quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Médicos criticam Requião



O Globo - 29/10/2009

Especialistas em câncer repudiam declaração; governador diz que quis fazer alerta

CURITIBA E SALVADOR. A declaração do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB) — que durante programa da TV Educativa paranaense disse que a ocorrência de câncer de mama em homens deve ser consequência “dessas paradas gays” — foi duramente criticada por especialistas reunidos no Congresso Brasileiro de Cancerologia, que acontece em Curitiba.

— A declaração vem na contramão com o que as sociedades vêm procurando desenvolver em prevenção do câncer de mama. Acaba estragando todo o trabalho realizado — disse ontem o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia no Paraná, Leo Francisco Leoni Junior.

O presidente do Instituto da Mama, o mastologista Ademar Bedin Júnior, disse que o discurso de Requião é infundado.

Segundo ele, a incidência do câncer de mama masculino ocorre na proporção de cem mulheres para um homem. Em 2008, dos 49,4 mil casos de câncer de mama, apenas 1% ocorreu em homens.

— A declaração, além de não proceder, mais atrapalha do que ajuda. Aumenta o preconceito em relação à própria doença — afirmou.

Por sua declaração, Requião poderá encabeçar a lista do troféu “Pau de Sebo”, instituído pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) para “premiar” os inimigos dos homossexuais, segundo o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB. Mott disse que, no levantamento que a entidade faz sobre assassinatos de homossexuais no país, o Paraná é o estado onde este ano ocorreram mais casos: 19 homicídios.

— O curioso é que o próprio governador já foi vítima desse tipo de preconceito e chegou a ser conhecido por “Maria louca”.

Por isso deveria ter mais cuidado com as palavras — disse Mott, referindo-se ao apelido dado a Requião por Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo.

Em nota divulgada ontem, Requião afirmou que, com sua declaração, pretendeu alertar para os riscos à saúde. “Quando me referi às paradas da diversidade, ocorriam-me os riscos que o abuso de hormônios femininos, com fins terapêuticos ou estéticos, representam para a saúde. Entre os riscos, o câncer de mama. Em razão disso, estou sendo impiedosamente criticado”, afirmou.

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