segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A crise é da oposição e do PiG


A oposição, o PiG e seus leitores idiotizados estão em intenso orgasmo coletivo por conta do anúncio, pelo governo federal, do corte de R$ 50 bilhões de reais no orçamento de 2011.Essa organização criminosa, que vive torcendo para que o Brasil de Dilma dê errado, assim como torcia contra Lula, acha que o governo Dilma já começa com uma crise sem precedentes na história do Brasil.

Tudo isso é bobagem.

Primeiro, todos hão de lembrar que todas as vezes que o governo FHC entrava(e não foram poucas) em crise ia de pires nas mãos pedir empréstimo ao FMI.Lula não usou desse expediente nefasto que envergonhava o país, dada a eterna dependência ao citado organismo.Dilma também não usará.De forma alguma.

Segundo, previsão de corte de gastos não é a mesma coisa que corte de gastos.Até um estagiário de Direito sabe que a peça orçamentária é apenas uma ficção.O orçamento é irrelevante do ponto de vista prático.Mesmo que o governo não cortasse R$ 50 bilhões do Orçamento, nada garantiria que ele gastaria esses recursos na sua integralidade.A oposição, o PiG sabem disso, mas esconde dos seus leitores menos avisados.Os que são mais sabidinhos ficam dizendo asneira só para criticar o governo.São uns bocós.

José Paulo Kupfer traz exemplos esclareredores sobre o tal corte no orçamento de Dilma:

"Um item que pode servir como exemplo típico da regra geral adotada na definição dos cortes é a contenção das despesas previstas com novas contratações de pessoal pelo governo. Havia, no orçamento, uma previsão de R$ 5 bilhões para novas contratações este ano. Dessa previsão, foram cortados R$ 3,5 bilhões. Significa que concursos públicos previstos não serão realizados, mas não que o contingente de servidores e a folha salarial atual serão enxugados.

Seguro-desemprego, Previdência, subsídios vão pelo mesmo caminho. Nos dois primeiros caso, os cortes – maiores, relativamente, no seguro-desemprego – têm origem em revisões e cruzamentos de dados, com vistas a coibir fraudes. As previsões de gastos nestes itens foram contraídas, mas não em relação às despesas efetivas de 2010.


A redução nos subsídios ilustra bem a lógica dos cortes. O facão atingirá metade dos R$ 14 bilhões destinados à rubrica na peça orçamentária. Ainda assim, o gasto previsto resultante será superior em 40% aos R$ 5 bilhões gastos em 2010 com subsídios. De todo modo, uma parte dessa redução viria de um anunciado aumento nos juros (subsidiados) do BNDES".

De modo que toda essa celeuma não passa de intriga da oposição, tudo está sob controle.

Cumprir decisão de Lula sobre Battisti é respeitar o Estado de Direito

Decisão de Lula não é passível de reexame pelo STF

Por Luís Roberto Barroso[Artigo publicado na coluna Tendências/Debates da Folha de S.Paulo desta segunda-feira (28/2)]

Não vou gastar o pouco espaço que tenho na demonstração de que Cesare Battisti é inocente das acusações de homicídio que lhe foram feitas e, sobretudo, que não teve devido processo legal.

Não são essas as questões em discussão. Mas é próprio lembrar que os fatos pelos quais é acusado aconteceram há mais de 30 anos. O maior prazo de prescrição do Direito brasileiro é de 20 anos.

Ademais, seria enorme contradição o Brasil ter dado anistia para os dois lados, por fatos idênticos ocorridos no mesmo período, e "entregar" Cesare Battisti para uma vingança histórica tardia e infundada do governo da Itália. A afirmação de que a Itália era uma democracia durante os anos de chumbo é um sofisma sem qualquer relevância jurídica ou política.

Estados Unidos e Brasil também são e, rotineiramente, suas cortes supremas invalidam julgamentos por violação do devido processo legal. No caso de Cesare Battisti, seu segundo julgamento na Itália no primeiro não foi sequer acusado de homicídio, baseado apenas em delações premiadas de pessoas já condenadas, tem passagens dignas de figurar em qualquer futura antologia de barbaridades jurídicas.

Detalhe: todos os acusadores premiados foram soltos após penas breves. Só Battisti, cujo papel na organização era totalmente secundário, foi condenado à prisão perpétua. O julgamento no STF ficou empatado em quatro a quatro.

Portanto, quatro ministros entenderam que a extradição não deveria ser concedida! Se fosse um Habeas Corpus, ele teria sido solto imediatamente.

Como era extradição, entendeu-se que o presidente da corte deveria votar. E, em hipótese incomum, deu o voto de Minerva em favor da acusação. Mais incomum ainda: a extradição foi autorizada contra a manifestação de dois procuradores-gerais, que consideravam válido o refúgio e se pronunciaram contra a entrega de Battisti!!!

No mesmo julgamento, decidiu-se também, por cinco a quatro, que a competência final na matéria era do presidente da República. Dos cinco ministros que votaram nesse sentido, quatro afirmaram tratar-se de competência política livre. O quinto, o ministro Eros Grau, entendeu que a decisão, embora política e do presidente da República, deveria se basear no tratado de extradição entre Brasil e Itália.

E foi adiante: disse o fundamento e o dispositivo que o presidente poderia utilizar. Da forma mais clara e didática possível, acrescentou: se assim fizer, sua decisão não será passível de reexame pelo STF. Pois o presidente Lula seguiu à risca o parâmetro estabelecido.

Não concordo, mas entendo e tenho consideração pelo ponto de vista de quem era favorável à extradição. Mas isso, agora, já não está em questão. O presidente da República exerceu validamente sua competência constitucional, nos termos em que expressamente reconhecida pelo STF.

A divergência política em relação a ela será sempre legítima, mas dar-lhe cumprimento é uma questão de respeito ao Estado democrático de Direito e à soberania nacional. Depois das manifestações impróprias e ofensivas da Itália, citando nominalmente o presidente brasileiro, talvez já seja mesmo uma questão de patriotismo.

Quando a França negou a extradição, nas mesmas circunstâncias, a Itália acatou respeitosamente. No nosso caso, veio de dedo em riste, acintosamente.

Não fará bem ao Brasil vulnerar suas instituições e impor uma humilhação internacional ao ex-presidente Lula, que deixou o cargo com mais de 80% de aprovação, para subservientemente atender a quem nos falta com o respeito.

Uma ótima homenagem às mulheres

Frente governista entra em campo por regulação de mídia


Eu defendo piamente a liberdade de expressão, só não concordo com monopólio dos meios de comunicação, nem com propriedade cruzada, nem com jornalismo seletivo.Ao meu ver, o jornalismo de mercado deve ser imparcial.Sempre.É esse tipo de Regulação da mídia que o PT defende.

A decisão do governo de propor um novo marco regulatório da mídia digital levou 171 deputados aliados a criar frente em defesa do projeto, coordenada por PT e PSB.

O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), disse que o debate é "prioritário" para a bancada e que será "iluminado pelos princípios da liberdade de imprensa".

Segundo a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), a frente "fará a base para o governo enviar o projeto do marco regulatório".

Na semana passada, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) disse que o marco deve ser encaminhado ao Congresso no segundo semestre e que não será divulgado agora, pois "tem grandes chances de ter uma besteira no meio".

A Folha apurou que o texto do governo já está quase finalizado, mas será enviado ao Congresso após a consolidação do movimento pró-marco. A ideia é anunciá-lo em março, com um manifesto em defesa da "democratização" do setor.

O representante do PT será o deputado Emiliano José (BA), jornalista e professor.

Políticos, cuidado! Olhem para o Oriente Médio!


RT @senhorf: Na dúvida, os políticos brasileiros deveriam ficar expertos com os que está acontecendo no Oriente Médio …

O twit acima traduz a sensibilidade de quem convive há mais de uma década com o poder em Brasília. O Senhor F, autor do twit, é jornalista (já foi editor da Folha e assessor da Dilma no Ministério das Minas e Energia). Aficionado pelo rock, o Senhor F é uma legenda no rock brasileiro.

Nepotismo a parte, retwitei esta mensagem na terça passada por achar que ela é muito apropriada para o momento que estamos vivendo. A síntese que ela expressa é clara. Os políticos brasileiros, acostumados a décadas de patrimonialismo e clientelismo, estão abusando e podem ser varridos do mapa também aqui, como no Oriente Médio.

Do ponto de vista do cidadão comum, o abuso é variado. Aprovam aumentos enormes nos próprios salários, mas negam 50 centavos a mais por dia no salário mínimo. Não contestam aumento nas taxas de juros, mas aprovam aumentos acima da inflação para passagens de ônibus. Fazem promessas do melhor dos mundos em campanha, mas aproveitam meses de férias e início de governos para fazer as maldades …….

Para mim, há uma conexão entre o estudante que para um tanque de guerra na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989 e o estudante que se acorrenta em frente à Prefeitura de São Paulo para mostrar que seu direito de ir e vir está sendo violentado por uma passagem abusiva. Ambos lutam por direitos fundamentais e por liberdade.

Veja bem. Não sou especialista em assuntos internacionais, nem acompanho a evolução dos acontecimentos no mundo como deveria. Nos últimos vinte anos tenho sido informado sobre o que se passa em outros países de maneira irregular e assistemática. Na verdade, me sinto muito próximo do cidadão comum quando se trata de analisar a situação internacional e as crises em outros países.

Talvez por isso, pela minha ignorância, posso afirmar algumas ideias:

 Há uma conexão entre a emergência dos trabalhadores na América Latina e as grandes transformações que vimos tendo, como a derrubada do Muro de Berlim, a manifestação dos estudantes chineses na Praça da Paz Celestial e a onda de mudanças no mundo árabe;

 Talvez até mesmo a eleição de Obama (não o seu governo, conforme o que tenho visto) possa ser elencada neste rol de transformações;

 Todas estas manifestações de massas e a evolução cidadã no planeta têm sido acompanhadas e ao mesmo tempo são fruto das profundas mudanças tecnológicas e da globalização das últimas décadas;

 Tudo isso está ocorrendo contra e apesar das velhas estruturas políticas, sejam elas de direita, de centro ou de esquerda.

Desde que um estudante chinês parou um tanque com a força da sua vontade, as pessoas passaram a se ver como possuidoras de direitos e capazes de mudar o mundo para melhor. Mas a ampla maioria dos políticos brasileiros não entende esta mudança, acha que “fazer política” é monopólio dos “profissionais do ramo”, e continua tratando o povo como objeto da sua política, quando deveria compreendê-lo cada vez mais como sujeito.

O jornal impresso no final do século XIX e início do século XX tornou-se ferramenta da afirmação do iluminismo. O obscurantismo medieval foi soterrado pela palavra impressa distribuída em jornais diários. Bancados pela burguesia em sua ascensão ao poder, eles moldaram o que hoje é a velha mídia.

O PIG de hoje é a aristocracia do século XVIII. Neste século, as novas tecnologias, e a internet em particular, deverão varrer de seus postos centenas de políticos brasileiros acostumados à velha lógica do poder e da comunicação – não é somente a comunicação feita à revelia dos meios tradicionais, é a comunicação feita com outro conteúdo e outros métodos, como a do povo egípcio. É, principalmente, a comunicação feita pelas pessoas para elas próprias. A mídia velha opera dentro da lógica vertical e autoritária. A nova mídia trabalha com a lógica horizontal e democrática.

De um modo geral, há uma onda cidadã, de indignação quanto aos políticos e suas políticas tradicionais que atravessa o planeta. A mídia velha e a política velha estão com os dias contados. É isso que vai derrubar os Berlusconis. Quem não entender essa transformação agora, pode até resistir mas vai sangrar até o fim. É o caso do Egito e do mundo árabe, mas é também o caso de boa parte dos políticos do chamado mundo desenvolvido ou em desenvolvimento.

Quem não entender a mudança, vai dançar. Quem entender, vai governar o mundo amanhã.

* Jornalista e publicitário. Publicou o livro O Marketing e a Comunicação da Esquerda. É diretor da Veraz Comunicação e da Red Marketing, ambas sediadas em Porto Alegre. paulocezar@veraz.com.br

Carta Capital

Dilma:Lei de Valorização do Salário Mínimo garante estabilidade e segurança


Por: Paula Laboissière, da Agência Brasil


Brasília – A presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (28) que o governo quer continuar com a política de valorização do salário mínimo para que a roda da economia gire com vigor. Ao comentar a definição de regras para o reajuste, ela avaliou que o momento é importante para o trabalhador porque a lei traz segurança e estabilidade.

“Com ela, todos sabem de antemão quais são as regras e os critérios de aumento do salário mínimo, daqui até 2015”, disse, em seu programa semanal Café com a Presidenta. O reajuste do salário mínimo, definido em R$ 545, foi divulgado no Diário Oficial e entrará em vigor nesta terça (1).

