Filósofa diz que intolerância política é fomentada pelos meios de comunicação hegemônicos e pelo Judiciário: "Estão apodrecidos"
Reprodução/TV Brasil
Marcia Tiburi afirma que as pessoas fascistas estão criando um 'mal-estar profundo na sociedade'
São Paulo – A filósofa Marcia Tiburi vê a
intolerância política crescente no país como "uma estranha autorização
das pessoas que não refletem, não raciocinam, sem um pensamento voltado à
questão social, que se manifestam contra aqueles que se posicionam
contra o golpe, ou seja, daqueles que tem uma visão da sociedade mais
ampliada."
"Acho que estamos vivendo uma espécie de escândalo fascista. Há um
momento de avanço da espetacularização fascista no dia a dia. O que está
estarrecendo todo mundo é essa autorização pessoal que vemos nas ruas, o
medo por estar com uma roupa vermelha ou por ter uma posição crítica da
sociedade. O que chama a atenção dessas figuras que têm se jogado numa
forma de pressão fascista, preconceituosa, agressiva e, sobretudo,
autorizada para expressar a intolerância", afirmou Tiburi, em entrevista
à repórter Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
A filósofa usa o termo "fascistizado" para denominar o Congresso
Nacional, onde ela vê raras exceções, como os parlamentares de esquerda
mais críticos, mas que são minorias. Ela alerta que o cidadão comum, que
não tem poderes, também expressa o fascismo. "Tem uma coisa que é
interessante. O fascista não escuta, é uma personalidade autoritária.
Ele não está aberto ao outro, pois possui um pré-julgamento do outro.
Ele o trata como 'um petista' e vai xingá-lo. Esse ódio é fomentado e
manipulado pelos meios de comunicação, a pessoa apenas repete o discurso
de certas mídias, hegemônico, como a televisão e jornais
de grande circulação. O fascista apenas repete o discurso pronto, ele se
apodera de uma espécie de capital de conhecimento e consegue calar os
outros."
Para ela, seria importante avaliar o cotidiano dessas pessoas que não param para pensar. "Essa
é uma figura que é preciso ter uma atenção, estudar, porque há muitos
problemas subjetivos, políticos, psíquicos e até psicanalíticos
envolvidos. Tudo isso é feito do vazio do pensamento", explica a
filósofa. "O pensamento está em baixa, muitas pessoas se negam a
refletir, questionar, perguntar o que está acontecendo."
Ela acredita que a amplitude da conjuntura atual está criando um mal-estar profundo na sociedade. "Existe
um arranjo sistêmico. Um golpe do Judiciário, que está apodrecido, além
da mídia apodrecida, que faz existir o braço midiático no golpe. Há
também o golpe cotidiano, que o mero cidadão que pratica o golpe de si
mesmo, que se aliena através d um reality show, onde aprendeu um ritual de sacrifício, acha que pode praticar o pequeno golpe definindo que o presidente tem que sair."
Autora do livro Como conversar com um fascista, Marcia
acredita que aqueles que defendem a democracia devem apelar para a lei.
Ela afirma que, sem legalidade, não há direitos, e sugere a análise do
cidadão comum nesse momento. "Analisar a si mesmo levaria o cidadão a
cair em um processo de profunda vergonha e mal-estar. Esse indivíduo
acaba se lançando em um processo de julgar o outro, vide o caso da
corrupção no Brasil. Aliás, essa história de golpe, esse senso do
impeachment, se alicerça em uma propaganda contra a corrupção e é para
convencer o cidadão mediano de que ele é melhor do que aquele que o
governa."
"Muitos não sabem diferenciar o processo de impeachment da Operação
Lava Jato. Existe muita confusão conceitual típica de um país que não
teve educação política, onde muitos são manipulados pelos meios de
comunicação hegemônicos", acrescenta.
"Desculpa falar assim, mas quando a gente quer que o cachorro entre
em uma briga devemos incitar muito esse cão para que fique irritado.
Talvez as pessoas estejam sendo maltratadas pelos próprios organizadores
do golpe. Eu acho que todos os fascistas e golpistas que estão se
manifestando de maneira agressiva, precisam de ajuda psiquiátrica e
pedagógica. Ali não há gente normal que sabe o que está acontecendo com a
política brasileira."
Marcia Tiburi diz que os fascistas são resultados de uma produção, já
que o fascismo não é natural das pessoas, mas fomentado, principalmente
pela tevê, num processo de vários anos. "Para implantar o fascismo, a
gente não pode criar um cenário simples e tranquilo, mas um cenário
furioso com o discurso do ódio, incitando as pessoas a odiarem os
diferentes. Hoje, o cidadão comum, quando encontra alguém que ele não
gosta, nós devemos perguntar de onde vem esse ódio, porque não é algo
das pessoas. Quem ensina as pessoas a odiar são as instituições."
247 – O dia 17 de
abril de 2016, em que a Câmara dos Deputados, liderada pelo deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), votou o impeachment da presidente Dilma
Rousseff fez com o médico e escritor Drauzio Varella sentisse vergonha
de ser brasileiro.
"Pela primeira vez em 70 anos senti
vergonha de ser brasileiro. Culpa da TV, que me manteve hipnotizado na
frente da tela, enquanto transmitia a votação do impeachment na Câmara,
duas semanas atrás", diz ele, em artigo publicado neste sábado (leia aqui).
"Não posso alegar desconhecimento,
ingenuidade ou espanto, vivo no Brasil e acompanho a política desde
criança. Todos sabem que é lamentável o nível da maioria de nossos
deputados, mas vê-los em conjunto despejando cretinices no microfone foi
assistir a um espetáculo deprimente protagonizado por exibicionistas
espertalhões, travestidos em patriotas tementes a Deus", afirma. "Votavam
o impeachment de uma presidente da República como se estivessem num
programa de auditório, preocupados somente em impressionar suas
paróquias e vender a imagem de mães e pais amantíssimos."
Segundo ele, acreditar na democracia
brasileira agora passa a ser um ato de fé. "E pensar que aqueles homens
brancos enfatuados, com gravatas de mau gosto, os cabelos pintados de
acaju e asa de graúna, com a prosperidade a transbordar-lhes por cima do
cinto, passaram pelo crivo de 90 milhões de eleitores que os escolheram
para representá-los. Para aqueles que não viveram como nós as trevas da
ditadura, manter a crença na democracia brasileira chega a ser um ato
de fé", afirma.
Parece
algo surreal, mas é possível que ocorra. Na Operação Lava Jato, que ao
longo dos últimos 25 meses apoiou grande parte do seu trabalho em 49
delações premiadas, conquistadas, segundo denúncias, com a pressão das
prisões preventivas e de outras ameaças, o feitiço poderá virar contra o
feiticeiro.
Amedrontada, Meire Bonfim da Silva Poza, a ex-contadora de Alberto
Youssef que praticamente trabalhou como “infiltrada” para a Polícia
Federal, como descreveu a revista CartaCapital, pensa em pedir
segurança ao governo, para ela e a filha. Fala em ingressar em um
programa de proteção a testemunhas. Caso concretize esta sua vontade,
ela deverá narrar tudo o que sabe, para justificar o risco que diz
correr. Falar, inclusive, da sua colaboração à Força Tarefa que,
certamente, também será alvo das delações.
“Ela está meio assustada, pois há indícios de que
o incêndio (do escritório dela) foi criminoso. Está pretendendo,
inclusive, ir ao ministro da Justiça para, de certa forma, pedir que
seja inserida em um programa de proteção de testemunha. Está bastante
temerosa com relação à integridade pessoal e de sua filha”, explicou o advogado paranaense Haroldo Náter, que a representa na Justiça de Curitiba.
O incêndio, que destruiu todo o escritório na Avenida Santo Amaro, no
bairro do Itaim-Bibi, zona Sul da capital paulista, ocorreu no dia 30
de março. Mas, o que deve ter levado Meire a pensar em pedir proteção
foi a divulgação de uma série de mensagens que ela trocou com a Polícia
Federal, servindo de informante da mesma na Operação Lava Jato.
