quinta-feira, 31 de março de 2011

Quem tem medo da verdade?

Eu não tinha 17 anos quando veio o golpe, destruindo meus sonhos das grandes reformas de base. Morava na então pequena Teófilo Otoni (MG). Os ferroviários da lendária Estação de Ferro Bahia-Minas cruzaram os braços. Foi o único e solitário protesto (no ano seguinte a EFBM foi extinta).


Em poucos dias nada menos que 74 pessoas foram presas pelos “revolucionários” e levados ao QG dos golpistas em Governador Valadares. Ferrovias, comerciários, bancários, estudantes, militantes da Igreja, do Partidão, do PTB, pequenos comerciantes – dentre eles meu pai, uma pessoa pacata, educada, incapaz de fazer mal a ninguém, uma alma gentil.


Chocou-me também a prisão de Dr. Petrônio Mendes de Souza, ex-prefeito, médico dos pobres, figura hierática. Lá pelos dias encontrei-me com o filho do ferroviário Nestor Medina, carismático, inteligente, autodidata, homem de grande dignidade. Desde aquela noite fiz juras de por todos os dias enquanto durasse, combateria a ditadura, o que realmente aconteceu.



No ano seguinte mudei para Belo Horizonte para estudar e participar da resistência. 1968 foi o ano do crescimento da oposição à ditadura. A Marcha dos Cem Mil no Rio; as duas greves (Contagem e Osasco) desafiando a rigorosa legislação anti operária; a fermentação no meio cultural; a Frente Ampla que uniu o impensável (a UDN de Carlos Lacerda, o PSD de JK, o PTB de Jango); as primeiras ações da resistência armada. A recusa da Câmara de conceder a licença para processar Márcio Moreira Alves foi um pretexto para a edição do AI-5 em 13 de dezembro, instituindo o Terror de Estado.


Eu respondia a processo pelo LSN depois da prisão por 32 dias após a greve de Contagem; vi-me em um dilema: sair do país, para o exílio; ou cair na clandestinidade. Estudava Ciências Econômicas na UFMG. Optei pela resistência na clandestinidade, aos 21 anos. Todas as portas foram fechadas; os espaços para a oposição foram extintos.


Desde as prisões em Ibiúna de mais de 700 estudantes de todo o país, as odiosas listas negras para os trabalhadores rebeldes, a “aposentadoria” forçada de três ministros do STF como recado para amordaçar a Justiça, a censura prévia na imprensa, o fim do habeas corpus. A polícia política tinha dez dias de prazo para apresentar o detido ao juiz militar, e a criação de centros de detenção e tortura na prática era a institucionalização da tortura.


Passar à resistência clandestina era a opção de colocar a própria integridade física em risco. Mas essa foi a opção de milhares de brasileiros. Nada menos que 479 pessoas foram eliminadas, 163 das quais se tornaram desaparecidos políticos.


Denominar a ditadura de “ditabranda” é piada de péssimo gosto. Pior ainda é a insistência de alguns comandos militares de comemorar o 31 de março como uma “revolução democrática”, em desafio à cúpula militar que retirou esta data do calendário de efemérides.



Aprovar e instalar a Comissão Nacional da Verdade, confiando à sete pessoas idôneas, probas e éticas a tarefa de passar os 21 anos da ditadura à limpo dá uma interpretação fiel ao que se passou no país para constar dos livros e currículos escolares, inclusive das academias militares. É mais uma grande e importante etapa na construção de nossa democracia, incorporando o direito à verdade.

Nilmário Miranda é jornalista, Presidente da Fundação Perseu Abramo, ex Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH).PT Org.

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Mino Carta: como os jornais imploraram pelo golpe militar de 64

O jornalista Mino Carta afirmou em entrevista ao programa Provocações, da TV Cultura, que os donos de veículo de comunicação do país apoiaram o golpe militar de 1964. Em conversa com o apresentador Antônio Abujamra, na atração que foi exibida na noite desta terça-feira (29/3), o criador e diretor de redação da revista CartaCapital afirmou que a mídia imprensa apoiou o golpe militar de 1964.


“A imprensa nativa no fim de 1963 implorando pelo golpe de 64, que é uma das grandes desgraças brasileiras. Acho que a maior desgraça é a escravidão, três séculos de escravidão, mas essa é uma desgraça muito grande. Eles (donos dos veículos de comunicação) queriam que os ‘milicos’ chegassem e assumissem o poder, em nome deles”, disse Mino.

Ao ser questionado por Abujamra que, depois de implantada a ditadura militar no Brasil, a “censura entrou” na imprensa, o diretor da CartaCapital declarou que “todos os jornais queriam o golpe e conseguiram”. Mino ainda comentou que o único veículo impresso que chegou a ser censurado foi O Estado de S. Paulo, mas de forma “branda”.

“O Estadão passou a sofrer censura, mas uma censura muito branda. Uma censura que autorizava o Estadão a publicar versos de Camões (…) ou então, as receitas de bolo no Jornal da Tarde. Os demais jornais não foram censurados”, declarou o fundador da revista CartaCapital. Para Mino, dizer que os jornais brasileiros foram censurados durante o período de ditadura militar “é uma piada, uma mentira — uma mentira grossa”.

Da Redação, com informações do Comunique-se

Perry Anderson:Lula é o mais bem-sucedido de seu tempo

Esse Doutor Lula é phoda!


Em ensaio publicado na revista London Review of Books, o historiador marxista britânico Perry Anderson afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o "político mais bem-sucedido de seu tempo". Segundo o ensaísta, Lula é o "único líder mundial" cuja popularidade se reflete "não na moderação, mas na radicalização no governo".


"Esse sucesso se deve muito a um excepcional conjunto de talentos pessoais, um misto de sensibilidade social e frieza política, ou - como sua sucessora, Dilma Rousseff, identifica - racionalismo e inteligência emotiva, sem falar em seu bom-humor e charme pessoal", afirma Anderson.

De acordo com Anderson, a chegada de Lula ao poder está atrelado ao fortalecimento do movimento sindicalista no País e à criação do PT. "A ascensão de Lula de trabalhador de chão de fábrica a líder de seu País nunca foi um triunfo individual: o que tornou isso possível foi a principal revolta sindical do último terço do século passado, criando o primeiro - e único, até o momento - partido político moderno do Brasil, que se tornou veículo de seu crescimento. A combinação de uma personalidade carismática e uma organização de massa nacional foram instrumentos formidáveis", diz o historiador.


Entretanto, segundo Anderson, Lula precisou enfrentar uma série de crises em seu primeiro mandato até chegar, no ano passado, à popularidade recorde de 80% de aprovação. O historiador cita o medo dos investidores internacionais no primeiro ano do governo Lula, com o risco da economia brasileira ser contaminada pela crise na Argentina; o escândalo do mensalão, em 2005; e o envolvimento de membros do primeiro escalão do governo em denúncias de corrupção, como Antonio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken.

Para o historiador, dois fatores foram fundamentais para a "virada" de Lula. O primeiro foi o crescimento da economia, impulsionado principalmente pelo bom momento internacional, especialmente com o "boom" das exportações de soja e ferro para a China. O segundo, e talvez mais decisivo, foi a implantação do programa Bolsa Família - "o programa que agora é indelevelmente associado a Lula".

"O custo efetivo do programa é uma ninharia. Mas seu impacto político foi enorme. Não só porque ele ajudou, mesmo que modestamente, a reduzir a pobreza e estimulou o consumo nas regiões mais castigadas do País. Não menos importante foi a mensagem simbólica que o programa passa: que o Estado se preocupa com todo brasileiro, não importa o quão miserável e oprimido seja, como cidadãos com direitos sociais em seu País. Com essa mudança, a identificação popular de Lula se tornou a sua habilidade política inabalável", afirma.

Fonte: Terra

Tucanos corruptos


Para justificar criação de CPIs em SP, tucanos chegam a copiar trechos de reportagens.


Textos obtidos na internet são usados por deputados do PSDB na pressa de evitar que a oposição consiga instalar investigações sobre o governo de Geraldo Alckmin




Para justificar criação de CPIs em SP, tucanos chegam a copiar trechos de reportagens
           
Hélio Nishimoto apresentou requerimento de CPI de Implantes Dentários usando nota à imprensa do Procon de três anos atrás.


