Curioso que a Folha de São Paulo não disse que Tariq Ali falou mal do jornalão dos Frias.
Por: Maurício Thuswohl, da Rede Brasil Atual
Rio de Janeiro – Os acontecimentos políticos mundiais que se sucederam desde a invasão do Iraque e do Afeganistão pelos Estados Unidos estão provocando uma mudança na mídia dominante global que deve ser aproveitada e aprofundada por aqueles que desejam a democratização da produção e do acesso à comunicação. Esse recado foi dado pelo escritor paquistanês – radicado na Inglaterra – Tariq Ali durante sua participação nesta quarta-feira (24) no curso “O Poder da Mídia no Século XXI”, promovido no Rio de Janeiro pelo Núcleo Piratininga de Comunicação.
Em conversa com jornalistas progressistas e durante a apresentação de sua palestra para os participantes que lotaram o auditório do Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, Tariq Ali analisou que o atual quadro da mídia global começou a se desenhar com o colapso da URSS: “A mídia soviética era horrível, mas representava um contraponto à mídia ocidental dominante e era uma prova viva de que o mundo estava dividido. Com a queda do regime soviético e o ‘fim da história’, a mídia global se tornou monocórdica, pautada pela adoração ao mercado e defesa dos princípios neoliberais”.
Essa dominação, afirmou Ali, fez com que “os barões da mídia global começassem a acreditar que moldavam o mundo”. O ponto de ruptura, segundo o escritor paquistanês, aconteceu quando a sociedade mundial percebeu que a maioria dos grandes conglomerados de mídia havia mentido acerca da presença de armas de destruição em massa no Iraque: “Os grandes protestos de rua realizados em diversos países mostraram que milhões não acreditavam na mídia. Hoje, já se admite que não havia armas de destruição em massa no Iraque”.
Da invasão do Iraque para cá, disse Ali, criou-se um cenário de mudança na mídia global, com as grandes empresas atuando cada vez mais como grupo político ao mesmo tempo em que surgem alternativas de produção de conteúdo. Ele citou as emissoras de televisão Al-Jazeera (Catar) e Telesur (Venezuela) como exemplos desse novo contexto: “O caso da Al-Jazeera é particularmente importante, pois ela rompeu com o padrão de produção de imagens de guerra uniformizado desde sempre por emissoras como a norte-americana CNN e a inglesa BBC”.
Tariq Ali ressaltou que o incômodo com o trabalho realizado pela Al-Jazeera no Iraque e no Afeganistão fez com que o exército dos EUA bombardeasse um hotel onde se hospedava uma equipe da emissora árabe: “Um dos principais correspondentes internacionais da Al-Jazeera foi assassinado neste dia”, disse. Ali lembrou também da ocasião quando um general dos EUA, revoltado com a exibição das imagens de uma família civil iraquiana assassinada por um tanque norte-americano, foi exigir desculpas públicas da Al-Jazeera: “O diretor da Al-Jazeera retrucou dizendo que quem devia desculpas eram os EUA. A Al-Jazeera desafiou o monopólio da informação exercido pelo Ocidente”.
América Latina
Por: Maurício Thuswohl, da Rede Brasil Atual
Rio de Janeiro – Os acontecimentos políticos mundiais que se sucederam desde a invasão do Iraque e do Afeganistão pelos Estados Unidos estão provocando uma mudança na mídia dominante global que deve ser aproveitada e aprofundada por aqueles que desejam a democratização da produção e do acesso à comunicação. Esse recado foi dado pelo escritor paquistanês – radicado na Inglaterra – Tariq Ali durante sua participação nesta quarta-feira (24) no curso “O Poder da Mídia no Século XXI”, promovido no Rio de Janeiro pelo Núcleo Piratininga de Comunicação.
Em conversa com jornalistas progressistas e durante a apresentação de sua palestra para os participantes que lotaram o auditório do Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, Tariq Ali analisou que o atual quadro da mídia global começou a se desenhar com o colapso da URSS: “A mídia soviética era horrível, mas representava um contraponto à mídia ocidental dominante e era uma prova viva de que o mundo estava dividido. Com a queda do regime soviético e o ‘fim da história’, a mídia global se tornou monocórdica, pautada pela adoração ao mercado e defesa dos princípios neoliberais”.