Na agenda oficial do ministro da Justiça, o encontro com o advogado Haroldo Náter que, ao blog, disse não ter estado com Aragão.
Se ela pedirá mesmo proteção, só o tempo
dirá. É tudo muito estranho, uma vez que Náter esteve com o ministro da
Justiça. Eugênio Aragão, no dia 14 de abril, levado pelos deputados
petistas Afonso Florence (BA) e Wadih Damous (RJ). Foi lá entregar os
documentos que a cliente acumulou, durante os meses de colaboração com a
Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal do Paraná
(SR/DPF/PR). No entanto, ao blog, ele negou este encontro e disse que
outro advogado é quem teria estado em Brasília. Da mesma forma que negou
possuir os documentos, alegando que eles estavam em um computador que
queimou no incêndio. Mas os entregou ao ministro, na audiência
que consta oficialmente da agenda. Com Aragão, Náter não falou em
proteção para a sua cliente.
CartaCapital
apresenta os documentos que Meire Poza já fez chegar ao ministro da
Justiça, mostrando métodos pouco ortodoxos de investigação, que beiram a
ilegalidade.
Os papéis e o arquivo digital contêm
conversas que ela manteve por aplicativos telefônicos com delegados e
também procuradores do Ministério Público Federal de Curitiba. É o
material que a revista CartaCapital também recebeu e publicou parte dele na edição que circulou a partir de sexta-feira passada (22/04), na matéria “Os segredos de Meire“.
Uma segunda reportagem está na edição que começou a circular nesta sexta-feira (29/04) em São Paulo, mas ao escrever esta matéria, ainda não a tinha lido.
A primeira reportagem, assinada por Henrique Beirangê, apenas confirma o que alerto aqui no blog desde agosto quando pela primeira vez abordamos o assunto na matéria Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR: a maior ameaça à operação que se propôs a passar o Brasil a limpo não vem de fora, mas da própria força tarefa de Curitiba.
Através das mensagens que Meire trocou com
policiais e procuradores, notadamente com o então chefe da Operação Lava
Jato no DPF, delegado, Marcio Anselmo Adriano, confirma-se – com
riqueza de detalhes e novas revelações – que a Polícia Federal e o
próprio Ministério Público Federal – pela Constituição, fiscal da lei e
das atividades policiais – utilizaram métodos nada ortodoxos e até
ilegais. transcrevo um trecho da reportagem:
“CartaCapital obteve com exclusividade quase
200 páginas de transcrição de conversas e duas dezenas de e-mails que
envolvem a contadora Meire Poza, ex-braço direito do doleiro Alberto
Youssef.Os volumes revelam: Poza agiu como uma espécie de
agente infiltrada durante um longo período e a força tarefa empregou
métodos ilegais para valer-se da sua contribuição. Buscas e apreensões
foram forjadas, parlamentares viraram alvo sem a autorização do Supremo
Tribunal Federal, documentos acabaram vazados ilegalmente para a mídia.
Tudo, conforme indicam as interceptações das mensagens (entre Meire e
membros da força tarefa), com o conhecimento do Ministério Público
Federal. Por muito menos, operações anteriormente restaram anuladas pela
Justiça, entre elas a Castelo de Areia e a Satiagraha“, diz a revista.
Questionamentos da legalidade
– Nas mensagens, segundo a revista, há referência a políticos
investigados irregularmente, a começar pelos ex-deputados – hoje
condenados – André Vargas (PT-PR) e Luiz Argolo (SD-BA). No blog também
os apontamos como alvo das investigações ilegais, sem o conhecimento do
Supremo Tribunal Federal (STF), na matéria Lava Jato: surge nova denúncia de irregularidade.
Eram os usuários dos celulares de cujos números os operadores da Lava
Jato tentaram obter dados sobre as contas – como a relação das ligações
feitas e recebidas – com o chamado “Alvará Metropolitano”. Trata-se de
uma autorização do juiz estadual, José Orlando Cerqueira Bremer,
ex-titular da Vara de Pinhais, aos policiais da Delegacia de Repressão a
Entorpecentes (DRE) para investigação do tráfico de drogas na região.
Ao saber da tentativa de uso da sua autorização pelos operadores da Lava
Jato, o juiz se disse traído. O que os policiais federais não contavam
era a recusa da operadora em repassar as informações por serem celulares
corporativos da Câmara, logo com direito a foro especial.
Com base nos diálogos travados entre a contadora e os operadores da Lava Jato, CartaCapital
relacionou ainda como alvos da polícia federal do Paraná, sem
autorização do STF, a então deputada Aline Corrêa, do PRB, e os
senadores Cícero Lucena, do PSDB, e Gim Argello, do PTB. Argello acabou
preso, no último dia 12 de abril, com um mandado de prisão expedido pelo
ministro Teori Zavascki.
Pelo teor destas trocas de mensagens, não é difícil imaginar que
Meire se sinta ameaçada e possa realmente querer proteção para si e para
a filha. Todo este jogo é muito pesado. Ela já suspeita do incêndio que
destruiu seu escritório. Por isso, aliás, há policiais sugerindo que
ela faça a denúncia diretamente à Corregedoria, em Brasília, e grave
tudo o que falar, para ter certeza que colocarão no papel. O que não
parece mais restar dúvidas é que, como estamos afirmando há muito tempo,
nos tribunais superiores a legalidade de, pelo menos, parte da Operação
Lava Jato será questionada.
Como era previsível, tais documentos já foram levados pela defesa de
Meire ao ministro Aragão. O ministro pediu ao próprio Departamento de
Polícia Federal e à Procuradoria Geral da República que investiguem o
caso. Acredite quem quiser que isto acontecerá pois, pelo exemplo do
grampo achado na cela de Youssef no final de março de 2014, a maior
perspectiva é que nada aconteça. Mas, o que é previsível é que tudo isso
chegue aos tribunais superiores.
Corrupção imaterial
– Antes falávamos apenas do grampo ilegal na cela de Alberto Youssef
que a Superintendência da Polícia Federal do Paraná, o Ministério
Público Federal daquele estado e o próprio juiz Moro tentam fingir que
não existiu. Ou que não estava ativado. Até hoje, nem mesmo com a troca
de ministro da Justiça, o Departamento de Polícia Federal (DPF) e sua
Corregedoria Geral (Coger/DPF) foram capazes de apresentar o resultado
da nova sindicância feita que, como dissemos na reportagem Surgem os áudios da cela do Youssef: são mais de 100 horas,
teria confirmado que o grampo estava ativo e captou conversas de
Youssef em sua cela. Esta sindicância, é bom lembrar, foi prometida ao
juiz Moro em dezembro passado, tal qual noticiamos em novembro – Grampo da Lava Jato: aproxima-se a hora da verdade – e, posteriormente, em Lava Jato: Moro reacendeu as suspeitas do grampo ilegal na PF. Não a entregaram e ele não falou mais nisso. Não há interesse em mexer nesta questão.
Mostrando que a Polícia Federal usa dois pesos e duas medidas, a
Corregedoria não apresenta o resultado da sindicância do grampo, mas
levou a cabo a investigação em torno dos chamados “dissidentes” da Lava
Jato. Indiciaram o delegado Paulo Renato Herrera, o ex-agente Rodrigo
Gnazzo, e os advogados Marden Maués, que defendeu a doleira Nelma
Kodama, e Augusto de Arruda Botelho, defensor do executivo Márcio Faria,
ligado à Odebrecht, por crime de corrupção.
A delegada Tânia Fogaça, da Coger/DPF, não conseguiu provar que houve
o tal dossiê que alegaram que os “dissidentes” tinham feito para vender
para as defesas dos réus para, com ele, tentarem derrubar a Lava Jato.