São Paulo – Deputados estaduais do PSDB em São Paulo usaram trechos e até a íntegra de textos colhidos na internet – entre reportagens e notas para a imprensa – para justificar a criação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Assembleia Legislativa. A Rede Brasil Atual detectou o problema em dois dos nove requerimentos apresentados às pressas, nos primeiros 15 dias da atua legislatura paulista, empossada no último 15 de março - para evitar que a oposição ao governador Geraldo Alckmin conseguisse abrir investigações efetivas.


O caso mais interessante é o da CPI dos Implantes Dentários. Ao apresentar o pedido de criação da comissão, às 17h42 de 16 de março, o deputado reeleito Hélio Nishimoto valeu-se integralmente de um texto emitido em 19 de maio de 2008 pelo Procon, órgão de defesa do consumidor ligado à Secretaria Estadual de Justiça. O texto de Nishimoto aglutina em três parágrafos a nota original, que o Procon publicou em cinco parágrafos.


Procurado desde segunda-feira (28), Nishimoto não respondeu aos pedidos de entrevista para explicar, entre outras questões, por que demorou três anos para apresentar o pedido de investigação e por que usou o texto da instituição sem citar a fonte. Requerimentos para a criação desses colegiados com poder investigativo não precisam necessariamente ser bem fundamentados. No geral, são uma ou duas páginas que compilam brevemente a justificativa para que se conduza o trabalho.


A pressa da base governista para protocolar pedidos de CPI como a dos Implantes Dentários é resultado da disputa com a oposição na Assembleia Legislativa paulista. Apenas cinco comissões desse tipo podem funcionar simultaneamente na Casa. A abertura delas se dá pela ordem em que foram protocoladas.


Embora o PT tenha deixado assessores de plantão para garantir que a CPI dos Pedágios seria a primeira a ser apresentada ao departamento responsável pelo protocolo, o PSDB assegurou que havia feito, externamente, a abertura das comissões. Com isso, os deputados estaduais vão investigar temas como o consumo de álcool entre os paulistas, o ensino superior privado e, claro, os implantes dentários realizados em solo estadual. Mas o inusitado não para por aí.

Científicos ou jornalísticos?

Colega de partido de Nishimoto, o também reeleito Roberto Massafera teve mais criatividade ao apresentar seu requerimento para a criação de uma CPI que visa a investigar problemas relacionados ao consumo de gordura hidrogenada. A comissão foi apelidada na Casa como "CPI do Sebo". Em entrevista ao portal de notícias iG, Massafera afirmou ter baseado seu pedido em "artigos científicos".



Na prática, o deputado da região de Araraquara fez uma mescla de duas reportagens. A justificativa tem início com a palavra do epidemiologista-chefe da Escola de Medicina de Harvard, Walter Williet, que diz que a introdução dos hidrogenados na alimentação foi o maior desastre da história alimentícia dos Estados Unidos.

A relação entre os problemas relacionados ao consumo de gordura trans em Nova York, Dallas ou Washington e uma CPI em São Paulo é esclarecida pelo deputado no requerimento: "A gordura hidrogenada engana muito o consumidor, justamente porque deixa tudo mais crocante e apetitoso, mas, além de representar um risco enorme ao coração, pode duplicar os riscos de infertilidade".


No site Vya Estelar, sediado no portal UOL, em uma reportagem intitulada "Gordura hidrogenada pode duplicar riscos de infertilidade" consta: "A gordura hidrogenada engana muito o consumidor, justamente porque deixa tudo mais crocante e apetitoso, mas, além de representar um risco enorme ao coração, pode duplicar os riscos de infertilidade".

A seguir, a endocrinologista Rosina Erthal Villela, do Espírito Santo, "que pesquisa o assunto há anos" pontua que biscoitos, sorvetes, chocolate, macarrão, batata chips e temperos prontos fazem parte da lista de alimentos ricos em gorduras trans. "As pessoas estão sendo enganadas. Acreditam que estão comendo algo que faz bem, ou que não faz mal, para a saúde. E, na verdade, é justamente o oposto", defende a médica no requerimento apresentado pelo deputado.

Na sequência, a justificativa de Massafera traz mais dois parágrafos copiados da matéria, citando a médica Silvana Chedid, apresentada como especialista em medicina reprodutiva, e os alimentos perigosos por serem ricos em gordura hidrogenada.


Na realidade, a posição foi defendida em entrevista para o Jornal dos Amigos em reportagem publicada em dezembro de 2004. A médica afirmou à ocasião: "As pessoas estão sendo enganadas. Acreditam que estão comendo algo que faz bem, ou que não faz mal para a saúde. E, na verdade, é justamente o oposto". A diferença restringe-se à pontuação entre as palavras "mal" e "para".


Massafera, considerando que as palavras da médica não seriam suficientes para convencer seus colegas a abrir uma CPI, partiu para descrições chocantes. "Os óleos são colocados em uma câmara com gás hidrogênio – daí o nome hidrogenada – com alta pressão e alta temperatura, e o resultado não seria bem visto – e muito menos comido – por ninguém."

A mesma reportagem do Jornal dos Amigos também é rica em descrições: "Os óleos são colocados em uma câmara com gás hidrogênio – daí o nome hidrogenada – com alta pressão e alta temperatura, e o resultado não seria bem visto – e muito menos comido – por ninguém"


Procurado, o deputado informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as perguntas deveriam ser encaminhadas por email. Até as 17h15 desta quarta-feira (30), não foram apresentadas respostas. O líder do PSDB na Assembleia Legislativa, Orlando Morando, tampouco respondeu aos pedidos de entrevista apresentados desde a segunda-feira anterior.

Golpe de 1964 e a Comissão da Verdade

31 de março de 1964. Tem início o golpe de estado que deu origem a 20 anos de ditadura militar no Brasil. Partindo de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro à frente de suas tropas, o general Mourão Filho precipitou o movimento que vinha sendo preparado com o apoio de grandes empresários, da população de classe média urbana e do governo Lyndon Johnson, mas que, segundo seus articuladores, não deveria desencadeado naquele momento.
 
Período áureo da Guerra Fria entre EUA e URSS, com os soviéticos ultrapassando os norte-americanos na corrida espacial e na geração de tecnologia, com o lançamento do Sputinik (primeiro satélite artificial da terra), em 1957, e da viagem de Yuri Gagarin (primeiro homem no espaço), em 1961, a América Latina entra no rol das regiões em disputa pela hegemonia no mundo.
 
A revolução cubana, em 1959, trouxe o conflito para as cercanias dos EUA que, em reação, incendiaram todo o subcontinente americano. A disputa capitalismo x socialismo ou, como era chamada no período, “democracia capitalista” x “ditadura comunista” desencadeou uma sucessão de golpes militares na região que, ironicamente, em nome da “democracia” sufocou as liberdades civis e sustentou ditaduras capitalistas em quase todos os países latino-americanos.
 
Durante as décadas de 1960 e 1980, ocorreram golpes militares em El Salvador (1960), República Dominicana (1962 e 1965), Equador (1963), Brasil (1964), Argentina (1966), Panamá (1969), Bolívia (1971), Equador (1972), Uruguai (1973), Chile (1973), Honduras (1975), Argentina (1976), Honduras (1978), Granada (1979), Suriname (1980 e 1982), Granada (1983), Haiti (1986 e 1988), Paraguai (1989).


A ditadura militar brasileira foi uma das mais longas do período. O golpe de 1964 foi sucedido pelo chamado golpe no golpe, em 1968, que instalou os anos de chumbo, com o aprofundamento das restrições democráticas e da repressão política. Esses golpes contaram, inicialmente, com o apoio de grande parte da população que se intimidava com o “perigo vermelho” e que “clamava por ordem”. Visavam o controle do movimento sindical, popular e estudantil, que surgira e fora mantido sob controle rígido do Estado durante o período da ditadura varguista (1937-1945), mas que começava a dar sinais de independência e a instalar greves e reivindicações: melhores salários, assistência de saúde e educação gratuitas e de qualidade para todos e em todos os níveis de ensino e, sobretudo, melhor distribuição da riqueza nacional. Na visão de muitos, tais movimentos eram perigosos e precisavam ser controlados.