Essa dominação, afirmou Ali, fez com que “os barões da mídia global começassem a acreditar que moldavam o mundo”. O ponto de ruptura, segundo o escritor paquistanês, aconteceu quando a sociedade mundial percebeu que a maioria dos grandes conglomerados de mídia havia mentido acerca da presença de armas de destruição em massa no Iraque: “Os grandes protestos de rua realizados em diversos países mostraram que milhões não acreditavam na mídia. Hoje, já se admite que não havia armas de destruição em massa no Iraque”.
Da invasão do Iraque para cá, disse Ali, criou-se um cenário de mudança na mídia global, com as grandes empresas atuando cada vez mais como grupo político ao mesmo tempo em que surgem alternativas de produção de conteúdo. Ele citou as emissoras de televisão Al-Jazeera (Catar) e Telesur (Venezuela) como exemplos desse novo contexto: “O caso da Al-Jazeera é particularmente importante, pois ela rompeu com o padrão de produção de imagens de guerra uniformizado desde sempre por emissoras como a norte-americana CNN e a inglesa BBC”.
Tariq Ali ressaltou que o incômodo com o trabalho realizado pela Al-Jazeera no Iraque e no Afeganistão fez com que o exército dos EUA bombardeasse um hotel onde se hospedava uma equipe da emissora árabe: “Um dos principais correspondentes internacionais da Al-Jazeera foi assassinado neste dia”, disse. Ali lembrou também da ocasião quando um general dos EUA, revoltado com a exibição das imagens de uma família civil iraquiana assassinada por um tanque norte-americano, foi exigir desculpas públicas da Al-Jazeera: “O diretor da Al-Jazeera retrucou dizendo que quem devia desculpas eram os EUA. A Al-Jazeera desafiou o monopólio da informação exercido pelo Ocidente”.
América Latina
O papel que vem sendo desempenhado pela emissora Telesur, criada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é, segundo Ali, semelhante ao da emissora do Catar: “Quando ocorreu o golpe em Honduras, só a Telesur estava lá”, exemplificou. O escritor paquistanês se diz particularmente interessado pelo desenvolvimento de alternativas de mídia na América Latina, sobretudo em países como Bolívia, Equador, Venezuela e Paraguai, que classificou como “bolivarianos” e onde “o poder das velhas elites foi quebrado”.
Nesse aspecto, iniciativas semelhantes à Telesur também representam um desafio ao monopólio da comunicação: “Todos os principais veículos da grande mídia global difundem uma mesma visão da América Latina. Jornais como Financial Times, El País e Folha de São Paulo tratam Chávez e Evo Morales da mesma forma, apostando na divisão política interna dos países. Se fosse levado em conta o que diz a grande mídia, teríamos uma situação de guerra civil na América Latina”, disse Ali.
Novos meios
Tariq Ali falou da importância dos novos meios de comunicação como instrumentos de ruptura com o monopólio dos grandes conglomerados de mídia: “Hoje existe a web, onde as pessoas procuram ler coisas que não encontram nos grandes jornais”, disse. Ele também elogiou a proliferação de rádios alternativas e comunitárias em vários pontos do planeta, assim como as iniciativas para a formação de comunicadores comunitários que acontecem atualmente em países como Brasil e Bolívia.
Ali afirmou que “a apatia e a despolitização institucionalizada estimuladas pela mídia são os maiores inimigos daqueles que lutam por mobilizar as sociedades em busca de transformações globais”. O paquistanês ressaltou, no entanto, que cada um deve fazer a sua parte: “É preciso buscar as informações. Nada vai cair no seu colo. As informações corretas não vão nos ser simplesmente dadas de presente pela mídia institucional”.
O curso “O Poder da Mídia no Século XXI”, promovido pelo Núcleo Piratininga de Comunicação, acontecerá até o próximo domingo (28), e discutirá temas como o papel da mídia nas eleições presidenciais brasileiras em 2010, a tevê pública, o futuro dos jornais impressos e a emergência das mídias digitais, entre outros. No sábado (27), o editor da Revista do Brasil, Paulo Donizetti, fará parte da mesa que discutirá os atuais desafios da comunicação sindical.
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