Mesmo com quebra de todos os sigilos dos investigados, também não provou
nenhum pagamento ou movimentação financeira estranha em suas contas.
Mas, ainda assim, indiciou Herrera por corrupção ativa alegando que seu
ganho seria a “derrubada da direção da superintendência da Polícia
Federal no Paraná”. Os demais envolvidos foram indiciados por
contribuírem com este “crime”.
Às mensagens de Meire e ao já conhecido caso do grampo da cela de Youssef juntam-se outras suspeitas que, na Carta aberta ao ministro Eugênio Aragão por
nós publicada em 22 de março, relacionamos ao falarmos do recado que o
ministro mandou, logo após tomar posse, de que não admitiria vazamentos
de informações:
“Seu alerta também mostra aos agentes, no
caso os operadores da Lava Jato, que agindo no estrito cumprimento legal
jamais serão acusados de ilegalidades tais como colocar grampos sem
autorização, forçar delações premiadas, tomar partido em investigações,
optar por investigar A e esquecer B, faltar com a verdade, esconder
fatos desabonadores, e tantas outras coisas que dificilmente o povo que
aplaude quem combate a corrupção acreditaria que eles fossem capazes de
fazer. E mais, jamais os apoiariam. O que o povo quer, é preciso
acreditar, é o cumprimento de todas as leis, em todos os momentos da
apuração da execrável corrupção. Ou haverá quem repudie o Estado
Democrático de Direito? Não acredito.”
O
bilhete entregue por Meire Poza não significa muita coisa.
Aparentemente trata de uma possivel viagem da presidente Dilma. Mas
precisaria ser investigado e quem pode fazer isso é o STF. Mas o bilhete
não foi remetido ao STF. Reprodução da revista Isto É
Bilhete omitido – O que CartaCapital
não comentou foi que através de Meire o delegado Marcio Anselmo recebeu
um bilhete com o nome “Dilma”, também aqui noticiado em Lava Jato não mandou ao STF bilhete que cita Dilma, no último dia 2 de abril. É mais uma evidencia de que a força tarefa escondeu informações do STF. Na postagem, explicamos:
“Um bilhete divulgado, no último dia 11 de março, pela revista Isto É, na reportagem O bilhete que liga o doleiro a Dilma, pode
demonstrar mais uma estratégia dos Operadores da Lava Jato: esconder do
Supremo fatos que deveriam levar para aquela corte. Embora o bilhete,
aparentemente, não comprometa a presidente, o simples fato de se seu
nome ser citado ali obrigaria a que o caso fosse mandado para o STF. Mas
isto não aconteceu. O papelucho, entregue ao delegado Marcio Anselmo Adriano,
que chefia a equipe da Polícia Federal em Curitiba responsável pela
investigação, em abril de 2014, jamais foi anexado a qualquer processo,
como informou a própria revista. Mas ele teria sido usado como forma de
pressão junto ao ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao
líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), pela Associação dos
Delegados da Polícia Federal (ADPF), segundo narrou Luis Nassif, na
reportagem postada no JornalGGN: O xadrez da polícia Federal na era das corporações“.
“Acordo branco”
– Para quem lida com a Operação Lava Jato desde o início, essa
“participação” de Meire nas investigações não chega a ser uma novidade. O
curioso é ela, até hoje, ser apenas testemunha. Tanto em juízo, quando
prestou depoimento como testemunha, como ao falar na Comissão
Parlamentar Mista de Investigação (CPMI) da Petrobras, do Congresso
Nacional, ela admitiu ter participado da emissão de notas frias para
cobrir propinas pagas pelas empreiteiras e ter vendido pelo menos um bem
de Youssef, sem lhe repassar o dinheiro, jamais ter sido denunciada.
Seu advogado diz que o dinheiro pagou despesas das empresas do doleiro. A
defesa de Youssef contesta.
Nos processos iniciais da Operação Lava Jato, notadamente aqueles em
que apareciam doleiros como Youssef e os irmãos Leandro e Leonardo
Meireles, todos eles ligadíssimo a Meire, houve cobranças com relação à
participação dela como colaboradora da Polícia Federal ou, usando o
termo da CartaCapital, infiltrada. Há petições, inclusive da
defesa de Youssef, questionando “um possível ‘acordo branco’ entre ela e
a Polícia Federal”. Logo, a questão não é estranha ao juiz Sérgio Moro.
Tampouco seria ao MPF.
Haroldo Náter, sem explicações jurídicas para a situação da sua cliente. Foto: reprodução da internet.
O próprio advogado da contadora, Náter, reconheceu, em conversa com o blog, a estranha situação da sua cliente:
“Sobre o ponto de vista legal não existe justificativa (para ela não responder a processos).
Sobre o ponto de vista legal não existe, porque não foi formalizada uma
colaboração pré-processual, uma colaboração premiada que se desse
durante o inquérito policial. O MPF, a força tarefa aqui do Paraná, acha
que só é possível ao Ministério Público realizar delação premiada. Mas,
a Lei 12850/2013 fala que a própria Policia Federal pode realizar este
termo de colaboração. Aqui no Paraná a força tarefa acha que só quem vai
realizar o termo de colaboração é o Ministério Público Federal. Então,
ela fez um acordo com os delegados da polícia, foi com a Polícia
Federal, uma instituição, queiram ou não queiram. Ela provavelmente
tratou com várias pessoas dentro da polícia, com vários delegados e
agentes. O Ministério Público Federal estava sabendo disso“, explicou
No
bilhete encaminhado por Nelma Kodama ao desembargador Gebran, em maio
de 2015, ela já denunciava o interesse dos delegados e procuradores em
informações sobre os políticos, desde a primeira fase da Operação Lava
Jato, em março de 2014. (Reprodução do bilhete editada)
Os interesses da Lava Jato
– Situação parecida é a da doleira Nelma Kodama. Embora já com a
condenação confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, ela
se beneficia de favores da polícia. Atualmente, junto com sua
companheira, cumpre pena na custódia da superintendência do DPF, em
Curitiba, ainda que o juiz Moro tenha dito que a custódia é apenas uma
passagem dos presos, não local para cumprimento da condenação. Mas,
Nelma foi peça importante na investigação contra os “dissidentes”.
Ela endossou a tese de que estaria sendo
feito um dossiê, com a participação do então seu advogado Maués. O
dossiê, como dissemos acima, nunca apareceu. Nelma, porém, continua na
carceragem da SR/DPF/PR. Provavelmente temem o que ela possa falar caso
seja devolvida para a penitenciária, onde esteve por alguns meses.
Foi da penitenciária que ela mandou um
bilhete para o desembargador Pedro Gebran Neto reclamando que quando se
recusou a colaborar com uma delegada federal, foi imediatamente
transferida para o presídio onde teve a cabeça raspada e perdeu 13
quilos.
No bilhete, que não foi levado em conta
pelo desembargador ao analisar o processo dela, ela não só revelou a
pressão para se tornar “colaboradora”, mas mostrou que desde o início da
Operação Lava Jato – ela foi a primeira a ser presa quando embarcava
para Milão, na Itália, dois dias antes de deflagrarem a primeira fase –
delegados e procuradores queriam pegar os políticos, mesmo sem nada
comunicarem ao Supremo.
“Quando cheguei à
Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, fui ouvida pelo
delegado Márcio Anselmo, os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando
Martelo, os quais me perguntaram: A senhora tem algum político, ou
negócio com trafigo de Drogas? Algum fato novo? Porque se a Sra. só
tiver operaçõezinhas com chinezinhos não é do nosso interesse“(sic)
Também Náter, advogado de Meire, fala de
interesses dos operadores da Lava Jato ao citar um questionamento que
fez aos procuradores sobre a contadora:
“Nós estávamos com receio de que a
Meire fosse denunciada. Surgiu uma conversa, lá por novembro de 2015,
que ela ia ser denunciada. Aí eu tive uma audiência na Procuradoria da
República, na época era o Orlando Martelo e o Sérgio Bruno e eles
disseram que ela não era uma prioridade”.