O “milagre econômico” ocorrido na década de 70, do século passado, deu sustentação popular ao golpe militar brasileiro. Mesmo concentrando ainda mais a renda nacional, surgiu uma classe média consumidora de bens duráveis, com acesso a carros, casa de praia, viagens de férias e compras em shopping centers – que foram introduzidos no país naquele período. Os que se atreviam a se contrapor à ditadura eram “subversivos” e, como tais, perseguidos, presos e, muitos, torturados e mortos.
 
Foram precisos mais de 20 anos para romper a barreira da repressão política. Foram necessários muitos enfrentamentos, passeatas, ações armadas, prisões e mortes. Demorou, mas a sociedade civil conseguiu se reorganizar, fortalecer o partido político de contestação ao regime (MDB), retomar os movimentos populares e sindicais e forçar a transição democrática. Hoje, ainda que algumas viúvas da ditadura lamentem seu fim e insistam em afirmar suas “virtudes”, o que temos a comemorar é a capacidade de resistência do povo brasileiro e de toda a América Latina e nos unir aos esforços para a instalação, também no Brasil e a exemplo do que já ocorreu na maioria dos países da região, da Comissão da Verdade, para apurar os crimes cometidos durante os anos sombrios da repressão.Editorial Sul21.

 

Aniversário do golpe

31 de março d 2011

Por Ben-Hur Demeneck*


Se a mentira e a covardia servissem para comemorações, hoje caberia acender velas para um aniversário de 47 anos. Atrás do bolo, lá estaria o golpe de estado responsável por uma ditadura de vinte e um anos no Brasil. Ainda que longe desse macabro ritual, cobrar a responsabilidade pela violação de direitos humanos no período 1964-1985 chega a causar mal-estar a ponto de aparecerem opiniões que justificam a tortura, a censura e os casos de desaparecimento político. Muitos espaços midiáticos se abrem para a discussão, sinal da demanda pública por maior visibilidade à memória política.


Mentiras à parte, o golpe se deu na madrugada de 1º de Abril, como explica Elio Gaspari: “o Exército dormira janguista, acordaria revolucionário, mas sairia da cama aos poucos” (“A Ditadura Envergonhada”, 2002). Quem procura conhecer mais do período se informa que não foi uma conversão simples – “uma vontade geral”. Cerca de 50 mil pessoas foram presas somente em seus primeiros meses. Vale lembrar aos arautos da lei e ordem, os que condenam a “anarquia” dos anos 1960 que o “31 de Março” foi pura quebra de disciplina, uma insubordinação contra a estrutura militar.


Em 2010, pelo menos dez artigos formaram a polêmica em torno do legado do regime de exceção em Ponta Grossa. As homenagens e auto-homenagens do período, como o de haver uma linha de ônibus ostentando a data do golpe, baseou parte dos escritos. O conjunto de textos traz até opiniões que relativizam a ditadura e os crimes de Estado. Mais que espaço opinativo, os meios de comunicação dedicaram espaço informativo: em impressos (em coluna política de diário, em reportagem de semanário), em matérias da TV (até em canal aberto), em meio digital, em programas de rádio (inclusive com atitude de desplante de ex-deputado), na blogosfera e em redes sociais.


Há pelo menos 426 mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Isto é, pessoas que autoridades governamentais jamais assumiram ou divulgaram a prisão e morte, apesar de terem sido sequestradas, torturadas e assassinadas por órgãos de repressão. A ditadura institucionalizou a mentira e a covardia. Ao lado de vítimas anônimas figuram casos célebres como o de Rubens Paiva e de Vladimir Herzog ilustram a moral e cívica defendida pelos poderes vigentes.


Em 1971, no Rio de Janeiro, Rubens Paiva teve a casa invadida por agentes do serviço secreto do governo militar. Foi levado para prestar depoimento e nunca mais foi visto. Ele era ex-deputado e pai de cinco filhos. Essa história foi detalhada pelo jornalista Jason Tércio em “Segredo de Estado” (Objetiva, 2010). Em 1975, o diretor de jornalismo da TV Cultura do estado de São Paulo Vladimir Herzog compareceu às 8h para prestar depoimento junto ao DOI-Codi e defender sua inocência nas acusações de que era alvo. Pela tarde estava morto, resultado de um “acidente de trabalho” como se expressa Paulo Markun quanto ao nível de tortura a que foi submetido seu colega de trabalho. No dia seguinte, Vlado foi apresentado por meios oficiais como suicida – o 38º suicida produzido nos porões da ditadura.


O aniversário do golpe está aí para se parar e pensar o que é que se sabe sobre o período militar e sua herança autoritária. E, importante, para se questionar sobre como contribuir para dar um sossego às famílias dos desaparecidos políticos – leia mais em http://www.desaparecidospoliticos.org.br/. Qualquer esclarecimento toma a forma de um serviço prestado para o país. Vale para quem tiver um depoimento a gravar, uma memória a escrever, um documento a publicizar, uma expressão artística a apresentar. Cabe a todos denunciar os crimes de lesa-humanidade entre 1964-1985. A ditadura militar virou uma pedra que perturba o sono do brasileiro bem na altura da coluna, apesar de estofada entre plumas e estar coberta por rendas.


 *Ben-Hur Demeneck é jornalista e mestre em Jornalismo pela UFSC. Coordena o movimento 31pelo15 (www.twitter.com/31pelo15).

O doutor do povo



A nossa colunista portuguesa Eduarda Freitas, de Coimbra, acompanhou o emocionante doutoramento do ex-presidente Lula na tradicional Universidade da cidade. Veja a galeria de fotos. Foto: Eduarda Freitas


Veja a galeria de fotos no pé da matéria


A luz do sol estica-se devagar no pátio da Universidade de Coimbra. Ainda não são nove da manhã. Um grupo de jovens conversa nas escadas que dão acesso à Sala dos Capelos, onde mais tarde vai ser atribuído o grau de Doutoramento Honoris Causa a Lula da Silva. Nas mãos têm máquinas fotográficas. Às costas, a bandeira do Brasil. “Isto é muito importante para nós, por tudo o que Lula fez em oito anos, por todas as mensagens que passou ao mundo em língua portuguesa”. Denise tem 20 anos, é de Caxias do Sul. Está em Coimbra desde janeiro, a estudar Direito. Faz parte da comunidade de quase mil alunos brasileiros que estudam na academia de Coimbra. À entrada do pátio, lê-se: “Em defesa da Amazônia, Dilma pare a barragem de Belo Monte”. Os sinos tocam. Os batedores da polícia aproximam-se. Os jornalistas apontam as máquinas. Centenas de pessoas gritam num português cantado: “Lula! Lula!”. Destaca-se uma voz: “Tira uma foto com o gaúcho, Lula!”. O ex-presidente levanta a mão, como quem pede desculpa: “Estamos atrasados…”. Ainda assim, Fernanda Esteves consegue uma foto: “Eu nem acredito! Consegui…ai…”, diz com a voz entregue à emoção e os olhos castanhos a encherem-se de água. “Estou tremendo!”. E Lula ainda nem era doutor.


Doutoramento para poucos


Faltava pouco. Ao final da manhã, Lula da Silva haveria de sair da mais antiga universidade de Portugal e uma das mais velhas da Europa, com o título de doutor Honoris Causa. Uma distinção que só chega a quatro ou cinco pessoas por ano. Mas antes, havia ainda que cumprir um rigoroso e tradicional protocolo. Já dentro da Biblioteca Joanina, Lula aguardava pela formação do cortejo acadêmico. À entrada da Universidade, ninguém arredava pé. Improvisava-se a voz. Cantava-se o hino brasileiro misturado com saltos e gritos de “sou brasileiro, com muito orgulho, sou brasileiro!”. A manhã ia crescendo. “Isto havia de ser sempre assim”, confidenciavam três empregadas de limpeza da biblioteca onde estava Lula. “Ganhamos o dia e não fazemos nada!”, riam. Mais um carro a chegar. Sai o primeiro-ministro demissionário de Portugal, José Sócrates. “Não sei se ele é bom politico, mas sei que ele é um gato…!”, riam duas amigas de olhos azuis. Agora sim, Dilma Rousseff. “ Eu quero vê-la!”, gritava Maria da Conceição, uma portuguesa de cabelos brancos, no alto dos seus sessenta anos. Entre seguranças, Maria viu Dilma, casaco vermelho escuro, sorriso rasgado: “Estou muito feliz. Ela é uma grande mulher!”.