Dilma lembrou que a Lei de Valorização do Salário Mínimo consolida um acordo fechado pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as centrais sindicais em 2007.

“O salário mínimo tem que ter um ganho real, uma valorização. E este aumento real deve acompanhar o crescimento da economia”, explicou.

A presidenta destacou que caso a economia brasileira não cresça ou registre queda, o cálculo do reajuste vai considerar que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será nulo e não haverá desconto no salário mínimo.

A estimativa para 2016, segundo Dilma, é que o reajuste seja de cerca de 13% em razão de um crescimento de 7% acima da inflação no ano passado, totalizando um mínimo de R$ 616.

Dilma quer Comissão da Verdade neste ano



O Estado de S. Paulo - 28/02/2011

Os ministros Nelson Jobim (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) vão procurar líderes partidários no Congresso para articular a criação da Comissão da Verdade e Justiça, para esclarecer mortes, desaparecimentos e torturas durante a ditadura militar, ainda neste semestre.

A mobilização dos ministros começará nas próximas semanas, segundo informou ontem Maria do Rosário, em Genebra. Apesar dessa articulação pela Comissão da Verdade, a ministra afirmou que a presidente Dilma Rousseff não tem planos de propor uma revisão da Lei da Anistia. "Não cabe ao Executivo propor isso. Essa deve ser uma questão da sociedade", disse Maria do Rosário.

Segundo a ministra, a criação da comissão está entre as prioridades do governo. "Vamos ter um diálogo mais direto com os líderes, sobre o significado disso", explicou. Mas insistiu que o Executivo não irá além disso. "Alguns acham que pode ser a porta para buscar a revisão da Lei da Anistia. Mas nós nos movemos dentro do que está no ordenamento jurídico do Brasil", afirmou. "É uma comissão do resgate da memória, do direito de saber o que ocorreu. Não cabe ao Executivo hoje, com os limites que temos, iniciar o debate da anistia. Não é nossa proposta e nem está dentro das nossas possibilidades."

Cronograma. No Congresso, os líderes dos partidos aliados vão tentar a aprovação do projeto de lei que cria a Comissão da Verdade ainda no primeiro semestre deste ano.

O texto em discussão no Legislativo foi enviado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio do ano passado e diz que a comissão tem por objetivo "promover a reconciliação nacional" e "o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior". Na época, houve reação de setores militares, que temeram tratar-se de proposta revanchista.

"O ideal é votarmos a proposta como ela veio do Executivo", disse ontem o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP). "O projeto já foi costurado com os Direitos Humanos, a Defesa e a Justiça", afirmou.

Em janeiro, Maria do Rosário já havia se comprometido a trabalhar pela aprovação do projeto. Ministro da Defesa desde o governo Lula, Jobim travou duros embates com o antecessor da ministra, Paulo Vannuchi. Após a posse de Dilma, reafirmou apoio à criação da comissão. / COLABOROU EUGÊNIA LOPES

Recrutas do PAC


Tem gente por aqui que diz, por pura inveja, que o PAC não existe.Mas existe, sim.Fiquei espantado com as obras tocadas pelo Exército na BR- 101.Uma maravilha! O Exército do Brasil, que na época de FHC só servia para proteger a fazenda do patrão, prestou no governo Lula e continua prestando no governo Dilma, serviços relevantes para o bem do Brasil, para o bem da sociedade.


Valor Econômico - 28/02/2011



O recruta Djalma Raimundo Gonçalves trabalha na duplicação da BR 101, em Goiana (PE): obras do PAC tocadas pela engenharia do Exército já atingem 30 projetos de alto calibre, que absorvem 2,6 mil jovens trabalhadores por ano em rodovias, refinarias e aeroportos.


O garoto Almir Soares Paé nunca dirigiu um carro na vida. Ainda não tem habilitação, tampouco dinheiro para comprar um carro. Na boleia de uma motoniveladora de R$ 300 mil, porém, vira um motorista experiente. Com seus 19 anos, aparelho nos dentes e dúzias de espinhas no rosto, Paé precisou só de algumas aulas práticas para ganhar o posto. O garoto leva jeito, e não seria para menos dada a responsabilidade que assumiu. Ele e mais alguns amigos estão trabalhando nas obras da transposição do São Francisco.

No volante de uma fila de máquinas barulhentas, um batalhão de garotos de 19 e 20 anos trabalha das seis horas da manhã às seis da tarde na construção da barragem de Tucutu, a primeira represa do Eixo Norte da transposição, canal que avançará 402 km pelo sertão nordestino. Ali estão cerca de 200 recrutas do Exército, cumprindo o serviço obrigatório de um ano. O ritmo é pesado. Descanso, quando ocorre, só aos domingos. "O trabalho não é moleza, mas eu gosto do que faço", diz Paé, que um ano atrás deixou a casa dos pais, em Picos, no semi-árido do Piauí, para trabalhar nas obras de Pernambuco. "Quando entrei no Exército queria saber como atirar, mexer com armas, mas achei bom vir para cá e aprender uma profissão. Fica mais fácil arrumar um emprego quando a gente sai."

Os meninos que trabalham hoje na barragem em Cabrobó fazem parte da divisão de engenharia do Exército, braço que hoje soma um contingente de 9 mil militares em todo o país. Divisão menos conhecida das Forças Armadas, principalmente pelos milhares de garotos que todos os anos se alistam para o serviço obrigatório, a engenharia militar funciona como uma grande empreiteira. É essa "geração PlayStation", como define o major Marcelo Souza Lima, comandante do batalhão que atua na cidade de Goiana (PE), que está operando máquinas de escavação e terraplanagem, rolos compressores, tratores e caminhões em algumas das principais obras do país.

Até meados de 2006, antes do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o volume de obras concentradas na Diretoria de Obras de Cooperação (DOC) do Exército era pequeno, não atingia uma dúzia de projetos, todos de pequeno porte. Hoje a divisão atua em trechos de mais de 30 obras de alto calibre, passando por rodovias, refinarias e aeroportos.

O resultado dessa operação é a chegada, todos os anos, de 2,6 mil garotos de 19 anos de idade ao mercado do trabalho, levando debaixo do braço um currículo com cursos básicos de construção civil. Nas obras, o trabalho dos soldados não se limita ao volante. Como há muito serviço de pedreiro que também precisa ser feito, na hora da necessidade ninguém fica de fora. "Aqui no quartel temos até hacker que colocamos para trabalhar na obra. Quando fazemos mutirão em dias de domingo, todo mundo pega no pesado. Cozinheiro, pessoal do almoxarifado, do escritório, todos têm que ajudar na obra", diz o major Lima. "Sei que isso seria impossível em uma empresa privada, onde cada um só cumpre sua função, mas aqui eles são soldados, sabem que estão servindo o Exército."

Na rotina das obras, cabe também aos próprios comandantes trocarem os chapéu de militar pelo de engenheiro. Profissionais formados pelo Instituto de Engenharia Militar (IME) costumam dar assessoria técnica para as obras, mas no dia a dia, são os coronéis que estão na linha de frente.

Em Goiana, na BR 101, recrutas como Djalma Raimundo Gonçalves colocam a mão no rastelo todos os dias para espalhar o asfalto a 180 graus celsius que os caminhões despejam nas obras de duplicação da rodovia. O calor e o cheiro forte não incomodam o recruta. "Fui voluntário para servir o Exército e quero continuar aqui. Se eu for selecionado para continuar no batalhão, vai ser muito bom", diz Gonçalves.

Pelo regimento militar, quem é chamado para permanecer no Exército após vencer o primeiro ano de serviço obrigatório pode trabalhar por mais seis anos no quartel. No primeiro ano, o recruta recebe um salário de R$ 530 por mês, moradia, saúde e alimentação. Se é selecionado para encarar mais seis anos, passa a ganhar R$ 1 mil, mas não há pagamento por hora extra ou benefícios comuns da iniciativa privada, como o fundo de garantia.

Pode parecer um caminho pouco atraente para jovens que vivem nas capitais mais ricas do país, diz o coronel Osmar Nunes, adjunto do centro de operações do primeiro grupamento de engenharia de construção, mas no interior dos Estados do Norte e Nordeste essas vagas militares são disputadas pelos garotos. "Hoje não temos problemas com a quantidade de voluntários. Pelo contrário, é preciso selecionar entre todos os que querem servir", comenta o coronel Nunes. "Para muitos desses garotos, isso aqui é o trampolim para aprender alguma coisa e depois ir para a iniciativa privada, que paga o triplo ou mais."

A execução de obras de construção civil pela divisão de engenharia do Exército data da época do Império. A lei que determinou que o batalhão entrasse nas construções de estradas de ferro, linhas telegráficas e outras obras de infraestrutura é de 1880. Passados 131 anos, sua finalidade continua a ser a mesma, diz o general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, diretor da divisão de obras. "Nunca tivemos função de mercado ou de competição com a iniciativa privada, somos um aparelho do Estado que precisa adestrar [treinar] seu contingente", afirma.

O Exército não recebe dinheiro pelas obras que executa. O salário de todos os militares que atuam nas obras, do recruta ao general, já é pago pela União. Dessa forma, o orçamento da obra é destinado à aquisição de materiais de construção, máquinas e equipamentos. O ganho material das Forças Armadas, comenta o coronel Osmar Nunes, ocorre com o reaparelhamento da divisão, que passa a incluir em seu patrimônio as máquinas compradas durante as obras, para depois usá-las em outras operações. "O Exército não tem lucro. Seu ganho é absorver tecnologia, formar o soldado e cumprir a função social de devolver um cidadão treinado para vida civil", diz Nunes.

Na semana passada, em Cabrobó, o recruta Almir Soares Paé e muitos de seus amigos passaram pela peneira do Exército após um ano de trabalho. O garoto que se destacou no comando da motoniveladora queria permanecer no quartel. Não deu. Dos 200 soldados que trabalhavam na transposição, só 40 permaneceram. Outros 160 vão chegar. "Infelizmente são pouquíssimas as vagas e temos de escolher soldados para todo tipo de trabalho, de cozinheiro a motorista", justifica o coronel Marcelo Guedon. Depois de um ano no quartel, Paé diz que aprendeu a dirigir todo o tipo de máquina. Embora sair do Exército não fosse a sua vontade, já estava preparado para deixar o posto. "Vou trabalhar numa empresa, quero estudar educação física."

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Não esqueça:o dia em que FHC foi humilhado por Bil Pinto

Mexida no tabuleiro internacional


Mexida no tabuleiro internacional


O foco agora é a Líbia, governada por quase 42 anos por Muammar Khadafi, o dirigente árabe que passou a ser aceito pelo Ocidente a partir de 2003, quando decidiu fazer uma série de concessões, inclusive deixando de lado o programa nuclear. O ditador, homem forte, ou seja lá que denominação tenha, caiu nas graças dos Estados Unidos e da Europa. Afinal, o general petróleo pesa muito na balança.


De concessão em concessão, Kadhafi em 2006 abriu as portas da Líbia ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial adotando programas econômicos de austeridade em que o povo é sempre a principal vítima. As vozes roucas das ruas já se faziam sentir, mas o homem forte líbio/ditador se lixava.


Khadafi, hoje amigão do italiano Silvio Berlusconi, com quem firmou acordos petrolíferos de milhões de euros em 2008, chegou até a receber a visita da então Secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice. O dirigente líbio abriu o tapete vermelho para saudá-la. Esta, lépida e faceira, disse sorrindo que as relações estadunidenses-líbias entravam em uma nova etapa.


A questão dos direitos humanos então não passava de um mero detalhe. O cachorrinho de George W. Bush e o agora membro da Casa dos Lordes, Tony Blair, também começaram a relacionar-se com Khadafi as mil maravilhas. Cessaram as acusações raivosas segundo as quais o Coronel líbio ordenara o atentado nos céus da Escócia que derrubou um avião provocando várias mortes. Khadafi mandou até pagar indenizações aos familiares das vítimas. Agora, o tema voltou à tona.


Vão longe os tempos em que quando tomou o poder derrubando um rei subserviente aos europeus e estadunidenses, um tal de Idris, Kadhafi parecia seguir os passos de Gamal Abdel Nasser, o líder egípcio que nacionalizou o canal de Suez e trouxe grandes benefícios ao seu povo, que conheceu um tempo de estabilidade e melhoria de qualidade de vida.


Nos anos 70, Khadafi era uma espécie do que viria a ser no Terceiro Milênio o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad para os Estados Unidos e Israel. Eram sanções atrás de sanções contra o então integrante do “eixo do mal”.


