domingo, 28 de novembro de 2010

Votos tucanos


Marcos Coimbra


Correio Braziliense - 28/11/2010



Agora, no momento em que as oposições precisam repensar seu rumo e discutir como serão no futuro, o pior que lhes pode acontecer é não entender a eleição que fizeram

Quando terminou o segundo turno da eleição presidencial, muita gente comemorou os resultados alcançados por Serra. Seus simpatizantes mais ardorosos, na opinião pública e na imprensa, chegaram a dizer que a derrota era quase uma vitória. Estavam tristes, mas se confortavam achando que ele e o PSDB saíam maiores da eleição.

O fundamento dessa avaliação é a comparação entre seu desempenho e o de Alckmin em 2006. Como, na eleição anterior, o candidato tucano alcançou 37 milhões de votos e nesta 43, o diagnóstico seria simples: Serra foi melhor que Alckmin.

Inversamente, o PT teria ido pior, pois Lula teve 58 milhões de votos em 2006 e Dilma “apenas” 55 milhões. Enquanto o PSDB ficou maior, o PT encolheu.

Não deixa de ser engraçado esse modo de avaliar o resultado da eleição. Parece até um jogo inventado pelo Chapeleiro Maluco: quem ganha sai diminuído, quem perde fica contente e se orgulha da “vitória moral”. Enquanto isso, na vida real, o PSDB amarga sua terceira derrota consecutiva e o PT se prepara para permanecer no poder por 12 anos ininterruptos.

A sensação de que Serra saiu vitorioso da eleição não tem, porém, fundamento. Ao contrário de vários pontos de vista seus números não foram nada bons em comparação com os de Alckmin.

A começar pelo resultado do primeiro turno. Por mais que a campanha tucana tenha ficado feliz com a passagem inesperada para o segundo turno, o fato é que Serra recebeu, em 3 de outubro, quase 7 milhões de votos a menos que Alckmin havia obtido há quatro anos. Se lembrarmos que tínhamos, então, 125 milhões de eleitores e agora 135, a perda é ainda mais expressiva.

É verdade que houve frustração na campanha Dilma quando ela não venceu no primeiro turno. Mas o certo é que ela teve 47,6 milhões de votos, mais, em números absolutos, que Lula em 2006. Para uma candidata que começava ali sua experiência eleitoral, um resultado extremamente positivo.

Foi Marina, no entanto, a maior vitoriosa. Quanto a Serra, por mais que festejasse a nova chance que recebia em função do desempenho da candidata do PV, o primeiro turno foi uma decepção face ao que Alckmin tinha conseguido.

A vantagem do governador eleito sobre o ex-candidato é especialmente visível em São Paulo. Em condições parecidas, isto é, ambos tendo deixado o governo do estado para disputar a Presidência, Alckmin teve, lá, quase 12 milhões de votos no primeiro turno, enquanto Serra, este ano, ficou com 9,5 milhões, ou seja, com 2,5 milhões a menos (sempre lembrando que o eleitorado aumentou 8% entre as duas eleições).

Mesmo no segundo turno, as comparações entre Serra e Alckmin não são sempre favoráveis ao candidato de 2010. No conjunto de estados que formam o “núcleo duro” oposicionista — São Paulo, os três da região Sul, os dois Mato Grosso — Alckmin (apesar de ter minguado entre os dois turnos) foi mais votado que Serra, se levarmos em conta o aumento do eleitorado de 2006 para cá: na soma dos seis, Alckmin teve 21 milhões de votos, proporcionalmente mais que Serra, que teve 22,1.

O que se percebe a partir desses números é que, diferentemente do que pensam alguns, Serra só foi melhor que Alckmin no cômputo final pelos votos que recebeu em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no Norte/Nordeste. Em Minas, por exemplo, Serra teve, no segundo turno, quase 600 mil votos a mais que Alckmin.

Mas o mais preocupante no desempenho das oposições este ano, quando se leva em conta a eleição anterior, é que Alckmin era tido como mais fraco que Serra e que ninguém duvida que Lula é mais forte que Dilma, em termos eleitorais. Ou seja: quando o candidato mais fraco enfrentou o mais forte, o desempenho do PSDB foi melhor, em muitos aspectos, que na hora em que o aparentemente forte enfrentou a marinheira de primeira viagem.

Agora, no momento em que as oposições precisam repensar seu rumo e discutir como serão no futuro, o pior que lhes pode acontecer é não entender a eleição que fizeram. Se acharem que “as coisas não foram tão mal”, que “saíram bem da eleição”, vão ficar com a impressão de que não precisam fazer mudanças profundas nas suas lideranças e no discurso. É o melhor caminho para que permaneçam presas aos erros que cometeram.

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