segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

FHC – drogas, guerra e descriminalização


Meu governo foi uma droga, que diga a opinião pública! É, mas tem gente que ainda gosta de mim.Mas, como diz o poeta matuto, "no mundo tem gente pra tudo! e ainda sobra um pra tocar gaita" .Fazer o que, né?

Por Rui Martins

Não precisamos pedir licença para ninguém, justificou o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso ao explicar a falta de apoio da Agência especializada da ONU, para a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, criada, em Genebra, e da qual é presidente.

Financiada principalmente pela Open Society, Ong da Fundação Soros, a iniciativa não é nova mas uma ampliação internacional de uma comissão similar, ao nível sulamericano, cujo documento principal Drogas e democracia: em busca de um novo modelo, foi divulgado há dois anos.

Esse documento base, agora reforçado, coloca a questão de uma nova abordagem do combate às drogas e aos traficantes, afirmando que a atual guerra às drogas, aplicada principalmente pelos EUA, é um fracasso. Um exemplo citado pelo ex-presidente colombiano Cesar Gavíria, é a existência de 500 mil presas nos EUA por envolvimento com drogas, a maioria simples consumidores.

Para Ruth Dreyfus, ex-presidenta e conselheira federal da Suíça, os danos provocados pela guerra ao tráfico das drogas são mais dispendiosos, mais funestos em termos sociais e provocam mais mortes, no combate com os traficantes, que o próprio consumo das drogas. E todos estão de acordo: os traficantes, pelo volume de seu comércio e suas máfias constituem uma ameaça em muitos países.

Caso típico é a Guiné-Bissau, considerada a mais importante plataforma do tráfico para a Europa e um verdadeiro Estado-traficante, sem se falar nos países asiáticos produtores do ópio. FHC afirma a respeito que são os consumidores de drogas os responsáveis pela existência de países comprometidos de tal forma com as drogas. Por sua vez, a ex-presidenta suíça Ruth Dreyfus acha ser preciso se dar outros tipos de cultura, em troca, aos agricultores que vivem do ópio ou da coca, não basta simplesmente se destruir suas plantações.

Além de ex-presidentes latinoamericanos e intelectuais como Carlos Fuentes e Vargas Llosa (ambos ausentes) há novos participantes na Comissão presidida por FHC, como a ex-presidente suíça Ruth Dreyfus, Javier Solana, ex-membro espanhol na UE, Michel Kazatchkine, diretor do Fundo Global de Luta contra a Sida e outras personalidades e empresários.

Para FHC, o momento talvez não fosse o mais oportuno. Quase ao mesmo tempo em que defendia a descriminalização das drogas, a nova presidente Dilma Roussef demitia um secretário do seu governo por ter feito declarações sem autorização a esse respeito. Por sua vez, o site Carta Maior, da revista Carta Capital, lembrou que, durante seus oito anos de presidência, FHC seguia o modelo norteamericano de guerra implacável às drogas, incluindo seus consumidores, cuja cópia queria aplicar no Brasil. E por que, justamente quando não é mais presidente, defende uma posição justamente contrária ?

As mesmas críticas foram ao ex-presidente Cesar Gavíria, ex-presidente da Colombia que, no decorrer de seu mandato, pouco teria feito para impedir o desenvolvimento do narcotráfico e de figuras como as da família Escobar.

Fernando Henrique faz uma diferença entre descriminalizar e despenalizar as drogas, e acentua ser contra uma simples liberação, mas em favor de uma regulamentação do consumo, como ocorre com o álcool e o tabaco. Os viciados, vítimas das drogas, não devem ser presos – diz ele -mas devem receber tratamento médico, seguindo-se nisso a política aplicada pela Holanda, Suíça e Portugal.

O ex-presidente, num artigo publicado no jornal suíço Le Temps fez o elogio da política suíça, que diminuiu o número de infectados pela Aids com a distribuição gratuita de seringas e utilização da metadona como droga substituta. Entretanto, é bom lembrar que as cenas abertas para consumo livre de drogas, em Zurique e Berna, foram experiências com resultados negativos e rapidamente abandonadas.

Rui Martins, jornalista e escritor, correspondente em Genebra.
Correio do Brasil

A Globo está cuspindo no prato onde comeu

Roberto Marinho recebeu de Eduardo Cunha aditivo de US$ 92 milhões que valia 30


O jornal O Globo "acordou" e publica antigas denúncias de 2008/2009 sobre a diretoria de Furnas que atingem o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ). O antigo presidente da estatal, Luiz Paulo Conde (ex-prefeito do Rio de Janeiro, e indicado pelo grupo do deputado) se demitiu na época, e o PMDB indicou um funcionário de carreira dos quadros da empresa. Por ser um quadro considerado técnico, esperava-se um desempenho administrativo à altura da empresa, mas as críticas dos funcionários (que desejam para a empresa o mesmo tipo de gestão de excelência realizado na Petrobrás) continuaram, e a presidenta Dilma irá trocar o comando da empresa novamente.

Pena que o jornal das organizações Globo "não tenha se interessado" pelo noticiário sobre o deputado há mais tempo. Em períodos eleitorais, o jornalão sempre preferiu atacar as tapiocas de candidatos de esquerda do que escândalos milionários dos candidatos de direita que, muitas vezes, envolvem banqueiros e empresários amigos ou anunciantes da família Marinho.

O silêncio do PIG (partido da imprensa golpista) na hora das eleições, ajuda a eleger o Congresso com perfil mais conservador, que funciona como contenção à um governo mais progressista, e ajuda também a eleger parlamentares com perfil mais fisiológico que, em certos casos, são usados como o braço político lobista para empresários inescrupulosos terem acesso aos cofres públicos.

Voltando ao assunto do título, as relações das Organizações Globo com Eduardo Cunha já foram profícuas, quando tiveram negócios entre si.

No início da década de 90, no governo Collor, o finado patriarca da Globo, Roberto Marinho, comandava a NEC do Brasil (fornecedora de equipamentos para telefonia) e Eduardo Cunha era presidente da TELERJ (Cia. Telefônica do Rio de Janeiro), ainda estatal.

Em 1992, Cunha assinou um aditivo de US$ 92 milhões à um contrato da Telerj de 1989 com a NEC, em vez de abrir nova licitação. O aditivo era para ampliar o número de terminais para 40 mil celulares.

Em 93, já no governo Itamar Franco, sob nova direção, o então presidente da Telerj, José de Castro Ferreira, assinou o segundo aditivo. Também não abriu licitação, mas pelo menos pagou "apenas" US$ 30 milhões, para a mesma quantidade de 40 mil terminais, que Cunha contratou no ano anterior por US$ 92 milhões.

A explicação do porque Eduardo Cunha pagou US$ 92 milhões pela mesma coisa que José de Castro pagou US$ 30 milhões é um segredo que Roberto Marinho levou para o túmulo. Não esperem que o jornal "O Globo" vá procurar o Dep. Eduardo Cunha para explicar.

Este contrato da NEC com a TELERJ havia sido ganho em 1989, para implantar a telefonia celular, quando o amigo de Roberto Marinho, Antônio Carlos Magalhães (ACM), era ministro das Telecomunicações. O valor inicial deste contrato era US$ 64 milhões.

Esta notícia foi publicada em 19 de janeiro de 1994, na Folha de São Paulo, quando o jornal ainda não tinha se "filiado" totalmente ao PIG (Partido da Imprensa Golpista):


FSP940119-037
EDNA DANTAS
Da Sucursal do Rio

A direção da Telerj (Telecomunicações do Rio de Janeiro) confirmou ontem que estuda o aditamento (prorrogação) ao contrato assinado com a NEC do Brasil (controlada pelo empresário Roberto Marinho) para operação de novos terminais de telefones celulares no Estado. A informação foi dada ontem pelo jornalista Janio de Freitas, da Folha.


A nova lei de licitações –número 8.666, de 21 de junho de 93– veta contratos aditivos, mas para a consultoria jurídica da Telerj há exceções à regra. A consultoria preparou em setembro parecer afirmando que a assinatura de um novo termo aditivo com a NEC não fere a legislação.


Segundo o parecer, encomendado pelo presidente da estatal, José de Castro Ferreira, "pode-se admitir" o aditamento, com base no artigos 121 e 65, parágrafo 1.º, da nova lei. Segundo os advogados da Telerj, esses artigos permitem o aditamento desde que o contrato original tenha sido assinado antes da entrada em vigor da nova lei de licitações.


Na avaliação da Telerj, a realização de uma nova licitação e eventual vitória de uma outra empresa que não a NEC vai dificultar o funcionamento do sistema. Estudos da diretoria de Operações da estatal dizem que os equipamentos de outras empresas são incompatíveis entre si.
O contrato inicial, assinado em 89, previa a instalação no Rio de 80 mil terminais. Segundo a diretoria de Operações, a empresa dispõe ainda de 15 mil linhas para serem vendidas. Outras 15 mil foram vendidas neste mês. O novo aditivo seria feito com base em 25% do valor contratado (US$ 48,75 milhões), elevando o número de terminais em mais 80 mil.


A Telerj já assinou dois aditivos. Em 1989, quando a telefonia celular foi implantada, foram instaladas 11 mil linhas, com um custo de US$ 64 milhões. Em 92, com o primeiro aditivo assinado pelo então presidente da estatal, Eduardo Cunha, o número de terminais subiu para 40 mil com investimentos de US$ 92 milhões.


Em 93, Ferreira assinou o segundo aditivo, de US$ 30 milhões, para mais 40 mil terminais.


Fonte:Os Amigos do Presidente Lula

O novo sonho americano: visitar Cuba



O governo do presidente Obama pôs em marcha, há somente algumas semanas, novas medidas destinadas a permitir mais viagens dos Estados Unidos a Cuba, gerando entre a população todo o tipo de reações (furiosas entre a máfia da Flórida e mais contidas no resto da nação). Mas quais serão as consequências para os dois países?

Por Carlos Tena, em Revista Fórum*


O governo do presidente Obama pôs em marcha, há somente algumas semanas, novas medidas destinadas a permitir mais viagens dos Estados Unidos a Cuba, gerando entre a população todo o tipo de reações (furiosas entre a máfia da Flórida e mais contidas no resto da nação), e que de imediato fez com que eu me perguntasse se entre estes cidadãos com passaporte americano (sejam ou não de origem cubana), não tentará chegar à ilha algum carrasco com sinistras intenções, como vem acontecendo desde 1960, quando a CIA e o FBI, contando com o apoio de centenas de mercenários e terroristas, cometiam todo o tipo de atentados, tentando em vão assassinar Fidel Castro em mais de 638 ocasiões.

