Autor(es): Luciana Monteiro
Valor Econômico - 30/06/2009
A crise está suavemente se dissipando, mas isso não quer dizer que o investidor irá surfar num mar de tranquilidade daqui para frente. A avaliação é de Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB, que ressalta que a volatilidade dos ativos despencou, mas ela ainda está acima da média, e o mercado deve passar por alguma realização de lucros nos próximos meses. A boa notícia é que, passado esse período, o cenário deve ficar ainda mais claro e, entre os candidatos a receber investimento estrangeiro, o Brasil é, de longe, o melhor.
Na visão de Padovani, a atual crise pode ser vista sob dois prismas. O primeiro, é a maneira objetiva - os juros baixos nos EUA fizeram com que os investidores buscassem mais risco no mercado do "subprime" (hipotecas de alto risco) e, quando os juros lá fora aumentaram, houve inadimplência. Isso trouxe um forte impacto para a carteira dos bancos. O segundo enfoque é o subjetivo. Dada a inadimplência e baixa regulação do mercado americano, não havia informações suficientes sobre a saúde financeira dos bancos, o que provocou desconfiança e a consequência foi uma retração no crédito entre bancos. O ápice dessa desconfiança ocorreu com a quebra do Lehman Brothers, em setembro do ano passado, o que trouxe um pânico global. "Mas essa é uma situação que vem sendo suavemente dissipada", avalia.
Para Padovani, o pior parece que está ficando realmente para trás. Ele cita como exemplo o índice S&P 500, que desde abril vem oscilando num mesmo intervalo, o que mostra que a crise está relativamente embutida nos preços dos ativos, avalia o executivo. O índice VIX, que mede a volatilidade implícita das opções de ações do S&P 500, atingiu ontem o nível de antes da quebra do Lehman. "E se há mais tranquilidade global, o Brasil tende a se recuperar mais rapidamente", afirma Padovani, lembrando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma retração do PIB mundial de 0,5% neste ano, mas que a economia já deve começar a se recuperar em 2010.
Na visão do executivo, o Brasil representa uma grande oportunidade para os investidores externos. "O país não tem problemas estruturais, conta com transparência de regras e indústria bancária sólida, por isso, a recuperação da economia brasileira deve ser mais rápida em comparação às outras", afirma Padovani. "Diante de uma crise bancária gravíssima no mundo, o Brasil deve ter uma recuperação mais rápida."
Boas notícias também vêm da China. Ele cita o PMI, indicador que calcula o desempenho da indústria, que vem mostrando uma recuperação vigorosa. Outro índice interessante é o Baltic Dry Index, que mede o aluguel de contêineres e também se mostra em alta. "Isso significa, portanto, recuperação do comércio global" diz. Padovani lembra que, quando há retração de exportações, as empresas postergam seus investimentos e procuram zerar os seus estoques. "E essa é uma questão que vem melhorando, sem falar no varejo chinês, cuja retomada tem sido puxada principalmente por gastos públicos."
Diante de um quadro menos temerário em relação ao crescimento chinês, as commodities agrícolas devem se valorizar mais que as metálicas. Há demanda por alimentos e problemas de safra no mundo todo, favorecendo as matérias-primas agrícolas, avalia o executivo. "Com a queda do risco global e sinais concretos de que a atividade econômica está voltando, as chances são de as commodities subirem", diz. "Claro que não para os níveis vistos durante o "boom" entre 2007 e 2008, pois agora não há uma farta liquidez global, mas no médio e no longo prazos, a expectativa é de recuperação, o que é bom para o Brasil."
