sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A estrada de Damasco do PSDB



A expressão “estrada de Damasco” recorda o episódio da conversão do apóstolo Paulo. Ele era um militar que perseguia os cristãos mas, a caminho da capital síria, converteu-se e adotou a fé justamente daqueles aos quais perseguia. A expressão é usada, neste sentido, para mudanças profundas de rumo. E é esta busca que, à primeira vista, os embates internos do PSDB sugerem.

O PSDB sempre foi um partido dirigido por um grupo de intelectuais paulistas, entre os quais pontificam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador José Serra. Eles se aliaram a outras destacadas lideranças da modernização conservadora nos estados, como Tasso Jereissatti (Ceará), , entre outros, que durante estes anos deram as cartas dentro do partido.

Era uma organização de "notáveis", “iluminados” que, do alto de sua arrogância intelectual e política, julgavam-se donos do segredo do azar do Brasil (para usar uma expressão com a qual o jornalista Renato Pompeu batizou um de seus romances).

Não deu certo: sua passagem pela Presidência da República, com Fernando Henrique Cardoso, infelicitou a nação e blindou negativamente os candidatos tucanos nas disputas presidenciais, nas quais precisaram – como se viu na última campanha – escancarar seu conservadorismo e radicalizar posições políticas à direita para enfrentar as forças patrióticas, democráticas e avançadas.

A crise interna do PSDB reflete esse dilema: por qual catecismo os tucanos vão se orientar depois da derrota sofrida no dia 31 de outubro?

José Serra, que já no discurso da noite do dia 31 de outubro onde reconheceu a vitória de Dilma Rousseff deixou clara a disposição de voltar como candidato nos próximos pleitos, agora reforça os sinais de querer – de forma completamente inapropriada e fora de hora – apresentar-se como o candidato tucano para a presidência em 2014.

Sua capacidade de criar problemas e angariar adversários – mesmo dentro do ninho tucano – é notável. Ele tenta – como se viu em sua “inesperada” visita ao Congresso Nacional, anteontem – acionar o mesmo rolo compressor com que atropelou antagonistas internos nas eleições passadas (Geraldo Alckmin em 2006, Aécio Neves em 2009 e 2010) e abrir duas frentes de batalha, a disputa pela presidência do PSDB e, depois, a candidatura presidencial de 2014.

Encontrou forte oposição. Agora é a vez de Minas, proclamou o presidente dos tucanos mineiros, o deputado Nárcio Rodrigues. A pretensão beira o ridículo, disse o atual presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Vai ficando claro que o tucanato quer perder sua plumagem paulista e colorir-se com tons nacionais. E o próprio FHC, o cardeal mais laureado entre os notáveis do partido, teve que vir a público desqualificar as pretensões de “refundação” tucana e desmentir que o PSDB seja muito “avenida Paulista”.

A liderança peessedebista que se firma é o ex-governador mineiro Aécio Neves, capacitado a disputar o comando do partido depois da vitória em Minas Gerais na eleição de outubro. As credenciais de Aécio parecem melhores do que a do derrotado José Serra. Liderança tucana inconteste, tem o traquejo político da velha escola mineira, e seu ninho paralelo aloja correligionários de todo o país incomodados com o predomínio dos professorais de São Paulo.

O pernambucano Sérgio Guerra, outro derrotado em outubro, parece colocar suas fichas no ninho mineiro. O partido precisa ganhar caráter mais nacional, disse ao jornal O Globo. E apontou dois grandes problemas: o PSDB precisa deixar de ser comandado por um pequeno grupo e encontrar a sintonia, que não tem, com os setores sociais emergentes. Fora isso, mais do mesmo: e insiste na necessidade de defender a política neoliberal do presidente FHC, as privatizações, os cortes de gastos do governo, e por aí vai.

Ou seja, a estrada de Damasco do PSDB não desemboca numa conversão substancial nem o levará a se tornar um partido capaz de expressar as aspirações progressistas do povo brasileiro, mas na troca de comando para defender e aplicar, quando à frente de governos municipais, estaduais ou federal, a política neoliberal de sempre, como Fernando Henrique Cardoso fez na presidência da República, e José Serra e Aécio Neves fizeram como governadores de São Paulo e de Minas Gerais.

A disputa que divide o PSDB envolve o troca da plumagem e o tamanho do bico de quem vai comandar o partido. Não passa disso, seja com Serra, Aécio ou qualquer outro emplumado. Não há retorno para a opção .Editorial do Portal Vermelho

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