Para ser ter uma ideia do tom de Khadafi, em uma entrevista para Marília Gabriela, claro, antes de 2003, ao ser perguntado o que faria se encontrasse Bush (pai), respondeu, deixando a entrevistadora desconcertada: “cuspiria na cara dele”.


Khadafi nos últimos tempos andava meio no ostracismo. Especulava-se que estaria muito doente e preparava o filho para sucedê-lo na missão de manter unidas as tribos que formam a Líbia. De fato, um dos filhos apareceu muito nos últimos dias com discursos inflamados de ameaça aos rebelados.


Uma parte da Líbia, segundo o noticiário das agências, já estaria sob controle dos rebelados e Khadafi só tinha consigo uma área da capital, Trípoli, podendo perdê-la a qualquer momento.


Mas na verdade, todo esse noticiário é passível de dúvidas, porque em outros episódios históricos as agências internacionais no frigir dos ovos acabaram errando e na prática desinformando.


Os mortos pela repressão já chegariam a mil, mas não dá para confirmar o número exato de vítimas. Há informações segundo as quais a Força Aérea bombardeou a população civil, o que é desmentido pelos khadafistas. O embaixador brasileiro em Tripoli não confirmou bombardeios, mas a notícia se espalhou pelo mundo.


O líder líbio, que segundo a maioria dos analistas, estaria em seus estertores, sendo abandonado por colaboradores próximos e ministros, voltou à retórica de antes de 2003. Culpa drogados, adeptos de Bin Laden, que desmentiram em um site, o imperialismo e grupos religiosos de serem os responsáveis pela rebelião.


Como não poderia de ser, numa linguagem como sempre hipócrita, o Departamento de Estado, na palavra de Hillary Clinton condenou a violência contra o povo cometida pelo Exército líbio obediente a Khadafi. Quando o Presidente iraniano Ahmadinejad condenou a repressão ao povo, Clinton esbravejou dizendo que ele não tinha moral para falar o que falou. Como se o governo estadunidense, que sempre apoiou ditaduras sangrentas na região, tivesse. Até porque, quem apoia sem restrições a monarquia na Arábia Saudita não tem moral para coisa alguma, ainda mais falar em democracia na região ou em qualquer parte do mundo.


O que está acontecendo nos países árabes é, sem dúvida, uma grande mexida no tabuleiro internacional. Mubarak já ocupa seu lugar no lixo da história depois de 30 anos com o apoio incondicional dos governos estadunidenses. Agora, como o ventou mudou, a dupla Obama & Clinton se manifesta efusivamente em favor da democracia no Egito. Brincadeira. Ninguém perguntou aos manifestantes, que nestes anos todos foram reprimidos por armas da indústria da morte estadunidense, se aceitavam de bom grado a democracia propugnada pela potência que não quer perder o controle da região.


É complicado saber com precisão quem são os rebeldes que não querem mais Khadafi. Foi só o povo? Há notícias que em Benghazi, a segunda cidade líbia, os manifestantes que agora controlam a área, teriam hasteado a bandeira da monarquia derrubada por Khadafi e o povo, em 1969.


A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) lançou um comunicado dizendo que não pretende intervir na Líbia. Aí que mora o perigo. Basta consultar os jornais para ver que sempre em graves crises, como a de agora, inicialmente os dirigentes da Otan dizem que não pretendem intervir. Horas ou dias depois surgem os contingentes bombardeando ou ocupando cidades.


Como a Líbia, ou melhor, o petróleo líbio é estratégico e mesmo nos EUA o ouro negro é cada vez mais escasso, não será surpresa alguma se no país conflagrado desembarcarem tropas da Otan com parceria estadunidense sob o pretexto de estabelecer a paz.


Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE


Fonte:Direto da Redação

As mazelas da iniciativa privada



Um dos princípios basilares do pensamento neoliberal repousa no fato de que ao Estado se deve reservar o mínimo, porque são os segmentos da iniciativa privada – não sujeitos às bitolas do regime estatal – que conseguem obter maior eficácia, eficiência, produtividade, lucratividade, credibilidade e sabemos lá o que mais...


Na coluna de hoje, apresento, colhidas em uma única edição do insuspeitíssimo (no caso) jornal “O Globo” – a do dia 24.02 - , alguns fatos que permitem uma boa reflexão a respeito dessa tese.

I - Na página 32 do caderno de ECONOMIA, há matéria que cuida do destino da empresa DASLU, definida pelo jornal como “templo de alto luxo que está em agonia desde 2005”, com dívida estimada em mais de 80 milhões, não considerados, aqui, os 500 milhões devidos à Receita Federal, por fraude em importações. Em 2005, a empresa foi acusada pela Polícia Federal , também, de formação de quadrilha e falsidade ideológica, sendo os seus sócios condenados em primeira instância a 94 anos de prisão, do que recorrem em liberdade.


II – Na mesma página 32, é feita reportagem sobre o ex-dono do Banco Santos, instituição que, falida, deixou – segundo o jornal - dívidas que à época da falência somavam 2,5 bilhões. A matéria afirma que o ex-controlador do Banco foi obrigado a deixar a mansão em que morava com a mulher porque não paga o aluguel (R$ 20 mil mensais) desde 2004, em dívida que já chega a R$1,7 milhão.


III – É ainda na página 32 que encontramos a demissão da presidente da GM do Brasil, que, segundo especula a reportagem, poderia ter-se dado por uma falta de habilidade da demitida para” lidar com os vultosos investimentos anunciados pela marca há três anos”, ou , talvez, pela “defasagem da linha de automóveis, consequência da crise do grupo nos EUA”.


IV – Na página RIO – 15, o assunto é a SuperVia, concessionária dos trens que servem à população do Rio de Janeiro, que está sendo multada diariamente porque paralisou as escadas rolantes das suburbanas estações do Méier e de Madureira, com todos os transtornos daí decorrentes para os usuários, alegando, preconceituosa e discricionariamente, que , para o retorno ao funcionamento das escadas , será necessária “uma mudança nos padrões culturais da população, reeducando-a a preservar o patrimônio público”...


V – Na página 14, em matéria que tem como manchete “Assim no plano como no SUS”, afirma-se, entre outras coisas, que o drama de “emergência lotada, demora no atendimento, pacientes revoltados que abandonam o hospital, cansados de esperar” , que sempre tipificou o serviço público de saúde, “tem mudado de endereço”, já que os hospitais privados padecem exatamente dos mesmos problemas, havendo até depoimento de diretor da CREMERJ que afirma que o atendimento está mais rápido na rede pública e demorado na area privada, como um todo.


VI – Na página 39, dedicada à “CIÊNCIA”, trata-se do impasse sobre inibidor de apetite, droga banida nos EUA como maléfica à saúde e cuja proibição no Brasil está provocando polêmica. São denominados tecnicamente “anorexígenos anfetaminicos”, que a ANVISA quer tirar do mercado como medicamentos de risco, pílulas causadoras de doenças. Claro que há posicionamentos contra a proibição, alguns alegando que os remédios ajudam os obesos. Mas também é óbvia a inferência que se pode tirar a respeito dos interesses dos laboratórios envolvidos...


VII – Na página 34 de ECONOMIA, a notícia vem da China e dá conta de que operários chineses da empresa Wintek, produtora de telas sensíveis ao toque para os aparelhos da Apple, estariam submetidos a envenenamento químico causado pelo hidreto de hexila usado na fabricação das touchscreens. Segundo alegação ali mencionada, a empresa não teria indenizado corretamente os afetados, pressionando-os ao abandono do emprego sem garantias quanto ao tratamento médico.
São fatos pinçados de uma única edição de um jornal diário. São fatos que fazem parte de um conjunto de muitos fatos do gênero, que povoam o cotidiano da matéria jornalística. Eu poderia acrecentar aqui, em termos gerais, as pesquisas que dão conta de que o maior nível de insatisfação do consumidor quanto à qualidade do atendimento aos seus problemas de usuário corre por conta das empresas de telefonia celular. Poderia também lembrar que, na maioria dos escândalos que envolvem autoridades públicas com corrupção, estão por trás as grandes empresas privadas corruptoras, sobre quem se cala, normalmente. Poderia também, se quisesse aprofundar essa abordagem, lembrar que o mundo foi jogado recentemente em uma crise colossal, da qual os grandes países ainda não se recuperaram, em razão de problemas havidos com majestosos redutos da iniciativa particular, os bancos.


São as mazelas da iniciativa privada, pilar da sociedade de mercado, fundada no lucro a qualquer preço. É bom, de quando em vez, refletirmos sobre isso...


Rodolpho Motta LimaAdvogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.




Tenebrosas transações

Patrimônio de presidentes de Assembleias Legislativas cresce 52%

Dados dos parlamentares declarados no Tribunal Superior Eleitoral revelam que, em quatro anos, os deputados que presidiram os legislativos estaduais tiveram crescimento patrimonial de 52,6%; o mais rico deles, de Goiás, tem hoje R$3,7 milhões

Dos 27 deputados estaduais que comandam atualmente as Assembleias Legislativas de seus Estados, 13 apresentaram expressiva evolução patrimonial nos últimos quatro anos. Onze tiveram crescimento acima de 100%. Outros dois declararam patrimônio zerado em 2006 e entregaram certidões com valores acima de R$ 100 mil no ano passado.

Levantamento feito pelo Estado na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra ainda que 18 presidentes de Legislativos estaduais declararam ter patrimônio pessoal acima de R$ 1 milhão.

A riqueza desses 27 deputados soma R$ 37,7 milhões. Há quatro anos, esses mesmos parlamentares totalizavam um patrimônio de R$ 24,7 milhões em imóveis, veículos, aplicações financeiras, dinheiro guardado em casa, entre outros. Em um mandato, o patrimônio deles cresceu 52,6%.

Entre os que apresentaram maior crescimento patrimonial, o líder é o deputado Cabo Patrício (PT), que comanda a Câmara do Distrito Federal.

O parlamentar passou de R$ 6 mil para R$ 137,4 mil em quatro anos - crescimento de 2.190%. Em seguida, aparece o novo presidente da Assembleia do Espírito Santo, Rodrigo Chamoun (PSB), que passou de R$ 63,3 mil para R$ 290 mil - ou 358,13%.

Élson Santiago (PP), que comanda o Legislativo do Acre, Gelson Merisio (DEM), chefe da Assembleia catarinense, e Marcelo Nilo (PDT), presidente da Assembleia da Bahia, completam o ranking dos que tiveram maior evolução patrimonial.

Os bens de Santiago saltaram de R$ 505,6 mil para R$ 1,47 milhão, crescimento de 190,72%. O patrimônio de Merisio foi de R$ 434,2 mil para R$ 1,23 milhão, uma evolução de 185%. Já Nilo declarou bens que somavam R$ 895,2 mil em 2006 e R$ 2,28 milhões no ano passado - aumento de 155,46%.

Na lista dos presidentes de Assembleias que tiveram crescimento patrimonial acima de 100% ainda constam: Angélica Guimarães (PSC), de Sergipe, com 144,13%; Jerson Domingos (PMDB), de Mato Grosso do Sul, 126,73%; Paulo Melo (PMDB), do Rio de Janeiro, 116,72%; Guilherme Uchoa (PDT), de Pernambuco, 116,67%; Fernando Toledo (PSDB), de Alagoas, 102,58%; e Valter Araujo (PTB), de Rondônia, com 100,19%.

Ainda em termos de evolução no valor declarado de bens, também chama atenção o caso de Ricardo Marcelo(PSDB), presidente da Assembleia da Paraíba. Em 2006, a certidão entregue pelo parlamentar à Justiça Eleitoral não atribuía valores aos seus bens. No ano passado, o parlamentar paraibano informou ter R$ 1,05 milhão em veículos, embarcações, terrenos e quotas de capital de empresas.

O chefe da Assembleia do Amapá, Moisés Souza (PSC), declarou não ter bens em 2006. Mas, no ano passado, apresentou certidão em que consta a propriedade de uma casa e participações acionárias em duas empresas, totalizando R$ 110 mil.

Milionários

O presidente de Assembleia mais rico é Jardel Sebba (PSDB), de Goiás. Seu patrimônio declarado é de R$ 3,69 milhões. Figuram ainda no ranking dos chefes de Legislativo mais abastados os já citados Jerson Domingos, com R$ 3,45 milhões, e Paulo Melo, com R$ 3,40 milhões. O que tem menos posses, de acordo com o TSE, é Ricardo Nicolau (PRP), presidente da Assembleia do Amazonas. O parlamentar informou à Justiça Eleitoral não ter bem algum.

Entre os 27 atuais presidentes de Assembleias, 20 informaram ter a política como sua principal ocupação. Nas fichas entregues à Justiça Eleitoral, esses parlamentares registraram a palavra "deputado" como profissão.