A expectativa de Padovani de crescimento para o Brasil neste ano é zero. Se o número não se mostra positivo à primeira vista, ao compará-lo com o desempenho esperado para as outras economias, a situação ganha novos contornos. Isso porque, na Rússia, a expectativa é que a economia feche em queda de 8% neste ano, enquanto nos EUA a projeção é de -3%. Já no México, é de queda de 6% e no Japão, de -6%. Além disso, o Brasil é visto como parceiro menos arriscado ante outros emergentes, diz Padovani. "No Leste Europeu, há uma enorme dificuldade de financiamento externo e uma importante crise bancária", diz. "A Rússia, por exemplo, tem um sistema cambial que não se sabe se irá se sustentar; o Brasil, em contrapartida, é visto como uma das economias mais seguras para se investir."
No curto prazo, nos meses de junho, julho e agosto, o executivo avalia que os mercados podem passar por momentos de turbulência. "A volatilidade despencou, mas ainda está muito acima da média dos últimos anos e a grande dúvida agora é a inadimplência com cartão de crédito", diz ele, lembrando que, na Espanha, o atraso nos com cartões é crescente e os EUA também devem passar por um movimento desse tipo. " Depois de vários dias seguidos de alta, o mercado normalmente acha uma desculpa para realizar lucros, pois ninguém se sente seguro para dizer que o rali é sustentável", avalia Padovani. "E a questão do cartão de crédito é a desculpa da vez." Passado esse período de realização de lucros, os meses de outubro, novembro e dezembro devem reservar dados mais claros para o investidor e, assim, poderá se iniciar um período de alta.
Com relação ao dólar, apesar da crise ter como epicentro os EUA, o que se viu foi que ele foi um dos ativos que mais se valorizaram durante esse período, ressalta Padovani. Isso porque o retrospecto mostra que a economia americana, mesmo debilitada, é vista como segura e sua moeda vira proteção. "Quanto mais forte o dólar, maiores os sintomas de receio global", diz. "E quando os investidores se mostram um pouco mais seguros, eles saem em busca de rentabilidade em outras moedas, beneficiando o real." Na visão do executivo, o dólar pode ter uma pequena apreciação no curto prazo, mas, para 2010, o real deve ter uma trajetória de apreciação. Ele mantém a projeção de R$ 2,10 para o dólar em dezembro deste ano.
A crise está suavemente se dissipando, mas isso não quer dizer que o investidor irá surfar num mar de tranquilidade daqui para frente. A avaliação é de Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB, que ressalta que a volatilidade dos ativos despencou, mas ela ainda está acima da média, e o mercado deve passar por alguma realização de lucros nos próximos meses. A boa notícia é que, passado esse período, o cenário deve ficar ainda mais claro e, entre os candidatos a receber investimento estrangeiro, o Brasil é, de longe, o melhor.
Na visão de Padovani, a atual crise pode ser vista sob dois prismas. O primeiro, é a maneira objetiva - os juros baixos nos EUA fizeram com que os investidores buscassem mais risco no mercado do "subprime" (hipotecas de alto risco) e, quando os juros lá fora aumentaram, houve inadimplência. Isso trouxe um forte impacto para a carteira dos bancos. O segundo enfoque é o subjetivo. Dada a inadimplência e baixa regulação do mercado americano, não havia informações suficientes sobre a saúde financeira dos bancos, o que provocou desconfiança e a consequência foi uma retração no crédito entre bancos. O ápice dessa desconfiança ocorreu com a quebra do Lehman Brothers, em setembro do ano passado, o que trouxe um pânico global. "Mas essa é uma situação que vem sendo suavemente dissipada", avalia.
Para Padovani, o pior parece que está ficando realmente para trás. Ele cita como exemplo o índice S&P 500, que desde abril vem oscilando num mesmo intervalo, o que mostra que a crise está relativamente embutida nos preços dos ativos, avalia o executivo. O índice VIX, que mede a volatilidade implícita das opções de ações do S&P 500, atingiu ontem o nível de antes da quebra do Lehman. "E se há mais tranquilidade global, o Brasil tende a se recuperar mais rapidamente", afirma Padovani, lembrando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma retração do PIB mundial de 0,5% neste ano, mas que a economia já deve começar a se recuperar em 2010.
