sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Lula decide não extraditar o italiano Cesare Battisti



Nada mais justo.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira (31), em nota, que decidiu não extraditar o ex-militante italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro pessoas na década de 1970, quando participava de um grupo armado.

A nota foi lida por Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores de Lula.

Em novembro de 2009, o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a extradição do italiano, mas definiu que a decisão final caberia ao presidente da República.

No início da semana, o presidente disse que anunciaria sua decisão antes do fim de seu mandato, que termina no dia amanhã, dia 31 de dezembro. Na mesma ocasião, ele afirmou que se basearia em um parecer sobre o assunto da AGU (Advocacia-Geral da União). O órgão defendeu junto que se concedesse o status de refugiado a Battisti.

A demora e cautela do anúncio da decisão se baseavam, além da implicação diplomática, o risco à vida de Cesare Battitsi caso ele regressasse à Itália.

Reação italiana


Antes do anúncio da decisão de Lula, o governo da Itália declarou que se reservava "o direito de considerar todas as medidas necessárias para obter o respeito ao tratado bilateral de extradição" com o Brasil. Em entrevista ao jornal italiano "Corriere della Sera", desta quinta-feira, o ministro da defesa italiano, Ignazio La Russa, também disse que caso o Brasil concedesse o status de refugiado político a Battisti, o país não ficaria “isento de consequências”.

Em 1989, o Tratado de Extradição foi assinado pelos governos brasileiro e italiano e sua ratificação só entrou em vigor quatro anos depois. Para a defesa de Battisti, a permanência dele no país estaria garantida pelo próprio tratado, cujo artigo 3 estabelece que a extradição pode ser negada nos casos em que há "razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação por motivo de raça, religião, sexo, nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal; ou que sua situação possa ser agravada por um dos elementos mencionados".

Histórico


Battisti fora julgado por um tribunal italiano que o considerou culpado pelos assassinatos de quatro pessoas entre 1977 e 1979. Na época, estava na França, onde tinha o status de refugiado político. Em 2004, quando o governo francês cogitou revogar seu status e entregá-lo à Itália, Battisti fugiu.

Cesare Battisti foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007, durante uma operação conjunta realizada por agentes de Brasil, França e Itália. De lá foi encaminhado o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, onde permanece desde então.

A defesa de Battisti alega isua nocência e afirma que o italiano seria vítima de uma "perseguição política" por parte do governo italiano.

Em novembro de 2009, o STF anulou o status de refugiado concedido a Battisti e defendeu sua extradição à Itália, mas a decisão final sobre seu futuro dependeria do presidente da República. UOL

Bolsa tem alta real de 295% nos anos Lula


O presidente Lula encerra seus oito anos de governo como o presidente da República que viveu o período mais longevo de exuberância na Bolsa, que se tornou uma alternativa de financiamento do setor privado), informa reportagem de Toni Sciarreta para a Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

Nos últimos oito anos, a Bolsa teve um ganho real (descontada a inflação pelo IPCA) de 295% no Ibovespa, o termômetro acionário brasileiro, permitindo a 210 empresas captar R$ 352,6 bilhões com a venda de ações.

O ganho da Bolsa sob Lula é mais do que dez vezes o ganho real de 26,8% da Bolsa no governo FHC, que enfrentou sucessivas crises -- México (1995), Ásia (1997), Rússia (1998), Brasil (1999), internet (2000), Argentina e atentados em Nova York (2001).

A Bolsa rendeu tanto no governo Lula que superou até as aplicações em renda fixa, que seguem os juros da dívida pública brasileira, os mais altos do mundo.

Nos últimos oito anos, o CDI (juros dos bancos, que espelham a taxa básica da dívida brasileira) rendeu 90,6% acima da inflação -- uma média anual de 8,4% que, somada a um IPCA médio de 5,9%, chega-se a juros anuais de 14,3%. Uol

O presidente que não vai se transformar em vaso chinês



Por: João Peres, Rede Brasil Atual


São Paulo - “Um ex-presidente é mais ou menos como um vaso chinês: não tem utilidade nenhuma (…) Ele valeria muito se ele ficasse quieto e deixasse o futuro presidente governar o país com tranquilidade, sem dar palpite.”

Estocadas à parte, o autor da declaração acima sabe que esse desejo não irá se cumprir. Pelo contrário, quando deixar a Presidência da República, no dia 1º deste ano, Luiz Inácio Lula da Silva será recebido com festa no retorno a São Bernardo do Campo. Mais que a celebração em si, vale o simbolismo de demonstrar que não é porque Lula sai do comando do país que deixa de ser reconhecido.

Lula tampouco deixará de ser importante. Nos últimos meses, foram muitas as vezes em que o presidente fez a tal citação do vaso chinês, talvez na tentativa de se forçar a acreditar que deixará de influenciar a vida política brasileira. Lula sabe que não será assim, e mais sinceras consigo são as palavras dos últimos dias. “Deixo apenas a Presidência, mas não pense que vão se livrar de mim, porque estarei pelas ruas desse país trabalhando e lutando para melhorar a vida desse país”, reiterou na última quarta-feira (29) em Recife.

Ex-presidente diferente

Há vários fatores para acreditar que Lula será um ex-presidente distindo dos demais ainda vivos – José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. A taxa de aprovação em 87% segundo o Ibope e a eleição da candidata apoiada por ele são dois dos vetores inéditos na vida política brasileira que fazem crer que a vida de Lula a partir de 2011 será diferente das rotinas dos antecessores.

Por um lado, o líder petista não parece vislumbrar a possibilidade de se candidatar a cargo eletivo no futuro, seja proporcional, seja majoritário. Lula rejeitou recentemente a possibilidade de ocupar cargos diplomáticos ou mesmo ser secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), como pediu o boliviano Evo Morales. Por outro lado, discrição parece difícil a um líder tão reconhecido e com um carisma que simplesmente não pode ser apagado – continuará a existir e, de certo modo, a ofuscar os que dividam as atenções com ele.

O cientista político André Singer defendeu que as linhas estabelecidas no governo Lula, de redução da pobreza e da desigualdade, vão guiar a política brasileira nos próximos anos. O professor avalia que a continuidade dessas propostas assegura, finalmente, voltar ao padrão interrompido pelo golpe de 1964. “A agenda de diminuição da pobreza e da desigualdade do governo Lula avançou por meio de uma estranha combinação de orientações antitéticas: de um lado, manteve linhas de conduta do receituário neoliberal e, de outro, adotou mecanismos de uma plataforma desenvolvimentista”, argumentou Singer em artigo publicado na edição de outubro da revista Piauí.

Isso explicaria, em parte, a migração da base de apoio de Lula – e do PT – das classes médias para as camadas mais pobres. Nesse aspecto, o presidente é um dos poucos políticos brasileiros ainda capaz de reunir massas em diferentes partes do país. Foram poucos os comícios de candidatos neste ano que não tinham Lula no palanque.

Nas últimas semanas de governo, por onde passa, Lula ainda reúne multidões que querem se despedir do líder. Foi assim no dia 23, quando foi realizado em São Paulo o último Natal com os catadores de materiais recicláveis e a população de rua, uma tradição mantida ao longo dos oito anos de governo e à qual Dilma Rousseff promete dar continuidade. O galpão lotado na zona norte de São Paulo abrigava verdadeiros fãs do presidente. “O senhor não esqueceu suas raízes, não esqueceu o que prometeu a seu povo”, lembrava a catadora Maria Lúcia Santos Pereira.

Desencarnar

Não é todo presidente que tem um povo que aceite ser chamado de “seu”. É a primeira vez em muitas décadas que um chefe de Estado brasileiro tem seu nome associado ao “ismo”: não houve itamarismo, collorismo nem fernandismo, mas há um lulismo que, como ressalta Singer, continuará presente mesmo que já não seja o ex-metalúrgico a ocupar o Planalto.

“Eu quero voltar ao Pacaembu para ver jogo do Corinthians, vestido de torcedor, encontrar os meus companheiros do sindicato e tomar uma cerveja, eu quero ser um homem comum...”, confessou em entrevista ao veterano jornalista Ricardo Kotscho, publicada na edição de dezembro da revista Brasileiros.