Questionado sobre estes “interesses”, ele não titubeou ao reconhecer:
Um país onde ministros do Supremo Tribunal Federal se juntam com um bandido confesso para aumentar seus próprios salários, onde uma presidente honesta é acusada de corrupção, enquanto o verdadeiro bandido se reúne com ministros do STF, onde um torneiro mecânico, considerado por 90% dos brasileiros como o melhor presidente da História do Brasil, é perseguido por uma bando de procuradores, delegados e juízes vagabundos, onde um vice-presidente apoia um golpe contra uma presidente eleita por mais de 54 milhões de Brasileiros, onde uma Câmara Legislativa, com 70% de bandidos, aprova o pedido de impeachment de uma presidente da República honesta, onde uma mídia venal apoia desenvergonhosamente um golpe, onde fascistas posam de vestais enquanto cidadãos de bens são tidos como bandidos, só porque defendem um partido e as instituições democráticas, só pode estar doente. Desculpem o desabafo, mas eu, também, estou doente.
O mundo assiste perplexo ao maior golpe político da
história. De um lado grandes grupos empresariais, de comunicação, um
partido de oposição derrotado e outros cooptados negociando fatias
importantes de um futuro governo. De outro uma presidente historicamente
honesta, que possuía um gestor da crise (que ao invés de ajudar a
resolver, conspirou o tempo todo para inviabilizar a solução), que
demorou a agir energicamente para combater dois anos de recessão na
economia brasileira.
A presidenta Dilma, desde 2013, vem sofrendo uma
perseguição midiática sem limites. A liberdade de expressão, se
transformou em “provas sem crime”, quando era amplamente divulgado em
todos os meios de comunicação, uma notícia falsa sobre a sua conivência
com a corrupção(existente desde 1995, segundo o livro diários da
Presidência de FHC ) na maior e única empresa que o seu antecessor não
conseguiu privatizar.
“A disposição constitucional do art. 85, inciso VI da
Constituição Federal, declarando que constitui crime de responsabilidade
o ato do Presidente da República que atente contra a lei orçamentária,
deve ser completada com o disposto em lei. Eis por que a denúncia
aprovada pela Câmara dos Deputados em 17 de abril último qualifica as
chamadas “pedaladas fiscais” como crimes definidos no art. 10, alíneas 7
e 8 da Lei nº 1.079 de 1950, e nos artigos 29, inciso III; 32, § 1º,
inciso I; e 36 da Lei Complementar nº 101 de 2000.
Acontece que todas as definições penais de ambas essas
leis dizem respeito, estritamente, a “operações de crédito” feitas pela
União Federal em benefício de terceiros, e as “pedaladas fiscais” nada
têm a ver com isso. São retardamentos no repasse de recursos a bancos
públicos, privados e autarquias, retardamentos esses depois inscritos na
prestação de contas do governo federal como empréstimos tomados àquelas
instituições. Ou seja, é exatamente o contrário do disposto nas leis
citadas: em vez de a União Federal conceder crédito, ela retarda o
pagamento de seus débitos.
Em conclusão, o Presidente da Câmara dos Deputados e seus
auxiliares forjaram grosseiramente a existência de um crime de
responsabilidade da Presidente Dilma Rousseff.” Disse o Jurista Fábio
Konder Comparato, em entrevista publicada no último dia 26.
Pois bem, segundo Comparato e o mundo inteiro – menos para
a mídia golpista brasileira – o Impeachtment forjado da Presidenta
Dilma é um processo ilegítimo de cunho político. Porém, o STF tem papel
preponderante de frear esse estupro a Constituição, já que resguarda-la é
o seu principal papel.
Pior do que essa omissão horrorosa e inconcebível do
Supremo Tribunal federal, que poderia ter acabado com todo esse processo
golpista no nascedouro, é a imoralidade de seus Ministros em
“resguardar a integridade” de Eduardo Cunha e outros réus conhecidos da
população brasileira.
A tão massificada operação Lava Jato, criada para
investigar exclusivamente a corrupção na Petrobras, teve sua finalidade
totalmente desviada para descontruir, punir, humilhar e prender,
políticos e empresários ligados ao Partido dos Trabalhadores e,
principalmente, para distorcer notícias e denegrir a imagem da
Presidenta Dilma e do ex-Presidente Lula, que coincidentemente – segundo
todas as pesquisas realizadas – será o seu sucessor natural e com
enorme vantagem do segundo lugar, nas próximas eleições.
A votação esdrúxula de aprovação do golpe na Câmara
Federal, foi a prova cabal de que os interesses pessoais dos deputados
(e seus familiares amplamente homenageados), misturados com a hipocrisia
peculiar do “combate a corrupção petista” estampada em suas testas,
destoavam da matéria principal que os levara até ali naquele domingo
ensolarado, quais foram, senão as tão faladas e prosaícas “pedaladas
fiscais”. Nenhum daqueles 367 “santos deputados”, as mencionou em seus
acalorados discursos de aprovação do golpe. E tudo isso sob olhares,
caras, bocas , risinhos sínicos e deboches do não ilibado Presidente-réu
Eduardo Cunha.
Mais ridículo ainda, foi ver pessoas esclarecidas, nas
ruas ou nas redes sociais, comemorando a “justiça feita”, pelo inicio do
fim do governo Dilma. Perguntei para algumas delas se sabiam porque
aquilo estava acontecendo e muitas, mas muitas mesmo disseram: “Por que a
presidentAnta ( Palavra cunhada por uma verdadeira besta quadrada, o
tal de Diogo Mainardi) é corrupta e está na Lava Jato”. Quanta
ignorância midiática, fruto da massificação de informações
desencontradas, dos principais veículos de desinformação e alienação do
País.
Ironicamente, tudo indica que o Congresso Nacional, dessa
vez será o Senado Federal, que aprovará a deposição sumária da
Presidenta Dilma. Afastada por 180 dias, o vice e conspirador oficial da
nação, Michel Silvério dos Reis Temer ( agora brilhantemente com o
apoio do PSDB e da corja da Fiesp ), resolverá o problema da inexorável
crise brasileira. Só não explicam hoje, por que não o apoiaram, quando
fingia-se gestor da crise nomeado pela presidente.
Não venceram as eleições diretas em 2014, mas os
conspiradores de terno e gravata querem impor a sociedade, uma fétida
eleição indireta, cujo o protagonista, era um segundo ele mesmo em carta
notória, um “vice decorativo”, que passará a condecorativo, mesmo sendo
citado inúmeras vezes na tal operação Lava Jato, que prejudicou o setor
da construção civil e diminuiu o PIB brasileiro.
Até a “The Economist” que zomba do País, sempre com capas
mostrando a estátua do Cristo Redentor decolando e caindo, está
enxergando a idiotice inconstitucionalizada desse golpe.
Os Ministros do STF tem o dever moral de acabar com essa
farsa, quando o processo após passagem pelo Senado, retornar para lá.
Repito, se suas atribuições é a guarda da Constituição, conforme
definido no art. 102 da Constituição Federal, eles não podem abster-se
da responsabilidade de manter a ordem das instituições e, em recurso
extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando
a decisão recorrida contrariar dispositivo da Constituição.
Essa responsabilidade a que o texto se refere, pode caso
seja mantido o tão aguardado golpe, destruir as barreiras e autonomia
dos poderes da República, bem como o tão precioso estado democrático de
direito.
Enquanto os tribunais superiores protegem bandidos
contumazes como Cunha, Temer , FHC e Aécio, eles condenam e pior,
retiram os direitos de pessoas ilibadas como Lula (em assumir a Casa
Civil) e Dilma de governar com tranquilidade.