Profissões

Além de políticos profissionais, os parlamentos estaduais são comandados por um advogado, José Antonio Barros Munhoz (PSDB), atual presidente da Assembleia de São Paulo - único parlamento estadual do País que dá posse aos deputados e elege a nova Mesa Diretora apenas em março -; um empresário, Ricardo Mota (PMN-RN); um economista, Fernando Toledo (PSDB-AL); um pecuarista, Jerson Domingos; e um servidor público federal, Raimundo Moreira (PSDB-TO).

Paulo Melo (PMDB-RJ) e Guilherme Uchoa (PDT-PE) informaram "outros" no espaço reservado para descrever suas respectivas ocupações.

Campanhas

Os 27 presidentes de Assembleias Legislativas do País gastaram R$ 16,45 milhões em suas campanhas - o que equivale a uma média de R$ 609,5 mil. A candidatura que mais despendeu recursos foi a de Barros Munhoz, com R$ 2,47 milhões.

Em termos proporcionais, a campanha mais cara foi a do chefe do Legislativo de Roraima, Chico Guerra (PSDB), que gastou R$ 269 mil e obteve 4.592 votos - R$ 58,58 por voto.

A maior parte dos recursos recebidos por esses parlamentares veio de "doações ocultas" - repasses de valores dos diretórios partidários às campanhas sem a identificação do doador original. No total, R$ 4,68 milhões de receitas apuradas por esses parlamentares vieram de doações ocultas - ou 28,43% do total. Indústrias (14,2%), construtoras (10,6%) e comércio (9,8%) estão entre os principais doadores.

Base de apoio

Em apenas três Estados os presidentes das Assembleias Legislativas eleitos não são aqueles que foram apoiados pelo governador.

A situação mais complicada é a de Roseana Sarney (PMDB), no Maranhão. O novo chefe do Legislativo local é Marcelo Tavares (PSB), eleito na aliança liderada pelo ex-deputado federal Flávio Dino (PC do B) - principal opositor de Roseana na campanha de 2010. Situações semelhantes ocorrem no Amapá e em Rondônia, onde os candidatos apoiados pelos governadores Camilo Capiberibe (PSB) e Confúcio Moura (PMDB), respectivamente, foram derrotados por Moisés Souza (PSC) e Valter Araujo (PTB).

Fonte: Estadão.com.br

Lindberg põe sem cuspe em Aécio

Um blefe tucano


A oposição quer ignorar que com Lula o mínimo teve ganho real de 53%.


Por Mauricio Dias.


A oposição quer ignorar que com Lula o mínimo teve ganho real de 53%

O governo aprovou no Congresso o novo salário mínimo de 545 reais. A oposição (DEM) tentou passar 560 reais ou 600 reais (PSDB). As centrais sindicais, inclusive a petista Central Única dos Trabalhadores (CUT), pediam 580 reais, aparentemente alinhadas com o próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi. O valor poderia também ser também o de 2 mil, 194 reais e 76 centavos, projetado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em tese, o piso capaz de satisfazer as despesas de um cidadão com saúde, transporte, Previdência, lazer, educação, moradia, higiene e alimentação. Essa é a meta a ser perseguida.

Governar só tem sentido se o objetivo do governante for o de buscar, sempre e sempre, o bem-estar geral dos cidadãos. Entre essa percepção que deve guiar as ações do poder, o objetivo eleitoral da oposição e o estudo sobre o que seria um salário mínimo perfeito – justo aos trabalhadores que vivem ou têm como referência de ganho esse valor básico – existem, porém, as polêmicas e importantes contas públicas.

Por que, então, José Serra, ex-governador de São Paulo, mantém o discurso da campanha presidencial que perdeu, de que o mínimo de 600 reais não comprometeria a estabilidade das contas federais? E, mais ainda, ao estabelecer o salário básico de 600 reais, o atual governador paulista, Geraldo Alckmin, não estaria provando, na prática, que o que Serra defende é possível?

Aparentemente, sim. Mas esse é apenas um blefe da oposição tucana.

O truque é facilmente desmontável. O salário mínimo regional, ao contrário do que acontece com o mínimo federal, não tem impacto na conta da Previdência local. Ou seja, não interfere nas contas públicas. Regula tão somente o patamar dos trabalhadores da iniciativa privada que não possuem piso definido por lei federal.

Alckmin fixou o mínimo em 600 reais, como Serra quer. Só que, no estado do Rio, vencida a batalha do salário no Congresso, o mínimo deverá ser de 605 reais e 32 centavos, a ser anunciado após o carnaval. O tempo é um cálculo político do governador Sérgio Cabral para evitar pressão no governo federal antes que o Congresso aprove o reajuste do mínimo. Ou seja, o salário mínimo no Rio será maior do que o mínimo em São Paulo, alardeado por Alckmin.

Mágica? Cabral asfixia as contas públicas do Rio de Janeiro? Claro que não.

Considerando os trabalhadores com carteira assinada, a primeira faixa de assalariados que, no Rio, receberá o aumento integral – inflação mais correção do crescimento econômico – representa apenas 0,5% do assalariado. Ou seja, um porcentual sem representação econômica expressiva nas contas do estado. Ou seja, fala-se aqui dos trabalhadores agropecuários e florestais. Raciocínio semelhante se aplica em São Paulo.

Antes que alguém apresente o argumento que esta mesma falácia eleitoral foi sustentada pelos petistas quando os tucanos estavam no poder, o colunista se antecipa. É verdade. Os petistas também usaram esse mesmo recurso com finalidade eleitoral. É preciso considerar, no entanto, dois “poréns” relevantes nesse ponto do debate.

O primeiro: o comportamento anterior do PT oposicionista não justifica o mesmo comportamento do PSDB oposicionista, no poder antes e na oposição agora. O segundo: em oito anos de governo, Lula possibilitou um ganho real de 53% para o salário mínimo.

Isso faz a diferença entre o PT e o PSDB no governo.


Mauricio Dias


Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br

Acabou o jornal


Marcelo Carneiro da Cunha


Pois nada como uma revolução para percebermos que algo mudou. Aliás, para percebermos que muita coisa mudou. Nessa semana em que a Líbia passou a ocupar nossos corações e mentes – sendo que quem possui esses dois elementos está do lado contrário ao ditador e maluco, Kadafi – sabem os estimados sulvinteumenses como me mantive relativamente informado sobre a guerra? Não foi pela minha, sua, nossa, Zero Hora. Tampouco pela Folha de São Paulo. Ou pela Globo, ou pela CNN, ou pela BBC. Foi pelo Twitter, estimados leitores. Pelo Twitter, seguindo pessoas na Líbia, no Egito, na Tunísia, no Bahrein, que se tornaram estrelas mundiais na internet, como o egípcio Wael Ghonim, que era gerente do Google no Cairo e virou líder da revolução contra Mubarak.

Foi pelo Twitter que acompanhamos a ocupação do Complexo do Alemão – não pela imprensa, que não subia e nem sobe o morro -, mas pelos tweets de um jovem, Renê Silva, que havia criado o jornal A Voz da Comunidade, com uma redação de meninos entre 10 e 17 anos, e que agora se tornava a única voz a chegar até nós com jeito e veracidade de voz daquela comunidade.

Portanto, sejamos honestos para com nós mesmos, para com o fim de alguns dos nossos sonhos, admitindo que o jornal em papel jornal, acabou.

Se algum de vocês surgiram e cresceram no século 20, como esse que os atormenta, a sua vida foi mediada por algumas estruturas, tais como a escola, o jornal, a sala de cinema, o disco e as vitrolas, a televisão. Todos eles, sem exceção, estão ameaçados ou já em extinção, e isso não é nada, nada fácil, aceitar. Mas é verdade. Um jornal papel, produzido por inovações industriais como a prensa hidráulica, a linotipia, a distribuição mecanizada, foi a forma reinante de se produzir, distribuir e consumir informações por mais de cem anos. O cinema, como o conhecemos, em salas, com gente comendo pipoca e chorando, mais ou mesmo os mesmos cem anos. Os discos duraram um pouco menos, a televisão bem menos, os livros resistem, mas como, e por quanto tempo? As escolas criadas na lógica industrial, com seu enorme consumo e baixíssimo retorno – ao menos em termos de conhecimento efetivamente transferido para seus alunos – por quanto tempo mais irão resistir?

A primeira vítima é o jornal em papel, por motivos óbvios. Qual o sentido de você produzir papel, transportar por enormes distâncias, imprimir o papel, montar, separar, levar em poucas horas a pessoas distantes quilômetros e quilômetros da sede do jornal, a um custo imenso, para, ao final, o leitor receber no conforto da sua casa as notícias do que aconteceu no dia de ontem – que ele já recebeu pela internet?

Lá por 2007, com a forte expansão da base de computadores, com a portabilização crescente deles, com a ampliação rápida das redes de banda larga e com a consolidação de uma “cultura digital”, permeando todas as classes e faixas etárias, babaus. Viramos a esquina na direção de um novo universo de acesso a jornais por meio digital, via internet. A tendência é irreversível e previsível, algo mais ou menos como você ter uma carruagem a cavalo em 1910.

O cinema segue valendo, mas não o seu substrato. Não vamos mais ir até salas de cinema, comprar pipoca, pão de queijo ou pizza, ver aqueles trailers todos, gastar com transporte e estacionamento, mais a saída depois para talvez comentar o filme. Vamos ter cada vez mais telas em LCD ou plasma, (tevê já foi também artigo de luxo, lembram?), e ver filmes baixados da internet, no conforto do lar, sem a pipoca, ou com, se você gosta de barulho e cheiro de comida enquanto Almodóvar o sacode. A televisão mesmo, está do lado errado da tendência, por ser uniforme enquanto as pessoas não o são. A internet nos dá conteúdo no horário que queremos ou podemos, customiza nossos interessas e nos entrega quando e como o preferirmos. O bom e velho vinil virou CD, que não durou nada, e toda a indústria da música ficou a ver navios.

E os livros, estimados leitores, e os livros? Eu acho que uma guerra se avizinha, entre nós e nós mesmos. Na teoria, os livros estariam na mesma categoria dos jornais. Não vai haver uma razão prática para mantermos os livros em papel. Mas, como nem tudo no mundo é prático, talvez a gente resolva que, mesmo que possa viver sem livros em papel, talvez a gente não queira viver sem eles. Especialmente, talvez não possamos viver sem bibliotecas e livrarias. Talvez isso, e apenas isso, salve os nossos livros, mais nada.

Já tem gente falando em velha imprensa, versus a nova imprensa, que esse Sul 21 representa, já que nasceu e vive em meio digital, desde criancinha. Na verdade, o que todas essas transformações vêm nos dizer é que, e isso é pra valer, o século 20, por tudo que tenha sido ou representado, acabou. E que nós, seus herdeiros, precisamos aprender a lidar com o novo, que é mesmo novo, e pior, desconhecido.

Enquanto gerações passadas precisavam lidar com uma ou outra grande transformação, somos talvez os primeiros a ver tudo o que nos acostumamos a ter, desaparecendo, mais ou menos ao mesmo tempo. O século 21, estimados leitores, não é mesmo para principantes como todos, eu, você, o senhor aqui ao lado, ou meus sobrinhos, somos, e não temos como não ser.

* Jornalista e escritor

Fonte:Sul21

Sifu quem torceu contra o governo Dilma

Navio que deixou a Líbia com 148 brasileiros chega a Atenas neste domingo

Havia muita gente criticando o ministro das Relações Exteriores por causa do sofrimento pelo qual vinha passando os trabalhadores brasileiros lá na Libia.O anônimo que comenta neste blog é uma dessas pessoas.Sinceramente, não sei como uma pessoa tem a capacidade, só porque não gosta do governo, de torcer contra seres humanos, além disso, compatriotas.


"O navio com 148 brasileiros, funcionários da construtora Queiroz Galvão e seus parentes, 48 portugueses, 20 espanhóis e um tunisiano que estava em Benghazi, na Líbia, chegou ao porto de Pireu, em Atenas, na Grécia, na manhã deste domingo (27), às 7h20 do horário local (por volta de 2h do horário de Brasília). As informações são do Ministério das Relações Exteriores. Todos os tripulantes passam bem.

A embarcação havia deixado o porto da cidade líbia de Benghazi na manhã de sábado (26). Todos haviam embarcado na sexta, mas o mau tempo impediu que a viagem começasse no mesmo dia, sendo transferida para sábado.

Na manhã deste domingo, o governo brasileiro informou que a viagem transcorreu sem problemas e que todos os brasileiros estão bem. Eles foram levados para a embaixada do Brasil em Atenas. Na segunda (28), eles embarcam de avião para o Brasil, em voo que fará escala em Portugal. A viagem durou cerca de 20 horas.