Kotscho, assessor do ex-sindicalista nas campanhas de 1989, 1994 e 2002, ressaltou por sua vez, em conversa com a Rede Brasil Atual, pouco antes do primeiro turno das eleições, que Lula era uma novidade na política brasileira quando apareceu e que hoje, três décadas depois, continua sendo algo novo, uma estranha soma de líder de massas e líder político, uma espécie de caminho do meio entre a esquerda ortodoxa e os movimentos pelegos.

“Lula é uma figura que alguém no futuro vai ter que explicar. Foi uma coisa absolutamente nova. Tem poucos casos no mundo de uma história assim. O Lula se tornou um líder mundial, reconhecido por todo mundo”, resumiu Kotscho.

Está aí um dos caminhos do presidente ao se “desencarnar” do mandato: já deu várias declarações no sentido de usar seu prestígio internacional para ajudar nações pobres.

Como disse Kotscho, só com o tempo será possível ter a dimensão correta – nem maior nem menor – da figura de Lula. Em algumas semanas, no entanto, saberemos o que o presidente fará com seu prestígio. O certo é que não ficará guardado no canto da sala, feito vaso chinês.

Balanço 2010: Por que a mídia não se autoavalia?



Venicio A. de Lima *


Final de ano é tempo de balanços e previsões. Pessoais e institucionais. É momento de parar e refletir sobre o que se fez, identificar erros e acertos, corrigir o que pode ser melhorado, reavaliar caminhos e objetivos, planejar o futuro.


A grande mídia faz avaliações públicas e previsões de e para tudo: de todos os setores do governo, da iniciativa privada, das ONGs, da política, de todas as artes, esportes, religiões, do clima, das tendências... Por óbvio, a grande mídia faz avaliações e previsões internas, como em todas as empresas privadas comerciais que precisam dar conta a acionistas de metas e resultados.

O que a grande mídia não faz são avaliações públicas de si mesma, de seu próprio desempenho, de sua parcialidade, de seus preconceitos, de suas tendências, de suas omissões, de suas escolhas, de seu papel na democracia. O que a grande mídia omite é a avaliação de si mesma como um serviço que, apesar de explorado pela iniciativa privada, não perde sua natureza de serviço público.

Por que será que a mídia, apesar da indiscutível posição de centralidade que ocupa nas sociedades contemporâneas, não pauta o debate sobre seu papel como faz permanentemente em relação a todas as outras instituições na sociedade?

Adaptação do panem et circenses

A explicação da grande mídia será sempre aquela que atribui ao mercado o papel de seu único e supremo avaliador. A grande mídia dirá que é permanentemente avaliada por seus consumidores/leitores/ouvintes/telespectadores e que seu sucesso ou fracasso comercial significa o cumprimento ou não de sua missão e o atendimento ou não das necessidades de seu "público". Se o jornal é comprado por X consumidores é porque satisfaz a eles. E essa é a melhor avaliação que pode existir. Essa é uma das versões da conhecida "teoria do controle remoto": se o consumidor não gosta do que vê, ele pode trocar de canal ou desligar o aparelho de TV.


Como já argumentei em outra oportunidade [ver "Donos da mídia – A falácia dos argumentos"], a "teoria do controle remoto" ignora como se formam, se desenvolvem e se consolidam os hábitos culturais, incluindo aqui o hábito de assistir determinados canais e/ou programas de TV ou de ler determinadas revistas e/ou jornais. Este é um fascinante campo da complexa "sociologia do gosto". Quando se atribui, sem mais, ao mercado o papel de supremo avaliador, reduz-se toda a problemática da comunicação de massa a uma única dimensão – do "consumo" individual – e ignora-se a complexa questão da formação social do gosto e do papel determinante que a própria mídia nela desempenha.


Além disso, o argumento pressupõe um mercado de mídia democratizado, onde estariam representadas a pluralidade e a diversidade da sociedade, o que, por óbvio, não existe. Ignora ainda o fato elementar de que não se pode gostar ou deixar de gostar daquilo que não se conhece ou cujas chances de se conhecer são extremamente reduzidas.

No fundo, trata-se de uma adaptação contemporânea [sem as problematizações levantadas por historiadores como Renata Garraffoni] do panem et circenses romano. Naturalmente, o sacrifício de cristãos, entregues às feras em espetáculos públicos, não torna a prática dos imperadores romanos correta. Dito de outra forma, nem tudo que agrada a parcela importante da população é automaticamente ético e correto.

Omissão grave

A transparência que a grande mídia corretamente cobra de outras instituições – públicas e privadas –, ela não pratica em relação a si mesma. Permanecemos em 2010 sendo um país democrático onde sequer existe um cadastro geral com acesso público dos concessionários do serviço de radiodifusão.

A transparência pública aplicada aos grupos dominantes da grande mídia certamente revelaria redes de interesses e compromissos – nem sempre legítimos – dos mais variados tipos, locais e globais. No que se refere à radiodifusão, por exemplo, revelaria os absurdos do "coronelismo eletrônico" enraizado em diferentes esferas do poder público; a propriedade cruzada como prática garantidora de oligopólios e monopólios; a exclusão de muitos e a liberdade de poucos apresentada e defendida em nome dos valores universais da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa.

Ainda não será ao final deste ano de 2010 que a grande mídia fará uma avaliação pública de si mesma. Mas, com certeza, esta omissão grave já não passa despercebida para um número cada vez maior de brasileiros. Fonte:Portal Vermelho

Lula es extraordinario como Mandela


Por: Ramón Lobo

El viernes es el último día de la presidencia de Luiz Inácio Lula da Silva. Deja el cargo a su compañera de partido y amiga Dilma Rousseff con más del 87% de popularidad. En una época en la que el poder corrompe, mancha, modifica a los que lo ocupan y decepciona a los votantes, Lula resulta extraordinario. Como Nelson Mandela.

La diferencia entre un buen líder y uno excepcional es, a menudo, una cuestión de matiz. Detrás de esas pequeñas cosas, y de las grandes, están las personas que creen en unos valores éticos, en unas ideas, y gobiernan desde ellos. Es la mejor manera de no extraviarse ni escapar por atajos. Nadie es santo ni demonio completo. Es posible que tanto Lula como Mandela tengan una letra pequeña que desconocemos, pero en tiempos de indecencia y mediocridad, dirigentes como ellos se alzan como símbolos que trascienden a las personas. Lo saben y actúan como tales. Igual que la gran dama de Birmania, Aung San Suu Kyi.

Siempre se dijo que Brasil era un país con mucho futuro que tenía un problema: su futuro no terminaba de llegar nunca. En los ocho años de Lula, Brasil ha abandonado su papel secundario, no solo en América Latina, y se muestra ahora como un país animoso, emprendedor, simpático y en transformación. Su ministro de Economía, Guido Mantega, asegura que en 2026 será la quinta economía del mundo. Está por ver, pero ya se han puesto en camino. En el índice de calidad de vida de la ONU ya ocupa el puesto 73.

Fonte: De Paso

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Jornalismo pra quem precisa



Há alguns dias, lancei na minha página do Facebook uma ideia que venho acalentando há tempos, desde que encerrei um curso de extensão para uma faculdade privada de jornalismo, aqui em Brasília. O curso, de Técnica Geral de Jornalismo, reuniu pouco mais de 10 alunos, basicamente, porque era muito caro.

Por Leandro Fortes, em seu blog Brasília eu Vi


Embora tenha sido uma turma de bons estudantes, gente verdadeiramente animada e interessada no ofício, me senti desconectado da real intenção do curso, que era de fazer um contraponto de método, opinião e visão ideológica a esse jornalismo que aí vemos, montado em teses absurdas, em matérias incompletas e mentirosas, omissas em tudo e contra todos, a serviço de um pensamento conservador, reacionário e golpista disseminado, para infelicidade geral, como coisa normal.

Não é. E é sobre isso que eu queria falar enquanto ensinava, dia a após dias, os fundamentos práticos da pauta, da entrevista, da redação jornalística, da nobre função do jornalista na sociedade, no Brasil, na História.

Perguntei, então, no Facebook, o que estudantes de jornalismos e jornalistas formados achariam de eu transferir essas aulas para um espaço barato e democrático, capaz de levar esses conhecimentos a muito mais gente, sobretudo ao estudante pobre – e, quem sabe, credenciar também os pobres a brigar por uma vaga nas redações, que se tornaram ambientes muito elitistas.