Na visão do executivo, o Brasil representa uma grande oportunidade para os investidores externos. "O país não tem problemas estruturais, conta com transparência de regras e indústria bancária sólida, por isso, a recuperação da economia brasileira deve ser mais rápida em comparação às outras", afirma Padovani. "Diante de uma crise bancária gravíssima no mundo, o Brasil deve ter uma recuperação mais rápida."
Boas notícias também vêm da China. Ele cita o PMI, indicador que calcula o desempenho da indústria, que vem mostrando uma recuperação vigorosa. Outro índice interessante é o Baltic Dry Index, que mede o aluguel de contêineres e também se mostra em alta. "Isso significa, portanto, recuperação do comércio global" diz. Padovani lembra que, quando há retração de exportações, as empresas postergam seus investimentos e procuram zerar os seus estoques. "E essa é uma questão que vem melhorando, sem falar no varejo chinês, cuja retomada tem sido puxada principalmente por gastos públicos."
Diante de um quadro menos temerário em relação ao crescimento chinês, as commodities agrícolas devem se valorizar mais que as metálicas. Há demanda por alimentos e problemas de safra no mundo todo, favorecendo as matérias-primas agrícolas, avalia o executivo. "Com a queda do risco global e sinais concretos de que a atividade econômica está voltando, as chances são de as commodities subirem", diz. "Claro que não para os níveis vistos durante o "boom" entre 2007 e 2008, pois agora não há uma farta liquidez global, mas no médio e no longo prazos, a expectativa é de recuperação, o que é bom para o Brasil."
A expectativa de Padovani de crescimento para o Brasil neste ano é zero. Se o número não se mostra positivo à primeira vista, ao compará-lo com o desempenho esperado para as outras economias, a situação ganha novos contornos. Isso porque, na Rússia, a expectativa é que a economia feche em queda de 8% neste ano, enquanto nos EUA a projeção é de -3%. Já no México, é de queda de 6% e no Japão, de -6%. Além disso, o Brasil é visto como parceiro menos arriscado ante outros emergentes, diz Padovani. "No Leste Europeu, há uma enorme dificuldade de financiamento externo e uma importante crise bancária", diz. "A Rússia, por exemplo, tem um sistema cambial que não se sabe se irá se sustentar; o Brasil, em contrapartida, é visto como uma das economias mais seguras para se investir."
No curto prazo, nos meses de junho, julho e agosto, o executivo avalia que os mercados podem passar por momentos de turbulência. "A volatilidade despencou, mas ainda está muito acima da média dos últimos anos e a grande dúvida agora é a inadimplência com cartão de crédito", diz ele, lembrando que, na Espanha, o atraso nos com cartões é crescente e os EUA também devem passar por um movimento desse tipo. " Depois de vários dias seguidos de alta, o mercado normalmente acha uma desculpa para realizar lucros, pois ninguém se sente seguro para dizer que o rali é sustentável", avalia Padovani. "E a questão do cartão de crédito é a desculpa da vez." Passado esse período de realização de lucros, os meses de outubro, novembro e dezembro devem reservar dados mais claros para o investidor e, assim, poderá se iniciar um período de alta.
Com relação ao dólar, apesar da crise ter como epicentro os EUA, o que se viu foi que ele foi um dos ativos que mais se valorizaram durante esse período, ressalta Padovani. Isso porque o retrospecto mostra que a economia americana, mesmo debilitada, é vista como segura e sua moeda vira proteção. "Quanto mais forte o dólar, maiores os sintomas de receio global", diz. "E quando os investidores se mostram um pouco mais seguros, eles saem em busca de rentabilidade em outras moedas, beneficiando o real." Na visão do executivo, o dólar pode ter uma pequena apreciação no curto prazo, mas, para 2010, o real deve ter uma trajetória de apreciação. Ele mantém a projeção de R$ 2,10 para o dólar em dezembro deste ano.