Estou convencido do perigo, especialmente com a propaganda que está se fazendo ao caso de Luis Posada Carriles**, que ocorre em El Paso (Texas) por vias tragicômicas, dignas de um poder judicial como o existente nos EUA. A imprensa dos EUA chama de lutador anticastrista um dos mais sanguinários assassinos entre os que passeiam livremente por Miami.

Esse processo cômico que a juíza Cardone comanda contra aquele cidadão (naturalizado venezuelano), não deixa dúvidas sobre a condição da justiça norte americana em sua inequívoca vocação para mimetizar a justiça que Fulgencio Batista pôs em prática em Cuba durante sua ditadura, ou o que é ainda mais terrível, imitar a justiça que esteve vigente durante o III Reich.

Tampouco se abre espaço para dúvidas diante da parcialidade, subjetividade e arbitrariedade dos juízes, fiscais e demais funcionários nesta farsa processual, começando com a acusação pela qual o terrorista mais sanguinário de tantos que protegem os senadores republicanos do estado da Flórida se senta na cadeira do réu: simplesmente é um mentiroso que teve acesso a território ianque falsificando documentos e data de entrada.

Tudo o que os governos de Venezuela e Cuba demonstraram em relação à segurança não vale nada para a justiça de Obama, não vale nada na hora de julgar Posada por crimes como a decolagem do avião da Cubana de Aviación (Vôo 455, em 6 de outubro de 1976. Barbados, 1976), que custou 73 vítimas inocentes, nem sequer para extraditar o assassino em questão, a quem a justiça venezuelana espera há mais de uma década.

Não vale, igualmente, que o próprio mercenário ex-agente da CIA tenha admitido publicamente o sangrento feito, em uma entrevista publicada pelo jornal diário estadunidense The New York Times em julho de 1998; nem as recentes declarações do terrorista salvadorenho Francisco Chávez Abarca*, detido em Caracas e extraditado para Havana em 2010. Os magistrados ianques se negam a incluir qualquer testemunho contra Carriles. Há algo de podre em El Paso.

Voltando às viagens dos EUA a Cuba, não cabem dúvidas acerca de que por parte do governo da Revolução serão tomadas medidas técnicas, aeronáuticas, policiais e de todo tipo para evitar que entre os três milhões de turistas norte-americanos (que se espera ao longo dos próximos anos) aporte em território cubano um só visitante com intenções criminais, ou o que é mais correto, um assassino disfarçado de simpático mochileiro, como também tenho a certeza de que entre as autoridades do governo de Barak Obama existirão funcionários que tratem de que não se exporte mais terrorismo para a ilha, simplesmente porque se coloca em jogo a vida de seus cidadãos, ainda que este último dado não seja de importância capital para Ileana Ross Lethinen, conhecida como La Loba, ou os irmãos Diaz Balart, Orlando Bosch ou qualquer um dos envolvidos em feitos criminosos contra a ilha mais digna do globo.

Também é certo que as medidas anunciadas pela administração de Obama em 14 de janeiro passado não implicam na retirada do embargo à ilha, somente facilitam em parte o turismo estadunidense, assim como as visitas organizadas por escolas, igrejas e grupos culturais permitindo a estes organizar voos fretados como parte de um plano destinado a aumentar os contatos pessoais entre ambos os países. Este gradual, porém irrefreável, aumento das visitas dos norte-americanos a Cuba vêm se confirmando ainda que tenha se iniciado há pouco tempo.

Um visitante que chegou à mesma casa de hóspedes na qual eu mesmo me hospedei em Havana, de 5 de novembro a 20 de dezembro de 2010, me garantiu que no último mês deste ano houve cerca de 20 voos diários provenientes de Miami. Agora, as agências de viagens poderão organizar voos muito econômicos com propósitos

culturais que permitiriam (se a administração Obama interpretar com flexibilidade suas próprias regras) incluir qualquer temática: desde observação do tocororô (ave-símbolo do país) ou do totí (outro pássaro endêmico do país), a criação de crocodilos, ou as visitas aos templos de santería em Regla e Guanabacoa.

No entanto, os agentes turísticos na região (República Dominicana, México, Jamaica, Porto Rico etc.) se mostraram preocupados com o mais que provável desvio do turismo dos EUA para a maior das Antilhas em detrimento de outros destinos.

“Não vai haver uma explosão imediata de turismo estadunidense para Cuba através destas medidas, mas isto eventualmente ocorrerá”, disse Andy Dauhaire, um conhecido economista que dirige a Fundação Economia e Desenvolvimento da República Dominicana, “... porém, quando isto ocorrer, vai haver um impacto significativo sobre vários destinos turísticos como Cancun, Bahamas, Jamaica e República Dominicana”.

Um estudo do FMI em 2008, intitulado Acabaram-se as férias: Implicações para o Caribe de uma abertura do turismo de Estados Unidos para Cuba, concluía que o levantamento total da proibição das viagens à ilha produziria um cambio sísmico na indústria turística daquela área.

Diante de tudo isto, em torno das novas medidas e de seu possível alcance, surge a declaração do Ministério de Assuntos Exteriores cubano (Minrex), neste dia 14 de janeiro de 2011, publicada, transmitida no rádio e lida em todos os meios de difusão, com o objetivo de esclarecer a verdadeira repercussão social, econômica e política deste decreto do governo Obama.

Da minha parte, que sejam bem recebidos os cidadãos norte-americanos honestos e pacíficos que chegarão à Cuba vindo dos EUA. Ninguém duvida que ambos povos podem e devem manter uma política comum fraternal e de colaboração mútua. A Revolução poderia ajudar ao presidente Obama em muitas matérias, e Barak poderia demonstrar sua inteligência e coragem tomando algumas valentes decisões, como as que Carter ditou durante seu mandato ao final dos anos 1970.

Faz-se necessária a retirada gradual do embargo e a revogação da lei Helms-Burton. Ah, e uma visita oficial a Havana para bater um papo com Raúl Castro.

No entanto, me pergunto: Será que o presidente dos EUA sabem o que é a liberdade?

** O terrorista de nacionalidade salvadorenha, Francisco Chávez Abarca, confessou ter sido contratado pelo fugitivo Luis Posada Carriles para realizar atos desestabilizadores na Venezuela. Da mesma maneira, Chávez Abarca confessou que recebia instruções em código através de um e-mail que mencionava um restaurante localizado próximo ao Aeroporto Internacional Simon Bolívar de Maiquetía, onde ele se encontraria com três pessoas, entre elas dois venezuelanos para dar inicio ao plano desestabilizador.

O terrorista afirmou que os que estavam contratando estas ações contrárias ao Governo venezuelano estavam dispostos a realizar o que fosse necessário para alcançar seus objetivos. O criminoso detido confessou ainda igualmente frente as câmeras da TELESUR que foi enviado à Venezuela para realizar ações de conspiração e que tentou entrar no país com um passaporte falso, assim como participou com a ajuda de Posada Carriles nos atentados contra pontos turísticos de Havana em 1997, em um dos quais o jovem italiano Fabio Di Celmo perdeu a vida.


*Texto originalmente publicado por Rebelión.
Tradução de Cainã Vidor

Brasil e Argentina são 'cruciais' para futuro da América Latina, diz Dilma



Do G1, em Buenos Aires

A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira, após se se reunir com a presidente Cristina Kirchner, que a parceria entre Brasil e Argentina é “crucial” para o desenvolvimento econômico e social da América Latina.

“Não é por acaso que eu fiz questão de que minha primeira passagem pelo exterior fosse à Argentina. Considero que a Argentina e o Brasil são cruciais para transformar o século 21 no século da América Latina”, afirmou Dilma.

Dilma disse que optou por iniciar sua agenda internacional pela Argentina para destacar a importância do país vizinho e fortalecer os laços entre as duas nações.

Em declaração conjunta à imprensa, Dilma e Cristina lembraram os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, morto em 2010 e com quem Cristina era casada. Segundo Dilma Argentina e Brasil ganharam destaque internacional e se fortaleceram porque “os dois governantes tiveram a sensatez de perceber que era possível um novo modelo que permitisse crescimento econômico inclusão social”.

Cristina agradeceu o fato de Dilma ter escolhido a Argentina como primeiro destino internacional e também homenageou Lula e Néstor Kirchner.

“A Argentina e o povo argentino dão muita importância à escolha da presidente Dilma de viajar primeiro ao nosso país. É a reafirmação de um compromisso iniciado por outros presidentes. Kirchner e Lula realizaram o Mercosul e construíram uma relação diferente entre ambos os países. Relação que deve se fortificar”, disse.

Ainda durante a declaração à imprensa, Dilma afirmou que é preciso fortalecer o Mercosul – grupo formado por Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil – e a União dos Estados Americanos (Unasul) – composto por 12 países sul-americanos.

“Nós, Brasil e Argentina, podemos dar nossa contribuição não só no Mercosul mas também na Unasul. Na construção de unidade e desenvolvimento. [...] Nesse momento abrimos um caminho com novos pactos de cooperação. E essa cooperação é no sentido de nos fortalecer, criar uma integração de plataformas produtivas, que nos levará a construir cada vez mais o bem-estar dos nossos países”, disse.

Para Dilma, Argentina e Brasil precisam ampliar as parcerias na área de alta tecnologia. As duas governantes assinaram acordos para a construção de dois reatores nucleares, duas usinas hidrelétricas, uma ponte, e um memorando sobre bioenergia.

“Tenho clareza de que somos países vocacionados para não só a área da agricultura, mas, sobretudo, nas áreas de ponta, olhando biotecnologia, área nuclear, indústria espacial e desenvolver parcerias”, afirmou.

A presidente destacou que ela e Cristina são as primeiras mulheres a ocuparem o cargo de presidente no Brasil e na Argentina. “Nós também assumimos um papel importante na questão da garantia da participação de gênero. Uma sociedade pode ser medida pela sua modernidade desde que ela também inclua a participação das mulheres e a não discriminação das mulheres.”

Cortesia com o chapéu alheio

Prédio da família de Kassab recebe anistia da Prefeitura

No local funciona a empresa de engenharia da família na qual o prefeito é dono de 80% do capital

Um imóvel, localizado no bairro da Saúde e pertencente a família do prefeito da cidade Gilberto Kassab, teve sua área irregular anistiada pela Prefeitura segundo matéria publicada pelo Jornal da Tarde desta segunda-feira(31).

Dos 309,82 m² de área construída, somente 80 m² estavam regularizados. No local funciona a Yapê Engenharia empresa na qual Kassab e mais três irmãos são sócios. Dono de 80% do capital da empresa o prefeito havia pedido a regulamentação do imóvel em 2002 e usou como base a Lei da Anistia que tinha como objetivo beneficiar contruções irregulares.