Homenagem ao povo brasileiro


Seguiu-se o cortejo. Palmas, muitas palmas, para o quase doutor. Um quinteto de metais marcava o ritmo solene da ocasião. Lula seguia de capa preta e um capelo – pequena capa – sob os ombros. Distinguia-se dos outros elementos do cortejo, cerca de cem doutores de Coimbra, por não usar ainda a borla, uma espécie de chapéu. A luxuosa Sala dos Capelos, datada do sec. XVI, repleta de retratos dos reis de Portugal, aguardava Lula da Silva. “Mais do que um reconhecimento pessoal, acredito que esta láurea é uma homenagem ao povo brasileiro, que nos últimos oito anos realizou, de modo pacifico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social, dando um enorme salto qualitativo no rumo da prosperidade e da justiça”. A voz fugia-lhe, emocionado. “Nada disto seria possível, igualmente, sem a colaboração generosa e leal daquele que foi o meu parceiro de todas as horas, um dos homens mais íntegros que conheci”. Lula referia-se ao seu sempre vice-presidente, José Alencar, falecido na passada terça-feira. A regra dos doutoramento impõe silêncio, mas na Sala dos Capelos ouviram-se palmas no final do discurso de Lula da Silva. E foi ao catedrático jurista português Gomes Canotilho, que coube fazer o discurso de elogio do doutorando Honoris Causa Luiz Inácio Lula da Silva. Antes do ex-presidente do Brasil receber o anel de senhor doutor.


Lula, o homem de mãos grandes


“Foi o maior anel de doutoramento que fizemos, devido à mão robusta de Lula!”, conta sorridente o joalheiro António Cruz. “ O anel é feito no melhor ouro português, rematado com um rubi com cerca de cinco quilates, elevado por 12 garras”. O preço? “Não posso dizer. Mas não é económico”, ri. “Vimos várias fotos de Lula para lhe fazermos um anel personalizado. Foi muito especial para nós…!”. Por esta joalharia que vive paredes meias com a muralha de Coimbra, já nasceram anéis de doutoramentos honoris causa para os dedos dos prêmios Nobel José Saramago e Amartya Sen, para Jorge Amado, entre muitos outros. Apesar de tantos anéis, este foi a primeira cerimônia de doutoramento a que António foi assistir: “Admiro muito Lula da Silva!”. Uma hora antes, na sala onde são homenageados os maiores doutores entre os doutores, Canotilho Gomes justificava a atribuição deste título ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”. Emocionado, de sorriso triste, sem prestar declarações, Lula saiu rápido para apanhar o avião para o velório de José Alencar. Ainda assim, uma jornalista brasileira, atirou uma pergunta sem ponto de interrogação: “Ei, presidente, você agora é doutor!”




A presidenta Dilma Rousseff e o presidente português Cavaco Silva

Ex-tesoureito da Odebrecht está morrendo de inveja do doutor Lula


José Carlos Aleluia, que foi citado no escândalo dos Anões do Orçamento como tesoureito da empreiteira Odebrecht,  está morrendo de raiva porque o estadista Lula recebeu o título de Doutor pela Universidade de Coimbra.Ora, Lula recebeu o título porque merece, afinal, ele fez muita mais pela educação que certos advogados, sociólogo, médicos que governaram este país por mais de 500 anos.Aleluia é que não merece porra nenhuma.A propósito, Aleluia é professor? De quê? Sei, certamente é professor de picaretagem e de corrupção.


Ex-deputado do DEM contesta título de doutor recebido por Lula


O ex-deputado pelo Democratas, José Carlos Aleluia, enviou uma carta aberta ao reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, demonstrando indignação pelo título de doutor honoris causa concedido ao ex-presidente Lula. Dentre as razões, diz que Lula “buscou inculcar a noção de que o sucesso pessoal independe de qualquer esforço no sentido de aprimorar o conhecimento”, além de considerar sua administração na área de educação “desastrosa”.

A nossa colunista em Portugal, Eduarda Freitas, acompanhou a cerimônia de doutoramento do ex-presidente.

Leia abaixo a carta aberta. Abrimos também o espaço para o debate.


Carta aberta ao Professor João Gabriel Silva, magnífico reitor da Universidade de Coimbra

José Carlos Aleluia, professor universitário, Membro da Comissão Executiva do Democratas e Presidente da Fundação Liberdade e Cidadania

Na condição de professor universitário venho perante Vossa Excelência manifestar a minha perplexidade — e porque não dizê-lo–, indignação, diante da concessão do título de doutor honoris causa, pela instituição que ora Vossa Excelência representa, ao ex-Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.


Tomando como referência o significado que tem, para nós brasileiros, a Universidade de Coimbra, entendo que a iniciativa destoa aberta e completamente de toda a sua tradição. Aprendemos que as personalidades que lideraram o processo da Independência e que assumiram os destinos do novo país –a começar do Patriarca, José Bonifácio– formaram seu espírito na Universidade de Coimbra. Aplaudimos com entusiasmo a concessão daquele título a ilustres representantes da contemporânea cultura brasileira, a exemplo do saudoso Miguel Reale. Em eventuais excursões a Portugal, todo membro da comunidade acadêmica brasileira sente-se no dever de conhecer a instituição que consideramos parte integrante de nossa história.

A concessão do mencionado título contraria frontalmente toda a idéia que nós fizemos da Universidade de Coimbra pelo fato, sobejamente conhecido, de que o ex-Presidente sempre se vangloriou de não haver freqüentado qualquer curso. Insistentemente, perante a nossa juventude, buscou inculcar a noção de que o sucesso pessoal independe de qualquer esforço no sentido de aprimorar o conhecimento. E, sobretudo, por uma administração desastrosa em matéria educacional.
No plano estritamente político, notabilizou-se por institucionalizar a corrupção, alegando inclusive tratar-se de fenômeno arraigado, que não lhe competia combater.

Esteja certo de que, com esse passo temerário, de um só golpe, a Universidade de Coimbra deu-nos uma clara demonstração de não ter qualquer compromisso com o respeito à memória que seus antecessores souberam construir.”

quarta-feira, 30 de março de 2011

Obama autoriza agentes da CIA a ajudar forças rebeldes


O chanceler líbio se refugia em Londres e tropas leais a Kaddafi recuperam o porto petroleiro de Brega. Foto: AFP



Três notícias importantes da Líbia:


Soube-se nesta quarta-feira 30 que o presidente Barack Obama assinou, há duas ou três semanas atrás, uma ordem secreta que autoriza agentes secretos da CIA a ajudarem as forças rebeldes na tentativa de derrubar Kaddafi. As informações foram vazadas à agência de notícias Reuters por quatro funcionários do governo que se mantiveram anônimos.

Outra do dia: o chanceler líbio, Moussa Koussa, abandonou o governo nesta quarta-feira e está em Londres onde pediu asilo político. A informação foi confirmada pelo governo britânico. Koussa foi o responsável pela política externa da Líbia nos últimos anos que reintegrou o país árabe à comunidade internacional após anos sofrendo sanções. O ministro das relações exteriores estaria insatisfeito com a matança de civis provocada pelas tropas de Kaddafi.

Enquanto isso, as forças leais ao ditador retomaram dos rebeldes o porto petroleiro da cidade de Brega, importante ponto estratégico e econômico da Líbia, horas após também recuperarem a cidade de Ras Lanuf. Os próprios rebeldes em Ajdabiya, cidade situada 80 km a leste de Brega, confirmaram a perda. O exército de Kaddafi continua rumo ao leste da Líbia, área dominada pela forças rebeldes.