Encaretadas por manuais de doutrina e comportamento, adestradas pela conduta neoliberal dos anos 1990, quando passaram a responder diretamente pelas demandas do Departamento Comercial, as redações brasileiras se desprenderam da ação política, dos movimentos sociais, do protagonismo histórico a favor dos direitos humanos e da luta contra a desigualdade. Passaram, sim, a reproduzir um universo medíocre de classe média, supostamente a favor de uma modernidade pós-muro de Berlim, onde bradar contra privatizações e a adoração ao deus mercado passou a ser encarado como esquerdismo imperdoável e anacrônico.

Não por outra razão, os movimentos corporativos a favor da manutenção da obrigatoriedade do diploma de jornalista, que resistiram a todo tipo de investida patronal ao longo de duas décadas, foram definitivamente golpeados com o apoio e, em parte, a omissão, da maioria dos jovens profissionais de imprensa, notadamente os bem colocados em redações da chamada grande mídia.

Vale lembrar que o jornalismo é, provavelmente, a única profissão do mundo onde existem profissionais que pedem o fim do próprio diploma. Há muitas nuances, claro, nessa discussão, inclusive porque há gente muito boa que, historicamente, se coloca contra o diploma, sobretudo velhos jornalistas criados em velhas e românticas redações, cenas de um mundo que, infelizmente, não existe mais.

Na essência, o fim da obrigatoriedade do diploma não é uma demanda de jornalistas, mas de patrões, baseada num argumento falacioso de liberdade de expressão – na verdade, de opinião –, quando a verdadeira discussão está, justamente, na formação acadêmica dos repórteres. E há uma distância abissal entre opinião e reportagem, porque a primeira qualquer um tem, enquanto a segunda não é só fruto de talento, mas de aprendizado, técnica e repetição.

Nas grandes empresas, o fim da obrigatoriedade do diploma coroou uma estratégia que tem matado o jornalismo: a proliferação de cursinhos internos de treinees, tanto para estudantes como para recém-formados, cuja base de orientação profissional é a competitividade a qualquer custo, um conceito puramente empresarial copiado, sem aparas, do decadente yupismo americano. Digo que tem matado porque esses cursinhos de monstrinhos competitivos relegam o papel universal do jornalista ao segundo plano, quando não a plano algum.

A ideia de que o jornalista deva ser um profissional solidário, inserido na sociedade para lhe decifrar os dramas e transmiti-los a outros seres humanos passou a ser um devaneio, um delírio socialista a ser combatido como a um inimigo. Para justificar essa sanha, reforça-se o mito da isenção e da imparcialidade de uma mídia paradoxalmente comprometida com tudo, menos com a sua essência informativa, originalmente baseada no universalismo e no compromisso com o cidadão.

Na outra ponta, o fim da obrigatoriedade do diploma abriu a porteira para jagunços e capangas ocuparem as redações da imprensa regional, longe da fiscalização da lei e dos sindicatos, alegremente autorizados a fazer, literalmente, qualquer coisa com qualquer pessoa. Mesmo para o novo modelo de jornalismo que se anuncia na internet, baseado em disseminação mútua de informações primárias, como no caso dos vazamentos do Wikileaks, haverá sempre a necessidade do tratamento jornalístico dos conteúdos. E, para esse serviço, não há outro trabalhador credenciado senão um bom repórter treinado e formado para essa missão. Formação esta que, insisto, deve ser feita na academia e reforçada na experiência diária da reportagem.

Recentemente, li sobre a criação, em 2010, do Instituto de Altos Estudos em Jornalismo, sob os auspícios da Editora Abril. Entre os mestres do tal centro estavam o dono da editora, Roberto Civita, mantenedor da Veja, e Carlos Alberto Di Franco, do Master de Jornalismo, uma espécie de Escola das Américas da mídia nacional voltada para a formação de “líderes” dentro das redações. Di Franco, além de tudo, é um dos expoentes, no Brasil, da ultradireitista seita católica Opus Dei, a face mais medieval e conservadora da Igreja Católica no mundo.

Sinceramente, não vejo que “altos estudos”, muito menos de jornalismo, podem sair de um lugar assim. Não tenho dúvidas de que a representação do tal instituto não é acadêmica, embora seja dirigido por Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás no governo do PT, renomado estudioso da imprensa no Brasil.

Trata-se de uma representação fundamentalmente ideológica, a reforçar as mesmíssimas estruturas de poder das redações, estruturas ultraverticalizadas, essencialmente antidemocráticas e personalistas, onde a possibilidade de ascensão funcional, sobretudo a cargos de chefia, está diretamente ligada à capacidade de ser subserviente aos patrões e bestas-feras com os subordinados.

Felizmente, o surgimento da internet deu vazão a outro ambiente midiático, regido por outras regras e demandas, um devastador contraponto ao funcionamento hermético das grandes redações e ao poder hegemônico da velha mídia brasileira, inclusive de seus filhotes replicadores e retransmissores Brasil adentro. O fenômeno dos blogs e sua capacidade de mobilização informativa é só a parte mais visível de um processo de reordenamento da comunicação social no mundo.

As redes sociais fragmentaram a disseminação de notícias, fatos, dados estatísticos, informes e informações em um nível adoravelmente incontrolável, criando um ambiente noticioso ainda a ser desbravado por novas gerações de repórteres que, para tal, precisam ser treinados e apresentados a novas técnicas e, sobretudo, a novas ideias.

A “era do aquário”, para ficar numa definição feliz do jornalista Franklin Martins – aliás, contrário à obrigatoriedade do diploma –, está prestes a terminar. O jornalismo decidido por cúpulas restritas, com pouco ou nenhum apego à verdade dos fatos, está reduzida a um universo patético de mau jornalismo desmascarado instantaneamente pela blogosfera, vide a versão rocambolesca da TV Globo sobre a bolinha de papel na cabeça de José Serra ou a farsa do grampo sem áudio que uniu, numa mesma trama bisonha, a revista Veja, o ministro Gilmar Mendes, do STF, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.

Não será a escola de “altos estudos” da Veja e do professor Di Franco, portanto, a suprir essa necessidade. Essa demanda terá que ser suprida por repórteres ciosos de outro tipo de jornalismo, mais aberto e solidário, comprometido com a verdade factual e a honestidade intelectual, interessado em boas histórias. Um jornalismo mais leve e mais humano, mais preocupado com a qualidade da informação do que com a vaidade do furo. Um jornalismo vinculado à realidade, não a interesses econômicos. E isso, certamente, só poderá ser viabilizado dentro de outro modelo, cooperativo e democrático, a ser exercido a partir das novas mídias virtuais.

Por isso, é preciso estabelecer também um contraponto à ideologia da mídia hegemônica no campo da formação, em complemento aos cursos superiores de jornalismo. Abrir espaço para os milhares de estudantes de comunicação, em todo o Brasil, que não têm chance de participar dos cursinhos de treinees dos jornalões e das grandes emissoras de radiodifusão. Dar a eles, de forma prática e barata, uma oportunidade de aprender jornalismo com bons repórteres, com repórteres de verdade.

Foi nisso que pensei quando idealizei, em 2007, a Escola Livre de Jornalismo, junto com outros dois amigos, ambos ótimos jornalistas, Olímpio Cruz Neto e Gustavo Krieger. Com eles, ajudei a montar bem sucedidos ciclos de palestras e oficinas de jornalismo em Brasília.

Em 2009, um ano antes do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em São Paulo, a Escola Livre, em parceria com o IESB, já havia conseguido reunir, na capital federal, os principais expoentes desse movimento no país: Luis Nassif (Blog do Nassif), Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Marco Weissheimer (RS Urgente) e Luiz Carlos Azenha (Viomundo). Uma semana de debates ricos, bem humorados, em um auditório permanentemente lotado de estudantes de jornalismo e jornalistas profissionais.

Foi nosso único evento gratuito e, claro, o de maior sucesso. Os ciclos e oficinas, embora tenham tido boa audiência, esbarravam sempre no problema do custo para os estudantes: como nos cursinhos de treinee da velha mídia, acabávamos por privilegiar um segmento de jovens já socialmente privilegiados. É dessa frustração e dessa armadilha que proponho fugir agora.