Na época, a empresa tinha outro nome resultado de uma sociedade entre Kassab, então deputado federal e Rodrigo Garcia, estadual. Ambos assinaram o pedido de regularização do ímovel, que foi enviado à Subprefeitura da Vila Mariana.

Em março 2006, o pedido foi indeferido pelo orgão regulador que alegou o abandono do processo. O então vice-prefeito teria um prazo de 60 dias, conforme a lei, para que pedisse a reconsideração do despacho, o que não foi feito. Em junho do mesmo ano, o processo foi arquivado.

Segundo a Lei 13.885/04 a Prefeitura deveria emitir um auto de infração, lançar a área como irregular, aplicar multa e lacrar o imóvel, porém isso não foi feito.

Em agosto de 2008, a CPPE (Comissão Permantente de Processos Extraviados) declarou o extravio do processo da Yapê Engenharia. Um dia depois o orgão informou que o processo havia sido “parcialmente reconstitúido”.

No dia 22 do mesmo mês, o órgão responsável por analisar edifícios comerciais acima de 1,5mil m² , o Aprov 2, informou que o processo estava em ordem para aprovação e no mesmo dia diretora substituta, do Aprov- G, Lúcia de Sousa Machado, expediu o auto de regularização.

Nota divulgada pela assessoria de imprensa do prefeito informa que o processo de regularização do imóvel “atendeu integralmente a legistação vigente.”


Carta Capital

Na mesma pisada do grande líder


Na Argentina, Dilma é recebida com abraço por Cristina Kirchner


A presidente Dilma Rousseff chegou às 12h18, horário local, na Casa Rosada, sede do governo argentino, onde já era esperada por representantes das Mães e Avós da Praça de Maio.

"A Argentina é um exemplo para o Brasil no campo de direitos humanos, na sua busca de desaparecidos da ditadura militar", afirmou Estela de Carlotto, presidente da associação.

Dilma chegou acompanhada de oito ministros. Foi recebida pela presidente argentina Cristina Kirchner, que lhe deu um abraço carinhoso no Salão Branco da Casa Rosada, destinado às recepções oficiais. Em seguida, Dilma e Cristina se dirigiram para um encontro reservado, enquanto os ministros brasileiros começaram uma reunião paralela com seus colegas argentinos.

A reunião com as Mães e Avós da Praça de Maio aconteceria logo após a reunião privada entre as duas presidentes. Segundo Estela de Carlotto, pelo fato de Dilma ter sido "vítima da ditadura brasileira", ela "sabe bem do que fala quando propõe revisar a história, fazer justiça e impor a verdade".

Segundo assessores de Dilma, um dos objetivos de sua viagem à Argentina, a primeira oficial ao exterior desde que tomou posse, é enfatizar a sua política de defesa de direitos humanos. A presidente brasileira tem dito que irá condenar qualquer desrespeito aos direitos humanos no mundo, seja em que país eles acontecerem.

Dilma chegou acompanhada dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Paulo Bernardo (Comunicações), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Mário Negromonte (Cidades), Márcio Zimmermann (Minas e Energia) e Iriny Lopes (Direitos das Mulheres).

Após o encontro com as Mães e Avós da Praça de Maio, Dilma assinaria, numa reunião conjunta com a presidente argentina e os ministros dos dois países, cerca de 15 acordos. Entre eles, o que prevê a construção de um reator de pesquisa nuclear.

Depois dessa reunião, Dilma e Cristina Kirchner fariam um declaração conjunta à imprensa, seguindo para um almoço no Palácio San Martín, sede do ministério das relações exteriores local.
Uol

Quase 800 mil pessoas deixam a informalidade


Edson Ruiz/Valor


Valor Econômico


A formalização da economia brasileira ganhou novos contornos em 2010. Depois de um começo incerto, a figura do empreendedor individual "pegou" e ganhou projeção com a adesão de 847 mil pessoas à regulamentação - criada em 2008 e em vigor desde o segundo semestre de 2009. Mesmo tendo projetado 1 milhão de adesões para o ano passado, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) considera o resultado extremamente satisfatório, diz o diretor técnico da instituição, Carlos Alberto dos Santos.

Na visão de Santos, com um custo relativamente baixo (máximo de R$ 62,10 por mês), esses mais de 800 mil trabalhadores formalizados passaram a ter cidadania econômica e a desfrutar de benefícios que antes eles nem sequer poderiam sonhar, como acesso à Previdência Social. Entre mais de 400 atividades diferentes, entraram para a legalidade os negócios de 77 mil vendedores ambulantes, 58 mil salões de beleza, 22 mil fast foods, entre outros. Para 2011, o Sebrae Nacional aposta na formalização de outras 500 mil a 800 mil pessoas, praticamente dobrando o número de empreendedores individuais (Eis). Só entre o dia 1º e 21 de janeiro foram formalizados mais 46.183 negócios, segundo o Sebrae, média de 2,5 mil por dia.

O diretor técnico do Sebrae relata o caso de um chaveiro de Brasília. Estabelecido na cidade há cerca de 30 anos, o profissional formalizou-se em 2010 e, quase imediatamente, recebeu a encomenda de aproximadamente 270 chaves de um órgão público. O serviço, equivalente a quase um mês do faturamento de seu quiosque, não podia ser feito antes da formalização pelo simples fato de o chaveiro não poder emitir a nota fiscal exigida para justificar despesas públicas.

"O Brasil tinha números vergonhosos de informalidade que chegavam a dois negócios informais para um formal", comenta Santos. "Chegou a superar 10 milhões de empreendimentos sem nenhuma regularização." Em 2010, pela primeira vez desde a crise econômica dos anos 1980, o país terminou o ano com menos informais que no exercício anterior, comenta o diretor técnico do Sebrae.

Santos aponta alguns ganhos conseguidos com a formalização dos negócios individuais. Por um custo baixo para regularizar o negócio (equivalente a R$ 2 por dia), o empreendedor ganhou acesso à Previdência, passou a ter comprovação que permite um relacionamento mais profissional com o sistema de crédito, pode ter acesso a preços, produtos e fornecedores mais variados e qualificados. De quebra, ainda gerou emprego. Pela regulamentação, cada EI pode ter um empregado com registro em carteira. Nas contas do Sebrae Nacional, os 847 mil negócios regulamentados em 2010 proporcionaram a formalização de 820 mil empregos formais - 97 para cada 100 atividades regularizadas.

Para o coordenador do centro de empreendedorismo do Insper, Marcos Hashimoto, iniciativas como a criação do EI e o desejo manifesto pelo governo de Dilma Rousseff de transformar parte dos beneficiários dos programas sociais em empreendedoree de reduzir os encargos sobre a contratação de empregados dão um novo destaque ao empreendedorismo no Brasil.

Hashimoto acha "possível e necessário" incentivar o microempreendedorismo, categoria que ele considera "não muito valorizada", mas é justamente a que mais responde aos incentivos e que está mais bem alinhada com as políticas sociais. "Está provado que a base da pirâmide tem grande capacidade de mobilização quando impulsionada por políticas públicas", argumenta. Números do Sebrae corroboram sua opinião. Segundo Carlos Alberto dos Santos, a criação do Simples (o regime tributário simplificado das microempresas) contribuiu para aumentar em 70% o emprego formal de 2006 a 2008. Nas contas da entidade, as MPEs respondem por 53,2% dos empregos formais no país.

Hashimoto diz que iniciativas nesse sentido têm grande potencial de crescimento no microvarejo, desde que se criem condições para que o ganho de receita desses microempreendedores compense o imposto que terão de pagar. Segundo ele, a área de serviços também tem potencial para ampliar sua participação nos pequenos negócios formais, mas é um segmento que requer alguma especialização e que, portanto, pressupõe certa formação profissional dos candidatos, nem sempre possível.

Hashimoto vê nessas iniciativas os meios de reduzir a profunda informalidade da economia brasileira. Segundo ele, pesquisas apontam de 60% a 70% de informalidade na economia brasileira, entre negócios não registrados e práticas informais dentro de negócios formais (como não emissão de nota). "Eu duvidava desses números, mas são tantos os estudos e tantos os indícios que passei a acreditar que eles não estão tão longe da realidade".

Nunca antes na história deste país: a classe C vai ao resort

O sabujo não deu o braço a torcer, mas, sem nenhuma dúvida, deve-se a Lula essa mudança radical nos hábitos, nos costumes da nova classe média.

José Roberto de Toledo


O Estado de S. Paulo - 31/01/2011


Sonolento balneário do sul da Bahia, Santo André vive do turismo. São duas ruas apenas: a da praia é dominada por pousadas e restaurantes cujos donos falam português com sotaque. Os cardápios dão a volta ao mundo, mas é preciso rodar para encontrar uma moqueca.


O vilarejo tinha tudo para ser um destino privilegiado e exclusivo de VIPs internacionais. Privilegiado ainda é. Exclusivo, nem tanto. Quem tem movimentado a economia local são os turistas de outra sigla, a CVC.

Os "barões", como os nativos chamam os viajantes endinheirados, só passeiam por lá durante os meses de verão. No resto do ano, grande parte dos estabelecimentos fecha as portas, seus donos voltam para a Europa, seus chefs vão destrinchar peitos de pato em outras cozinhas.

Um dos poucos abertos 365 dias é o maior empreendimento turístico da praia, o Costa Brasilis. Resort com arquitetura e decoração para agradar ao baronato, passou a oferecer pacotes de uma semana por dez parcelas de R$ 130 ("aéreo" incluído). O preço mal paga duas faxinas em São Paulo.

Os comerciantes locais descobriram que, ao contrário do turista nobre, vale a pena investir no ex-pobre. Enquanto os primeiros ficavam entocados e intocados no resort, os novos viajantes se dispõem a explorar pratos além do buffet - desde que se ofereça táxi grátis na ida e volta do restaurante.

O neoturista desce no aeroporto de Porto Seguro, sobe em um ônibus amarelo ovo de janelas panorâmicas e 38 quilômetros, 29 quebra-molas, duas aldeias indígenas e uma balsa depois desembarca no seu hotel de luxo. Piscinas, jacuzzis e praias semi-virgens (sic) o aguardam, promete a propaganda.

O trecho menos glamouroso é entre o avião e o ônibus. O aeródromo de Porto Seguro é o único no Brasil que recebe voos internacionais a ser administrado por uma empresa privada. O feito é anunciado com orgulho no site da Sinart. A propósito, a sigla vem de Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário Turístico. Seu forte são as rodoviárias.

A convivência no veraneio é pacífica entre descolados e deslocados. A praia é grande e demarcada. Na ponta de areia formada pelo encontro das águas doce e salgada há uma pororoca diária. Nada a ver com as marés. A onda é humana e corre do rio para o mar.