Carta aberta ao senhor deputado federal Jair Bolsonaro

Caro deputado,

É muito cômodo ficar do lado do vencedor, lamber as suas botas. Quando o senhor esbraveja que a ditadura militar foi maravilhosa, é porque é muito fácil estar protegido pelos que eram mais fortes naquele momento da história. Mas tenho que te avisar que é de uma covardia de alta patente fazer isso como se fosse um ato heroico dentro da bandeira paradoxal da democracia.

 
Gostaria que o senhor espumasse tudo que sempre grita à favor dos militares de direita se estivéssemos em uma ditadura de esquerda, por exemplo, e que ela fosse contra todos os princípios que diz acreditar. Será que o senhor surgiria assim impávido para defender os milicos ou estaria em conchavos com a burocracia do partido que estivesse no poder? Bom, dentro de muitas coisas que li, por isso falho aqui de dar a referência de quem escreveu, o senhor é a prova viva que a democracia é melhor que qualquer ditadura, porque se ela fosse contra os ideais que o senhor diz ter, já estaria fuzilado literalmente e nem espaço para a defesa teria direito. O deputado quer apresentar no Congresso as explicações da resposta que deu à cantora Preta Gil que perguntou o que o senhor faria se um filho seu namorasse uma negra, a resposta foi: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.


Fazendo esse exercício abstrato e filosófico, vamos imaginar – o senhor consegue, deputado! – o mundo comandado por negros e homossexuais. Como branco e heterossexual, no caso uma minoria nesse mundo às avessas que nem afros nem gays desejamos pois a luta é por direitos iguais, o Jair que tem dentro do senhor teria capacidade de sair nas ruas para lutar pelos seus direitos ou ficaria recriminando os arianos militantes em uma espécie de “heterofobia” introjetada? Algo me diz que o senhor ficaria com a segunda opção. Explico: numa primeira resposta a essa polêmica, em um ato de bravura assumiu que não entendeu a pergunta e que não foi erro da edição do programa, mas agora com a reação democrática de boa parte da sociedade esclarecida do país, mudou de opinião em questão de 24 horas e, em uma entrevista para uma rádio, disse que foi manipulação dos editores do CQC os responsáveis pela sua fala um tanto surreal. Isto é, ao perceber que os fortes não estão lhe acobertando e as instituições se movem contra o senhor é mais fácil recuar como fazem os gays silenciosos da Bella Paulista.

Voltando a esse troca-troca, vamos colocar luz na afirmação que senhor diz ter confundido negro por gay. Se seu filho namorasse com um gay, ele formaria um casal, conceito que está do lado oposto à ideia de promiscuidade. Já, se ele casasse com uma negra, seus genes - dentro de teorias eugenistas – estariam se misturando, se promiscuindo com os genes de outra etnia. Faz mais sentido o objeto do ataque do discurso ser uma negra do que um gay. Como também – para os crentes dessas teses contra a miscigenação – só numa família de negros (um gene fraco segundo os eugenistas), as pessoas não são bem educadas e tem ambientes desequilibrados.

Bolsonaro responde às questões de racismo exclamando que tem muitos afrodescendentes em seu gabinete e diz: “Minha mulher é afro e meu sogro, negão”. Caro deputado, não poderia ter resposta mais infeliz e dúbia. Onde o senhor quis dizer que admite negros no seu trabalho, pode-se ler também que como o bom e velho patriarcalismo brasileiro descrito no clássico “Casa Grande & Senzala” continua vivo com negros no "seu lugar de sempre", como empregados. E se referindo à família, na mesma obra-prima de Gilberto Freyre, temos capítulos e capítulos sobre a descrição de brancos que tomam as negras como objeto sexual, podendo até as colocar em posições de prestígio, vide Xica da Silva. Não digo que é o seu caso, mas que pode suas declarações não isenta a atitude racista que está sendo questionado.

Mas para terminar a carta, eu não poderia deixar de te dar um toque. O pai de Preta Gil que o deputado diz que é “aquele que vive dando bitoquinha em macho por aí” é muito mais homem que o senhor porque ele não tem medo de beijar homem e ainda assim ter uma conduta heterossexual, Gilberto Gil não tem medo, não é covarde e sabe bem o que deseja, por isso a tranquilidade de oferecer seu beijo a quem quer que ele queira. Costuma-se dizer que todo homofóbico é um gay enrustido, eu francamente prefiria de coração que esse exemplo não coubesse na figura de Jair Bolsonaro, porque ter o senhor como gay é pior que dormir com o inimigo.

Atenciosamente,

um viado que teve pai presente, boa educação e pago meus impostos para que o senhor receba um salário polpudo no fim do mês.


Fonte:Blogay Acesse e veja os vídeos relacionados a esta postagem.

Recordar é viver:o dia em que FHC foi humilhado

FHC, o rei da maconha-privataria-corrupção, é um cara muito covarde, muito frouxo.Bill Clinton só faltou bater na cara do piolho-de-cu e o sujeito não foi nem sequer capaz de defender o seu governo das acusações assacadas contra ele.Mesmo Clinton, o rei da lambida, do boquete, estando certo, FHC deveria ter defendido seu governo, ter defendido o povo brasileiro.Ao contrário, só faltou Clinton montar nas suas ancas(de FHC).O estadista Lula jamais passaria por um constrangimento desse pelo qual passou o boca de sovaco FHC.


 
 

A nossa suja história


Foi minha filha Julie quem me deu o tema para esta coluna, logo depois do almôço, quando falávamos das mentiras da Tepco no Japão, das tantas mortes na Líbia e do futuro de Kadhafi. Ela ainda está traumatizada por ter ouvido de um primo, numa reunião familiar na última viagem ao Brasil, que a ditadura militar tinha sido uma boa coisa para o País.

Terminando o curso colegial, tem estudado a História recente e me surpreendeu, pois, enquanto tomávamos o café preto sem açúcar, fez um simples mas profundo comentário:


Veja só papai: na França, existem ruas, placas comemorativas com o nome de Jean Moulin, herói da resistência à ocupação nazista. Quando estive em Barcelona, vi que o povo espanhol não esquece dos que lutaram contra o ditador Franco. Mas, no Brasil, ninguém fala nos anos da ditadura, minhas primas nem sabem disso, é como se nunca tivesse acontecido. Mas foram vinte anos !


Coincidentemente, tinha lido ontem, uma entrevista da jovem e brilhante jornalista Ana Helena Tavares com um dos nossos heróis da resistência à ditadura militar, Carlos Eugênio Paz, na qual ele fala nessa falha histórica, pela qual nossos cinco ditadores são chamados de presidentes e seus nomes são imortalizados em obras públicas.


É verdade, o Brasil está empurrando para debaixo do tapete sua suja História, talvez por vergonha mas principalmente porque muitos de seus atores, que participaram do golpe e justificaram a ditadura, estão vivos e têm força suficiente, até no STF, para tentar apagar da memória da jovem geração nossas páginas vergonhosas.


E minha filha citou como exemplo a experiência suíça. Durante anos, os manuais escolares, os jornais, os políticos suíços esconderam o papel da Suíça durante a Segunda Guerra, disfarçado sob o manto de uma pretensa neutralidade. Porém, pressionado pelo peso da verdade, o governo foi obrigado a criar uma Comissão histórica independente, composta também de historiadores estrangeiros, presidida pelo suíço Jean François Bergier, para se revelar os anos ocultos.


E muita coisa dolorosa se soube, desde os judeus entregues aos nazistas nas fronteiras, ficando seus bens retidos nos bancos suíços, à lavagem do ouro roubado dos bancos centrais dos países ocupados pelos nazistas. Com esse ouro lavado e trocado em dinheiro, os nazistas podiam importar tungstênio e matérias primas da Espanha e Portugal para fabricar suas armas de guerra. E, enfim, foi o próprio presidente suíço quem fez solenemente sua mea culpa.


Argentinos e espanhóis desenterram suas vergonhas e estremecem diante das revelações de adoções por famílias de militares dos filhos das jovens opositoras mortas sob a tortura. O exercício da memória é a única maneira de se restabelecer a honra de um país. O Chile teve também seu momento de penitência, ao se revelarem oficialmente os crimes de Pinochet, velho decadente fingindo-se de gagá, com seu passado de traição e assassinatos.