Por isso, expus no Facebook a ideia de ministrar minhas aulas de Técnica Geral de Jornalismo, divididas em módulos, de modo que cada estudante pague um valor baixo por cada aula. Ou seja, os estudantes vão às aulas que quiserem, pagam na entrada e participam de duas horas de aula de jornalismo sobre tópicos práticos e temas relevantes. Minha ideia é convocar outros repórteres de Brasília a participar desse movimento da Escola Livre de Jornalismo, com o compromisso de, em troca da aula de duas horas, receber 70% do valor arrecadado no dia, porque 30% serão sempre destinados à administração e organização do curso.

Além do valor da aula, ainda a ser estipulado, cada aluno deverá também levar um alimento não perecível qualquer, a ser distribuído para comunidades pobres do Distrito Federal ou instituições de assistência social a serem definidas com futuros parceiros. Esses mantimentos, inclusive, poderão ser usados como moeda de troca para podermos utilizar gratuitamente algum espaço físico em Brasília para ministrar as aulas. É algo ainda a ser definido.

A ideia está lançada. No Facebook, recebi quase 100 adesões imediatas de estudantes, jornalistas, incluindo alunos e ex-alunos realmente satisfeitos com a perspectiva de participar de um movimento interativo desse nível, a preços populares. Espero poder iniciar as primeiras aulas em fevereiro de 2011 e, desde já, conto com a participação de todos os amigos e colegas jornalistas do Brasil que quiserem compartilhar essa experiência.

Quanto mais gente boa dando aula, mais gente boa a ser formada. Como nas experiências anteriores, a Escola Livre de Jornalismo espera contar com a parceria das faculdades de jornalismo do DF para transformar em crédito a frequência dos estudantes nas aulas, de modo a colaborar com uma necessidade acadêmica deles, as horas extra-sala de atividades complementares.

Por favor, quem quiser participar dê o ar das graças. Nossa missão inicial é achar um lugar amplo e legal, com cadeiras e uma boa mesa de professor, para dar as aulas. A depender do nível de adesão dos colegas jornalistas, vamos organizar uma agenda para as aulas, que serão sempre aos sábados, em princípio, das 9 às 11 horas da manhã.

Por enquanto, é esse o meu manifesto, é essa a minha ideia. O resto virá, tenho certeza, na garupa de bons ventos.

O ano dos blogs "sujos", da Dilma e da nova direita



Esse foi dos anos mais duros – e mais ricos – na minha vida de jornalista, blogueiro e cidadão. Fui a Johannesburgo, no meio de 2010, cobrir a Copa do Mundo. Adorei ver de perto a engrenagem do futebol – essa mega empresa mundial. E adorei, sobretudo, conhecer a África – ainda que de forma limitada, com as lentes embaçadas pelo espetáculo da bola.
Muitas lembranças boas ficaram.

Uma tarde de rugby no Soweto – o bairro negro tomado pelos torcedores brancos! Negros abriram suas casas para os brancos – muitos nunca tinham pisado ali. Cena inusual. Emoção verdadeira.

Depois, a boa conversa com a bailarina que, durante o apartheid, dava aula de dança para negros e brancos, desafiando o regime racista. Detalhe: a bailarina era judia, ouvira do pai o que significava viver em guetos. Resistiu com a dança.

A visita ao Cabo da Boa Esperança, ou Cabo das Tormentas. As histórias de navegantes portugueses sempre me emocionam. Mar bravio, terrível. Paisagem maravilhosa. E a Cidade do Cabo tão linda. Quero voltar pra lá em breve.

Foram 50 dias longe de casa. E antes disso o ano já tinha sido cheio. De coisas boas. E de alguns sustos na vida familiar (já superados).

No primeiro semestre, fundamos o Centro de Estudos Barão de Itararé. Ideia do Altamiro Borges. Quando ele me ligou, no fim de 2009, com o convite para que eu entrasse na diretoria do Barão, cheguei a desdenhar: “Mas, Miro, pra que outra entidade na área de comunicação?” Ele me convenceu. E o Barão já fez muito. Foi no lançamento do instituto que surgiu a ideia de organizar um Encontro Nacional de Blogueiros. Ideia do Azenha – que viu esse movimento florescer nos Estados Unidos. E nós botamos em prática aqui no Brasil.

Foi uma delícia organizar o encontro. Primeiro, pelas reuniões. Todas elas no glorioso “Sujinho”, o bar-restaurante paulistano. Serra deve ter ficado sabendo, por isso resolveu chamar (acusar?) os blogueiros de ”sujos”. Assumimos o apelido, como uma medalha!

Mas o melhor foi ver o evento acontecer em São Paulo, no mês de agosto. 300 e tantos blogueiros de 19 estados. Uma trabalheira organizar isso tudo. Mas uma delícia conhecer tanta gente boa.

Logo depois, a pauleira da eleição. A mais suja da história: e aí a culpa não foi nossa. Era bola cantada. O embate entre Serra e Aécio já fora sujíssimo (todo mundo conhece os bastidores: dossiês, ameaças, “pó parar, governador” etc e tal). Quando Dilma disparou nas pesquisas, em agosto, era só esperar. Serra não decepcionou quem conhecia a fama dele – desde os anos 80. Foi uma campanha tensa, a mexer com os nervos e o estômago de qualquer um.

Tive a o orgulho e a felicidade de participar das batalhas – ajudando a desmontar farsas, e a iluminar um pouco o caminho: a bolinha de papel, o aborto, a gráfica dos panfletos…

Naquele sábado em que os panfletos foram encontrados em São Paulo, passei a madrugada com mais dois companheiros internéticos fuçando arquivos e documentos que ajudaram a descobrir a verdade: a gráfica pertencia à irmã de um dos coordenadores de campanha de Serra. Foi furo nosso, da blogosfera, e o Escrevinhador deu a história em primeira mão!

Tenho orgulho também de ter dito, três semanas antes do primeiro turno, que a bala de prata não era uma só. Mas uma sequência de balas. Dilma – que se preparara pra responder aos ataques sobre o passado de guerrilheira – não percebera o trabalho sujo feito nas igrejas, nos púlpitos, no boca a boca que disseminou o medo e o ódio religioso. Aqui no blog, gastei o verbo falando sobre isso. É a força da internet. Leitores de várias partes do país me avisavam: olha, a coisa está feia nas igrejas. Simplesmente registrei e dei o alerta. Mas a campanha de Dilma só acordou na última semana do primeiro turno, quando o estrago já estava feito.

Aí veio o segundo turno. Horrível. Mas com momentos hilários – como a tentativa de Serra de virar um Lacerda. Em vez de tiro no pé, levou bolinha de papel na cabeça. De todo jeito, foi tiro no pé.

A vitória de Dilma foi importante. Histórica. Todos os grandes jornais alinhados com o adversário, a Globo com o adversário… E Dilma ganhou. Derrotou Serra, derrotou a direita religiosa. Mas derrotou também Ali Kamel, Otavinho e o bando tresloucado de colunistas de “Veja”, “Estadão” e adjacências.

O que não deve nublar a verdade: o PT tentou ganhar sem fazer política. Tentou ganhar no embalo da popularidade de Lula. Quem politizou a eleição de 2010 foi Serra. Pela direita. Obrigando (?!) Dilma a buscar apoio da militância no segundo turno.

O Brasil conheceu uma nova direita. Parte da velha classe média tem medo e raiva – e a velha imprensa espelha esse setor. Mas a nova classe média – gestada na era Lula – nasceu já conservadora. A médio prazo, a equação pode não fechar para a esquerda. Isso ficou claro na campanha dominada por aborto, bispos, padres, pastores e reuniões com milicos de pijama.

O PT mostrou-se uma máquina eleitoral: cada vez mais afastado do “voto de opinião” e das antigas bases. Elegeu bancada forte, com apoio do prestígio de Lula. Mas abriu mão de sustentar valores de esquerda. Essa omissão (ou opção) pode custar caro mais tarde. Mas esse é tema para outros textos…

Novembro ainda foi mês cheio de emoções: a entrevista de Lula aos blogueiros foi histórica. Um marco que muitos não entenderam. “O Globo” entendeu, e desceu o sarrafo, passou recibo com chamada em primeira página. Algo se moveu na comunicação.