Uma vez por dia, outra parte da "família CVC" desce desde Cabrália a bordo de duas chalanas. Centenas de alegres turistas vão passar algumas horas nos guarda-sóis e barracas que os esperam na barra. Muitas caipirinhas e águas de coco depois, voltam ao seu porto seguro.

À distância, a cena da prancha caindo sobre a praia, seguida do aglomerado deixando a chalana em ordem unida, poderia lembrar o movimento das balsas que povoaram as fazendas de pecuária da região do Araguaia, no sul do Pará, nos anos 70. Mas boi não dança axé.

A rotina silenciosa de Santo André é quebrada momentaneamente por uma terceira vaga diária. São as escunas que descem o rio e passam ao largo da costa até Coroa Grande. A cada rajada de vento ouvem-se, na praia, trechos entrecortados da música de bordo: "muito assanhada (...) lapada (...) rachada".

Na maré baixa, o horizonte divisa um ilhote de areia avermelhada e o que parecem centenas de gravetos espetados n"água. São, na verdade, os passageiros das escunas, passeando pelas faces descobertas de uma extensa barreira de coral, a quilômetros da costa. Na volta, eles param para almoçar em um restaurante à beira-rio.

Nenhum morador dá pistas de estar ficando milionário, mas o dinheiro circula. E assim, graças cada vez mais ao turismo de massa e cada vez menos ao exclusivismo da classe A gargalhada (A-A-A...), Santo André vai passando seus verões, sem perder a tranquilidade.

Não foi preciso reivindicar um policial permanente para a vila. Se alguém rouba algo, dizem os andreenses, avisa-se os operadores da balsa, e a cana aguarda o imprevidente larápio do outro lado da travessia.

Para muitos. O Costa Brasilis em Santo André está longe de ser único. Dezenas de milhares de brasileiros têm, cada vez mais, comprado seu lugar ao sol em resorts, sempre em módicas prestações.

Silvio Tendler: Itália não quer justiça, mas vingança


É, mas tem ainda alguns abestalhados que acham que Battisti vai fazer turismo na terra de Berlusconi.



"Paira sobre Cesare Battisti o mistério que cerca sua história. Existem muitas lacunas sobre os fatos. Somos tratados como duzentos milhões de pobres coitados que temos que nos curvar diante da vontade da Itália soberana.

Por Sílvio Tendler, em carta aberta aos magistrados brasileiros


O caso Battisti, sua história de refugiado começa quando é acolhido na França de Mitterrand, torna-se escritor e vive em paz. A França vira à direita, a Itália pedindo a extradição e Battisti é expulso "à la française" para atender à pressão Italiana: não extradita, mas estimula "a fuga". Dá o passaporte e os meios para a fuga. Tudo providenciado pelo serviço secreto francês que monitora a viagem. O Brasil acolhe um perseguido, como sempre fez ao longo dos tempos. A França inicia o jogo da batata quente.

Battisti é preso como tantos outros italianos perseguidos que se refugiam aqui. Os outros foram libertados. Battisti vira questão de honra e termina refém de um conflito de poderes que termina numa salda surrealista: O STF vota pela expulsão, mas devolve ao Presidente da República o poder decisório.

O Presidente da República em seu último dia de governo toma a atitude que parecia justa e a mais adequada dentro das tradições brasileiras, a de conceder refúgio aos perseguidos por razões políticas. Prerrogativa constitucional e reconhecida pelo STF, que mesmo acreditando que Battisti deveria ser extraditado devolveu o poder de decisão ao Presidente da República. O jogo da batata quente continua.

O presidente do STF puxa de novo o poder decisório para o tribunal atendendo à pressão italiana. O suspense está no ar. O Presidente Italiano manda uma carta a Presidente Dilma Rousseff pedindo a extradição. A Presidente responde que a decisão está nas mãos do STF. A Presidente Dilma devolve a batata quente ao Supremo.

A Itália, berço do direito, hoje não tem sede de justiça, mas desejo de vingança e vem transformando Cesare Battisti na fera a abater.

A Itália que quer se vingar de sua própria história (sim, o caso Battisti é um caso de vingança histórica) não é a Itália de Dante mas a Itália que durante o pós guerra afogou-se em escândalos e conluios entre a máfia e o fascismo que destruiu partidos e dirigentes políticos em escândalos de corrupção e que levou milhares de jovens italianos ao desespero político, encontrando como única porta de saída a resistência armada. E o Brasil vem sendo fustigado, intimidado e ameaçado como se fosse uma republiqueta centenária desafiando a milenar cultura italiana.

Para os que pretendem entender aqueles tempos tumultuados da história política da Itália, recomendo assistir a "Cadáveres Ilustres" (1976), do mestre Francesco Rossi baseado em obra homônima do escritor Leonardo Sciascia. O filme aborda a crise da democracia Italiana e trata do assassinato do secretário geral do Partido Comunista Italiano. A mais pura ficção. A crise do estado italiano está ali no romance e no filme denunciando a conspiração entre políticos, magistrados e militares contra o Estado democrático.

Pouco tempo depois, a história, a de verdade, registrava a tragédia do sequestro e assassinato do democrata cristão Aldo Moro.

Este assassinato quase pôs a pique a democracia italiana. A direção da democracia cristã e a do Partido Comunista recusam-se em negociar com os ensandecidos das Brigadas Vermelhas, alegando a "defesa do Estado Democrático", como se a vida de um homem valesse menos do que um princípio. Além da vida de Moro, o episódio custou muito caro à democracia italiana.

A podridão do ambiente político italiano terminou culminou com a dissolução da própria Democracia Cristã e do Partido Comunista.

A crise italiana daquele período pós-guerra e marcada por feridas ainda não cicatrizadas que desembarcam no governo Berlusconi o que exige uma reflexão maior e pede uma revisão histórica urgente. Não é esse nosso papel aqui. Estamos à beira do julgamento que decidirá o futuro de um homem, o que já é muito.

Nós, os brasileiros, continuamos absolutamente desinformados sobre a história desse homem que terá seu destino determinado por um gesto nosso. E olha que ele já está preso por aqui desde 2007, tempo mais do que suficiente para mandar uma missão para investigar na Itália a verdadeira história de um julgamento cheio de lacunas e cantos escuros.

Só quem desconhece a história italiana dos anos 70/80 é que compra sem reticências a versão do governo italiano. A mídia comprou a versão italiana e publica acriticamente tudo que chega de lá. A última bazófia tornada pública foi a de que a Comunidade Européia aprovou com 86% dos votos uma moção recomendando ao Brasil que extraditasse Battisti. A realidade foi bem diferente: À sessão compareceram apenas 11% dos parlamentares, a imensa maioria, de italianos. E repercute como se houvesse uma grande unanimidade em torno da extradição de Battisti.

Cesare Battisti foi acusado de cometer dois crimes a 400 kms de distância um do outro, com poucas horas de diferença, no mesmo dia. Ninguém foi questionar a veracidade da informação. Inexplicável mesmo é que ninguém se interesse em saber a versão de Pietro Mutti, o "capo" das Brigadas Vermelhas e principal acusador de Battisti. Onde está? O que faz hoje em dia? Os outros delatores são encontráveis, como Cavallina e o segundo principal delator se chama Sante Fatone e agora mora na Calábria. Talvez esse também possa ser encontrado.

Em sua cela na Papuda, penitenciária de Brasília, Cesare Battisti aguarda a decisão sobre seu destino que tanto poderá ser a liberdade, as ruas, o convívio com a família, amigos, a reintegração na sociedade ou a prisão até a eternidade, a liberdade ou a prisão perpétua (pena que não existe no Brasil). A realidade é bem mais dura do que a ficção, até porque Battisti não é um personagem de papel, mas de carne e osso, nervos e sentimentos.

Vejo Battisti em sua cela e viajo em tantos outros injustiçados da história: Giordano Bruno, Antonio José da Silva, o judeu, Tiradentes, o capitão Dreyfus, Sacco e Vanzetti, Ethel e Julius Rosenberg, Elise Ewert, Olga Benário.

Insisto: não estamos discutindo justiça, mas vingança.

* Silvio Tendler é cineasta, diretor de “Os Anos JK”, “Jango” e “Utopia e Barbárie".


Portal Vermelho

Uma democracia de mentira



Enquanto sobe o tom da voz rouca nas ruas da Tunísia, do Egito, do Iêmen, da Argélia, do Marrocos e da Jordânia, em Israel, o país considerado pelo senso comum com uma democracia, nestes dias ocorreu a criação de uma comissão especial para investigar as atividades de cidadãos e grupos de esquerda.


No mais puro macarthismo, a extrema direita israelense, estimulada pelo Ministro do Exterior Avigdor Lieberman, uma figura nefasta e fascista, está vomitando ódio não apenas contra os palestinos, mas também contra israelenses de esquerda que, envergonhados, denunciam uma série de violações dos direitos humanos cometidas contra os palestinos. Os extremistas guiados por Lieberman acusam de “financiados por terroristas” os grupos progressistas israelenses que denunciam a ação do Exército nos territórios palestinos.


A mesma extrema direita israelense mais uma vez utilizou-se do Holocausto, lembrado no Dia 27 de janeiro, para aparecer como vítima. De fato são seis milhões de judeus assassinados pelo nazismo na II Guerra, juntamente com outros segmentos como ciganos, eslavos, comunistas, socialistas, homossexuais, seres humanos com problemas mentais etc.


Realmente, o Holocausto ser lembrado por extremistas como Lieberman, Benyamin Netanyahu e outros do gênero, é não apenas uma hipocrisia, como até mesmo ofensivo às próprias vítimas da bestialidade nazifascista do século passado. Exatamente porque, segundo denúncias dos próprios israelenses, estão vestindo a camisa do opressor de ontem, os nazistas.


Quem imaginava que isso pertencia ao passado, engana-se. Lieberman e Netanyahu são exemplos concretos de que o ideário extremista continua vivo. O Ministro do Exterior de Israel, egresso da extinta União Soviética, pregou em várias ocasiões uma solução final contra os palestinos e manifesta claramente ódio aos árabes. .


Quem veste a camisa do racismo não tem condições morais de falar em Holocausto, no caso de Lieberman & Netanyahu, aproveitando o sentimento de repulsa da humanidade pela barbárie da II Guerra Mundial para usá-la em proveito de uma ideologia que prega também o ódio e a exclusão do outro.


Imbuída pelo sentimento de repulsa pelo que o governo Netanyahu continua a fazer com os palestinos, inclusive os residentes no território israelense, considerados pelas autoridades sionistas na prática como cidadãos de segunda classe, a esquerda israelense não se cala, exatamente para mostrar ao mundo que há repúdio interno em relação às atrocidades contra os palestinos.