O navio, de bandeira grega, é de responsabilidade da construtora Queiroz Galvão, que tem negócios na Líbia. Relatos de parentes dos brasileiros informam que autoridades líbias retiveram muitos passaportes de estrangeiros que viviam no país. Desde o dia 15, a população da Líbia protesta pedindo o fim do governo de Muammar Kadafi.

Organizações não governamentais estimam que mais de 700 pessoas morreram nos confrontos entre manifestantes e forças policiais. Também há denúncias de violação de direitos humanos e crimes contra a humanidade.


Com informações da Agência Brasil

PT estuda rever modelo de financiamento e mandatos de dirigentes



Clarissa Oliveira, iG São Paulo, e Andréia Sadi, iG Brasília

Passada a eleição e os primeiros meses de governo da presidenta Dilma Rousseff, o PT abriu nesta semana um processo para rever integralmente suas regras internas. As discussões estão em estágio inicial, mas já colocam em questão alguns dos principais pontos do estatuto partidário, como o modelo de financiamento, as eleições internas e os mandatos de dirigentes.

A revisão das normas internas do PT ficará a cargo de uma comissão liderada pelo deputado Ricardo Berzoini (SP). A ideia é compilar uma proposta de um novo estatuto que passará por discussões nas instâncias regionais da sigla e, posteriormente, que será encaminhado para aprovação no congresso nacional do partido, em setembro. “Nossa ideia é apresentar um texto entre o fim de abril e o início de maio”, disse Berzoini.


A comissão teve sua primeira reunião na última quinta-feira, mas se concentrou basicamente em fixar um calendário de ação. Dentro do partido, entretanto, já circulam várias sugestões de alterações das regras internas. Uma delas propõe alterar todo o modelo que hoje abastece os cofres do partido, por meio de medidas como o fim da cobrança de contribuições dos filiados. Hoje, a estrutura petista é financiada por recursos do fundo partidário, doações privadas, dízimo pago por ocupantes de cargos públicos e anuidades cobradas dos filiados em geral.

Setores da sigla defendem que a cobrança aplicada ao filiado comum deixe de ser obrigatória. Na contramão, outra ala fala em implantar normas mais rígidas para a cobrança, de forma a minimizar a inadimplência. A taxa é anual e varia segundo a renda do filiado, podendo chegar a 1% do salário líquido. No caso de ocupantes de cargos públicos, o dízimo é mensal e chega a 20% da renda.

Para votar na eleição interna do partido, por exemplo, é preciso estar em dia com os pagamentos. “Como não há cobranças nem sancões, a contribuição acaba sendo voluntária mesmo, os filiados só pagam em época eleitoral”, disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Existem ainda outras propostas polêmicas, como a de acabar com o Processo de Eleições Diretas (PED), por meio da qual os filiados escolhem pelo voto direto as dirigentes nacionais, estaduais e municipais do partido. Ou ainda tornar mais rígido o processo de filiação, para evitar que a sigla se transforme em legenda de aluguel.

Mandatos

Em geral, integrantes da comissão reconhecem que as ideias mais polêmicas têm poucas chances de permanecer no texto final. Alguns temas, entretanto, encontram apoiadores em várias alas do partido. Um deles é revisão das regras referentes aos mandatos dos dirigentes partidários. Pela regra atual, os dirigentes têm mandato de três anos. Circulam na sigla tanto propostas para ampliar quanto para encurtar os mandatos.

Há também posições contrárias à norma que impede os petistas de permanecer nas comissões executivas da sigla por três mandatos consecutivos em cargos diferentes ou dois mandatos consecutivos no mesmo cargo. Do outro lado, há quem defenda o fim da norma sob o discurso de que é preciso garantir continuidade administrativa. Do outro, há até quem defenda a adoção do mecanismo também em toda a esfera governamental.

"Se a ideia é garantir a renovação de quadros, não vejo motivo para não ampliar esta norma para a nossa representação na Câmara, no Senado, no governo", disse o ex-secretário de Relações Internacionais da sigla Valter Pomar, que integra a comissão.

Ética

Embora tenham surgido sugestões nos bastidores, a comissão não vai rever o Código de Ética do PT. O documento foi finalizado em 2009, mas nasceu como um desdobramento do escândalo do mensalão, eclodido em 2005. A avaliação feita por alguns petistas é a de que atualizar o documento no mesmo ano em que a crise de 2005 pode ir a julgamento no Supremo Tribunal Federal poderia contaminar o debate sobre as demais normas partidárias.

De acordo com o presidente do partido, José Eduardo Dutra, o assunto simplesmente não está em pauta. “Isso não está em discussão porque não vamos discutir o Código de Ética mas sim o estatuto”, afirmou.

Guido Mantega:para o Brasil a crise passou.Para o mundo não passou


A sabuja quis encurralar o ministro Mantega, mas não conseguiu.Ao final a puxa-saco ficou com cara de tacho.

Cortes, aumento de juros, reajuste contido do salário mínimo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que esses primeiros movimentos do novo governo não significam virada na economia, nem choque ortodoxo.

Para ele, há apenas continuidade: "o governo Dilma não é nem parecido nem com Lula 1 nem com Lula 2. É parecido com Lula 3".

Mantega diz, porém, que é hora de um recuo do Estado. As taxas de juros do BNDES vão subir e o ministro espera que as empresas busquem financiamento privado.

O titular da Fazenda afirma que não está puxando o freio de mão da economia, mas acrescenta que o Brasil ainda não tem condições de crescer 7,5% por conta dos gargalos estruturais.


Em seu gabinete em Brasília, Guido Mantega diz movimentos do novo governo não significam virada na economia

Folha -- Quais as diferenças entre os governos Dilma e Lula?

Guido Mantega -- Tem muito mais semelhanças do que diferenças, por que é um governo de continuidade. Embora os personagens sejam diferentes, cada um tenha as suas peculiaridades, vamos dar continuidade à política de desenvolvimento iniciada no governo Lula. Nossa missão é consolidar o desenvolvimento que foi iniciado no governo Lula. Significa que a estratégia econômica bem-sucedida que foi praticada nesse período continua. Então esse governo possui a mesma estratégia econômica. É bom deixar claro, porque tem gente aí fazendo confusão. É a mesma estratégia, porém aplicada a um momento diferente.

E o que está diferente? Muitos relacionam o salário mínimo, o aumento de juros e o corte no Orçamento a uma virada para um aperto na economia, contrária à toada que vinha até então.

Não tem virada nenhuma, é um equívoco achar que existe mudança na estratégia econômica. O que acontece é que num período anterior nós passamos por fases diferentes. Num período de crise, nós combatemos a crise. Então é a mesma estratégia de desenvolvimento. Isso tem que ficar claro. A prioridade máxima era implantar o desenvolvimento, e ele foi implantado. O Brasil já tem um crescimento diferente do que tinha no passado.

Mas por que precisa frear agora?

Acontece que nós passamos por dois anos de recuperação da crise, tivemos um ano com PIB quase negativo, em 2009, e em 2010, um ano de recuperação, que nós tivemos que usar todas as armas que tinha o Estado para consolidar essa recuperação. O que não é uma questão trivial, porque a maior parte dos países do mundo falhou nessa recuperação, até agora não se recuperou.

Aqui no Brasil, a gente acaba simplificando, minimizando que houve uma crise. Muitos colegas seus até esquecem que houve uma crise e dizem: ah, o governo ficou gastando durante dois anos. Mas que história é essa? Nós tivemos a maior crise da história do capitalismo atual e nós tivemos que enfrentá-la e, para isso, usamos todas as armas que tínhamos. Felizmente tínhamos muitas armas. O Estado brasileiro tinha muitas armas. Talvez até mais que o Estado americano. E nós as usamos nesse período.

Então nós implantamos vários estímulos à economia que implicaram gastos maiores do governo. Implicaram subsídios, desonerações, tudo aquilo que nós fizemos. Quando a economia começou a dar sinais de recuperação, nós já começamos a eliminar os estímulos. Se você olhar o primeiro trimestre de 2010, eu já estava tirando a desoneração do IPI, já estava caindo. Quando a economia deu sinais de solidez, de que ela estava recuperada, nós tínhamos voltado àquele patamar de 2007/2008, quando o Brasil já estava numa trajetória de desenvolvimento sustentado, nós passamos a retirar os estímulos. Isso se chama política anticíclica. Eu repito isso à exaustão, mas parece que alguns não entendem.

Mas agora a questão é frear a economia. Por quê?

Justamente. Porque como a economia já adquiriu o seu dinamismo próprio, então o Estado pode recuar. Isso é clássico, está em livro-texto, não estamos inventando nada.

Mas não é só um recuo. O salário mínimo, por exemplo...

Este ano nós estamos acabando de eliminar todos os estímulos que foram introduzidos ao longo desse tempo, o que significa diminuir o gasto público, que tinha aumentado mais do que o normal, e reduzir despesas de um modo geral, reduzir subsídios, o BNDES vai subir as taxas de juros --que elas tinham baixado para estimular a economia, com subsídio do governo federal. Porque nós equalizamos, significa que pagamos a diferença entre o custo deles e as taxas de mercado. Agora nós estamos recuando nisso. É absolutamente normal, porque a economia já está sólida. Como nós temos segurança de ela vai seguir, então nós estamos reduzindo as despesas. O salário mínimo não é uma redução de despesa, é o cumprimento de um acordo que foi firmado no passado e que nós queremos cumprir. E que tem que valer para os dias bons e para os dias ruins também.

Sobre o salário mínimo, a presidente durante a campanha e no seu discurso de posse enfatizou muito a questão do combate à miséria como a prioridade zero desse governo. Essa decisão de arrochar o salário mínimo, pois ele não teve praticamente nenhum ganho real, não vai de encontro a esse objetivo maior de combater a miséria?

Não sei em que país estão arrochando o salário mínimo, mas certamente não é no Brasil. Porque nós estamos praticando uma política de valorização do salário mínimo, que teve sua maior elevação no período do governo Lula, nos dois mandatos, e o que nós estamos é afirmando a política de valorização do salário mínimo. Não tem arrocho nenhum. O que tem é uma regra que foi estabelecida e que nós queremos cumprir. Os R$ 545,00 são resultado dessa regra. Não tem arrocho nenhum. Nós estamos corrigindo a inflação, aliás até um pouco acima da inflação média, que é 6,3%. Significa que ele mantém o poder aquisitivo.

Agora, essa política de salário mínimo tem que ser vista no bojo das políticas de desenvolvimento do governo. Ela não é única política. Ela faz parte de várias políticas que aumentaram o emprego no país e o salário médio de toda a população. Porque o que o governo queria não era só aumentar o salário mínimo, mas criar condições para que os salários subissem no país, como de fato subiram. Agora é muito importante que a gente estabeleça regras e acordos e cumpra esses acordos. Uma das características do governo Lula e que certamente será mantida no governo Dilma é o cumprimento de acordos, é o cumprimento de contratos. Nunca rompemos contratos, acordos, seja lá com quem for, seja com os empresários, seja com os trabalhadores. Aqui nós estamos cumprindo um acordo com os trabalhadores.

Mas os trabalhadores reivindicavam um reajuste maior. O salário mínimo hoje é a metade do que era em 1940.

Acho que é função dos trabalhadores reivindicar cada vez mais. Até a oposição começou a reivindicar algo que nunca deu quando teve a oportunidade de dar. Acho curioso essas manifestações de dar R$ 600. Então por que não deram quando estavam no governo? E não deram. Aí de repente tem espaço fiscal. Então nós somos muito coerentes. Nós mantemos a nossa linha de coerência. Foi feito um acordo, uma modalidade que beneficia os trabalhadores, mas também dá um horizonte de despesa, porque nós não podemos trabalhar com a despesa ao sabor de pressões. Isso é muito importante. Nós somos um governo que é responsável. Assim como nós queremos o crescimento, nós temos que olhar também para a solidez fiscal.

Aliás, nós zelamos pela solidez fiscal aos longo de todo esse período, desde 2003 até 2010 zelamos. E o sinal que nós estamos dando é de que nós continuaremos a zelar pela solidez fiscal. É claro que quando teve a crise, nós tivemos que diminuir o [superávit] primário, como o mundo inteiro fez. E agora nós vamos voltar ao que era antes e para isso nós temos que controlar certas despesas. O salário mínimo impacta a Previdência. Então, se você exagerar na dose...

Se nós fizéssemos o que a oposição queria, aumentar para R$ 600, nós teríamos um gasto adicional de R$ 19 bilhões este ano. Eu acho que aí seria uma irresponsabilidade fiscal. Não dá para acrescentar uma despesa de R$ 19 bilhões no momento em que nós estamos reduzindo despesas.