Tive a alegria, também, de ver uma série de reportagens sobre sítios clandestinos de tortura ser premiada pelo Movimento de Direitos Humanos, de Porto Alegre. Foi trabalho árduo: começou antes da Copa, e enquanto eu estava na África correndo atrás do Dunga uma equipe grande da TV Record seguia apurando e produzindo – com destaque para Luiz Malavolta e Tony Chastinet.

No mesmo ano, o trabalho na TV me deu a alegria de ir à Copa e de recontar um pedaço perdido da história da ditadura. Nada mal. Sem falar em mais uma meia dúzia de séries de reportagens especiais e de entrevistas (na “Record News”) das quais – quase sempre – só tenho motivos para orgulho.

2010 foi também o ano em que passei a escrever para a revista Caros Amigos. Estreei a coluna “Tacape” no mês em que meu ídolo – o doutor Sócrates – era capa da revista. E o mais curioso: o “colega de página” era Fidel Castro. Que responsa!

Cheguei a dezembro quase sem gás. Tirei uma semana de férias no Uruguai. Visitei as ruas, os cafés e as livrarias de Montevidéu, conheci praias lindas e travei de novo contato com a prosa e a poesia de Mario Benedetti. Um respiro, ao lado de minha mulher.

Quando voltei ao Brasil, havia se instalado um pandemônio na blogosfera. Tiroteio geral. Mais desgaste… A crise passou, felizmente. Mas o ano não terminou.

Descanso agora em São Paulo – a cidade está estranhamente vazia, uma delícia. Mas, no dia 30, pego o avião pra cobrir a posse de Dilma e a despedida de Lula – para a Record. De lá, pretendo atualizar o blog com as impressões do dia primeiro de janeiro. A era Lula acabou. Acabou? Tenho dúvidas…

Obrigado a todos os leitores que fizeram o Escrevinhador explodir de audiência em 2010. Especialmente em outubro – quando passamos de 1 milhão de “páginas vistas” e batemos em 600 mil visitantes. O blog saiu do ar duas vezes: uma por ataque de hackers; a outra por excesso de tráfego!

Obrigado aos que me ajudam a fazer o blog, especialmente ao Leandro Guedes e à Juliana Sada – além dos colunistas e amigos mais próximos.

2010 foi intenso. Só comparável a 1989, quando eu ainda era um estudante e militante nas ruas – sem internet, com mais esperanças e também com mais ilusões. Daquela vez, senti o gosto da derrota. Dessa vez, sinto-me vitorioso – como tantos brasileiros. Mas sem ilusões. O que talvez seja uma vantagem.

Até 2011. É logo ali!

Fonte: Escrevinhador

Jorge Hage contesta a "revistinha" Veja



O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, enviou nesta semana uma carta à revistinha Veja, em que contesta a afirmação de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi "o mais corrupto da República".

"Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia?", indaga Hage.

Leia a íntegra:

Sr. Editor,


Apesar de não surpreender a ninguém que haja acompanhado as edições da sua revista nos últimos anos, o número 52 do ano de 2010, dito de "Balanço dos 8 anos de Lula", conseguiu superar-se como confirmação final da cegueira a que a má vontade e o preconceito acabam por conduzir.


Qualquer leitor que não tenha desembarcado diretamente de Marte na noite anterior haverá de perguntar-se "de que país a Veja está falando?".


E, se o leitor for um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, haverá de enxergar-se um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular.


Se isso se aplica a todas as "matérias" e artigos da dita Retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título "Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo". Ali, dentre outras raivosas adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos, registre-se), o Governo Lula é apontado como "o mais corrupto da República".


Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81?


Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a dispor da mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do "Engavetador-Geral da República"?


Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero).


Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.


Poderia estender-me aqui indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi o haver passado a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.
Peço a publicação.


Jorge Hage Sobrinho


Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União"


Fonte:Oni Presente

A volta do MH



Verissimo


O Globo - 30/12/2010


O Marciano Hipotético tem vindo seguidamente ao Brasil e sempre sai perplexo com o que vê e ouve por aqui. Na sua última visita o Lula acabava de ser eleito pela primeira vez, mas ainda não tinha sido empossado. As perspectivas não eram boas. Empresários preparavam-se para fugir em massa do país se suas pio- resconjeturas sobreo PT no poder se confirmassem. Banqueiros tremiam, temendo estatização sem indenização. Donas de casa escondiam a prataria. Anunciavam-se anos de privação e sacrifício sob o socialismo iminente.


Oito anos depois o MH volta e, para começar,não encontra vaga para estacionar a sua nave. Amovimentação de Natal nas ruas e nas lojas é tamanha que o deixa transtornado. Onde está?

Certamente não na Grande Cuba preconizada oito anos antes. MH entrevista pessoas na rua com seu português de novela, aprendido nas ondas da TV, e descobre que a maioria está contente, está empregada, teve dinheiro ou crédito para as compras e julga que as coisas vão melhorar ainda mais. —Quer dizer que, qui, il socialismo ha funzionato? — pergunta MH, com sotaque do Tony Ramos. — O sociaque? A perplexidade de MH aumenta. O Lula foi deposto, será isso? O PT não conseguiu implantar seu programa, areação venceu eoLula foi corrido do governo. Que nada, lhe informam. Lula ficou oito anos e ainda escolheu sua sucessora. Sucessora?! Sim, uma mulher. Dilma, ex-ativista política, ideologicamentemais à es-querda do que Lula e que, todos esperam, só completará o seu trabalho de consolidação do capitalismo no Brasil. A esta altura MH decidiu que precisava de um drinque. Entrou num bar e pediu “Amoníaco. Duplo!”. Sempre impressionou muito ao MH a quantidade de siglas de esquerda na política brasileira. Em nenhum outro lugar do mundo há tantas graduações de “esquerda” para se escolher, e tantas já chegaram a ser governo, com ou sem coligações, sem que isto afetasse muito o conservadorismo dominante. MH pre- tende desenvolver uma tese, na viagem de volta ao seu planeta. A esquerda brasileira é estilhaçada desse jeito de tanto bater na cidadela do poder real sem conseguir penetrá-la. É uma tese complexa, mas a viagem é longa .

O PiG não se conforma com a pulverização das verbas publicitárias.O PiG quer comer só

Enquanto esse sabujo fica falando merda, o Terror está feliz da vida. Afinal, não é nada ruim receber R$ 3 milhões do governo federal para manter este blog sujo.Mais: o Terror vai exigir que Dilma aumente esse valor para R$ 50 milhões.Ah!, o Terror é favor de que se abra a caixa-preta do PiG, a começar pelo Estadão e de seus sabujos vendidos e alugados.


''Democratização'' ou mero desvio?

Autor(es): Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo - 30/12/2010

A manchete da Folha de S.Paulo de terça-feira passada jogou luz sobre uma das mais soturnas caixas-pretas da administração federal: o uso de verbas públicas em campanhas publicitárias. Planalto pulveriza sua propaganda em 8.094 veículos, informou a chamada no alto da primeira página. A reportagem, assinada por Fernando Rodrigues, conta que de 2003 até hoje houve um aumento de 1.522% no número de órgãos de imprensa que recebem recursos federais como receita publicitária. Eram 499 em 2003 e somam hoje 8.094. Mas - atenção - não houve um crescimento significativo do gasto total. Os dois governos Lula investiram, em média, R$ 2,3 bilhões por ano em publicidade (aí incluídos os custos de produção das campanhas, mais as verbas de patrocínios destinadas a projetos esportivos e culturais), valor que não se distancia substancialmente do que foi empregado na gestão de Fernando Henrique Cardoso. A diferença entre eles foi o que a reportagem da Folha chama de pulverização.