É verdade minha filha, o Brasil nunca poderá ser um país de respeito enquanto não lavar a sujeira dos seus vinte anos de ditadura, enquanto não soubermos os nomes dos torturadores e assassinos, alguns dos quais sobreviveram ao retorno da democracia como políticos e parlamentares.


Enquanto os livros escolares não falarem de resistentes como Marighella, Lamarca e de tantos outros que tornaram possível a democracia de hoje. Será também preciso se retirar dos ditadores, desde Castelo Branco a Figueiredo, passando por Médici, Costa e Silva e Geisel, a citação e referência de terem sido nossos presidentes.


É preciso se contar a verdade para as novas gerações estudiosas, que terão vergonha se o Brasil for o único país do mundo a acobertar a vergonha dos seus anos sujos de ditadura, de falta de liberdade, de torturas e assassinatos. E nesse quadro, é muito normal surgirem declarações abjetas como essas do deputado Bolsonaro, apoiadas pelo pessoal dos anos sujos. Declarações que nunca serão punidas.

Rui Martins, Direto da Redação

Dilma surpreende na Universidade de Coimbra

 

Valor Econômico - 30/03/2011
A presidente Dilma Rousseff fez uma bem sucedida visita a Universidade de Coimbra, ontem, onde beijou estudante, parou para fotografar várias vezes, preferiu se deslocar a pé entre os locais visitados e, para variar, acabou fazendo cobrança pública ao seu ministro de Educação, Fernando Haddad.


Quando retornou ao hotel, encontrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na recepção. "Vê se a gente está com cara de estar brigado aqui", desafiou Lula na direção dos jornalistas. A presidente cumprimentou a ex-primeira dama Marisa com elogios: "Você está linda."


"Como Dilma é carismática", comentou uma professora da universidade, visivelmente entusiasmada com a presidente, durante a visita. "Ela foi uma verdadeira sucessora de Lula", comentou um membro da delegação Por sua vez, o assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, atribuiu a imagem de uma Dilma durona a "alguns jornalistas".


O ambiente era propício para a tietagem que ocorreu junto a Dilma. São 979 estudantes brasileiros na Universidade de Coimbra, 5% do total de estudantes. Boa parte tem bolsas de estudos do governo brasileiro. Outros dizem estar aqui porque pagam anuidade mais barata do que pagariam em universidades brasileiras.


"Dilma, Dilma", gritavam alguns estudantes. Quando um grupo de brasileiros cantou "sou brasileiro com muito orgulho", a presidente ensaiou passos de dança. E defronte das câmeras de TV, não hesitou em abraçar e beijar um estudante que lhe presenteou com um livro de um escritor japonês.


Ela ouviu atenta a reivindicação dos estudantes, para que o governo acelere a revalidação dos diplomas que obtêm no exterior. "Fernando, ouve isso aqui, eles estão reclamando da burocracia", falou a presidente a seu ministro da Educação, Fernando Haddad. Mais tarde, o ministro disse que Lula faria cobrança idêntica. No entusiasmo do ambiente, os dois prometeram mandar mais alunos brasileiros para o exterior.


Enquanto isso, Lula chegou ao hotel, procedente de Lisboa. Ao encontrar alguns jornalistas, insistiu que "não tinha ponteiros a acertar" com Dilma porque não havia divergência entre eles.


Dilma chegou logo depois e deu longa resposta, sorrindo, também para desarmar os rumores de mal-estar entre ambos. "O mal-estar é de vocês", disse. "Eu e o presidente Lula não temos nenhum mal-estar. continuamos sistematicamente nos encontrando de 15 em 15 dias aproximadamente, até porque sempre temos muito o que conversar."


"Vocês nunca se esqueçam, eu trabalhei com o presidente Lula e é assim. Tenho com o presidente Lula um acúmulo de experiência comum que para mim é muito importante. Ele para mim é um grande interlocutor. O presidente Lula é um estadista. Uma pessoa com uma baita experiência de Brasil", disse.


A presidente acrescentou: "Eu gostaria de saber a troco de que eu não vou compartilhar não só a minha amizade, porque tenho uma relação afetiva com o Lula. Vocês podem tentar tudo, mas é impossível separar a minha trajetória da trajetória do presidente Lula."


E completou: "Isso não significa que eu e ele sejamos as mesmas pessoas. Nós não somos, mas somos pessoas que atingiram um patamar de respeito, com quem tenho imenso prazer em compartilhar as minhas horas e a minha experiência."


Pouco depois, com a noticia da morte de Alencar, o clima era de tristeza o que reuniu ainda mais os dois.


Ao receber o titulo de doutor "honoris causa" da Universidade de Coimbra, Lula terá que pagar uma "propina", como dizem os portugueses. O reitor receberá dele dois quilos de castanhas de ovos. Em troca, receberá um anel de ouro de 13 gramas com um rubi "cor de sangue de pombo". No momento central da cerimônia, o reitor, em discurso em latim, pergunta a Lula: "Quid petis?", ao que Lula responderá: "Gradum doctoratus".

Bruno Maranhão:'Dilma fará reforma agrária voltada para erradicar a miséria''



O Estado de S. Paulo - 30/03/2011

O líder do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), Bruno Maranhão, prevê que a presidente Dilma Rousseff fará uma reforma agrária semelhante à defendida pelos radicais que o seguem, com ênfase para a erradicação da miséria. Pivô da violenta manifestação realizada em 2006, na Câmara, quando integrantes do grupo fizeram um quebra-quebra no prédio, Maranhão prestigiou ontem a posse do novo presidente do Incra, Celso Lacerda. A manifestação era contra a lentidão na reforma agrária durante o governo de Lula.

O sr. acha que a presidente Dilma fará a reforma agrária que o senhor defende?


Entendo que a presidente fará a reforma agrária do século 21, do nosso sonho, voltada para a erradicação da miséria.


E como será essa reforma?

Nos últimos anos houve uma forte mobilização dos ruralistas, a judicialização da reforma agrária e uma composição conservadora do Judiciário, além de apanharmos da mídia. É preciso desbloquear tudo isso, valorizar a agricultura familiar, o setor que mais produz alimentos.

É possível fazer isso?

Estou entusiasmado com o momento. É preciso atualizar os índices de produtividade, baratear os alimentos. A Embrapa não chega aos assentamentos. É preciso fazer polos de desenvolvimento, oferecer assistência técnica e mais acesso à terra. Pegar 12, 14 assentamentos, e fazer uma agroindústria.

Como está o processo pelo quebra-quebra na Câmara?

Acho que vamos ganhar. Eu estava o tempo todo em locais onde não ocorreu o conflito.

O novo PSD


Marcos Coimbra - Marcos Coimbra


Correio Braziliense - 30/03/2011



O que leva, então, a que tanta gente fique olhando para o PSD de Kassab? Se não é ele, será que veem algo ou alguém por trás, suficientemente relevante para merecer atenção?

Em nossa história política, temos exemplos de partidos que se formaram de várias maneiras. Muitos foram constituídos dentro do padrão clássico: surgiram quando diferentes pessoas, que acreditavam em coisas parecidas, se organizaram para alcançar objetivos políticos, isto é, que diziam respeito ao Estado. Não importa seu número, nem ideologia.

O relevante é que se dispunham a agir conjuntamente na vida política. Em última instancia, que pretendiam chegar ao poder, para fazer com que seus projetos para a sociedade fossem realizados.

Temos dois bons exemplos de partidos que nasceram assim: na República de 45, a UDN; nesta, o PT. Ambos foram criados com as eleições em mente, para disputá-las, conquistar mandatos e exercer funções de representação. Como ocorre com os partidos democráticos, a associação entre seus fundadores foi voluntária e simétrica. Ninguém mandava em ninguém, salvo nos termos definidos por regras aceitas.

O PT não é, atualmente, o único desse tipo. Mas é o mais bem sucedido.