E sobre os cortes? Há quem diga que os cortes também vão de encontro a essa política de desenvolvimento. Os cortes no orçamento vão atingir os investimentos? Os cortes no custeio geralmente afetam os mais pobres.

Essa redução dos gastos no setor público é porque nós achamos que os gastos do setor privado, a demanda do setor privado é suficiente para manter a economia num ritmo de crescimento satisfatório em torno de 5%. Essa é meta, a previsão do governo, manter 5%. Então isso não tem nenhuma semelhança com políticas feitas no passado, de ajuste fiscal, daqueles ajustes que derrubam a economia.

Qual a diferença?

A diferença é que nós agora estamos tirando o impulso adicional que foi dado. Mas nós estamos mantendo os investimentos. Nós estamos mantendo o estímulo a investimento privado, o que é muito importante.

Mas o sr. não disse que vai aumentar a taxa de juros no BNDES? Isso não vai ter impacto no investimento?

Mas nós acabamos de fazer medidas desonerando debêntures do setor privado no final do ano passado. Fizemos várias medidas.

Mas economia vai encolher e isso não é um estímulo a investimento.

A economia não vai encolher. Quem fala isso não entendeu.

A economia vai reduzir o ritmo de crescimento.

A economia está crescendo desde 2004, o que é algo inédito. Ela teve um decréscimo na crise, um ano apenas. Ela decresceu 0,6%. Futuramente isso vai ser revisado, acredito até que tenha não sido tudo isso. E ela voltou a crescer em 2010. E ela continuará. Alcançamos um outro patamar de crescimento. O Brasil é hoje um país de 4,5%, 5% de crescimento.

O Brasil nunca poderá ser como a China e crescer 10%, 12%?

Não, porque..

Por que não?

Não. Não sei se nós vamos poder ser como a China. É que a China é um país completamente diferente, num outro nível de desenvolvimento. Metade da China é agrária, o Brasil já não é.

Mas para atacar a pobreza não deveria haver mais investimento?

O Brasil em 2002 estava entre os países de crescimento moderado, Estados Unidos e Europa crescendo pouco. A Ásia já despontava como uma potência emergente. Nós colocamos o Brasil na liderança do crescimento.

Depois da China e da Índia.

Hoje o Brasil é um dos países que tem liderança. O crescimento de 5% este ano será o terceiro ou quarto entre os países emergentes.

Por que o sr. acha que não dá para continuar no ritmo de 7,5% e tem que reduzir?

7,5% foi um crescimento excepcional que se sucedeu a um ano com zero de crescimento. Você tem que olhar a média. O Brasil ainda não tem condições de crescer a 7,5%, ele terá. Porque você pode ter pontos de estrangulamento. Se você continuar crescendo a 7,5%, sem ter passado por uma crise. Ou seja, quando deu a crise você teve capacidade ociosa etc e tal. Mas, se você continuar crescendo exageradamente, você tem falta de mão de obra, falta de infraestrutura. Tudo isso nós não temos no Brasil, é bom deixar claro.

Agora, se a gente insistir, se a gente deixasse nessa toada aí, nós poderíamos nos defrontar com pontos de estrangulamento. Então como nós trabalhamos para um crescimento sustentado equilibrado, nós moderamos o crescimento, não derrubamos o crescimento. Essa é a diferença. Então não é um ajuste fiscal clássico, conservador, igual àquele que você já viu no Brasil várias vezes. É um ajuste que mantém os investimentos, que mantém a economia crescendo, mantém o estímulo ao setor privado. Para nós o mais importante é o investimento total do país. É bom deixar claro. O Estado só investe onde o setor privado não tem condições. Então nós tivemos que aumentar investimento, principalmente em infraestrutura para não deixar criar gargalo. Energia elétrica, meios de transporte etc. Nós tivemos que aumentar porque era muito baixo no Brasil.

Agora, se o setor privado puder cumprir essa função, nós ficamos agradecidos. E o Estado vai cuidar de outras questões. O importante é ter a garantia de que vai haver o investimento. No ano passado o crescimento do investimento no Brasil cresceu mais do que na China. O crescimento do investimento sobre o ano anterior foi mais de 20% cresceu mais do que na China, que cresceu uns 13%. É claro que o investimento na China como proporção do PIB é maior do que o do Brasil. Investimento total, público e privado. Para mim não interessa se é público ou privado. Não interessa a cor do gato, interessa é que ele consiga comer o rato. Nós queremos comer todos os ratos. O investimento vai continuar crescendo no Brasil. O governo continuará criando as condições para o investimento e vai manter o investimento público. Só que ele não vai crescer tanto quanto cresceu em 2010 em relação a 2009.

Essa é uma diferença. Ele não vai crescer tanto porque não precisa crescer tanto. E porque poderia comprometer as contas públicas se crescesse mais. Essa é a arte da política econômica: crescer com equilíbrio. Se você exagera no investimento, mesmo que seja público, pode criar um problema fiscal e nós não queremos. Então nós vamos até onde não se cria um problema fiscal. E seguindo a trajetória de contas sólidas. O Brasil é um dos países que tem as contas mais sólidas do mundo. O nosso déficit nominal é um dos menores do G20. É o segundo ou o terceiro menor do G20. Melhor que o nosso, só o da Arábia Saudita, mas...

Mas a inflação também um temor nesse quadro? Quanto o sr. está preocupado com a inflação?

A política antiinflacionária desse governo é exatamente igual à do governo anterior, que era nosso mesmo. Ou seja: não vamos descurar da inflação em nenhum momento. A inflação é ruim porque prejudica principalmente os trabalhadores e o nosso governo procurou beneficiar fundamentalmente os trabalhadores brasileiros.

Embora outros setores tenham se beneficiado. Acabaram de sair os dados sobre os lucros dos bancos..

Esse é o sucesso do nosso governo. Nós conseguimos beneficiar a população como um todo. Mais os pobres e menos os banqueiros. Mas nós beneficiamos pobres e banqueiros. Não é uma beleza? Outro dia eu vi um desses analistas aí, que cobra uma fortuna para fazer aquelas análises bastante discutíveis, que dizia: olha, o governo está errado, porque ele estimulou o mercado interno, deu crédito e deu crédito para os banqueiros, deu mais crédito para a indústria. Então ele achava aquilo incompatível. Não, é uma inovação. Nós conseguimos beneficiar toda a sociedade, porque quando o país cresce bastante em geral todo mundo se beneficia. Só que se você olhar as análises do Marcelo Neri, o setor cuja renda mais subiu foi o setor de baixa renda.

Mas aí o sr. está falando só da renda do salário, o que é uma coisa limitada.

É, mas é alguma coisa. Antigamente era assim: concentrava a renda do trabalho e ainda tinha renda do capital.

Mas a percentagem da renda do trabalho na massa total diminuiu.

Mas quem cria emprego no sistema capitalista são as empresas, são investimentos. Então não dá para fazer esse milagre de gerar emprego e ao mesmo tempo expropriar os empresários. Eu nunca vi, não conheço.

Mas o papel do governo é justamente trabalhar nessa composição.

E nós não fomos bem-sucedidos?

Eu faço perguntas. Esse início do governo Dilma está mais parecido com o Lula 1, que foi de aperto? O governo começou aumentando juro, não aumentando tanto o salário mínimo, fazendo cortes. Isso tudo não é, de alguma forma, uma transferência dos mais pobres para os mais ricos, já que o superávit que se busca é para pagar os juros?

O governo Dilma não é nem parecido nem com Lula 1 nem com Lula 2. É parecido com Lula 3. É um governo que tem condições totalmente diferentes do Lula 1 porque naquele momento nós encontramos um país em condições econômicas muito complicadas. Não tinha reserva, 17 bilhões de dólares de reserva própria, não tinha dinamismo, o crescimento era pífio, o país era dependente, dependia dos favores do fundo monetário. A economia estava bastante desarticulada naquele período, estava em crise. Então, a resposta econômica que nós demos foi para enfrentar aquela situação. A situação hoje é completamente diferente. Então não tem paralelo. Se você quiser um paralelo, é mais parecido com Lula 2, porque já tínhamos resolvido esses problemas que nós encontramos, saneado a economia, controlado a inflação e aí passou a apostar mais no desenvolvimento.

Mas esse freio de mão que está sendo puxado..

Então Dilma 1 é parecido com Lula 2 porque não está sendo puxado o freio de mão, isso é um engano. É um engano. Não está sendo puxado. Nós estamos trabalhando para um crescimento de 4,5%, 5% este ano. O Brasil, se crescer 4,5%, 5% ele terá tido um crescimento historicamente ímpar, porque se você pegar o período anterior ao nosso era 2,7% de média. Então 5% está ótimo. Se você olhar as projeções do PAC nós nunca colocamos mais do que 5,5%. Porque a gente acha melhor ir crescendo de forma sustentável. As pessoas resistem a essa ideia do anticíclico, que nós implantamos no Brasil, que é uma modalidade de gestão fiscal e econômica que eu já tinha implantado em 2007 e 2008. Vocês não perceberam.

Mas em 2008, por exemplo, a economia já estava aquecendo. E a economia é assim. A economia não é ser inerte, que se move de acordo com os desejos do governo. É um ser vivo, dinâmico, que não responde exatamente 100%. Então, em 2007 nós demos vários estímulos para a economia. Estimulamos o investimento, aumentamos o crédito, a economia reagiu bem. Em 2007 nós crescemos 6,1%. Em 2008 estávamos crescendo uns 6,5%. Aí veio a crise e crescemos menos. Mas quando começou 2008 nós achamos a economia estava tendendo a aquecer bastante. Porque, diga-se de passagem, a economia brasileira é muito dinâmica, ao contrário de outros países, europeus etc., reage bem a estímulos. Então nós começamos a segurar um pouco os estímulos.

Eu aumentei o IOF para encarecer um pouco o crédito, o BC subiu taxas de juros etc., para dar uma moderada na economia. Essa é a função do governo, fazer ajustes na economia. A economia não é uma máquina, não é um carro que você vira a direção e você vai. É uma máquina complexa que tem que ser monitorada e tem que passar por ajuste o tempo todo. Assim, se ameaça subir a inflação, se sobe o juro... Nós fazemos essa operação. O ano em que a economia acelera um pouco mais, depois a gente desacelera, se ela desacelerar a gente acelera, esse é o papel do governo, de modo a termos uma estabilidade de crescimento razoável.

Nós temos apresentado as projeções: 5% em 2011, 5,5% em 2012, 6,5% em 2013 e 6,5% em 2014. Então a gente vai ganhando capacidade de crescimento. Com mais investimento, a capacidade da oferta aumenta, a produtividade aumenta, nesse meio-tempo você vai aumentando a oferta de energia elétrica, os portos, a infraestrutura etc., não cria gargalos. O segredo é não deixar criar gargalos na economia, para que ela possa crescer de forma harmoniosa e sustentável. E é isso que nós estamos fazendo agora. Então nós vamos continuar o crescimento. O emprego vai continuar crescendo no país, talvez não àquela taxa do ano passado, porque ela foi muito forte.

A inflação está preocupando?

A inflação é uma preocupação permanente aqui no Brasil. Desde que o Maílson da Nóbrega deixou a inflação em 89%, a gente se preocupa. Mas ela está sob controle.

Qual a origem da inflação nesse momento? É essa especulação com as commodities?

Com certeza. Alimentação e bebidas foi o que mais subiu. Há uma combinação de fatores. Você teve também um aumento da demanda mundial por alimentos. A China, a Índia, o próprio Brasil estão comendo mais. O Brasil não tem falta de nenhum desses produtos, por isso não é uma questão de oferta. O Brasil hoje é o país agrícola mais produtivo do mundo. A gente aumenta a oferta aqui com tranquilidade. Só que o preço não é fixado aqui, O preço do trigo é fixado em Nova York, Chicago, Hong Kong, no mercado de derivativos, no mercado futuro.

Nós não estamos reclamando porque nós estamos faturando também com isso. As commodities agrícolas subiram 40% em 2010. Isso vai para preço de todo mundo. Os metais também subiram, até um pouco mais, acho que 46%. O petróleo também acompanhou um pouco isso. Agora é um momento especial, que pode não se prolongar. Mas não há falta de petróleo. Em 2008 havia um crescimento da economia global e a questão era de demanda. Agora não é questão de demanda aquecida. Aqui tem oferta. O problema é de abastecimento, conseguir o abastecimento. O principal fator de elevação da inflação mundial são as várias commodities, principalmente alimentos.

Mas não é só isso. Todo o mês de janeiro nós temos dois preços que se elevam: escola e transporte. A boa notícia é que já está caindo. O que puxou para baixo? Alimentos. O que puxou para cima? Transporte e educação. Tem um quarto fator que é o sistema terciário, o comércio, que está aquecido, é verdade. A economia com 7,5% dá uma aquecida. O cuidado que nós temos que ter é não deixar que haja uma difusão da inflação, que vai reverter.