No linguajar de apoiadores do governo atual, a palavra mais adequada não seria pulverização, mas "democratização". Ontem, em discurso no complexo industrial e portuário de Suape, em Pernambuco, o próprio presidente Lula foi ainda mais retumbante. Vangloriou-se de ter resolvido "socializar" o dinheiro de publicidade. A tese do discurso do presidente e de seus apoiadores é primária: dar recursos públicos a muitos soa mais "democrático" do que dá-los a poucos. Verdade? Não necessariamente. Demagogia? Sem dúvida. Primeiro, porque o grosso do dinheiro foi para os veículos dominantes - como sempre, o principal foi para os de sempre. Depois, porque o atual governo usou alguns trocados não para tornar a sua comunicação mais eficiente, mas para fazer média com os jornais e as emissoras de menor porte.Nada mal, pior era antes, que só o PiG comia.

Antes de entender - e desmontar - as justificativas do discurso oficial de "democratização", lembremos que, sobre esse assunto, os governos se sucedem sem detalhar valores. Publicidade oficial, como já foi dito, é caixa-preta. O contribuinte não sabe quanto cada veículo recebeu dos cofres públicos e sabe menos ainda sobre os resultados dessas campanhas, pulverizadas ou não Os bilhões de reais despejados em propaganda rendem popularidade para quem governa, mas até hoje não se tem uma única prova de que realizem algo de bom para o interesse público - que, por definição, deveria ser apartidário. Se esses dados fossem divulgados, ficaria explícito que a verba de publicidade oficial vem sendo administrada, no Brasil, mais para melhorar a imagem de políticos (e massagear o ego e o caixa dos empresários de comunicação) e menos, muito menos, para atender ao interesse público. Concordo:é caixa-prera mesmo, e o governo Lula deverua ter aberto sim, para o povo saber quanto o Estadão ganhou em oitos anos.

Nesse quadro, falar em "democratização" é quase um deboche. O gasto do Planalto em propaganda é uma enormidade: R$ 2,3 bilhões correspondem a quase um terço do que a Rede Globo faturou com publicidade ao longo de 2009. Na escala de grandeza do nosso mercado publicitário, é uma fortuna. O Estado brasileiro é um Estado anunciante: somadas, as campanhas dos governos federal, estaduais e municipais alcançam cifras escandalosas e vêm estatizando uma fatia expressiva do mercado.

Além de deboche, a palavra "democratização" é um biombo novo para encobrir um vício velho: o uso de dinheiro público para amaciar a imprensa privada. Essa prática já deveria ter sido varrida pela cultura democrática, mas está aí, intacta, e cresce a cada ano. Não deveria ser assim. Quando compra espaço publicitário, o agente público deveria orientar-se pelo dever de buscar o melhor serviço pelo menor preço. Deveria buscar o veículo que lhe dá acesso à audiência pretendida nas melhores condições. Ponto. Quanto a isso, a compra de espaço publicitário pelo Estado não é diferente da compra de aparelhos de ar-condicionado, de computadores ou de vacinas. Há agentes públicos que se vangloriam de distribuir a verba publicitária de acordo com a participação dos veículos no mercado, dando a esse critério um peso aparentemente absoluto. É claro que se devem levar em conta as audiências gerais de cada veículo quando se concebe uma campanha governamental, mas esse não é nem deve ser o fator decisivo. Se fosse, o Estado deveria comprar vacinas não pela qualidade, mas pela participação de cada laboratório no mercado. Compraria um pouquinho de cada laboratório. O mesmo deveria ser feito com a compra de aparelhos de ar-condicionado e de computadores. Enfim, se esse for o critério determinante, teremos de dizer adeus ao princípio - democrático - das licitações.

O argumento mais grave e mais falacioso, no entanto, é outro. Há burocratas que posam de justiceiros e garantem que "pulverizando" as verbas fortalecem os veículos "alternativos" contra a "mídia conservadora". Parece incrível, mas é o que dizem. Ora, se o governo quer estimular a diversidade da imprensa, que crie linhas de fomento, com financiamentos que possam ser - aí, sim, democraticamente - disputados pelos interessados, mediante regras públicas e transparentes. Usar dinheiro de publicidade para fortalecer os "alternativos" não consta das diretrizes legais para a publicidade oficial. Esse argumento, portanto, não tem sustentação legal. Se o gestor público que favorece jornaizinhos de parentes age mal, aquele que dá uma força aos sites dos correligionários age mal do mesmo modo. Nos dois casos, o servidor extrapola o seu poder discricionário. E, mais do que isso, deixa claro que, para ele, não importa se a mensagem oficial será recebida e compreendida pelo público esperado; seu negócio é fazer média com os veículos.

Concentrada nos grandes ou "democratizada" nos pequenos, a publicidade oficial tem sido a moeda dos governos para relações promíscuas com a imprensa. Até quando?

Em todo caso, feliz 2011.

JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM

Alvorada volta a abrigar mãe de presidente


Valor Econômico - 30/12/2010


A dona de casa Dilma Jane da Silva Rousseff, 86 anos, será a primeira mãe de um governante a morar na residência presidencial desde 1961, quando Jânio Quadros morou por sete meses com a mulher, Eloá, a filha, Dirce, e a mãe, Leonor, no Palácio da Alvorada. A mãe da presidente declarou logo após a vitória da filha que não deverá exercer papel algum em Brasília, o que tem sido a regra na história republicana, em que as primeiras-damas é que são encarregadas de cumprirem ritos cerimoniais e tarefas assistenciais.

A dona de casa Dilma Jane da Silva Rousseff, 86 anos, será a primeira mãe de um governante a morar na residência presidencial desde 1961, quando Jânio Quadros morou por sete meses com a mulher, Eloá, a filha, Dirce, e a mãe, Leonor, no Palácio da Alvorada. À época, Dilma Silva ainda não havia enviuvado do búlgaro naturalizado Pedro Rousseff e , conforme disse em entrevistas, jamais imaginara que a menina de então catorze anos incompletos chegaria a tal posição. A mãe da presidente Dilma Rousseff deixou a casa no Jardim São Luiz, o melhor bairro na região da Lagoa da Pampulha, no norte de Belo Horizonte, em meados de dezembro. A ampla residência só será usada em ocasiões eventuais, de visita à cidade em que a filha nasceu e em que morou por quase 70 anos.

A mãe da presidente declarou logo após a vitória da filha que não deverá exercer papel algum em Brasília, o que tem sido a regra na história republicana, em que as primeiras-damas é que são encarregadas de cumprirem certos ritos cerimoniais e tarefas assistenciais. A convivência de Dilma Rousseff com a mãe foi entrecortada. A presidente eleita saiu de casa antes de completar 20 anos, quando se casou com Claudio Galeno, seu primeiro marido, e passou a militar na luta armada. Dilma Jane voltaria a encontrar a filha entre 1970 e 1973 , nas visitas que fez à filha na prisão , em São Paulo. Em entrevista ao jornal "O Globo", a mãe da presidente relembrou aquele período como um "calvário": dividia-se entre as visitas semanais a Dilma, para quem levava queijos e livros, e os cuidados com a filha caçula, Zana, que adoeceu e morreu de infecção hospitalar com apenas 25 anos, em 1976. Ouviu as histórias das torturas que a filha sofreu, mas disse em entrevistas ter aprendido a conter emoções: "chorar não adianta", comentou em entrevista à TV Globo. Segundo o futuro ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel declarou em entrevista à revista "Marie Claire", durante a prisão da filha, Dilma Jane foi convertida do catolicismo para o protestantismo pelo pai de Pimentel, que era pastor metodista.

Chegaram ao poder com as mães vivas os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, Jânio, José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. Exceto o caso de Jânio, em todos os demais as mães permaneceram longe do palácio presidencial. Somente dona Leda Collor de Mello teve um papel protagonista durante a presidência do filho, quando em 1992 tentou interceder por um acordo entre o então presidente e seu irmão, Pedro Collor. Diretor do jornal "Gazeta de Alagoas", Pedro Collor ameaçava denunciar um esquema de corrupção liderado pelo tesoureiro do irmão na campanha presidencial, Paulo César Farias, o PC, ao perceber que havia uma operação em curso para prejudicar seus negócios.

Controladora da holding familiar, dona Leda não conseguiu fazer Pedro e Fernando reatarem. A crise doméstica e política colaborou para que seus problemas cardíacos se agravassem até um colapso em setembro de 1992, durante o início do processo de impeachment do filho. Inconsciente a apartir de então, dona Leda morreu em fevereiro de 1995.

