Valor Econômico - 30/11/2010
Além da economia em ebulição, a população de Salgueiro teve outro motivo para celebrar 2010. O time de futebol da cidade, mais conhecido como "Carcará do Sertão", conseguiu acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro do próximo ano, o que significa que terá suas partidas transmitidas para todo o Brasil pela televisão.
Dono do Salgueiro Atlético Clube, o baiano Clebel Cordeiro de Souza, de 48 anos, é mais um dos empresários bem sucedidos da cidade. Ele chegou a Salgueiro em 1984, quando ainda trabalhava na produção dos hoje proibidos showmícios. "Cheguei, fiz amigos, arranjei mulher e fiquei", relembrou, enquanto manuseava a cafeteira que fica em seu escritório, ao lado do Estádio Municipal Cornélio de Barros Muniz, a casa do Carcará.
Após alguns anos na cidade, já enturmado, Clebel foi escalado para cuidar dos trâmites do sepultamento de uma pessoa conhecida. Chocado com os preços cobrados, decidiu em 1995 abrir sua própria empresa de serviços funerários. Sediada em Salgueiro, onde tem instalações de fazer inveja a qualquer cidade de maior porte, a SAF conta hoje com 55 filiais espalhadas pelo interior de Pernambuco e da Bahia.
"Nunca gostei de capital. Precisa de muita coisa pra ficar conhecido. No interior não precisa", afirmou ele, com os olhos baixos e a voz mansa. Além do time e da SAF, Clebel é dono da única loja de material esportivo de Salgueiro, onde a camisa do Carcará está em falta há mais de um mês.
Com expertise em temas fúnebres, o empresário diz que pegou o time praticamente na cova, em 2005. De lá para cá, organizou as finanças, trouxe alguns jogadores e torceu muito. Agora, espera ver cumprida a promessa feita pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), de ampliar para 12 mil lugares a capacidade do acanhado estádio municipal. Sem isso, o Carcará vai ter que mostrar sua arte em outra cidade, visto que o regulamento da Série B exige estádio com mínimo de 10 mil lugares.
Além da vitrine nacional pelo futebol, Clebel espera que o dinamismo econômico de Salgueiro ajude a atrair dinheiro para o time. "Já estou conversando com possíveis patrocinadores", adiantou. Ele também pretende construir o centro de treinamento, para dar maior ênfase à formação de jogadores. "Preciso ganhar dinheiro com isso em alguma hora", brincou o empresário.
Ex- goleiro do time de juniores do Itabuna, na Bahia, Clebel diz ter passado para a esposa toda a responsabilidade sobre a operação dos caixões, velas, flores e cortejos. Apesar de acreditar muito no potencial de desenvolvimento econômico do município, ele não quer saber de novos negócios. "Esqueci tudo. Agora é só o Carcará".
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