Se a inflação está sob controle por que é preciso cortar?

Eu falei que tem que cortar por causa da inflação?

Não, não falou. Mas existe a visão de que como a inflação estava preocupando, então tem que cortar.

A inflação no Brasil está mais controlada do que na maioria dos outros países. A inflação brasileira é menos volátil do que a média dos países. Isso é uma coisa nova que você podia publicar, porque coisas boas ninguém publica. Índia está com inflação mais alta que o Brasil e mais volátil. A volatividade é ruim para a economia. A inflação é mais controlada no Brasil do que nos outros países. O Brasil está abaixo da média variação inflacionária do mundo. Há um problema mundial. Como a economia brasileira começou o ano passado bastante entusiasmada, procuramos acalmar e tomamos várias medidas. Ao longo de 2010, eu vim eliminando quase todos os estímulos. No final do ano, o BC pôs em prática o que a gente chama de medidas prudenciais, que subiram as taxas de juros. Isso nós combinamos. Essas medidas já diminuíram o crédito para automóveis. O juro desse crédito passou de 19% para 23%. O crédito ao consumidor de 41% para 49%. A economia já está se ajustando para um ritmo menor, que é o que nós queríamos. A economia já está menos aquecida. Além disso o BC subiu os juros também.

O sr. está defendendo a alta dos juros agora, ministro?

Quando é necessário, você tem que elevar os juros. Eu sou contra você manter juros artificialmente altos desnecessariamente.

Mas o Brasil não tem juros absurdamente altos?

E sou favorável que suba os juros quando há problema de inflação. Não que esses juros aí tenham ajudado a diminuir. Eu acho que as medidas prudenciais e o aumento do compulsório, que são na veia e que foram tomados também pelo BC, são mais efetivas. E subiram os juros. O juro subiu 8 pontos percentuais para o consumidor graças às medidas prudenciais. A elevação dos juros também serve para as expectativas. Os juros são muito altos no Brasil? É verdade. Só que já foram muito mais altos. Estamos numa trajetória de redução de juros há pelo menos 8 anos.

Mas agora inverteu.

Não inverteu. É que você tem que olhar a tendência. Juro não pode ficar amarrado. Não é dizer, olha, ele vai descer sempre. Juro é um instrumento de combate conjuntural. Então você tem que ter a liberdade de num determinando momento, um determinado mês, dois meses, três meses, o juro sobe e depois ele desce. O que eu quero dizer: sim, o Brasil ainda tem uma taxa de juro elevada, porém ela vem diminuindo ao longo do tempo e ela continuará diminuindo. Porque nós estamos aperfeiçoando a relação entre política fiscal e política monetária. Nós estamos dando um "upgrade" nessa política. Nós já demos no governo anterior, ela já melhorou muito, tanto que os juros já caíram. O juro real no segundo governo Lula: chegamos a 4%, 5%. no passado era no mínimo 10%, 11%. Então já avançou muito. Vamos avançar mais porque nós estamos amadurecendo a política fiscal e monetária, caminhando para um patamar ainda melhor do que já foi. E com essas medidas que nós estamos fazendo, nós estamos abrindo espaço para que, depois de passado esse surto inflacionário momentâneo agora, para o BC tenha as condições de baixar os juros.

E isso o sr. espera que aconteça neste ano?

Eu prefiro não dizer. Quando for possível, quando o BC achar que houver condições, ele o fará e nós estamos criando essas condições com essa redução da demanda do Estado e dos gastos públicos, nós estamos abrindo espaço para que os juros possam cair no momento em que for considerado adequado. Não agora, evidentemente. Porque agora nós ainda temos uma pressão inflacionária, que vai se dissipar. Quando ela se dissipar, quando a inflação estiver indo mais próximo do centro [da meta], o BC deverá reduzir o juro.

Sobre expectativas. Aumento de juros, cortes para pagamento de juros...

Como os cortes vão para o pagamento de juros? Os cortes vão para fazer o [superávit] primário.

Então. Mas o primário não é para pagamento de juros?

O primário é pagamento da dívida.

O corte é para garantir o pagamento de juros.

Mas você queria que o Brasil fosse caloteiro, não pagasse juros, está sugerindo isso?

Não, Eu não quero nada, não estou sugerindo nada. Só estou descrevendo a situação.

Não, é também para reduzir a dívida, como a relação dívida X PIB.

O objetivo dessas medidas (salário mínimo, juros, cortes) é sinalizar que o governo da presidente Dilma é simpático aos mercados? Tudo isso é um receituário mais ortodoxo. A presidente está preocupada em ganhar a simpatia s da elite?

Isso eu queria deixar muito claro: não é um receituário ortodoxo. Eu como ministro da Fazenda jamais praticarei um receituário ortodoxo. Escreve. A minha biografia não muda, eu nunca mudei. Continuo exatamente um desenvolvimentista. Agora isso não significa que eu não seja responsável do ponto de vista fiscal. Eu como ministro da Fazenda fiz o maior superávit fiscal dos dois governos Lula, que foi em 2008. E que eu fiz um fundo com a poupança fiscal. Isso não é da ortodoxia. Todos os governos do mundo, com exceção talvez dos Estados Unidos, países que não praticaram esse equilíbrio fiscal, de esquerda e de direita, adotaram a responsabilidade fiscal. Todos os países emergentes, desde a China. Você não vai dizer que a China é ortodoxa, né? A China tem responsabilidade fiscal. A Índia tem um equilíbrio fiscal menor, mas tem uma poupança elevada.

Governos de esquerda e de direita adotaram há algum tempo o princípio da solidez fiscal. Isso aqui não tem nada a ver com ideologia. É bom que fique claro. Eu costumo entregar o primário com o qual me comprometo. Isso não tem nada de ortodoxo, tem de sustentável. Porque se você não cumprir, você será penalizado. Se você disser: agora eu vou torrar o dinheiro, vou aumentar o investimento, vou gastar tudo, não vou me preocupar. Você vai ter logo adiante um desequilíbrio, o risco país sobe, as taxas internacionais em relação ao Brasil sobem, a desconfiança aumenta.

Mas o modelo continua transferindo renda para os mais ricos.

O modelo continua transferindo renda para os mais pobres. O nosso modelo continua igualzinho. A prioridade da presidenta Dilma é a pobreza, é um emprego. O Brasil hoje é um dos países que mais gera emprego no mundo e esse era o objetivo. Ela não está querendo agradar nem A nem B nem C. Ela assumiu compromissos que são os mesmos do governo Lula. O compromisso de fazer do Brasil um país cada vez mais desenvolvido e diminuir a miséria e a desigualdade social.

Por isso que eu não entendi as primeira medidas. Com todos esses objetivos.

Essas primeiras medidas do governo são para garantir que o crescimento vai continuar. Porque se você desequilibrar a economia, e dissesse: passou a crise, mas eu vou continuar investindo...

Passou a crise, o sr. acha?

Para o Brasil a crise passou. Para o mundo não passou.

Estou entendendo que a inflação, apesar de ser uma preocupação permanente, ela não é a preocupação maior.

É a preocupação maior do Banco Central. Toda a vez que a inflação sobe, acendem as luzinhas. Eu olho inflação todo o dia, item por item todo o dia. Você acha que não há preocupação? Eu olho para dizer que nós estamos seguros que a inflação está sob controle no Brasil. E continuaremos tomando medidas para que ela continue sob controle.

Contas externas. É um problema de fundo na economia brasileira?

As contas externas tem que ser também uma preocupação permanente. O crescimento sustentável é um crescimento que se dá com inflação sob controle, com as contas públicas sob controle e com as contas externas também sob controle. Então são três eixos importantes. Nós estamos de olho nas contas externas, no déficit de transações correntes, nós não vamos permitir uma deteriorização do déficit das transações correntes. Então um dos desafios que nós temos é melhorar as contas externas.

E o que será feito? Com o juro subindo, essa invasão de dólares...

O juro subindo, mas o câmbio está estável. A gente tem feito permanentemente estímulos à exportação, embora com a crise o mercado internacional encolheu. Então é impossível em certas circunstâncias você aumentar a exportação de manufaturados, porque está sobrando manufaturado no mundo. Todo mundo quer exportar manufaturados e tem países que fazem manipulação cambial para conseguir ter preços mais baixos para os seus manufaturados. A gente tem enfrentado tudo isso, nos fóruns internacionais. A gente tem colocado taxas no excesso de capitais no Brasil, não há bolhas no Brasil, nós conseguimos controlar, não há bolha na bolsa brasileira, a gente modera o excesso de entrada de capital. A gente colocou IOF na aplicação financeira, na bolsa, no mercado de derivativos. A gente modera os exageros. Mas é inevitável que entre investimento porque o Brasil hoje é um país sólido e muito atraente.

Claro, com essa taxa de juros..

Não é por causa da taxa de juros, é porque o país é rentável. O Brasil é um país onde as empresas têm lucro. Não são só os bancos. Espera para ver o balanço das empresas. Você vai ver que a rentabilidade das empresas brasileiras é alta, porque é um país dinâmico, eficiente, sólido. Então as empresas vêm investir aqui no Brasil. Elas querem se associar às empresas brasileiras. É claro que sempre tem os capitais especulativos que querem ganhar. Esses é que nós combatemos.

Controle na entrada de capitais é palavrão? E as remessas de lucros? As montadoras, por exemplo, remeteram dez vezes mais do que investiram. As montadoras pegaram o dinheiro subsidiado do BNDES, trouxeram importados pelas matrizes.

Você tocou num setor extremamente bem-sucedido na economia brasileira, o automobilístico. O Brasil passou pela crise, enquanto os outros mercado encolheram, a produção caiu, alguns quebraram, o Brasil, pela sua estratégia, conseguiu manter uma indústria automobilística sólida. O que é bom, porque ela é responsável por mais de 20% do PIB no seu efeito encadeado. Eles fizeram investimentos..

Mas remeteram muito mais.

Todo mundo remeteu. Por quê? Porque as empresas aqui dentro foram lucrativas. Lá fora deram prejuízos e as matrizes pediram para remeter para preencher os buracos que elas tinham lá. Esse é o preço do sucesso que nós pagamos neste ano. A economia brasileira tinha um mercado interno, nós crescemos mais e até aumentamos as importações. Os outros lá fora não recuperaram os seus mercados e então ficou um desequilíbrio que se refletiu no balanço de transações correntes. Nós aumentamos as exportações também, quase 30%. Mas as importações cresceram mais de 40%.

Mas as exportações foram mais de matéria prima?


Não importa. É aquilo que no momento deu lucro. No momento exportar matéria prima dá um valor agregado maior do que os manufaturados. Então o que você vai fazer? Você tem que aproveitar a a oportunidade. Apostamos na recuperação do mercado de manufaturados. E um outro desafio que nós temos aqui é não deixar a indústria manufatureira ter uma deteriorização no Brasil. É estimular as exportações, devolver créditos, combater a concorrência desleal de países, atuar na área cambial. E nós cada vez faremos mais medidas. Nesse governo a defesa comercial vai ter uma atenção especial e estímulo à exportação. Nós vamos em breve apresentar.

Que medidas?

Não vou te dizer porque nós estamos amadurecendo. Isso é uma coisa do novo governo.

E o controle na entrada de capitais?

O que nós fazemos é uma moderação dos lucros justamente para compensar essa taxa de juros alta que nós temos. A gente meteu 6% de IOF. Nós tiramos metade da rentabilidade. Se o sujeito vem fazer uma aplicação de um, dois, três meses ele perde dinheiro. Se ele vem aplicar na renda fixa ele está perdendo dinheiro com os 6%. Nós tomamos medidas que foram reconhecidas pelo mundo como acertadas para influir no câmbio num momento em que várias economias estão manipulando o câmbio. Nós nos defendemos. Se nós não tivéssemos tomado essas medidas, o câmbio já estaria a R$ 1,45, R$ 1,50.

Mas essas medidas são suficientes?

Se elas não forem suficientes, outras medidas serão tomadas. Isso inclusive já é um consenso até no G20. No penúltimo relatório está lá: que os países que sofrem esse tipo de problema podem tomar medidas macroprudenciais. Isso nós é que escrevemos lá.

E o sr. acha que isso vai ser necessário?

Se for necessário, tomarei. Mas eu não posso antecipar. Outra questão que você tinha levantado. Outro eixo importante é fortalecer o setor de manufaturados, principalmente bens de capital. O Brasil tem que ter uma indústria de bens de capital forte, porque é ela que gera tecnologias, ela que absorve e difunde novas tecnologias. Nós continuaremos tomando medidas para que aconteça o que aconteceu no passado. Setor de bens de capital cresceu 20% no ano passado. Com toda essa concorrência. A indústria cresceu 10,4% no ano passado. Não é pouca coisa num ano de crise.

