quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O PiG nosso de cada dia

 

 
Muitos de nós já devem ter se perguntado porque revistas, jornais e TVs pareciam menos parciais e partidários em outras épocas do que atualmente. A Folha, por exemplo, deu dois dias seguidos manchetes de capa denunciando a compra de votos para a aprovação da lei que permitiu a FHC ganhar um segundo mandato. A Veja deu várias capas com denúncias sobre mal feitos nos governos Sarney, Itamar e FHC. A IstoÉ publicou uma entrevista-bomba, onde Serra era acusado de comprar ambulâncias com preços superfaturados quando era ministro de FHC.
 
 
Por que, afinal, tornaram-se tão mentirosos e golpistas? Por que pouco se importam com sua credibilidade e desdenham quando são desmascarados?
 
 
Numa só palavra: Internet.
 
 
Até bem pouco tempo, a rede de computadores não oferecia perigo algum à supremacia do PiG. A Internet era para poucos e os jornalões e TVs davam-se ao luxo de, vez por outra, denunciar algumas falcatruas dos governos burgueses (mas sem forçar muito…). Daí surgiu o termo “acabar em pizza”. Fazer um jornalismo-denúncia, investigativo, mesmo que “light”, era o jogo de concorrência entre o seleto grupo dos empresários de comunicação – quem conseguia maior repercussão e mais leitores. Ter uma linha editorial de centro, deu à Folha a fama de ser um dos poucos jornais aproveitáveis na década de 90. Eu mesmo assinava (e até hoje me amolam para voltar a assinar).
 
 
Sem ser ameaçado por ninguém, o oligopólio da mídia deitava e rolava onipresente. A Globo, que chafurdava em 80% de toda a verba de propaganda institucional, era a “inimiga” de todos seus atuais parceiros de golpismo. Consideravam-na como a responsável direta pela fabricação dos alienados bovinos da época.
 
 
À partir de 2002, os chefões do PiG encontraram um inimigo comum a todos: Lula – o nordestino que acabara de derrotar o candidato das elites, tomando o lugar que jamais admitiram ser seu de direito. Paralelamente a isso, a Internet crescia e o PiG perdia audiência e deixava de ser dono exclusivo do mercado da informação. A bem da verdade, desde então, estão em franca decadência. E pelo andar da nossa lenta carruagem em direção à democratização das comunicações, é possível que muito antes de aprovarmos o Marco Regulatório, o PiG seja suplantado pela Internet em definitivo, a ponto de a questão da regulamentação tornar-se pouco relevante.
 
 
A rede mundial de computadores é o câncer sem cura que corrói a credibilidade e torna cada vez mais difícil a sobrevivência da mídia convencional. E isso se dá a nível mundial. Basta ver a perseguição dos EUA a Julian Assange, do site WikiLeaks, que tem revelado documentos que comprometem muita gente dos altos escalões do poder, inclusive José Serra. Além disso, a Internet informa na noite anterior, tudo que estará nas manchetes no dia seguinte. E nada podem fazer os magnatas das comunicações, senão promover a censura ou criminalizar quem discorda da visão de mundo que vendem. Não tenham dúvidas: os barões da midia trabalham dia e noite buscando uma fórmula que possa impor censura aos usuários da rede, evitando o compartilhamento a jato de informações e a promoção de ações coletivas que minam seus interesses mortalmente. Imaginem o que é para um Cívita ver sua revistinha esculachada no Facebook, Twitter, Orkut etc a cada edição, assim que chega às bancas.
 
 
Aliás, se o Governo Federal deixasse de anunciar no PiG, muitos entrariam no vermelho de cara. Por que ainda anuncia nas publicações que vivem conspirando para sua deposição? Porque, segundo o governo, o custo benefício de gastar 161 milhões em publicidade institucional ainda é vantajoso. Apanha da mídia ao mesmo tempo em que a usa para divulgar suas realizações. Pois, se depender da Veja, Estadão, Folha e Globo, nada do que o governo faz de positivo seria informado à sociedade honestamente. Em outras palavras, o governo tem que PAGAR pra mostrar o que tem feito de bom pelo Brasil.
 
 
Eu discordo dessa estratégia. Entendo que desde o primeiro mandato de Lula, falta ao Governo Federal justamente instrumentos próprios de comunicação, fortalecidos o suficiente para, ao menos, equilibrar o jogo. O dinheiro aplicado no PiG poderia muito bem ser usado na construção de veículos de comunicação próprios, uma linha direta de diálogo com o povo.
 
 
Serra era um “sucesso” eleitoral até o surgimento da Internet. Agora mostra-nos até que ponto um político profissional, sem escrúpulos, mergulha no esgoto para alcançar seu objetivo. Mais uma razão para não votar nele: deverá ser um bom exemplar para pesquisas psiquiátricas sobre os limites da degradação humana.
 
 

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