A resposta foi dada pelo Parlamento, onde a direita tem maioria e, como afirma o jornalista israelense Gideon Levy, do jornal Haaretz, “o que este governo está fazendo ruborizaria até (Joseph) McCarthy”, o senador estadunidense que promoveu uma caça às bruxas nos anos 50.
Como temas desta natureza dificilmente são apresentados nos jornalões e telejornalões, não só do Brasil como pelo mundo afora, é necessário que a opinião pública seja informada do que está acontecendo em Israel e nos territórios palestinos, isso para evitar que o atual governo extremista de Netanyahu &Lieberman e outros do gênero continue levando adiante na prática a eliminação do outro, ou seja, do povo palestino. O jornal Brasil de Fato foi o único por estas bandas a informar a vergonhosa caça às bruxas.


Por sinal, mais dois países da América Latina, o Paraguai e o Peru, acabaram de reconhecer o país Palestina com as fronteiras de 1967, somando-se ao Brasil, Argentina, Uruguai, Equador, Bolívia etc. Os respectivos governos, alguns não de esquerda, não se dobraram as pressões do lobby sionista.


Enquanto isso, depois dos tunisinos terem mandado para o lixo o ditador-ladrão Ben Ali, os egípcios estão dando o claro recado de que não suportam mais Hosny Mubarak e o seu regime corrupto e autoritário, que além de governar o país com mão de ferro há mais de 30 anos é o principal responsável pelo arrocho salarial, pobreza e desemprego, para não falar da subserviência aos Estados Unidos, que banca o governo com uma polpuda mesada de 1,3 bilhões de dólares anuais para se alinhar a Washington.


A voz rouca das ruas no Egito e Tunísia é clara: chega de ditaduras, de submissão ao Fundo Monetário Internacional, que em 2007, juntamente com o Fórum Econômico Mundial para a África, considerava o país do ex-ditador Ben Ali o mais competitivo do continente, mais inclusive do que a África do Sul. E tudo isso com a chancela dos sucessivos governos estadunidenses nos últimos 30 anos.


Embora os povos tenham perdido o medor da violenta repressão há também o perigo dos ditadores abandonarem o cargo, mas o regime continuar o mesmo, havendo apenas uma troca do seis pelo meia dúzia. Daí Mubarak nomear pela primeira vez em 32 anos um vice, o chefe da inteligência, Omar Suleiman. Pode ser até que esteja preparando o terreno para cair fora e deixar em seu lugar alguém que mantenha o mesmo esquema de dominação que levou os jovens a ir para as ruas protestar e pedir o fim do regime chancelado pelo Ocidente.


Quando este artigo estava sendo elaborado veio a informação do Cairo sobre a proibição do canal da Al Jazeera de atuar no Egito. Coisas de uma ditadura. Resta saber se as entidades internacionais que se consideram defensoras da liberdade de imprensa vão protestar. E o que dirão os governos ocidentais?


Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação

Que se cuidem os manipuladores



A história do desenvolvimento da comunidade humana certamente se confunde com a evolução dos mecanismos de comunicação e informação que, ao longo do tempo, o homem foi estabelecendo. Primeiro prevaleceu a oralidade, e houve um tempo em que era em torno da fogueira que aconteciam as narrativas dos mais velhos, que buscavam perpetuar o conhecimento de fatos passados e sobre eles apresentavam sua visão de mundo , transmitida para os atentos ouvintes de então.


De lá para cá, muitos momentos construíram a evolução desse processo informativo , com as primitivas formas de escrita passando pelas marcas nas cavernas, pelo papiro e o pergaminho. Mas o marco divisório surgiu com o advento da imprensa, pela óbvia ampliação das possibilidades de acesso múltiplo ao conhecimento.


Entre os dias da invenção de Gutenberg e o nosso tempo, muita notícia aconteceu, veiculada pel o telégrafo, o telefone, o rádio. O rádio, aliás, ainda hoje imbatível quando se trata de atingir a todos os rincões, mantém, para os saudosistas como eu, a possibilidade de nos fazer , de alguma forma, participantes daquilo que nos é transmitido , pois a imaginação complementa o que é captado pelos ouvidos . Quem viu “A Era do Rádio”, sabe como Woody Allen trata do tema com maestria insuperável. E quem ouviu, por anos, o “Repórter Esso”, quem viveu emocionado os seriados dos heróis da Rádio Nacional e as quase pioneiras e não menos heroicas transmissões esportivas dos jogos da seleção brasileira no exterior, sabe bem onde, pel o rádio, nos levava a imaginação.


Não morreu o rádio, mas é inegável a supremacia que sobre ele a televisão acabou por exercer, com a sedução da imagem, da cor, dos efeitos especiais, dos avanços tecnológicos. A televisão é um dos ícones do planeta globalizado, abrindo com imagem e som o mundo aos nossos olhos e ouvidos. Com sua magia, vem sendo, ao longo das últimas décadas, o principal veículo de informação das grandes massas , assumindo, em muitos lugares – e o Brasil é um exemplo – uma posição de tal hegemonia que o seu noticiário acaba determinando comportamentos e fundamentando posicionamentos por parte dos espectadores.


Por isso, não é um assunto menor – e que apenas deva ser tratado à luz de superficiais afirmações de liberdade – a discussão sobre um efetivo controle da informação prestada pela grande mídia (a TV em particular). É fácil perceber que, ao longo do tempo, ela foi assumindo status de poder, introduzindo visão ideológica parcial e postura de partido político quando da veiculação de notícias e, nesse sentido, manipulando a informação , nela inflacionando alguns aspectos e minimizando outros ao sabor de suas conveniências. Vimos isso nas eleições, com a hipocrisia de um comportamento partidário que procurava afirmar-se imparcial. Vemos isso no aproveitamento sensacionalista e não raro tendencioso com que alguns jornalistas tratam as grandes desgraças nacionais (em algum lugar, li a expressão “showrnalismo”), nelas vendo a mórbida oportunidade de fazer proselitismo político. Não se nega a função social da mídia, mas é preciso repudiar sempre a manipulação da notícia, o tratamento comprometido dos fatos.


Aqui, duas menções a artigos do DR. O primeiro, do Urariano Mota, que fala dos profissionais assessores (ou serão “assessores profissionais”?) dos governos militares e mostra com clareza os seus comprometimentos – não muito diferentes dos da atualidade – com ideias que sabotam a notícia a serviço de outros interesses. O segundo, da Leila Cordeiro (“O que acontece com o JN?”), que revela como funciona (ou não funciona) o Jornal Nacional e aponta caminhos para a informação qualificada e democrática.


Na caminhada da Humanidade, não há lugar para pessimismos e, apesar de tudo, há fortes sinais de que, no campo da informação, os ventos estão começando a soprar em outra direção, que não a da desfaçatez que “ideologiza”, “comercializa” ou “espetaculariza” a notícia. Está aí a internet, que não faz milagres, mas, mesmo com certos desvios éticos indesejáveis, experimenta crescimento exponencial como instrumento que tem o saudável e avassalador poder de privilegiar a pluralidade e a diversidade no campo da informação. Ela permite que o até então ingênuo ouvinte ou espectador se transforme em autor da própria notícia, fazendo dele o informante e o informado, pela aberta e democrática possibilidade de filtrar o que interessa, comparar posicionamentos, exercitar juízo crítico, construir (ou reconstruir) a notícia. Ela enseja, além disso, (ou por isso), uma alteração de rumos e de tráfego da notícia, não mais em um caminho de mão única típico de quem manda e quem obedece, próprio de estruturas midiáticas tradicionais. Ela vem obrigando os Governos a um exercício de transparência capaz de, aí sim, agregar valor às informações governamentais.


Nesse sentido, volto a um artigo do DR, desta vez do Eliakim Araújo, que apresenta dados estatísticos relativos à crescente “perda de audiência” que se vem registrando na TV aberta em relação a outras mídias, o que inclui, obviamente, os programas jornalísticos.


A verdade, já se disse, é que informação é poder e democratizá-la é diluir esse poder, estendendo-o socialmente e fortalecendo os princípios da cidadania. Esse é um imperativo da sociedade do nosso tempo. Que se cuidem, portanto, os manipuladores...



Rodolpho Motta LimaAdvogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil .Fonte:Direto da Redação.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O vexame dos brasileiros que defenderam o golpe em Honduras



Se tivéssemos uma imprensa séria e profissional de verdade no país, determinados “comentaristas políticos” já teriam sido despachados e as empresas que eles trabalham veiculariam desculpas pelas asneiras que disseram. Como não são e ainda duvidam da inteligência de quem os lê, vê e ouve, fica tudo por isso mesmo e quem falou ou escreveu a sandice continua ocupando espaço, ignorando solenemente a necessidade de se explicar ao distinto público.

por Bruno Ribeiro, no blog A Trincheira


Poderia citar aqui vários jornalistas e comentaristas que usaram os mesmíssimos argumentos, e isso mostra como a maioria reza pela mesma cartilha, mas dentre todos os entoadores de mantra ninguém defendeu o golpe em Honduras com mais paixão e afinco do que Alexandre Garcia e Arnaldo Jabor.

Quando em 2009 os milicos tomaram o poder em Honduras, expulsando o presidente eleito legitimamente, a opinião pública internacional condenou de imediato. O comportamento da imprensa nacional foi esquizofrênico, fazendo eco a princípio com a reação internacional, mas logo em seguida mudando lentamente de posição, até defender abertamente a “legalidade” de um vergonhoso golpe de estado.

Assim que o Brasil assumiu posição de protagonista ao enfrentar os golpistas e dar abrigo ao presidente legítimo na sua embaixada em Tegucigalpa, esse pessoal que ficou responsável por defender a legitimidade do golpe frente à opinião pública brasileira começou a repetir os argumentos fajutos dados pelos golpistas para tentar justificar o atentado contra a democracia daquele país.

Afirmaram enfaticamente que o golpe era legítimo porque Zelaya tentara mudar a constituição. Na verdade, o que Zelaya tentou fazer foi um plebiscito onde a população decidiria se o presidente poderia ser reeleito ou não. Muito mais democrático do que tentar o mesmo através de emenda constitucional, sem respaldo popular como fez FHC em 1997.

A desculpa oficial para justificar o golpe era uma cláusula pétrea na constituição que impedia a reeleição do presidente, portanto passaram a defender que não existiu golpe nenhum, e da mesma forma que vivem tentando reescrever a nossa história, determinaram que o que houve em Honduras em 2009 e no Brasil em 1964 foram “contra-golpes”.