Será que os mortos e torturados pela famigerada ditadura
militar brasileira, assim como todos os que lutaram para ver a tão
sonhada democracia republicana, através das eleições presidenciais
diretas, vão ter de assistir ao triste episódio do retrocesso político e
do fim da democracia com a deposição de uma presidenta simplesmente
honesta, em detrimento a interesses de grandes grupos econômicos e
políticos, esses sim corruptos? Não! Mas para isso, o STF tem que fazer o
dever de casa.
Caso contrário, o País do futebol, vai ficar mundialmente
mais esculhambado pelo golpe, do que pelos horrorosos 7 x 1 perdidos
na última Copa pra Alemanha. Vai ficar marcado para sempre na história,
como o País onde a corrupção dignamente institucionalizada, venceu a
probidade de uma Presidenta da República.
Se um governo supostamente cometeu um “crime de
responsabilidade”, ele é formado pelo titular (Dilma) e seu vice, e for
afastado politicamente. Óbvio que o vice é tão responsável e partícipe
desse suposto delito quanto o titular .
Portanto, numa democracia séria, ele (Temer) jamais
poderia assumir o lugar de Dilma em caso de vacância do cargo. Isso é
redundante. É golpe mesmo!
Em outras palavras e para finalizar esse criterioso texto:
Se existisse um crime de responsabilidade, todos inclusive
o congresso nacional seriam culpados e, deveriam que pagar por eles.
Se não existe (e o mundo sabe disso), pra quê estender essa farsa até o
limite? Acabem logo com essa palhaçada de uma vez, porque existem
milhares de famílias belas, recatadas e do lar (e os brasileiros
honestos estão todos inclusos), que precisam dessa milagrosa
estabilidade político-econômica para sobreviver.
Ricardo Fonseca é publicitário, Editor do Propagando, Colunista do Brasil 247 e Divulgador das causas midiáticas.
Jornal valor Econômico, 26/4/16, “Às
vésperas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no
Senado Federal, e a possível troca de governo, o presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, recebeu o apoio líderes de
partidos na Câmara, que, em acordo, vão tentar aprovar o reajuste
salarial de servidores do Judiciário e de magistrados rapidamente. A
ideia é aprovar a urgência do projeto de lei nesta quarta-feira e, no
mesmo dia, analisar o mérito do texto no plenário da Casa.”
Esses juízes não têm vergonha na
cara! Ainda barganham aumento depois de aprovarem para si o auxílio
moradia e educação. E o pior, com o Cunha! Tinham que mandar prendê-lo
anular o golpe orquestrado por ele!
Continuando com nossa Justiça, a
Lava Jato, do juiz Sérgio Moro, que denunciou Eduardo Cunha, está
calada, deixando Cunha destituir uma presidente honesta e eleita por 54
milhões de votos. Agora surge uma denúncia bomba que poderá ser usada
por Eduardo Cunha, que talvez seja o motivo do silêncio de Sérgio Moro:
no Blog Boatos.org: “Sergio Moro vendeu grampos para Globo por R$
5milhões”, isso com a finalidade de derrubar o governo Dilma. A denúncia
teria sido feita por um policial federal do Paraná revoltado com a
farsa montada por Sérgio Moro. A TV Record vai formalizar a denúncia no
STF e no CNJ.
Essa, se verdadeira, não seria a
primeira denúncia contra Sérgio Moro vinda de dentro da PF: veja no link
abaixo. "LAVA JATO É PARA MIRAR LULA E O PT' 'Delegado da Polícia
Federal diz que não existe um combate a corrupção na Operação Lava Jato e
sim uma guerra mirando destruir o PT e Lula e acobertando corruptos do
PSDB, acusação é gravíssima, feita pelo delegado da PF Armando Coelho
Neto, ex-presidente da Associação de Delegados de Polícia Federal do
Brasil.
Nem a máfia italiana e americana
conseguiram o poder que o deputado Eduardo Cunha reuniu em torno de si:
Mídia principalmente a Globo, STF, lava Jato e Congresso Nacional.
Roberto Jeferson do PTB/RJ
preso no mensalão no Estadão, 31/03/16, com uma sinceridade e com
conhecimento de causa declarou : 'O bandido pelo qual eu mais torço é o
Eduardo
Cunha!
Fica claro que não podemos contar com nossas autoridades. Só o povo na rua pode barrar o Cunha e impedir o golpe!
PSDB pagou R$ 45 mil a Janaina Paschoal por parecer do golpe
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) postou
em seu Facebook texto em que aponta a "confissão" da advogada Janaina
Paschoal sobre o pagamento de R$ 45 mil feito pelo PSDB sobre o parecer
do impeachment. Leia abaixo:
TUDO EM CASA
Os juristas Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal foram pagos com R$
45 mil do PSDB para elaborar impeachment golpista. A advogada confessou
no Senado ter recebido o montante.
Se este país fosse sério esses procuradores vagabundos já estariam presos.
Marcos de Vasconcellos, do Conjur -
Ameaçar testemunhas com o intuito de influenciar o resultado de uma
investigação criminal configura crime de coação no curso do processo,
previsto no artigo 344 do Código Penal, já decidiu o Supremo Tribunal
Federal. No entanto, é difícil imaginar qual é o possível desfecho
quando a atitude é do próprio Ministério Público Federal.
Ameaças veladas, como “se o senhor disser isso, eu apresento
documentos, e aí vai ficar ruim pro senhor”, que poderiam estar em um
filme policial, foram feitas em plena operação “lava jato”. E em
procedimento informal, fora dos autos.
O cenário é uma casa humilde no interior de São Paulo. Quatro
procuradores batem à porta e, atendidos pelo morador — que presta
serviços de eletricista, pintor e jardinagem em casas e sítios—, começam
a questionar se ele trabalhou no sítio usado pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e se conhece um dos donos do imóvel, o empresário
Jonas Suassuna. Ao ouvirem que o homem não conhecia o empresário nem
havia trabalhado no local, começam o jogo de pressões e ameaças:
Procurador: Quero deixar o senhor bem tranquilo, mas, por exemplo, se
a gente chamar o senhor oficialmente pra depor daqui a alguns dias, e
você chegar lá pra mim e falar uma coisa dessas...
Interrogado: Dessas... Sobre o quê?
Procurador: Sobre, por exemplo, o senhor já trabalhou no sítio Santa Barbara? Interrogado: Não trabalho.
Procurador: O senhor já conheceu o senhor Jonas Suassuna?
Interrogado: Nunca... Nunca vi.
Procurador: O senhor já fez algum pedido pra ele em algum lugar?
Interrogado: Nem conheço.
Procurador: Então, por exemplo, aí eu te apresento uma série de documentações. Aí fica ruim pro senhor, entendeu?
A conversa foi gravada pelo filho do interrogado, um trabalhador da
região de Atibaia. Os visitantes inesperados eram os procuradores do
Ministério Público Federal Athayde Ribeiro Costa, Roberson Henrique
Pozzobon, Januário Paludo e Júlio Noronha.
Nas duas gravações, obtidas pela ConJur, os membros do MPF chegam na
casa do “faz tudo” Edivaldo Pereira Vieira. Sutilmente, tentam
induzi-lo, ultrapassando com desenvoltura a fronteira entre argumentação
e intimidação, dando a entender que dizer certas coisas é bom e dizer
outras é ruim.
Na insistência de que o investigado dissesse o que os procuradores
esperavam ouvir, fazem outra ameaça velada a Vieira, de que ele poderia
ser convocado a depor e dizer a verdade.
Procurador: É a primeira vez, o senhor nos conheceu agora, e
eventualmente talvez a gente chame o senhor pra depor oficialmente, tá?
Aí, é, dependendo da circunstância nós vamos tomar o compromisso do
senhor, né, de dizer a verdade, aí o senhor que sabe...
Interrogado: A verdade?
Procurador: É.
Interrogado: Vou sim, vou sim.
Procurador: Se o senhor disser a verdade, sem, sem problema nenhum.
