conhecido desde que era presidente da UNE na década de 60, de “Zé”. A ideia era tirar de Serra sua cara de professor e aproximá-lo do povo, reforçando sua origem humilde, de filho de comerciante de frutas e legumes no mercado de São Paulo. Ocorre que ninguém chama Serra de “Zé”. Chamá-lo assim agora, criticam, é tão artificial quanto a favela que apareceu no programa. Por que uma favela de mentira? Serra não tem coragem de gravar o programa numa de verdade? Ainda que seja verdadeiro que Serra e Lula estiveram do mesmo lado em vários momentos, reforçar essa fato agora, dizem os críticos do programa, não faz sentido se Serra é o candidato da oposição. Os eleitores já sabem quem é a candidata do presidente.
As críticas ao programa começam a sair dos bastidores. No domingo, o senador Arthur Virgílio, candidato à reeleição no Amazonas, também criticou a estrutura centralizada do programa de Serra, pouco permeável a sugestões e críticas.
Por enquanto, como comentou e criticou Roberto Jefferson em seu blog, a intenção dos responsáveis é manter o mesmo tom para os programas de Serra, apesar das reclamações, até o feriado de 7 de setembro. Mas, no sábado (21) à noite, já houve um primeiro esboço de postura mais agressiva. Num apêndice, ao final do programa, algo que nem parecia fazer parte do programa de Serra, foi ao ar uma crítica mais dura a Dilma. Um locutor dizia que o Brasil perfeito que aparecia nos programas da candidata do PT não correspondia à realidade. Que aquela não era a verdadeira situação da saúde ou da educação brasileiras. E dirigia-se ao eleitor dizendo que ele sabia disso. Na campanha, os que esperam mais agressividade torcem para que seja só o começo. Mas, como comenta Jefferson, rezam para que já não seja tarde demais. Congresso Em Foco.
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