Nem o fato do governo golpista ter fechado TV, rádios e jornais à força, além de ter reprimido com violência manifestações populares mexeu com os brios de quem trabalha com imprensa ou estimulou condenações contra a restrição às liberdades de imprensa. Até a população que protestava contra o golpe e tomou as ruas de Tegucigalpa, chegando a fazer um cerco de proteção à embaixada do Brasil foi classificada como “partidários de Zelaya” e não “dissidentes” como eles costumam classificar opositores de regimes que eles consideram ditaduras.

A humilhação já tinha vindo com uma das revelações do Wikileaks onde o embaixador americano em Honduras classificou o golpe como golpe, simples assim. Logo os EUA, por quem essas pessoas dedicam toda a sua reverência, vem a público ridicularizar suas teorias de “golpe branco”. Naquela ocasião já deveriam ter pedido o boné, como se diz no popular, mas o castigo tinha de ser maior.

Pois bem, nessa semana o governo atual de Honduras, eleito em pleito não reconhecido pela maioria dos países, inclusive o Brasil, e o congresso daquele país aprovaram, em uma ação pouco noticiada pela imprensa brasileira, uma modificação na constiuição que permitirá a reeleição do presidente. Exatamente o que Zelaya tentou fazer e virou desculpa para o golpe de estado.

Alexandre Garcia e Arnaldo Jabor não vão se explicar, vão continuar com espaço para falar o que o diretor de jornalismo da Rede Globo e os diretores da emissora gostariam de dizer, mas não tem coragem, no entanto, a cada dia mais gente vai entendendo o papel a que essas se prestam.

Mídia e corrupção


Corromper ou subornar são verbos tão antigos como a própria história da humanidade. No Brasil, vão desde aquela singela cervejinha para o guarda de trânsito – mais conhecida como o “jeitinho brasileiro” – até o que Chico Buarque expressou genialmente em “Vai Passar”:

Dormia a nossa Pátria mãe
tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações

Os mecanismos de “subtração” aos quais Chico se referia florescem muito mais onde não há democracia, direitos humanos e justiça social. No Brasil, ganharam maior consistência nos bastidores da ditadura militar, onde a classe política foi imobilizada após o fechamento do congresso pelo AI-5 em 1968. Num cenário destes, qualquer “favorzinho” era negociado na base de propina. Do segundo escalão para baixo do governo militar, a corrupção corria solta enquanto a “Pátria mãe dormia”.

Muita gente usou deste recurso, muitas empresas cresceram quando tiveram “visão de mercado” aliando-se aos governos militares de forma pragmática. Falha e Globo são exemplos clássicos disso.

Quando recebeu das mãos dos militares a concessão pública para operar em território nacional, a Globo era associada ilegalmente ao grupo americano Time-Life. Significa que além de darem suporte logístico e até militar aos generais (frota marítima americana estacionada na costa brasileira pronta para qualquer intervenção que se fizesse necessária para garantir a “normalidade da ordem golpista”) – os americanos também atuaram na outra ponta do esquema. Para sustentar-se, o governo militar precisava ter voz e apoio na mídia. Isso é fundamental em qualquer golpe (até o surgimento da Internet). Assim, associados à Time-Life que injetou o capital necessário, os militares e o jornalista Roberto Marinho vitaminaram o grupo Globo – Jornal e TV para tornarem-se a potência que são hoje. As diretrizes básicas: alinhamento e subordinação total do país aos interesses americanos na região.


Devemos lembrar que naquela época, os monopólios midiáticos ainda estavam engatinhando no Brasil. A Record – que era a vanguarda da TV brasileira – possuía uma única emissora e um auditório com estúdio na Rua da Consolação. Silvio Santos começava a engatinhar com seu Baú e o horário “nobre” da Globo era um pastelão de luta livre que apresentava Ted Boy Marino – o “galã” da emissora. Havia um enorme espaço a ser ocupado para quem incorporasse a ideologia de subserviência aos EUA. A Falha era um jornaleco provinciano. Ofereceu-se como uma prostituta barata à ditadura. O Estadão representava a ultradireita 100% nacionalista.

No ambiente de 64 e nos anos que se seguiram, os caminhos eram estreitos: hipocrisia ou clandestinidade. No prisma da hipocrisia formaram-se políticos como Maluf e Serra. Um lambeu muita botina de milico até adquirir “maioridade” e caminhar com as próprias pernas, recebendo verbas públicas através do voto popular. “Roubou mas fez” – como dizem os paulistas “espertos” que o fazem campeão de votos em cada eleição que participa. O outro chutou a UNE para o alto e deu no pé quando sentiu o cheiro de botina de milico. Só retornou para lamber os sapatos da elite paulista e através dela e de sua imprensa, conseguir eleger-se a cargos públicos.

O exemplo mais grave de corrupção no Brasil deu-se no final do primeiro mandato de FHC: a compra de votos parlamentares para aprovar a emenda constitucional que garantiria a reeleição do presidente. Foi um golpe de estado do colarinho branco. E, mais uma vez, precisava da mídia. Ou melhor, de sua omissão. O PIG não fez cerimônia: tratou o caso como um mexerico que não merecia mais do que algumas notas de rodapé em seus jornais. Há transgressão maior do que corromper para obter mais um mandato?

Já em 2005, as doações ao caixa dois do PT – que foram usadas para o financiamento de campanhas de diversos parlamentares e envolveram TODOS os partidos – foram um banquete para o PIG. A partir da denúncia de Roberto Jefferson (que embolsou R$ 4 milhões) armou-se um circo “nunca antes visto neste país”. Em seu embalo golpista, a imprensa amplificou e batizou o esquema de Mensalão. Plantou a idéia de que as verbas do esquema eram roubadas dos cofres públicos através de um labirinto de factoides e personagens emaranhados em intermináveis conexões. E essa percepção continua a ser alimentada ou, para se dizer o mínimo, nunca foi contestada. Até hoje não foi provado que o tal Mensalão era um procedimento mensal. Muito menos que utilizava verbas públicas. Rendeu a cabeça de José Dirceu, e quase derrubou Lula. José Dirceu, aliás, não renunciou para garantir elegibilidade, como a maioria dos acusados fez na época. Preferiu submeter-se à cassação e perder seus direitos políticos convicto de que, mais tarde, provaria sua inocência. A conferir.


Enquanto FHC e os que o antecederam controlavam a mídia e a Polícia Federal, engavetando denúncias e processos de diversas falcatruas que “subtraiam a Pátria”, Lula fez o oposto: deu total autonomia à PF e não impediu nenhuma CPI. Isso gerou números bem contrastantes (veja aqui). E o PIG tratou de configurar estes números como uma avalanche de corrupção orquestrada pelo PT. Colou? Além de colar fácil nas cabeças preconceituosas que não admitiam um operário ser presidente, também criou uma legião de cães raivosos empesteando a sociedade com palavras de ordem fascistas.


O episódio do Mensalão ainda aguarda julgamento para ser passado a limpo. É uma dívida que a justiça e o PT têm com a sociedade brasileira. E a imprensa corrupta e golpista? Continuará impune até quando?


Dilma: Argentina é fundamental para nossa política externa



A presidente Dilma Rousseff disse em entrevista a jornais argentinos que a parceria entre o Brasil e a Argentina interessa muito ao governo brasileiro e que, por isso, a Argentina é o primeiro país que ela visitará após a posse. A presidente também falou da relação com outros países da América Latina e com os Estados Unidos. Dilma sairá de Brasília rumo a Buenos Aires neste domingo (30).

A importância de reforçar a parceria entre Brasil e Argentina e, deste modo, sinalizar aos demais países da América Latina que é possível ter mais presença e ação no cenário internacional levou a presidenta Dilma Rousseff a decidir que a primeira viagem internacional fosse para a Argentina. Essa explicação foi colocada em entrevista aos jornalistas dos três importantes jornais daquele país: La Nacion, Clarín, Página 12. Além disso, a presidente Dilma assegurou que terá uma “relação extremamente próxima” com a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner:

“O Brasil e a Argentina podem fazer isso, e podem fazê-lo de forma mais efetiva quanto mais próximas nossas economias se articulam e se desenvolvam e criem laços em que ambos os povos ganhem com essa aproximação, em matéria de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento tecnológico, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro e argentino.”

A seguir os principais trechos da entrevista concedida pela presidente Dilma Rousseff aos jornais argentinos La Nacion, Clarín e Página 12.

A importância da mulher na quebra de preconceitos


“Olha, eu acho uma coisa a ser comemorada, porque eu acho que os dois maiores países aqui, do Cone Sul, estão dando uma demonstração que as suas sociedades evoluíram no sentido de superarem o tradicional preconceito que existia contra a mulher. Veja que são sociedades que têm essa evolução no Sul, no Sul do mundo. E, para mim, é algo bastante significativo que também aqui nós tenhamos esse exemplo, que foi a eleição de um índio, na Bolívia, e de um metalúrgico antes mim aqui, no Brasil. Então, eu acredito que a América Latina, ela está dando um exemplo para o mundo de que certos preconceitos, certos bloqueios econômicos e sociais estão sendo superados. Eu acho que representa uma maior democratização das nossas sociedades e dos nossos países. E acredito que a presença da mulher aqui vai significar também a possibilidade de que em outros países da América Latina, como nós já tivemos, no Chile, a presidenta Bachelet, nós tenhamos também outros países em que a mulher seja eleita.”

Relação Brasil e Argentina

“Eu pretendo ter uma relação extremamente próxima com a presidenta Kirchner. Eu pretendo ter essa relação, primeiro, porque o Brasil e a Argentina, eu acho que são os países que têm responsabilidade, perante o conjunto da América Latina, de fazer com que a nossa região seja cada vez uma região com presença e ação no cenário internacional. O Brasil e a Argentina podem fazer isso, e podem fazê-lo de forma mais efetiva quanto mais próximas nossas economias se articulam e se desenvolvam e criem laços em que ambos os povos ganhem com essa aproximação, em matéria de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento tecnológico, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro e argentino.”

A primeira viagem internacional


“Por isso, o primeiro país que eu vou visitar é a Argentina. Porque eu acho que é o país irmão do Brasil. Não estou diminuindo nenhum outro país, como o Uruguai, Paraguai, a Colômbia, Venezuela, o Peru. Mas eu quero dizer que é algo que eu acho até que é intuitivo, do ponto de vista político, para os outros países… É de todo importante que o Brasil e a Argentina estejam juntos. É algo, eu acho, extremamente amigável também para os outros países. Não é uma relação de hegemonia que o Brasil e a Argentina estão tendo em relação ao resto da América Latina. Não. É porque temos um tamanho e um desenvolvimento econômico que nós podemos liderar.”