Interrogado: Nenhum. Isso é a verdade, tô falando pra vocês.
Procurador:
Então seu Edivaldo, quero deixar o senhor bem tranquilo, mas, por
exemplo, se a gente chamar o senhor oficialmente pra depor daqui a
alguns dias, e você chegar lá pra mim e falar uma coisa dessas...
Investigado ou testemunha
Ao baterem à porta de Vieira, um dos procuradores diz: “Ninguém aqui tá querendo te processar nem nada, não”.
No entanto, o nome de Pereira Vieira aparece na longa lista de
acusados constantes do mandado de busca e apreensão da 24ª etapa da
operação “lava jato”, que investiga se o ex-presidente Lula é o dono de
sítio em Atibaia, assinado pelo juiz Sergio Fernando Moro, da 13ª Vara
Federal de Curitiba.
Ao se despedirem, deixando seus nomes e o telefone escritos a lápis
numa folha de caderno, os membros do MPF insistem que o investigado
escondia algo e poderia “mudar de ideia” e decidir falar:
Procurador: Se o senhor mudar de ideia e quiser conversar com a gente, o senhor pode ligar pra gente?
Interrogado: Mudar de ideia? Ideia do quê?
Procurador: Se souber de algum fato.
Interrogado: Não...
Procurador: Se você resolver conversar com a gente você liga pra gente, qualquer assunto?
Definição real de golpista: O golpista, antes de tudo e de qualquer coisa, é um safado. Ponto.
Ligo a televisão. Início da manhã de quinta-feira. Mais um dia de
vida em que ainda tento compreender o porquê de o Brasil ser tão azarado
e infeliz, dentre tais azares e infelicidades a imprensa corrupta e
manipuladora de negócios privados dos magnatas bilionários, a pior
espécie de empresários das piores espécies do mundo empresarial.
Bilionários que se reportam ao público e influenciam as pessoas sem
discernimento sobre o sofrimento dos mais pobres, porque despolitizadas
quanto à história política do Brasil e seus antagonismos e paradoxos que
incomodam, e muito, as pessoas que desejam ou lutam por um País mais
igualitário e democrático.
Vejo pneus queimados nas telas das televisões e câmaras a passar suas
lentes rapidamente pelos pneus e destroços em chamas jogados às ruas de
várias capitais do País, a impedir o trânsito de automóveis. Contudo,
apesar de eu não ter ficado nem um pouco surpreso, os repórteres
voadores e narradores desses eventos políticos e de contestações apenas
informavam o seguinte: "Trânsito de rua tal da cidade tal está parado
por causa de protesto". E só... A deixar um vazio, ou seja, um ponto de
interrogação na cabeça de quem está a ver e ouvir a matéria jornalística
propositadamente mal feita, pois não informa o motivo pelo qual algumas
ruas estão em chamas.
Sabe por que isto acontece? Porque se trata do antijornalismo, do
jornalismo de esgoto realizado, sem a mínima preocupação com ética e
respeito ao público, que merece ser informado sobre a realidade, a ter a
verdade como âncora do jornalismo real, que, independente de quaisquer
razões, não pode e não deve brigar com os fatos e as realidades.
Todavia, é tudo o que as grandes corporações de comunicação social
não fazem, porque se partidarizaram, são eloquentemente ideológicas e,
por sua vez, escolheram lado político, a transformar a informação em
cavalo de batalha em prol dos interesses políticos e econômicos dos
coronéis midiáticos, os porta-vozes mais poderosos da plutocracia e
compromissados com os interesses do grande capital internacional.
Esses plutocratas golpistas são, inegavelmente, recalcitrantes e
proprietários das máquinas demolidoras de reputações, que são as
principais incubadoras do golpe de estado travestido de legalidade e
legitimidade por meio de um impeachment contra Dilma Rousseff, promovido
por um Congresso repleto de criminosos, em um total de 120, que
respondem por seus crimes na Justiça, assim como apoiados,
indelevelmente e vergonhosamente, pelos juízes aristocráticos e de
punhos de renda do STF.
Magistrados que passaram insegurança e desconfiança à população,
porque grande parte de seus eleitores — 54,5 milhões — elegeu Dilma para
presidente e, com efeito, rejeitou o projeto neoliberal do tucano Aécio
Neves, que volta com força por intermédio de um golpe criminoso bancado
pela direita brasileira, que está prestes a derrubar ilegalmente uma
mandatária trabalhista, que não cometeu crime de responsabilidade, mas
mesmo assim poderá ser vítima de mais um golpe que transforma o poderoso
Brasil em uma reles republiqueta bananeira.
Surreal, mas é a verdade. Trágica, porém, a verdade. O Brasil é
vítima também dos juízes do STF, que são cúmplices do golpe de estado,
considerado crime por juristas, advogados, jornais estrangeiros e
tradicionais, bem como pela maioria da comunidade internacional,
inclusive por governantes e ex-governantes de países importantes. E sabe
por quê? Porque ninguém é idiota e por isto compreende que o Brasil
está a caminho de um golpe de estado com verniz de legítimo.
Violência e deboche. Um verdadeiro acinte. Coisa de uma "elite"
bananeira e que viaja ao exterior há séculos. Elogia os países
desenvolvidos em detrimento do Brasil, mas não aprendeu nada, pois não
se interessa por coisa nenhuma, a não ser com seus interesses
individuais ou de grupos. Elite, irremediavelmente, provinciana,
colonizada e, irrefragavelmente, deletéria e periférica. O pior disso
tudo é que essa gente emplumada e perfumada se considera civilizada,
quando a verdade é que não passa de provinciana, pois de mentalidade
curta por ser sectária e preconceituosa.
O juízes do Supremo, inacreditavelmente, representam essa lamentável
oligarquia dona da casa grande, pois são os reflexos de seus espelhos.
Eles, do alto de suas togas e capas de batman ou zorro, calaram-se,
omitiram-se, e, consequentemente, deram o "ok" para que o gangster
conhecido pelo nome de Eduardo Cunha, em nome de sua vingança contra o
Governo Trabalhista, encaminhasse o golpe de estado contra Dilma
Rousseff, na Câmara dos Deputados.
Conspiração e retaliação diretamente aplicadas nas veias do povo
brasileiro e nos eleitores, volto a asseverar, que não votaram nos
programas e nos projetos neoliberais do PSDB. A direita golpista, vai
cassar, arbitrariamente e criminosamente, os votos de 54,5 milhões de
cidadãos e ainda exigem que seus movimentos e organizações fiquem
quietos como se nada estivesse a acontecer. Assim não dá, né?
Evidentemente que vai chegar uma hora que o pau vai comer, além de o
Brasil ser paralisado.
A verdade é que ninguém é otário para ver o Amigo da Onça (Michel
Temer) a montar "seu" ministério sem nenhum voto. Ação de uma soberba,
cara de pau e canalhice sem precedente, denominação e definição. Ter de
ver golpista do nível de Fernando Henrique Cardoso, Cássio Cunha Lima,
Aécio Neves e José Serra a negociar com o PMDB do Amigo da Onça e do
Gato Angorá Moreira Franco para impor o projeto neoliberal, que foi um
fracasso retumbante no mundo todo é realmente uma provocação sem par e,
por seu turno, merecedora de forte reação interna e externa por parte
das forças democráticas e legalistas. E isto, sobremaneira, já está a
acontecer, sendo que movimentos sociais e de trabalhadores vão
recrudescer suas ações.
O golpe é uma estupidez e de uma atrocidade inenarráveis, porque os
derrotados nas eleições de 2014 e repletos de processos criminais nas
costas vão governar no lugar da eleita e honesta Dilma Rousseff. Não é à
toa que esse processo dantesco e bananeiro chama a atenção do mundo. O
planeta ficou sabendo que a casa grande escravocrata e seus coxinhas
amestrados como focas de circo são e sempre foram os construtores da
república bananeira, porque assim se ganha mais dinheiro e ainda mantém o
status quo indefinidamente.