Mas a cadeia produtiva não está começando a ficar toda esburacada pela importação de componentes, de materiais. Empresas de tecidos que fecham e importam tecido pronto só para botar a marca. O sr. acha que há risco de desindustrialização? Apesar no resultado ser positivo, no meio da cadeia subsetores não estão sendo destruídos?

Algumas importações de fato causam algum estrago. Agora não podemos ignorar o fato de que nós vivemos numa economia de concorrência. Nós aceitamos as regras da OMC, alguns setores sofrem concorrência. A que nós combatemos é a desleal, aquela concorrência que vem com subfaturamento, que vem com subsídio disfarçado, que vem com manipulação cambial. Essa nós queremos combater e vamos tomar medidas para combater. Agora existe uma concorrência que é leal, que é normal e que essa você não pode impedir. Isso inclusive é um estímulo para que empresário brasileiro seja mais competitivo. O que o governo tem que fazer é dar condições para que o empresário brasileiro seja competitivo. Um setor que ainda nós temos uma espécie de carência aqui no Brasil é de inovações. Mas o empresariado resiste, também. O governo tem aumentado muito o recurso para inovação. Então tem que haver uma parceria maior entre o governo e o setor privado para que ele invista mais em inovação. Linhas de crédito estão aí, várias linhas de crédito a juros subsidiados para inovação.

Com esse juro, o empresário prefere aplicar o dinheiro a investir.

Não sei. Eu acho que o empresário brasileiro está entrando nessa filosofia. Ele percebe que o mundo é cada vez mais competitivo e nós temos que ter produtividade, eficiência, e o brasileiro é muito criativo. Nós estamos apoiando e vamos continuar apoiando a indústria para que não haja --eu acredito que não haja-- desindustrialização. Perigo sempre existe, mas existe no mundo todo. Na Alemanha, até na China existe. Não é porque o país está vencendo hoje que ele vai vencer amanhã. Os Estados Unidos há 50, 60 anos eram imbatíveis. Então todo mundo tem que ficar alerta o tempo todo. Nós temos um diálogo com a indústria, nós temos aqui um fórum que se reúne uma vez por mês, que discute os problemas do setor produtivo, da indústria, do setor de bens de capital e nós temos tomado soluções que são muitas vezes demandadas por eles para poder cada vez mais melhorar a sua competitividade. Nós não deixaremos acontecer a desindustrialização no Brasil. Agora não podemos esquecer que o mundo ainda está em crise. E isso afeta as exportações de manufaturados. E afeta as importações porque tá todo mundo vendendo barato. Tá todo mundo liquidando por aí e isso nos afeta. Mas nos próximos dois ou três anos esse cenário vai se modificar e nós voltaremos a exportar mais. O Brasil ganhou mercado. Nessa crise toda, a participação do Brasil nas exportações mundiais cresceu.

Mas são commodities, Vale..

Seja o que for...

Não sei se 'seja o que for'. Se o Brasil vai depender de commodities..

O Brasil tem a virtude de possuir ambas as coisas. É um país que não é nem um exportador de commodities, não é só um país só industrializado, com carência de insumos. Não é nem o Japão. O Brasil tem uma estrutura diversificada de produção, que é uma grande vantagem. No momento que o setor manufatureiro está mal no mundo, mas está bem no de commodities. Nós estamos indo bem porque o mundo está bem (na demanda de commodities). O setor de commodities pode ir mal, como já esteve no passado, aí nós vamos ter o setor manufatureiro que vai cumprir essa função.

O importante é que nós somos diversificados, isso é uma vantagem. Nós somos diversificados, nós temos petróleo, nós temos combustível alternativo, nós temos terra, nós temos sol, nós temos produtividade agrícola. O Brasil hoje conseguiu potencializar todas essas virtudes que ele tinha. O Brasil era um país virtuoso, mas a virtude estava encapsulada, era potencial. Hoje as virtudes estão realizadas, estão se realizando. Isso é uma vantagem. Isso que você está reclamando é uma vantagem. Já pensou se o Brasil não tivesse o setor de commodities competitivo? Se dependesse só da manufatura nós não estaríamos...

Mas o que agrega mais emprego, dinamiza a economia é o setor industrial.

Não, o setor agrícola agrega muito emprego: 25% da mão de obra é agricultura. E a agricultura brasileira é um setor que se tornou muito dinâmico. Outro setor muito dinâmico que agrega emprego é a construção e nós dinamizamos esse setor, nós tiramos esse setor do limbo. E ele vai continuar, com PAC, Minha Casa, Minha Vida.... Hoje o setor está bombando.

Qual o papel do BNDES?

O BNDES foi fundamental na crise. Vários países desejariam ter tido um BNDES para enfrentar a crise. Ele continuará financiando infraestrutura, esses setores de capital intensivo, que demoram mais para amadurecer. Continuará tendo um papel fundamental na economia brasileira. Principalmente porque nós continuamos estimulando o investimento no país. Ele financia a venda de máquinas, máquinas agrícolas, equipamentos. Agora ele não terá o mesmo papel que teve durante a crise, porque na crise foi uma situação de emergência. Então o Tesouro não continuará colocando o mesmo aporte que fez durante a crise.

Quem pegou, pegou; quem não pegou, não pegou...

Não, nós criamos outros mecanismos para que o empresariado possa captar recurso mais barato, que é mais diretamente do setor privado. Nós fizemos um programa, reduzimos impostos, criamos outros instrumentos, mecanismos, estimulamos debêntures. Então o Brasil tem um mercado de capitais que pode florescer e que dá financiamento barato e então não precisa do BNDES. Então esse é o amadurecimento e o setor privado acha isso correto. Acho que os bancos privados têm que entrar no financiamento longo. Nós demos condições para que eles tenham "funding". As taxas serão cadentes. E tem muitos empresários captando no exterior a taxas que são ridículas.

Mas nem todo mundo consegue.

As grandes todas conseguem. Quando não, abrir o capital e ter uma participação de "equity" que é a melhor coisa, porque não é endividamento. O Brasil hoje tem todas as virtudes. Hoje o Brasil, pelas suas condições, atrai capital, não é o especulativo, porque a gente espanta. O especulativo percebe que o governo está atento. Vem os grupos que querem de fato investir, que querem participar das empresas brasileiras, que dão "funding" para as empresas brasileiras.

Essa desnacionalização que ocorre em vários setores preocupa? Na cana, por exemplo?

Não vejo desnacionalização, pelo contrário. O Brasil sempre foi um país aberto ao capital externo. O que aconteceu foi o contrário. Foi que o Brasil está investindo muito no exterior. As empresas brasileiras estão crescendo, estão se multiinternacionalizando. Estão se internacionalizando, que é uma condição necessária para você ser forte. Você tem a Vale, a Petrobras, a Gerdau. Em todos os campos você tem várias empresas brasileiras comprando ativos no exterior. E dando sinergia com sua produção local. Indo disputar mercados lá fora. Hoje o Brasil tem investimento na Argentina, no Uruguai, toda a América Latina. Temos nos EUA, na Europa. O que houve foi o fortalecimento da empresa brasileira.

Isso muito com a ajuda do BNDES, não?

Com a ajuda do BNDES também, ou com recursos próprios. É fundamental dizer também que o empresário brasileiro é um dos mais bem-sucedidos, competentes. Tem empresário brasileiro dirigindo multinacionais por aí...

Executivos, não?

Executivos, é. Porque parece que o Brasil tem uma escola boa. Passou pelo Brasil, enfrentou problemas no passado. Nós enfrentamos as dificuldades da crise muito melhor do que outros países. O Brasil cresceu na crise. O Brasil foi reconhecido na crise pela habilidade em enfrentá-la, pela solidez que demonstrou. Porque é na hora do aperto que você mostra as suas condições. Porque quando está tudo bem, tem crédito abundante no mercado internacional, qualquer um pega. Mas quando falta crédito, os países que não estão fortes eles afundam e os que estão fortes continuam. O Brasil, digamos, foi beneficiado por essa crise. Claro, tivemos problemas. Mas o Brasil mostrou na crise que era mais sólido do que outros países, tinha condições melhores. E também pela reação que o governo teve, junto com o empresariado. Porque várias medidas foram tomadas discutindo e tudo mais. Hoje nós somos um país bem-sucedido. Não faltam capitais para o Brasil.

Temos outros dilemas, porque também excesso de capital não é bom. Mas eu prefiro ter excesso de capital do que falta como era no passado. Ter excesso de empregos é melhor do que ter falta de emprego. Sempre tem problema para resolver. E um último problema importante que é o desafio da mão de obra. Como cresceu muito a oferta de trabalho, por causa de todos esses investimentos, esse crescimento, nós precisamos aumentar a oferta de mão de obra qualificada. O governo está preparando um grande programa de qualificação. Já vinha trabalhando nisso. Uma parte disso é educação, é formação de engenheiros, de doutores, de biólogos e nós vamos fazer um esforço adicional porque estamos sendo colocados na frente de um desafio de aumentar mais a mão de obra qualificada.

O pré-sal, por exemplo.

A quantidade de navios que foi encomendada pela Petrobras vai exigir pessoal especializado, oficiais, pilotos. Porque a indústria naval tinha morrido no Brasil e ninguém mais se formava prático, piloto, comandante. Nós estamos criando mais vagas para formação. Porque daqui a dois, três anos nós vamos estar importando piloto do Japão, para poder dirigir todos os barcos que vamos ter aqui no Brasil. Mas esse é um bom desafio. Eu falei quatro desafios para você: a questão das contas externas, a questão da industrialização, a questão de fortalecer a manufatura e da qualificação da mão de obra. São os quatro eixos da área econômica do governo que nós temos que enfrentar para dar continuidade a esse crescimento sustentado.

Como o sr. vê a perspectiva da economia mundial e as turbulências no mundo árabe?*

A economia mundial vai se resolvendo. Nós temos hoje um descompasso na economia mundial que não é de agora mas foi apenas acentuado pela crise. Nós temos regiões que têm dificuldade de crescer e regiões mais dinâmicas que vão puxar a economia mundial. Não vamos ter a repetição da crise, não vamos ter o movimento em W. Porém nós vamos precisar ainda de dois a três anos para que a União Europeia saia da crise. A Alemanha já saiu.

Vai mudar alguma coisa no sistema financeiro?

O sistema financeiro está sendo submetido a uma regulamentação. O G20 está trabalhando numa regulamentação mundial que está quase pronta. Regras prudenciais, exigências de capital, limites de exposição. Os bancos grandes estarão submetidos a uma regulamentação mais forte. Os bancos que podem quebrar o mundo.

Eles não quebram porque os governos salvam. E depois os governos têm que fazer ajuste fiscal para pagar o dinheiro que eles deram para os bancos. Não é assim que funciona?

É, infelizmente houve erros no passado de desregulamentação financeira. O que nós ainda não conseguimos, mas estamos trabalhando é para uma regulamentação no mundo, não no Brasil, do mercado de derivativos. Aí os americanos resistem a isso. Não há mais aquilo. Rediziu muito a alavancagem. A subprime está paralisada. Essa fonte secou.

O sr. viu "Trabalho Interno" (documentário de Charles Ferguson)?

Vi. Sensacional. É uma aula perfeita de economia. Voltando à economia mundial. Ela está em recuperação, porém ela é lenta, é mais lenta na União Europeia, um pouquinho mais acelerado nos Estados Unidos. Eles vão crescer este ano 3%, 3,5%. É pouco. Não resolveram ainda os problemas de subprime, do desemprego. O crescimento da economia mundial depende dos países emergentes. Vai depender muito mais de nós do que deles.

O que vai mudar nos impostos nesse governo?

A filosofia desse governo é diminuir impostos. Aliás, nós já diminuímos no governo anterior vários impostos, principalmente para investimentos. E nós continuaremos diminuindo impostos. Isso não se percebe porque há uma formalização muito grande da economia brasileira e então quando você olha a arrecadação ela cresce, mas ela cresce porque teve crescimento e formalização.

O Sistema Simples reduziu impostos para pequena e média empresa, que gera emprego. Já reduziu e nós queremos continuar reduzindo impostos. Agora dentro do equilíbrio fiscal. Então eu não vou comprometer o equilíbrio fiscal reduzindo precipitadamente impostos. Mas a trajetória desse governo é reduzir impostos. E não há intenção de criar nenhum imposto novo. Quando houver a condição, nós deveremos reduzir o custo da folha de salários, do lado da contribuição patronal. Porém é preciso haver condições sólidas para que a gente faça isso. Nesse momento não há espaço. Folha tucana