A experiência pessoal em exercer a Presidência da República

“A responsabilidade é bastante maior, ou seja, sobre os meus ombros pesa a responsabilidade de dirigir um país da dimensão do Brasil, com os desafios que o Brasil tem. Eu venho de uma experiência de governo muito bem sucedida. Mas eu tenho clareza de que muito foi feito. Eu participei do outro governo de forma muito próxima do Presidente. Na verdade, eu vivia aqui em cima, mudei para o andar de baixo. Ao chegar no andar aqui, de baixo, você encara uma responsabilidade muito maior, porque a decisão, em última instância, está na sua mão.”


“O Brasil é um país que muito realizou, mas tem grandes desafios pela frente, e são desafios enormes porque os números no Brasil são sempre maiores, aqui, do ponto do conjunto da América Latina. Nós temos aqui, no Brasil, uma série de, eu diria, assim, para ti, de desafios colossais. Exemplo: nós queremos erradicar a miséria no Brasil. Miséria, no Brasil, se mede… Hoje nós temos ainda algo como em torno de uns 15 milhões de miseráveis no Brasil, nós temos de enfrentar esse problema. E não podemos deixar que o nível de vida dos demais, que ascenderam às classes médias… porque houve uma revolução nesses últimos oito anos, nós conseguimos tirar da pobreza e de [fazer] chegar à classe média algo como 37, 38 milhões de brasileiros, se você contar até os dados não completamente fechados, de 2010.”

“Temos de continuar esse processo de elevação do nível de vida da população brasileira, portanto, temos de manter o nível, também, de crescimento econômico, para garantir emprego para esse… para todos os brasileiros que têm condições de trabalhar. Não é só o programa de transferência de renda, como o Bolsa Família, mas é a geração de milhões de empregos. Sem isso, um país como o Brasil não consegue fazer face aos seus desafios.”

“E nós temos um desafio educacional também. Nós temos de conseguir combinar não só uma melhoria radical na nossa educação, da qualidade da nossa educação, para as crianças e adolescentes, mas nós temos um grande desafio na profissionalização, porque hoje o Brasil tem um problema de quase pleno emprego.”

Os desafios brasileiros

“No governo a gente sempre corre contra o tempo, não é? Eu tenho corrido contra o tempo, contra quinhentos anos de abandono da população brasileira. A gente corre contra o tempo quando eu falo em reduzir a pobreza no Brasil. Agora, no caso específico que você levantou, nos dois específicos, primeiro, nas enchentes, eu acho que no Brasil nós temos de caminhar e nós temos condições tecnológicas para isso. Nós temos condições de recursos humanos para isso, temos recursos financeiros para isso. Nós temos de caminhar para um sistema que não é que acabe com as enchentes, você vai ter sempre acidentes climáticos, mas que acabe e que elimine e que reduza ao mínimo o número de mortes. Então, desde um sistema de alerta de enchentes, passando portanto… de prevenção, por todo um investimento em infraestrutura, que é a drenagem para não ter… para quando os rios encherem você não ter alagamento de residências, de empresas ou, se tiver, ter um nível de segurança não deixando as pessoas morarem na beira dos rios e correrem risco de vida. A mesma coisa para a encosta de rio. No Brasil, você entende porque isso aconteceu. Depois da crise da dívida, em 1982, nós tivemos um período muito grande sem grandes investimentos em infraestrutura e em projetos sociais. Por exemplo: nós não tivemos grandes planos habitacionais no Brasil. Então, a população não tinha acesso à moradia…

A imagem do país para o mundo

“Eu tenho certeza que será uma ótima imagem. É uma imagem de um país que vem de um processo, eu acho assim, muito perverso, de ser um dos países mais desiguais do mundo, mudando esse perfil progressivamente, se transformando numa economia das… numa grande economia, uma grande economia emergente. E, ao mesmo tempo, um país que tem maturidade para resolver seus problemas.”

O cumprimento dos contratos


“Mas eu vou te dizer uma coisa: eu acho que cada país tem os seus problemas e tem as suas condições históricas e as suas explicações. No Brasil, nós tivemos um processo. Esse processo, ele levou anos amadurecendo. Obviamente, você tem conhecimento que os países mais estáveis do mundo como a Inglaterra, o Reino Unido… o Reino Unido quando acha que um contrato está desequilibrado, econômica e financeiramente, para o consumidor, chama uma audiência pública e muda os termos do contrato. Fizeram isso duas vezes no setor elétrico. Então, depende, cada país tem um processo de construção da institucionalidade, diferente. A maturidade de alguns sistemas pode levar a que eles alterem as condições do contrato. Por que eles fizeram isso, se você pegar os contratos de energia elétrica do Reino Unido? Porque eles achavam que o ganho obtido pelos grandes produtores de energia era excessivo, que não era esse ganho de energia, de… ou seja, não era aquela lucratividade que o sistema comportava, então, naquele momento, eles tinham de diferir. O que eles tinham de fazer? Eles tinham de mudar as condições em que o contrato dizia que seriam passados para o setor dos consumidores os ganhos obtidos de produtividade. Eles inventaram, inclusive, na época, um fator chamado fator X, que pelo qual eles transferiam os ganhos de produtividade para o consumidor.”

A desvalorização monetária

“Acho que o Brasil e a Argentina estão sofrendo – e todos os países emergentes, isso é público e notório – estão sofrendo as consequências da política de desvalorização praticada pelos países em questão, pelos dois grandes países do mundo. Acho que nossa posição no G-20 vai ter que ser cada vez mais uma posição de reação a esse fato, a essa política de desvalorização, que sempre levou a situações muito problemáticas no mundo, a chamada desvalorização competitiva. Eu desvalorizo a minha moeda para competir com você. Essa política levou a várias crises econômicas, aliás, a várias disputas políticas, disputas econômicas. E ela não é boa nem para o Brasil, nem para a Argentina, nem para nenhum país emergente. Nós achamos que os Estados Unidos, em especial, que detém a moeda que é reserva de valor, tem de levar em consideração esse fato. Nós temos, hoje, 280 milhões… 88 milhões de dólares em reservas, em dólar. Então, para nós, também, é uma questão muito importante que não haja uma perda de valor. A perda de valor da moeda que é reserva de valor é uma contradição. Achamos, também, que todos os países têm de… não podem aceitar políticas de dumping, mecanismos de competição inadequados, não baseados nas práticas mais transparentes, e que os países têm de reagir a esse fato. Agora, também sabemos que o protecionismo, no mundo, não leva a boa coisa. Instituir o protecionismo, você… as perdas não são restritas àquele do qual você está se defendendo, elas se espalham pelo sistema, é isso que eu quero dizer.”

A agenda da Presidente

“Olha, o foco da minha agenda é o seguinte: é o compromisso que o governo brasileiro mais uma vez assume, com o governo argentino, de uma política conjunta e estratégica de desenvolvimento da região. A gente, no caso da região, é uma posição o seguinte: o desenvolvimento do Brasil, ele é um desenvolvimento que tem de beneficiar o conjunto da região. Dou um exemplo: nós vamos ter uma política muito forte para gerar a política de fornecedores na área do pré-sal. Nós temos essa política, a gente chama “política de conteúdo nacional”. Nós cogitamos de uma política de conteúdo regional, conjunta, com a Argentina. Nós cogitamos de uma agenda em que a Argentina e o Brasil, do ponto de vista de serem países com grandes recursos alimentícios, com grandes recursos, eu diria, energéticos, possam aumentar a agregação de valor e a geração de emprego na região. Nós queremos uma parceria na área de tecnologia e de inovação, com a Argentina. Nós queremos também uma parceria no uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos.”

Visita do presidente Barack Obama

“Eu acho que a relação do Brasil com os Estados Unidos, ela é uma relação histórica. Nós temos uma relação – acho que os demais países da América Latina também têm – histórica com os Estados Unidos. Essa relação, na medida em que os países foram se desenvolvendo, elas foram mudando. Hoje, por exemplo, fantasticamente, os Estados Unidos são superavitários na relação comercial com o Brasil. Obviamente, isso era inconcebível, até pouco tempo atrás. Por quê? É importantíssimo olhar os Estados Unidos como um grande parceiro comercial dos países da América Latina. Para o Brasil, os Estados Unidos foram – e sempre serão – um parceiro muito importante. Então, nós, a cada vez… a cada período, nós temos de melhorar cada vez mais, e mudar o patamar da relação. Tivemos uma experiência muito boa nos últimos anos, tivemos diferenças de opinião, agora, o que importa é perceber que essa é uma parceria que tem um horizonte de desenvolvimento muito grande. Então, nós consideramos que, a cada ano, nós vamos ter de virar as páginas do ano anterior. Um dos assuntos que a senhora também destacou muito é a sua política de Direitos Humanos. Eu queria saber como vai se traduzir isso na sua política externa. Você pode por em contexto como vai ser tratado… a senhora falou já do caso do Irã… com o respeito dos direitos humanos no Irã.”


Direitos humanos


“Olha, nós, pelo menos eu acho, em alguns momentos, eu até tive uma divergência pequena com o Itamaraty. Eu não vou negociar Direitos Humanos, ou seja, eu não vou fazer concessões nessa área. Agora, não acho que os Direitos Humanos sejam… o problema dos Direitos Humanos possam ser olhados como restritos a um país ou uma região. Essa é uma falácia. Direitos Humanos hoje no mundo é algo que nós temos de olhar no nosso país e em todos os países, não dá para só ver a trava no olho do vizinho porque, no caso dos países desenvolvidos, nós já tivemos episódios terríveis, eu acho que tem problema de Direitos Humanos. Aliás, eu e o mundo. Em Abu Ghraib; acho que teve problemas de Direitos Humanos, e ainda tem, em Guantánamo; agora, eu também considero que apedrejar uma mulher não é uma coisa adequada. Então, não vou, de maneira alguma, achar que não ser… que ter uma posição firme em relação a Direitos Humanos simplesmente é apontar com o dedo um país e falar: “Aquele ali é o país que não respeita”. É bom que cada um de nós olhemos, como a Bíblia diz, para a trava no seu próprio olho.