Certa vez fui a uma manifestação de classe média, em Copacabana, e li
um cartaz em letras garrafais de uma coxinha idiotizada, que
reivindicava "sua" trabalhadora doméstica de volta. Certamente de volta à
senzala terrivelmente exemplificada, em miniatura, pelo quartinho de
empregada. A pequena senzala dentro de apartamento, que tanto acalentou e
apeteceu a classe média brasileira de caráter lacerdista e
escravocrata. É este ranço que denota a lógica perversa dos golpistas,
que carregam em suas almas, agora em termos macros, o sentimento
hegemônico de um ser humano sobre o outro, que se transforma e se
expressa em fascismo — o filho bastardo do preconceito de classe e de
raça.
A loucura e o descabimento é tanto que chega ao ponto de o troglodita
de direita considerar seu "direito" insultar e agredir as pessoas que
não pensam igual a ele, até em restaurantes, escolas, prédios
residenciais, hospitais e pela internet, por exemplo. Depois essa gente
avarenta, despolitizada, retrógada e de mentalidade provinciana viaja a
Miami, a se considerar e fingir que é civilizada e culta, enquanto
rouba, na mão grande golpista, os direitos políticos e econômicos do
povo brasileiro conquistados, a ferro e fogo, no decorrer de muitas
décadas. Esqueletos no armário... A História que não esquece dos
golpistas para o todo e sempre.
Lembrai-vos de 1964.
Enquanto isso, na república bananeira da casa grande, Sir Eduardo
Cunha, verdadeiro e autêntico gangster protegido por juízes e
procuradores, tornará sua delação premiada, depois de ele ser preso, um
mega escândalo, que levará à cadeia metade da República, sendo que a
maioria, evidentemente, composta por políticos, empresários, lobistas,
doleiros e agentes públicos ligados umbilicalmente ao PSDB, DEM e PPS.
Até porque um dia a casa cai e os servidores do Judiciário hão de
perceber que eles trabalham para a Nação e não apenas para a casa
grande.
Não é à toa que o juiz seletivo e de província, Sérgio Moro,
engavetou, juntamente com os promotores obsessivos apenas com o PT, mas
jamais com o PSDB, a liderá-los os procuradores Carlos Fernando e Deltan
Dallagnol, a lista da Odebrecht, com mais de 300 nomes da oposição de
direita, bem como a Lista de Furnas, que implica, principalmente, o
senador tucano Aécio Neves e que está até hoje guardada em alguma gaveta
empoeirada da Justiça e do MPF, ambos seletivos.
Todo mundo sabe disso, até os coxinhas fascistas que batem panelas de
barrigas cheias e querem, independente de ser justo ou injusto, porque
para eles é apenas um detalhe ou não vem ao caso, que Dilma Rousseff
seja derrubada do poder por um golpe de estado edificado pela hipocrisia
e a mentalidade criminosa de seus autores. Entretanto, o assunto
primordial é que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) organizou
protestos em Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre,
Goiânia e Brasília.
Os movimentos fecharam vias importantes e a imprensa corrupta e
sonegadora de impostos, além de historicamente golpista, tergiversou,
disfarçou, distorceu e manipulou as notícias, com a finalidade de não
informar o cidadão brasileiro sobre os protestos que contestam o golpe
contra a democracia e a presidente Dilma Rousseff.
Se tem algo ordinário no Brasil este algo é a imprensa de mercado dos
magnatas bilionários e de seus capatazes de redação que se
autodenominam jornalistas. Mais uma vez a imprensa de negócios privados
partidária e alienígena não informa, porque se transformou há muito
tempo no partido de direita mais poderoso do Brasil e que, agora e neste
momento, aposta todas suas fichas sujas no golpe de estado contra uma
mandatária de esquerda e trabalhista que se reelegeu a se submeter ao
jogo democrático, ao estado de direito e à Constituição.
Não leia, não veja e não escute somente a imprensa burguesa de
caráter mentiroso e golpista. Acesse a internet, navegue e se informe de
forma democrática e correta, pois a verdade é a alma da notícia. O
golpe, se ocorrer, vai ser combatido. Michel Temer e seus golpistas não
terão estabilidade política e muito menos paz para governar e se
locupletar com um projeto neoliberal derrotado nas urnas. Lugar de
golpista deveria ser na cadeia. Porém, aqui é a república bananeira e
provinciana da casa grande, porque o povo é chique, cosmopolita e
civilizado. É isso aí.
o Brasil saiu da apatia, as ruas não
são mais exclusividade de um grupo étnico e social, haverá conflito,
haverá confronto, a luta de classes está a deixar de ser, finalmente,
apenas uma abstração.
fascistas não passarão.
não sem enfrentamento.
por isso, faço uma ode ao cuspe.
ergam as taças, brindemos em libações salivares.
aprendi, ainda nos anos oitenta, quando eu tinha uma banda de hardcore em Brasília, que o cuspe é um gesto revolucionário.
cuspamos, irmãos, com saliva ou com catarro.
em verdade vos digo, tudo vai bem quando as pessoas começam a cuspir umas nas outras.
Jean cuspiu em Bolsonaro, o homem que vomita ódio.
Zé de Abreu cuspiu em um casal mal educado que foi afrontá-lo em um restaurante.
o high society ficou enojado.
tanto melhor.
sabemos que garçons e cozinheiros costumam cuspir na comida de clientes desaforados.
mas
agora é a cara dos próprios clientes desaforados que vai se convertendo
em viscosas escarradeiras nas nossas chiques gourmeterias.
nada pode ser melhor que isso.
Bob
Cuspe, personagem escrachado do genial Angeli, tinha uma única resposta
aos coxinhas da segunda metade dos anos oitenta, os analfabetos
políticos deslumbrados, os hipócritas ostentadores que vicejaram logo
após o fim da ditadura militar: cuspe na cara.
cuspe como sinal de desprezo, de afronta, de rebeldia, de inconformismo.
Bob surgiu em um momento análogo a este que vivemos agora, uma época de transição social e política no Brasil.
por isso, o gesto de Jean Wyllys e Zé de Abreu parecem ter saído das entranhas de um adormecido inconsciente coletivo.
é como se o homem da horda primeva, de repente, renascesse em nós.
são os nossos instintos mais primitivos a rufar os tambores da grande aldeia que nos habita.
estavam, Wyllys e Abreu, a emular o gesto do icônico Bob Cuspe.
por isso, eu os saúdo.
é tempo de cuspir, senhoras e senhores.
é
chegado o momento da grande catarse social. a catarse, na psicologia,
na filosofia, na medicina ou nas artes em geral, é sinal de purificação,
de transição, de melhoramento, um rito de passagem de um estágio a
outro.
logo, o cuspe é uma resposta epistemológica.
há muito a saliva faz parte das trocas simbólicas, bem o sabem os nossos antropólogos.
Jesus a usava como unguento. era com saliva que Cristo fabricava emolientes curadores.
e foi também com cusparada que ele recebeu o desprezo dos judeus enquanto marchava com uma pesada cruz nas costas.
os japoneses - abra o olho - já utilizaram saliva na fabricação de saquês.
nossos silvícolas tupinambás também sacaram que a saliva das mulheres era ótima para fermentar bebidas.
hedonistas cospem na mão para a prática do sexo solitário. a saliva, quem não o sabe, é um excelente lubrificante erótico.
o beijo, que nada mais é que uma troca de salivas, significa aproximação, carinho e afeto.
a cusparada é exatamente o contrário.
por isso, em sinal de desprezo, passamos do inocente beijo no ombro para o revolucionário e escrachado escarro.
é tempo de cuspir, senhoras e senhores.
como ensinou o genial poeta paraibano, Augusto dos Anjos, o homem de um livro só:
(...) acostuma-te à lama que te espera! o Homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera.
toma um fósforo. Acende teu cigarro! o beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja.
se a alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!