O mesmo ano em que o filho de dona Leda perdeu o cargo de presidente foi definido pelo seu sucessor, Itamar Franco, como "um ano muito triste". A mãe de Itamar, Itália Cautiero, morreu em dezembro, vinte dias antes da posse definitiva do filho na Presidência. Havia passado os últimos seis anos de vida inconsciente, em razão de um derrame cerebral, mas sua morte desestabilizou o filho, que trancou-se por dias em Juiz de Fora em meio a uma crise governamental, que culminaria naquele mês com a troca do ministro da Fazenda. O pai de Itamar morreu ainda durante a gravidez da mãe, e Itália Cautiero vendia marmita para criar sozinha os filhos, nos anos 30.

A mãe de Getúlio, Cândida Vargas, ficou ao lado do marido Manoel Vargas em São Borja até morrer, em 1936, quando o filho já exercia a Presidência no Rio há seis anos. Obscurecida pela presença do esposo patriarca, dona Cândida não teve para Getúlio a importância central que a professora Júlia Kubitscheck terminou por exercer sobre o filho Juscelino. Viúva desde quando o futuro presidente tinha apenas dois anos e em meio a uma grande escassez de recursos, dona Júlia fazia com que o filho assistisse a todas as suas aulas, de manhã e de tarde, por não ter com quem deixá-lo. Mais tarde, empenhou seus bens para que JK pudesse estudar medicina em Belo Horizonte. O antigo presidente se referiu à Júlia como "minha mãe e mestra" ao dar um depoimento ao centro de documentação da Fundação Getúlio Vargas, um mês antes de morrer,em 1976. Dona Júlia morreu em Belo Horizonte aos 98 anos, em 1971, e em sua velhice conviveu mais com outros familiares que não Juscelino. Esteve presente na inauguração de Brasília, em 1960.

Relatos mostram que Leonor Quadros teve ativa participação nas campanhas do filho em São Paulo nos anos 50, mas foi apenas uma expectadora de sua rápida Presidência. Estava no Alvorada quando o filho renunciou, em 25 de agosto, e o acompanhou na viagem por navio à Europa, logo a seguir. A de perfil mais discreto foi a mãe de Sarney, dona Kiola, que permaneceu recolhida no Maranhão durante todo seu governo. Falecida em 2004, há apenas um registro de alguma interferência sua na longa carreira política do filho: nos anos 90, teria pedido para Sarney dificultar a aprovação da reforma da Previdência do governo Fernando Henrique.

O jornalismo do século XXI


As empresas precisam olhar para sua publicidade como parte fundamental do modelo de negócios e visão de mundo. Publicidade descolada de valores não terá vida longa neste século


Por Dal Marcondes, da Envolverde

Uma pergunta recorrente nas rodas de profissionais de comunicação é “que jornalismo precisamos para o século XXI?” Existem muitas divergências sobre o papel do jornalismo, mas o olhar sob o ponto de vista histórico mostra que a informação transformada em notícia, o fato desvendado em reportagem e a opinião estampada nas páginas dos jornais tem um papel determinante nas transformações que as sociedades vivem ao longo das décadas.

Os meios se transformam, se modernizam, ganham agilidade e capacidade de mostrar a notícia em todo esplendor, com cores, movimentos, sons e textos. Mas, por trás da notícia está um conceito, ou melhor, uma profissão, o jornalismo. O desenvolvimento de uma sociedade está intimamente ligado à qualidade do jornalismo que ela produz, que ela lê, que ela financia. Nestes últimos dias de 2010 foi manchete na Folha de S. Paulo que o governo pulverizou sua verba de publicidade entre 8,094 veículos de comunicação, contra apenas 499 privilegiados que recebiam toda a publicidade oficial até 2002. De 182 cidades que recebiam dinheiro para manter seu jornalismo, a verba de R$ 2,3 bilhões por ano foi dividida por 2.733 municípios. Claro, esta não é toda a verba de publicidade do mercado brasileiro, mas certamente é uma fatia significativa.

Esta democratização das verbas de publicidade está permitindo que mais veículos de comunicação possam fazer a si mesmos a pergunta sobre o tipo de jornalismo que a sociedade onde estão inseridos precisa. Quando se fala em democratização da comunicação não necessariamente se está falando na criação de mais veículos vinculados ao Estado, mas sim à oferta de recursos para que o empreendedorismo floresça entre as empresas que produzem jornalismo, em emissoras de rádio e TV, jornais, sites de internet e qualquer meio que ainda venha a ser inventado para veicular notícias, reportagens e opinião. Mesmo esta entidade à qual chamam de “mercado” vai acabar percebendo que alimentar o pluralismo da mídia e irrigar cada vez mais veículos com suas verbas de publicidade é “bom para os negócios”.

Sociedades modernas, inovadoras, capazes de estimular o empreendedorismo em suas formas mais dinâmicas precisam de jornalismo de qualidade, capaz de oferecer alternativas e desvendar caminhos, assim como apontar o dedo para suas feridas mais recônditas. Jornalismo é isso, contar as histórias que movem as pessoas, as mesmas pessoas que atuam nas escolas, nas empresas e nos governos, e que precisam ter um olhar abrangente sobre a realidade. O jornalismo que precisamos não é muito diferente do jornalismo que combateu as ditaduras do século XX, nem é distinto do jornalismo que aprendeu a lidar com os problemas complexos da economia inflacionária dos primeiros governos eleitos no Brasil. Certamente os meios são muitos e diferentes, mas o jornalismo não, deve ser exercido cotidianamente com os olhos voltados para a sociedade à qual serve.

Não é o jornalismo que deve mudar, são as pautas. Não adianta mais fazer sempre as mesmas perguntas, as respostas não se encaixam mais. A sociedade do século XXI não pode mais ser dividida em Norte e Sul, em A, B e C, em ricos e pobres, em desenvolvidos e sub-desenvolvidos. As pautas são outras. Talvez a maior diferença entre o jornalismo de agora e o jornalismo de ontem, que insiste em sobreviver em algumas redações, é que não se pode apenas “formar opinião”, é necessário “ter opinião”, e isso representa um risco para os editores, principalmente para aqueles acostumados a construir suas manchetes a partir de valores que só encontram paralelos nos camaleões. As pautas deste século são aquelas que mostram o que a sociedade precisa saber e não apenas o entretenimento do cotidiano. Há que continuar a ter espaços para espairecer, mas há que se ter, e com consistência, notícias, reportagens e artigos que mostrem onde estamos e quais são as opções de futuro.

O jornalismo não pode lavar as mãos diante dos desafios que a sociedade humana enfrenta e enfrentará ao longo deste século. As pautas não podem apenas olhar o passado e relatar, qual um motorista que dirige olhando pelo retrovisor, apenas o que ficou para trás. Desta forma a sociedade a quem a mídia deve servir vai cegamente acelerar em direção à tragédia. O jornalismo do século XXI deve ser plural, democrático, estar presente na cobertura local de cada comunidade, ser feito por profissionais que vejam além das obviedades dos interesses menores do “custo por mil”, e deverá ser um parceiro ativo na construção de futuros onde a vida seja um bem maior e a felicidade uma meta tangível.

Se me perguntarem agora, no apagar das luzes do governo Lula, qual é sua maior realização, creio que foi ter aumentado de 499 para 8.094 os meios de comunicação que receberam recursos para fazer jornalismo. Dinheiro para pagar repórteres, comprar papel, garantir o jornal de amanhã, seja ele no rádio, na TV, na internet, ou nas bancas de jornais. Estes números contrapõem com muita clareza a afirmação de alguns poucos veículos, que certamente estavam entre os 499 privilegiados, de que o governo Lula flertou com a censura.

As agências de publicidade que atuam no Brasil, que detêm o poder de financiar a informação e o jornalismo que a sociedade precisa para enfrentar os desafios deste século, precisam compreender que as pessoas não podem mais ser explicadas por sua classe social e seu poder de consumo. A cidadania se tornou mais complexa do que isso e muitas empresas já compreenderam isso. É necessário construir conhecimentos que tenham uma relação direta com as necessidades do amanhã e isso somente pode ser feito com pluralismo de fontes e de opiniões. Estas agências e seus clientes são vítimas de sua própria estratégia de centralização de verbas de publicidade. Os poucos veículos privilegiados subiram ao Olimpo da mídia e cobram cada vez mais caro por seus minutos e centímetros.