A situação de Cuba

“Acho que Cuba teve, com a libertação dos prisioneiros, deu um avanço, deu um passo na frente, nessa questão de Direitos Humanos, porque ela deu uma… fez um esforço e tem uma melhoria. E acho que ela deve continuar fazendo. No processo, inclusive, de… eu acho que de construção da saída de Cuba, pelo menos porque você vê o governo cubano dizendo que vai fazer, que é uma melhoria nas condições econômicas, democráticas e políticas do país. Agora, eu respeito também o tempo deles, respeito. Muitas vezes, a gente tem de entender o seguinte: que a política é feita em uma determinada temporalidade. Eu prefiro ali, em Cuba, eu prefiro dizer o seguinte: acho que há um processo de transformação, e acho que todos os países devem incentivar esse processo de transformação. E devemos protestar contra todas… Se houver alguma falha dos Direitos Humanos de Cuba, eu não vejo nenhum problema em falar: “Olha, está errado ali”, e tal; “Tem isso lá”. Qual é o problema? Podem fazer aqui no Brasil também. Nós não estamos dizendo que nós somos, aqui, um país que não tem suas dívidas com os Direitos Humanos. Nós temos.”

A Venezuela no Mercosul

“É importante a Venezuela entrar no Mercosul, e acredito que, para o nosso bloco, é muito bom que haja vários países, além dos que originariamente estavam no Mercosul, entrem no Mercosul, porque muda, eu diria, muda o patamar do Mercosul. Você veja que a Venezuela é um grande produtor de petróleo e gás. Ela tem muito a ganhar entrando no Mercosul, e nós temos muito a ganhar com a presença da Venezuela no Mercosul. Então, eu vejo com excelentes olhos a entrada da Venezuela, a participação da Venezuela. No caso específico da forma de governança dentro da Unasul, eu acho que está em um processo de negociação. Sempre que for possível se fazer rodízio, eu acho o rodízio um método muito bom, por quê? Porque nós estamos em uma reunião em que todos são iguais. É a tal da “távola-redonda”, não tem ninguém na ponta. Então, o rodízio é o mecanismo pelo qual nós vamos garantir que todos tenham a sua hora e a sua vez na direção. E a gente tem de respeitar a ida de cada país, porque ali é uma negociação entre países soberanos, Estados soberanos que querem juntar esforços no sentido de criar uma relação política, econômica e institucional que permita que a gente dê um salto para as nossas economias e a nossa sociedade. Nada mais justo que… cada um tenha a sua vez. Eu acho que isso é um princípio democrático, cada um… E um princípio democrático essencial entre países soberanos. Então, eu sou a favor disso, rodízio, tipo “távola-redonda”, ninguém é mais importante que ninguém; cada país, um voto.”


A surpresa positiva no primeiro mês de mandato

“Eu posso te falar uma coisa, eu fiz uma brincadeira. Mas eu não tenho muitas surpresas aqui. Eu vivi no centro do governo nos últimos seis anos. Então, a minha grande surpresa positiva, eu vou te dizer: foi muito bonita a minha posse, muito emocionante. Nesse último primeiro mês, que começou no dia 1º de janeiro e que termina agora no dia 31, ele abre com uma cerimônia ao mesmo tempo muito bonita e triste, porque eu estava subindo, aqui a gente chama, a rampa, e o presidente Lula estava descendo. Então, ao mesmo tempo que era bonita porque eu estava chegando, era triste porque eu participei diariamente com o presidente aqui no governo dele. Então, teve isso – foi muito bonito e muito triste. Agora, eu queria te dizer o seguinte: sempre é muito bom quando o teu povo te reconhece na rua, você entende? E o povo brasileiro é um povo muito afetivo, não é? E então, gritam; você está passando de janela aberta, gritam, te chamam. E é aquela intimidade, entendeu? É como se eu conhecesse cada um deles pessoalmente. Então, isso é muito bom. Eu ainda não tive uma triste, viu? Vou ter. Talvez eu tenha tido sim uma triste, bem triste, te digo qual foi: foi olhar o… você não imagina o que era a cidade de Nova Friburgo. Sabe? Foi um momento muito triste, porque você via pessoas que estavam perdendo os seus parentes, o desespero nos olhos das pessoas. E, ao mesmo tempo, para mim é um compromisso que nós temos de impedir que isso ocorra outra vez.



Fonte: Blog do Planalto

Haddad responde Serra por críticas sobre o Enem


30/01/2011

Mensagem publicada no Twitter do ex-governador José Serra, supostamente criada pelo apresentador de televisão Marcelo Tas, fez com que o ministro da Educação, Fernando Haddad, se pronunciasse, neste sábado (29).


No dia 19 de janeiro, Serra publicou em seu Twitter esta frase, atribuindo a autoria a Tas.


Todavia, a mensagem não estava mais publicada no perfil do apresentador do CQC neste sábado.
Haddad chamou de “histeria” as críticas da oposição. “Se teve falhas pontuais que podem ser superadas, você vai abdicar de um projeto transformador em função da histeria promovida por algumas pessoas com interesse político nisso? Eu acho realmente uma pena que algumas pessoas tenham dedicado tanto esforço para promover histeria ao invés de compreender a envergadura do projeto que está em curso”, criticou. Haddad também relembrou a Serra o papel que ele ocupa na história política recente do País. “Ele tem de responder pela administração dele. Acho pequeno a pessoa que pretendeu governar o País se aliar ao que tem de menor para fazer uma crítica desse tipo”.

O ministro acompanhou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em compromissos nas cidades mineiras de Viçosa e Ubá. Lula recebeu o título de doutor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), nesta sexta-feira (28), e uma comenda da Prefeitura de Ubá, neste sábado.

Fonte: Brasília Confidencial

Nicolelis: "Não existe imparcialidade"


Por: Ricardo Negrão, Rede Brasil Atual

Texto enviado pelo blogueiro Alisson Almeida, direto de Natal

Os blogueiros do Rio Grande do Norte fizeram uma prévia do encontro estadual que ocorrerá nos dias 25, 26 e 27 de março. E convidaram o neurocientista Miguel Nicolelis, que aderiu ao Twitter faz pouco tempo. O relato do encontro segue abaixo:

Em tempo: Em São Paulo, outros blogueiros também se reuniram neste sábado (29).

O movimento dos Blogueiros Progressistas do Rio Grande do Norte recebeu, na noite desta sexta-feira (28), o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke (EUA) e co-fundador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lilly Safra. O evento, realizado no auditório da Livraria Siciliano (Shopping Midway Mall), serviu como preparação para o 1º Encontro de Blogueiros Progressistas do RN, marcado para os dias 25, 26 e 27 de março.

O tema do bate-papo foi “Redes sociais, participação política e desenvolvimento da ciência”. Nicolelis iniciou dizendo que sua participação no evento demonstrava o poder dessas novas formas de comunicação. “Estou no Twitter há apenas 15 dias, mas já estou aqui para falar sobre redes sociais – mesmo sem saber nada sobre isso”, brincou, arrancando risos da plateia.

Em seguida, disse que o título da palestra poderia ser “Eu juro que eu sou eu”, fazendo referência ao debate travado com uma badalada blogueira potiguar, a quem teve que provar que seu recém-criado perfil no Twitter não era um fake.

Nicolelis aproveitou o episódio como gancho para tratar da questão da identidade no contexto das redes sociais. Ele sustentou que o modelo de mundo que conhecemos, bem como nossa identidade, não passa de uma “simulação” do cérebro. Emendou dizendo que a “cultura do ‘eu’ é uma ilusão”.

“Eu me defrontei com essa ilusão ao tentar provar que eu sou eu. Eu me engajei num debate com uma jornalista que foi uma das coisas mais fascinantes. Comecei a falar das minhas opiniões, primeiro sobre a política do RN, mas não funcionou”.

“Pare pra pensar: nós vivemos num mundo em que qualquer um pode ser eu, qualquer um pode assumir qualquer personalidade. O sucesso das redes sociais, em minha opinião de neurocientista, se deve, primeiro, a uma coisa que vou tratar no livro que será lançado no próximo mês. Daqui a algumas centenas de anos não vamos precisar disso aqui, teclado, celular… Nós vamos pensar e nos comunicar, nos amalgamar numa rede conscientemente sem a necessidade dessas coisas pouco eficientes, como os nossos dedos, os teclados… Nós já estamos observando, mesmo com os limites que temos, já vivemos os primórdios de uma sociedade onde a identidade real não faz diferença nenhuma”, discorreu.

O neurocientista destacou que as redes sociais “conseguiram fazer as identidades, às quais a gente se apegou tanto, desaparecerem”. “Você pode assumir o que você sempre quis ser, mas não podia por medo do preconceito. Nós ainda não conseguimos lidar com o fato que as pessoas são de diferentes matizes. As redes têm essa vantagem de permitir que as pessoas possam assumir [suas ideias] livremente”.

“Não existe isso de imparcialidade”

Após discorrer sobre as redes sociais e a dispersão da identidade, Nicolelis afirmou que a ideia da “imparcialidade”, tanto jornalística quanto científica, não passa de “balela”. “Como neurocientistas, estamos cansados de saber que não existe isso de imparcialidade, como pretendem os jornalistas. Não existe imparcialidade nem jornalística nem científica”.

Para comprovar sua sentença, relembrou a cobertura midiática das eleições presidenciais do ano passado, quando a imprensa tradicional, mesmo se dizendo “imparcial”, se alinhou à candidatura do candidato do PSDB/DEM, o ex-governador de São Paulo José Serra.

“O que aconteceu no Brasil na eleição passada foi a demonstração da falácia de certos meios de imprensa e do partidarismo que invadiu essa opinião dita imparcial. Mas o desmentido só ocorreu nesse lugar capilarizado chamado blogosfera. A guerra da informação foi travada aí. A eleição foi ganha na trincheira da blogosfera, porque os desmentidos eram instantâneos”, comentou.

Nicolelis defendeu que a “teia” – termo que disse preferir usar para se referir às redes sociais – que está se formando no Brasil “é um fenômeno mundial de relevância fundamental”. Para ele, a blogosfera teve um papel de destaque nas eleições de 2010.

“Essa teia já ganhou uma eleição do ponto de vista da informação, já derrotou o exército de uma mídia que tem opinião, mas que exerceu essa opinião sem dizer. Aí é que tá o engodo. A opinião é legítima, mas esconder que tem opinião não é”.

Miguel Nicolelis frisou que outro efeito provocado pelo surgimento dessa teia é o fato de considerar “inevitável a quebra do monopólio do conhecimento, da noticia e do fato”. “Cada um de nós pode ser o propagador de um fato, de uma interpretação do fato”.

Mesmo ressaltando sua condição de neófito, Nicolelis demonstrou entusiasmo com o potencial dessa “teia” desembocar no surgimento de um novo modelo de democracia, em que os indivíduos tenham um novo papel.

“A democracia representativa é muito interessante, mas ela faliu, porque o grande objetivo dos representantes dos indivíduos do planeta é representar a si mesmo. Existe um potencial imenso de uma nova democracia, onde os indivíduos tenham um novo papel, em que possam ser agentes atuantes e definidores da nossa cidadania”.

Fonte: Embolando Palavras