terça-feira, 29 de março de 2011

Caça a Kadafi e hipocrisia democrática das potências econômicas

Aquilo que se iniciou como uma zona de exclusão aérea na Líbia, como um ato de defesa da população civil contra a violência da tirania de Muammar Kadafi tornou-se, efetivamente, uma ação de intervenção no país e de ataque às forças governistas.


Sem que se defenda aqui a permanência de Kadafi no poder, há que se condenar, no entanto, a ação militar autorizada pela ONU e ora comandada pela OTAN. Era previsível que a ação tomasse o rumo atual. O voto de abstenção brasileiro e a declaração que o justificou já alertava para o perigo de se estar autorizando, de fato, a intervenção internacional em um conflito interno e que, como tal, deve ser resolvido pelas forças políticas locais.


Se a derrubada do ditador Kadafi não for resultado da vontade e da ação da própria população líbia, que tipo de regime político se instalará no país? Democracia não se impõe. Ela se constrói, com acertos e erros, avanços e recuos, mas sempre como resultado da vontade, da ação e da maturidade política de cada povo.


Se Kadafi for derrubado pela ação das forças da OTAN, sem sustento suficiente da população local e sem seu envolvimento, serão três os regimes possíveis de serem instalados no país: um governo títere, mantido pelas potências externas e sem base de sustentação interna; alguma espécie de anarquia política, já que nenhuma das forças políticas hoje de oposição terá tido condições de se fortalecer e de conquistar apoios efetivos antes da queda do atual ditador; e, finalmente, um novo governo ditatorial, semelhante ao atual, mas capaz de impor a ordem interna pela força.


Todas as três possibilidades seriam nefastas para o povo líbio, mas, sem dúvida, a primeira e a terceira não desagradariam às potências internacionais. Um governo títere ou um governo ditatorial alinhado com os interesses da França, da Itália e dos demais países europeus dependentes do petróleo líbio, restabeleceria a ordem e manteria intactos os acordos e interesses desses países.


O risco do caos político, entretanto, não pode ser excluído. Os exemplos do Iraque e do Afeganistão não devem ser esquecidos. Este é um dos motivos pelos quais os EUA relutaram em assumir a liderança dos ataques e, depois, apressaram-se a transferi-lo para a OTAN. Outro motivo é o fato de que os EUA não dependem do petróleo líbio, como acontece com diversos países europeus. Não é por acaso que a França e a Itália, que apoiaram e armaram Muammar Kadafi até recentemente, sejam os países mais envolvidos no ataque à Líbia e às forças leais ao ditador.

Se o desejo de ajudar na construção da democracia fosse sincero, a comunidade internacional deveria estar agora discutindo e aprovando na ONU ações de intervenção também no Bahrein, no Iêmen e na Síria, países igualmente governados por ditadores e cuja população revoltada está sendo reprimida com ferocidade semelhante à empregada na Líbia por Kadafi.

Cabe às forças democráticas em todo o mundo denunciar a intervenção na Líbia e os interesses que a movem e, ao mesmo tempo, apoiar as lutas autônomas do seu povo e também dos povos do Iêmen, da Síria e do Barhein.Sul21

2 comentários:

PERNAMBUCANO FALANDO PARA E COM O MUNDO disse...

MAIS DO MESMO:

Os EUA executaram os mais condenáveis massacres como os da Aldeia de My Lai, em 16/03/1968, no Vietnã, além do aniquilamento na Cidade de Fallujah, em 28/04/2004, no Iraque.


Os EUA praticaram e praticam inomináveis torturas na sua base militar de Guantánamo/Cuba, como fizeram na prisão de Abhu Graib, substituída pela atual prisão de Mutahnna, ambas em Bagdá.


Mutahnna consegue superar a anterior nas extremas crueldades, por ser “secreta” e inacessível a civis.

Os EUA não têm a mínima condição moral para falar em direitos humanos...


E TOME HIPOCROSIA NAS FUÇAS...

O TERROR DO NORDESTE disse...

Gilberto, exatamente.