Outros surgiram a partir de movimentações de lideranças que já estavam dentro do sistema político. Foi a insatisfação que as levou a buscar outra opção partidária. Ou não cabiam mais em um dos partidos existentes, ou não viam como representar seus eleitores permanecendo onde estavam. Existem outros, mas, nesse gênero, o PSDB é o que mais longe foi.

Tivemos partidos que nasceram da ação individual de um fundador, sem a qual não existiriam. Seus filiados eram, antes de qualquer coisa, seguidores das orientações do líder. Para entrar em um deles, a adesão era o teste fundamental. No Brasil recente, o melhor exemplo foi o brizolismo, sendo o PDT, na origem, sua expressão.

E há os partidos de conveniência. Eles não se enraízam nos interesses e preferências de uma parcela relevante da sociedade. Não decorrem da movimentação de um grupo de lideranças representativas. Não se estruturam em torno de personagens carismáticos, que empolgam emoções.

São, na maioria dos casos, veículos de importância proporcional à dos políticos que os criam, quase sempre para satisfazer ambições e vaidades. Dissidências que não vão longe, arranjos locais insignificantes no plano nacional. Não têm identidade ideológica, sendo suas plataformas programáticas apenas amontoados de banalidades. Quando têm ideias próprias, costumam defender bizarrices.


O prefeito não poderia fazer um partido do modo tradicional, de baixo para cima, pela simples razão de que não representa um movimento social relevante. Não há gente que queira se juntar a ele.

Seu PSD não expressa a vontade de lideranças à procura de nova identidade política. Ao contrário, é ele que está à cata de adesões.

Nosso sistema partidário está cheio deles. E acaba de receber mais um, o PSD criado por Kassab.

Ninguém leva a sério os partidos de conveniência, mas, sabe-se lá o porquê, o de Kassab, sim. A imprensa paulista dedica ao PSD um espaço despropositado. Nos últimos dias, por exemplo, foi objeto de páginas inteiras em um dos jornais da capital.

É difícil imaginar um político com menos carisma que Kassab. Só quem não o conhece acreditaria que seja capaz de cativar corações e mentes.

O que leva, então, a que tanta gente fique olhando para o PSD de Kassab? Se não é ele, será que veem algo ou alguém por trás, suficientemente relevante para merecer atenção?

Quem seria? Quem poderia estar no pano de fundo das movimentações do prefeito?

Algumas pistas: para que partido está indo o candidato a vice na chapa derrotada do PSDB na eleição passada? E para qual parece se inclinar a senadora do DEM que tinha sido cogitada para o lugar? E quem é o fundador e líder maior do PSD, senão o ex-companheiro de chapa do candidato tucano de 2010?

Pode ser que tudo seja coincidência, mas que há um cheiro de Serra no ar, há. Com espaço cada vez menor no DEM e no PSDB, uma hora dessas quem acaba no PSD é ele.

Garcia:ajudar vizinhos 'não tem preço'


Valor Econômico - 30/03/2011
A boa relação do Brasil com os países vizinhos "não tem preço", disse ontem o assessor internacional do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, ao justificar o reajuste que triplica o preço que Brasília pagará ao Paraguai pelo consumo de excedente de energia produzida pela hidrelétrica de Itaipu.


O reajuste será votado hoje na Câmara dos Deputados, com base no contrato assinado em junho de 2009 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o preço pago ao Paraguai indo de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões.


Garcia negou que haja pressões do governo paraguaio para aumentar os valores. Disse que esteve há três dias em Assunção, onde discutiu o contrato conforme o acertado pelo governo Lula. Indagado sobre o risco de os deputados brasileiros resistirem à aprovação do acordo, Garcia contou que conversou com todos os lideres do governo e da oposição expondo a posição do governo Dilma Rousseff.

"Esse reajuste não é exclusivamente de natureza econômica, como Itaipu nunca foi só econômico, pois se fosse assim o Brasil teria feito Itaipu sozinho", disse. "Itaipu teve significação geopolítica. Hoje, a geopolítica de Itaipu não é a autoritária de décadas atrás, é a geopolítica democrática, pois queremos ter boas relações com os vizinhos."


Para o governo Dilma, remunerar bem o Paraguai é importante e "vai ajudar na nossa relação". Garcia observou que hoje há um movimento de investimentos brasileiros em direção ao Paraguai. "A questão fundamental é se queremos em nossa vizinhança países pobres, instáveis socialmente, ou se queremos ter países em desenvolvimento." Lembrou que quando Portugal, Espanha e Grécia entraram no mercado comum europeu foram feitas grandes concessões para os três países. Quando um repórter retrucou que na verdade a Alemanha faz alegações contra até hoje, Garcia ironizou: "É por isso que a Alemanha é adorada aqui na Europa." Para ele, "ajudar os vizinhos não tem preço, como diz a uma certa propaganda".

Tucano quer privatizar o Brasil


É hora de retomar as privatizações

Albano Franco

O Globo - 30/03/2011
Há consenso entre os economistas e demais analistas econômicos de que o Brasil não crescerá, de maneira prolongada e a taxas superiores a 4,5% ao ano, sem que a inflação se mova para patamares preocupantes, acima do balizamento estabelecido pelo Banco Central, a exemplo do ocorrido em 2010, quando crescemos 7,5%, mas com um sério descontrole inflacionário - fruto da desmesurada expansão dos gastos públicos em despesas correntes e do fomento ao crédito. Foi um crescimento episódico e sem nenhuma sustentabilidade, típico de ano eleitoral. Consequentemente, 2011 e também 2012 serão anos de ajuste nas estouradas contas públicas.

Mal comparando, o estágio atual da economia brasileira está para uma composição ferroviária puxada por uma locomotiva, daquelas ainda movidas a vapor, que, ao se elevar a pressão da caldeira pondo-se mais lenha na fornalha para se obter maior velocidade, se corre o risco de explosão. Então, mais velocidade com segurança só será possível se a composição for tracionada por uma locomotiva menos obsoleta e tecnologicamente mais atualizada.

Esta é a situação da economia brasileira, cuja locomotiva, a infraestrutura, está muito aquém das necessidades de velocidade de crescimento do país. Faltam investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, geração e transmissão de energia, saneamento básico, etc.

Não são sem razão os frequentes apagões e o colapso na prestação desses serviços básicos, ora sob a gestão pouco eficaz de entes públicos. Sem um avanço considerável na melhoria e ampliação da infraestrutura pari passu à elevação dos níveis de escolaridade e de inovação tecnológica, o país não conseguirá expressivos ganhos de produtividade.

E como expandir os investimentos na infraestrutura considerando a exígua margem orçamentária do governo destinada a essa finalidade (menos de 2% do PIB), muito embora drene cerca de 36% do PIB por conta de uma carga tributária perversa?

Em face da rigidez orçamentária, dificilmente se farão modificações substanciais de forma a elevar os gastos com investimentos em detrimento das despesas correntes. Os decisivos avanços conseguidos no passado em termos de reforma do Estado foram, em anos recentes, neutralizados pelo ciclópico aumento das despesas de pessoal e seus desdobramentos sem uma real contrapartida na eficiência. Lamentavelmente, não se completou a transição do estado cartorial para o moderno.

Resta o investidor privado, que sempre esteve na expectativa de um sinal verde do governo para ingressar na infraestrutura. Mas isso depende de firmeza política do governo acompanhada de regras claras e de marcos regulatórios bem definidos. Para tanto é necessário dotar as agências reguladoras de autonomia de forma a mantê-las distante das injunções político-partidárias. A presidente Dilma já manifestou interesse em abrir o capital da Infraero para a iniciativa privada. Se o fizer, dará um passo decisivo. Da mesma maneira, carecem de investimentos os demais setores da infraestrutura de transportes como rodovias e portos.

A hora é essa. Retomar o programa de privatizações é, sem dúvida, uma necessidade urgente, quer através das parcerias público-privadas ou de outra forma capaz de atrair o investimento privado, como exitosamente ocorreu com a telefonia e a distribuição de energia elétrica.

Urge aumentar a taxa de investimento da economia brasileira, atualmente no pálido percentual de 18,4% em relação ao PIB, muito pouco para taxas de crescimento acima de 4%. Enquanto isto, os emergentes China, Índia, Indonésia e Coreia do Sul exibem robustas taxas de investimentos, respectivamente, 47,8%, 32,6%, 30,3% e 30%. A permanecer com esta relação, a economia brasileira continuará engatada a uma locomotiva a vapor, de baixo rendimento, quase parando.