Os jornalistas e os colunistas brasileiros amestrados (fazem
direitinho o que os patrões querem) se recusam a ver sinais de golpe no
impeachment que não conseguiu demonstrar crime de responsabilidade da
presidenta Dilma Roussef. Oscilam entre a tese equivocada de que
impeachment é apenas um ato político, o que é falso, pois tem também um
componente jurídico, como já alertou o ministro Marco Aurélio Mello, e o
argumento de que o STF tem legitimado tudo o que está acontecendo. E
que portanto, o golpe (ôps, eles preferem impeachment), acontece dentro
da mais perfeita "normalidade". É certo que alguns ministros do STF
possam divergir de Marco Aurélio Mello, mas se consultarem direitinho a
Constituição, terão que apelar para malabarismos jurídicos para fugir à
obviedade. Embora, claro, sempre possível e ao alcance da literatura
jurídica , misturado a uma certa dose de irresponsabilidade.
Sobre o primeiro tópico, o que aconteceu no dia 17 de abril de 2016,
na Câmara, já responde ao equívoco, visto que os deputados fizeram de
tudo menos julgar as pedaladas fiscais. Tiveram, certamente, bons
motivos: informa um jornalista de O Globo que nos corredores da Câmara
havia comentários sobre ofertas de R$ 2 milhões por um "sim" ao
impeachment.
Não bastasse tudo isso, como um presidente da Câmara, que responde a
diversos processos e foi flagrado em vários atos de corrupção pode, por
vingança, comandar uma votação para destituir uma presidenta que não
cometeu crime de responsabilidade? E o que dizer sobre centenas de
deputados que também respondem a processos na justiça? O próprio relator
do impeachment, deputado Jovair Arantes, três dias depois da votação de
domingo, foi condenado pelo TRE-GO a pagar multa pelo uso indevido de
serviços de funcionário público em seu comitê de campanha eleitoral em
2014, durante horário normal de expediente.
Só a nossa mídia, cada vez mais manipuladora e conspiradora para não
enxergar arbitrariedades em tudo isso. Sem falar que, há muito tempo,
sabe-se que o enorme poder de Cunha sobre parcela expressiva do
Congresso não vem da sua capacidade de diálogo. Num Parlamento com
tantos corruptos, o toma-lá-dá-cá obedece a outro nível de
convencimento. Que o digam os dólares que Eduardo Cunha têm depositado
na Suíça.
Mas nada disso chama a atenção da nossa "atenta" mídia, que viu em
pedaladas fiscais, que não causam prejuízos aos cofres públicos e muito
menos o enriquecimento ilegal de pessoas, motivo para configurar um
crime. E em nenhum momento, essa mesma mídia especula sobre o que
acontecerá com quase duas dezenas de governadores que assinaram as
mesmas pedaladas – Alckmin assinou 31. E por que nunca foram objeto de
punições, anteriormente? E nem o serão no futuro? Ou alguém acha que os
governadores também serão "impichados"? Impressiona como a
jurisprudência no país têm mudado sempre que o réu pertence a um certo
partido político. Justamente o partido que elevou o país a um patamar de
mudanças e melhorias sociais jamais anteriormente alcançado.
Quanto ao STF funcionar normalmente e não se manifestar
contrariamente ao prosseguimento do impeachment, é outro argumento
falso, pois o Tribunal também não se insurgiu contra o golpe golpe
civil-militar de 64 e em vários momentos chegou a apoiá-lo. O ministro
Ribeiro da Costa, presidente do STF, à época, declarou (Jornal do
Brasil, 4/4/64): "O desafio feito à democracia foi respondido
vigorosamente. Sua recuperação tornou-se legítima através do movimento
realizado pelas Forças Armadas, já estando restabelecido o poder de
Governo pela forma constitucional".
Portanto, não é o fato do poder
Judiciário abrir as portas e funcionar diariamente que indica a
inexistência de um golpe no país. Algumas "normalidades" não são
suficientes para esconder as arbitrariedades e os crimes contra a
democracia. Lembremos, ainda, outro ato infame do STF: permitir que Olga
Benário, judia, grávida, fosse deportada em 1936 e entregue às forças
nazistas alemãs, onde viria a ser executada na câmara de gás.
O caso atual é, certamente, de feição inusitada, visto que não há
tanques ou rifles apontados para o poder Judiciário e, mesmo assim,
estranhamente o Tribunal mantém-se omisso em relação ao impeachment
perpetrado por parlamentares que, se houvesse justiça, muitos deles já
deveriam estar presos e o relatório não seria nem mesmo votado, por
vício de origem.
É um dado novo que as democracias, no mundo inteiro, terão que
repensar. Afinal, quando o poder Judiciário, por alguma razão, não coíbe
as arbitrariedades contra a democracia, estamos diante de um novo tipo
de golpe, em que o Legislativo e o Judiciário são protagonistas, com
forte apoio da mídia. Mesmo assim, que ministros e ministras do STF não
tenham a mesma ilusão de Michel Temer, porque a história não deixará de
apontar a responsabilidade de cada um(a) nesse grave momento.
Desde o início da Operação Lava-Jato, sob o comando de um juiz de
primeira instância, o foco sempre foi vasculhar casos de corrupção que
envolvessem Dilma, Lula e o PT. Os dois primeiros, apesar de vítimas de
escutas ilegais, do uso de métodos questionáveis de delação premiada que
preservaram vários políticos de outros partidos citados por delatores, e
de terem suas vidas e de familiares vasculhadas incessantemente, nada
foi encontrado de consistente contra ambos. E, no entanto, essa obsessão
investigatória partidarizada, comandada por um juiz de primeira
instância, sempre foi prestigiada pelo STF, que raras vezes se
manifestou e menos ainda achou motivos para intervir.
A omissão do STF tornou o juiz Moro uma celebridade nacional, assim
como num passado não muito distante, um certo "caçador de marajás"
também foi alçado pela mídia à condição de herói, o que o levou,
inclusive, à presidência da República.
A omissão do STF também deu sinal verde para criminosos agirem no
Congresso Nacional e levarem adiante um processo de impeachment que já
nasceu viciado e irregular em sua origem, mas que é sustentado por uma
mídia oligopolizada totalmente em desacordo com a narrativa de
jornalistas de outros países que confessam o seu estarrecimento diante
de tantas arbitrariedades e da fragilidade com que se destrói a
democracia brasileira.
O mais famosos deles, o premiado jornalista Glenn Greenwald, em
entrevista a uma emissora de TV norte-americana disse que em toda a sua
vida profissional, cobrindo a política em vários países, nunca viu
situação semelhante. "É surreal", sublinhou, que centenas de
parlamentares acusados de corrupção e outras arbitrariedades, que
respondem a processos em várias instâncias, inclusive no STF, comandados
por um presidente da Câmara que tem milhões de dólares fruto da
corrupção depositados na Suíça, decidam pelo impeachment de Dilma, que
não é acusada de nenhum ato de corrupção ou nenhum crime de
responsabilidade.
Mas nada disso tira o sono de nossos "vigilantes" ministros do STF,
que dormem em "berço esplêndido", enquanto a democracia é golpeada por
um "sindicato de ladrões" – como definiu Ciro Gomes – com a ajuda
inestimável da mídia, de setores do Judiciário, do Ministério Público,
da Polícia Federal, dos donos do capital e certamente com o suporte da
nação mais interessada em recuperar o "quintal da América Latina" – como
já ocorreu no passado, hoje fartamente documentado.
Eduardo Cunha, o cínico, justificou o seu voto pelo impeachment
dizendo: "Que Deus tenha misericórdia desta nação". Se nem ao bispo de
Diamantina, inimigo mortal das "jararacas", podemos nos queixar, só
mesmo apelando direto para Deus. Ou, para quem não crê em justiça
divina, para a resposta de um povo roubado em 54 milhões de votos.