ALBANO FRANCO é empresário, conselheiro da Confederação Nacional da Indústria, integrante do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e foi deputado federal, senador e governador de Sergipe, pelo PSDB.

Parabéns para o Ministério Público


Fiquei sabendo hoje pela manhã que Reinaldo Azevedo, aquele mesmo que mamou por vários anos na teta do banco Nossa Caixa, ficou indignado porque o Ministério Público de Pernambuco obrigou, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta, a Associação dos Militares do Estado de Pernambuco publicar anúncio em 21 outdoors deste estado se retratando das críticas que fizera há cinco anos  ao MST, quando publicou matéria paga com os seguinte dizeres: Sem-Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. a AME ficou obrigada a veicular a mensagem com os seguintes dizeres: Reforma agrária: esperança para o campo, comida na sua mesa.Todo mundo sabe da minha opinião em relação a boa parte dde membros do Ministério Público, principalmente aqueles com apelo midiático, mas, convenhamos, nesta questão do MST o Ministério Público acertou.É inconcebível que uma associação de militares fique espalhando mensagem em outdoor colocando a sociedade contra um Movimento sério, respeitado.E, pelo que se vê no anúncio, foi isso que a tal AME(ame um caralho!) fez.Agora, se Reinaldo Azevedo está achando ruim que vá reclamar na casa da puta que o pariu.

Segque trecho da matéria:


"O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) conquistou nesta terça-feira (29) o direito de responder a uma provocação da Associação dos Militares Estaduais de Pernambuco (AME, antiga AOSSS) feita em 2006 através de anúncio em outdoors e notas pagas em jornais de circulação local, internet, além de emissoras de rádio e TV. Essa é uma iniciativa pioneira para todos os Ministérios Públicos de todo o Brasil. É a primeira vez que uma associação militar divulga coisas do tipo. Além disso, os trabalhadores sem-terra passam a ter o direito de resposta de uma forma que nunca tiveram, diz o promotor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) Westei Conde. Os anúncios diziam: Sem-Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como isso tudo vai parar? Através de um termo de ajustamento de conduta (TAC), a AME ficou obrigada a veicular a mensagem Reforma agrária: esperança para o campo, comida na sua mesa em 21 outdoors. A associação pagará apenas uma das mídias. As demais serão financiadas pela empresa de publicidade Stampa. Esta é a primeira vez que uma associação ligada ao meio militar publica uma mensagem contrária de forma tão clara em relação ao MST. O fato do Ministério Público garantir direito de resposta em outdoors também é inédito. Veja a localização dos outdoors no Recife Região Metropolitana: Avenida Caxangá, Avenida Recife, Avenida Conselheiro Aguiar, ponte do Paiva, Av. das Graças, Bairro Novo, Igarassu, PE-15, PE 60, PE 28. Zona da Mata: Vitória de Santo Antão e Carpina. Agreste: Caruaru, Gravatá Sertão: Arcoverde". 


As notícias que a Globo faz questão de esconder

Salvo por uma matéria traduzida da The Economist, publicada na Carta Capital nº 639, a grande mídia brasileira optou por não noticiar a briga de gigantes deflagrada no México, nos últimos dias.

Por Venício Lima, no Observatório da Imprensa

E por que interessaria ao público brasileiro o que ocorre no México? Quando nada, um dos gigantes envolvidos é sócio (alguns dizem, majoritário) da maior operadora de televisão paga do Brasil: a NET, ligada às Organizações Globo. Ademais, o que está acontecendo ao norte do Equador pode perfeitamente vir a acontecer também ao sul, vale dizer, aqui mesmo entre nós.

Monopólio vs. monopólio
As operações de telefonia e televisão no México são praticamente monopolizadas por dois grandes grupos.

Cerca de 80% das linhas de telefonia fixa estão conectadas à Telmex – a mesma empresa que é sócia da NET – e 70% do mercado de telefonia móvel (celular) são controlados pela Telcel, outra empresa do mesmo grupo – ambas de Carlos Slim, o homem mais rico do planeta.

Por outro lado, o grupo Televisa, do empresário Emilio Azcárraga, controla cerca de 70% da audiência da televisão aberta. O que sobra, em boa parte, está sob controle da TV Azteca, comandada por Ricardo Salinas, outro magnata mexicano.

Os grupos conviviam em relativa harmonia, cada um com seu respectivo "mercado". Agora, diante da convergência tecnológica, resolveram se enfrentar abertamente.

Um grupo de 25 empresas de telecomunicações, incluídas a Cablevisión (propriedade do Grupo Televisa) e Iusacell (do Grupo Salinas, da TV Azteca), entrou com uma ação na Comissão Federal de Competição (Cofeco, equivalente ao nosso Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, do Ministério da Justiça) contra o alto custo das tarifas de interconexão cobradas pela Telcel. Ao mesmo tempo, a Telmex apresentou quatro denúncias contra a Televisa, a Televisión Azteca, a Cablesivion, a Megacable, a Cablemas, a Television Internacional e a Yoo por "práticas de monopólio e correlatos".

As ações legais vieram acompanhadas de anúncios de página inteira nos jornais parceiros da Televisa denunciando o "monopólio caro e ruim" da indústria de telecomunicações, enquanto Carlos Slim retirava os anúncios de suas empresas – cerca de 70 milhões de dólares anuais – dos canais da Televisa. Em represália e solidariedade à Televisa, a TV Azteca passou a recusar os anúncios do Grupo Telmex.

Disputa de mercado
O que está em jogo, por óbvio, é o controle do mercado convergente de telefonia e televisão. Como explica didaticamente a matéria da The Economist:
"A tecnologia transformou os negócios de telefonia e televisão em um único mercado: a televisão hoje inclui telefone e internet em seu serviço de TV a cabo, e quer adicionar telefones celulares. Salinas, que também controla uma empresa de celulares, a Iusacell, lançou um pacote semelhante em 2010. Slim deseja usar seus cabos de telefonia para distribuir TV paga (setor em que se tornou o maior ator no resto da América Latina), mas o governo não quer permitir.

"Agora os bilionários pedem o tipo de reforma da concorrência de que suas respectivas indústrias precisavam há muito tempo. Os magnatas da TV querem que Slim reduza o valor cobrado quando, um telefone rival liga para um celular Telcel (a agência reguladora das teles do México lhe disse para reduzir algumas taxas). A atual tarifa de interconexão é 43,5% acima da média da maioria dos países ricos da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Isso torna impossível que outras operadoras ofereçam tarifas competitivas. A Comissão Federal de Concorrência (CFC) do México diz que os consumidores se beneficiariam de 6 bilhões de dólares por ano se as taxas de conexão se equiparassem à média da OCDE. A CFC recomenda deixar Slim concorrer na televisão quando tiver relaxado seu poder no setor de telefonia. Se a Telmex entrasse no mercado de tevê paga, o aumento da concorrência colocaria os preços ao alcance de mais 3,8 milhões de residências, admite a CFC."
E no Brasil?
A situação brasileira é diferente da mexicana, mas a briga entre teles e radiodifusores tradicionais ocorre também aqui. O locus dessa disputa, desde 2007, tem sido o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional e "abre o setor de TV por assinatura para as teles, cria a separação de mercado entre produtores de conteúdo e empresas de distribuição e ainda cria cotas de programação nacional nos pacotes de canais pagos", além de revogar a Lei do Cabo de 1995.

Na sua versão atual o projeto – PLC 116 do Senado Federal – é o resultado da articulação inicial de três propostas representando grupos e interesses distintos: o PL 29/2007 representa as empresas de telefonia; o PL 70/2007 representa os radiodifusores; e o PL 323/2007 situa-se em posição intermediária entre os interesses dos dois setores. Aprovado em junho de 2010 na Câmara dos Deputados, até hoje tramita no Senado Federal.

Será que teremos aqui uma versão explícita da briga entre teles e radiodifusores como ocorre no México?

A ver.