As empresas do século XXI precisam olhar para sua publicidade como parte fundamental do modelo de negócios e visão de mundo. Publicidade descolada de valores não terá vida longa neste século. É preciso ter juízo de valor sobre as informações, sobre o jornalismo que se está financiando para a sociedade.

Depois de Polvo e Mexilhão, agora é Lula


Correio Braziliense - 30/12/2010

Petrobrás batiza o maior poço da camada pré-sal como Lula. Homenagem, negada pela empresa, repercute mal no mercado.


Ex-presidentes da República costumam emprestar seus nomes a pontes, rodovias, praças e ruas, mas Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado no futuro por barris de petróleo. Levando ao limite a tradição política brasileira de homenagear chefes de Estado associando-os a grandes obras, a Petrobras anunciou ontem que Tupi, o maior campo comprovado até agora da camada pré-sal, passa a se chamar Lula. O gesto foi visto com ressalvas pelo mercado e coincide com a confirmação de José Sergio Gabrielli à frente da estatal durante o governo Dilma Rousseff. A estatal também rebatizou como Cernambi a área antes conhecida por Iracema.

Tupi e Iracema, localizados na Bacia de Santos (SP), eram denominações provisórias, e, conforme o artigo terceiro da Portaria nº 90 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), quando é declarada a produção comercial do campo, o concessionário modifica o nome pelo de animais marinhos. Apesar de a maioria dos campos em alto- mar serem conhecidos por nomes de peixes, não é a primeira vez que a companhia se inspira em moluscos. Há, por exemplo, os campos Polvo e Mexilhão, na Bacia de Campos (RJ).

A diretoria da Petrobras é quem aprova as denominações. Os nomes obedecem a uma regra específica da ANP, justificou a companhia. Oficialmente, a empresa descarta qualquer vínculo do campo Lula ao nome do presidente, que deixará o cargo no sábado. Nos oito anos da era petista, o investimento em exploração e produção de petróleo chegou a R$ 283 bilhões. Com a troca de nomes, a Petrobras comunicou ontem o início da comercialização de petróleo e gás natural na camada pré-sal.

O mundo financeiro reagiu mal à homenagem, indicando que o tiro pode ter saído pela culatra. O economista da corretora Souza Barros Clodoir Vieira disse que a medida é fora de propósito, especialmente em um momento de transição de governo. “O presidente Lula não precisava disso logo na sua saída. É mais um sinal de que a democracia no Brasil ainda não está totalmente consolidada, pois ele usou a estrutura da máquina pública para ajudar a eleger Dilma Rousseff”, criticou.

“Crustáceo”


O Campo de Lula tem um volume de 6,5 bilhões de barris e será o primeiro supergigante de petróleo do país (volume recuperável acima de 5 bilhões de barris de petróleo). O de Cernambi, com 1,8 bilhão de barris, está entre os cinco maiores do Brasil. Os dados do relatório final precisam ser aprovados pela ANP. A capacidade de produção diária da plataforma na Bacia de Santos será de 100 mil barris. A Petrobras opera o campo, detém 65% da concessão e tem como sócias o BG Group, com 25%, e a Galp Energia, com 10%.

Em viagem a Fortaleza (CE), ontem, onde lançou a pedra fundamental para a instalação da Refinaria Premium II e do terminal no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o presidente Lula comentou a mudança de nome do campo de Tupi. “Eu fiquei, fiquei orgulhoso”, disse para, em seguida, corrigir-se: “Não é o meu nome, é o nome de um crustáceo, da lula. É que eu pensei que só tinha lula pequena, aquela que a gente faz isca”. Na verdade, lulas são moluscos. Antes de deixar a cerimônia, porém, Lula voltou a falar sobre o assunto: “Então, eu fiquei feliz, sinceramente fiquei feliz. Obrigado, companheiros da Petrobras, por colocarem o meu nome”.

Ações
O volume declarado pela Petrobras nos dois campos que começam a ser comercializados, de 8,3 bilhões de barris, ficou acima das estimativas iniciais de 5 bilhões a 8 bilhões de barris. A informação não era esperada para este ano e ajudou a elevar as ações da companhia na Bolsa de Valores de São Paulo. Em dezembro, os papéis da Petrobras sobem cerca de 10%, em grande parte porque os fundos de investimentos (que possuem aproximadamente 15% dos títulos da empresa em carteira) partiram para as compras. O objetivo da operação é aumentar a demanda, que é fraca nessa época, para elevar o preço dos papéis da estatal e minimizar as perdas acumuladas no ano, que giram em torno de 25%.

Campo Lula terá mais 4 poços perfurados


Os próximos passos da Petrobras no campo Lula, serão a perfuração de mais três ou quatro poços produtores de petróleo até o fim de 2011.

Eles serão ligados à plataforma Cidade de Angra dos Reis, já instalada no campo e cuja produção está limitada, por determinação da ANP (Agência Nacional do Petróleo), a 15 mil barris por dia atualmente, para evitar maior queima de gás.

Com os novos poços, a extração de óleo chegará a 100 mil barris/dia (capacidade total da unidade) até o início de 2012, segundo a Petrobras -volume que equivale a 5% da extração total de óleo da companhia no país.

Essa unidade é a chamada de piloto, pois ainda coleta dados para fazer a avaliação das reservas do campo e porque ainda será instalado um sistema definitivo de produção em 2014, com capacidade de 180 mil barris/dia.

Para escoar o gás e permitir o aumento imediato da produção, foi construído um gasoduto marítimo para ligar Lula ao campo de Mexilhão, também na bacia de Santos. Esta última área já tinha um duto instalado até Caraguatatuba (SP). Falta apenas terminar um trecho terrestre até Taubaté (SP), o que deve ocorrer no começo de 2011.


Campo Lula

O diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Rafael Schechtman, alerta para riscos que possam ocorrer na produção dos novos campos, que terão condições inéditas na indústria do petróleo, seja pela profundidade do reservatório ou pela distância da costa.

"A Petrobras vai ter de apresentar um prazo para começar a produzir. Nessa fase de pré-produção, podem começar a surgir alguns pepinos. Pode ser que não tenha a produtividade esperada."

Os planos preveem ainda, em 2013, a implantação de uma segunda unidade-piloto de produção de óleo e gás do campo de Lula, que produzirá até 120 mil barris/dia. Irá para uma área até então chamada de Tupi-Nordeste.

A estatal também desenvolve outras áreas do pré-sal. Na semana passada, entrou em operação o teste de longa duração da área de Guará, em outro bloco de concessão (BMS-9) do pré-sal da bacia de Santos -Lula está no BM-S-11. O teste será usado para coletar dados para declarar a viabilidade comercial. Uol.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lula é o presidente mais popular do mundo

Popularidade de Lula é recorde mundial, diz CNT/Sensus

A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encerra oito anos de governo com 87% de aprovação, é a maior do mundo, afirmou nesta quarta-feira (29) o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade.

Segundo Andrade, Lula está à frente da ex-presidente chilena Michelle Bachelet, que tinha 84% de aprovação quando deixou o governo, e do ex-mandatário uruguaio Tabaré Vázquez, que teve 80% ao final do mandato.

O presidente da CNT também comparou o desempenho de Lula com líderes mundiais históricos, entre os quais o primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela (82% de aprovação), o ex-presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt (66%), e o general francês Charles De Gaulle (55%).

Andrade não especificou a fonte dos dados mundiais divulgados por ele nem se a metodologia dos outros países é comparável à da CNT/Sensus.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB), antecessor de Lula, tinha 26% de aprovação após dois mandatos, segundo levantamento da CNT/Sensus de 2001.

Levantamento
A avaliação da popularidade de Lula divulgada hoje é resultado da 110ª edição da pesquisa CNT/Sensus, para a qual foram entrevistadas duas mil pessoas, em 136 municípios de 24 estados, entre os dias 23 e 27 de dezembro de 2010. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Segundo o levantamento, a aprovação do desempenho pessoal do presidente está em 87%, contra 80,7% da pesquisa anterior. Cerca de 10,7% dos entrevistados desaprovam o presidente e 2,4% não responderam.

A pesquisa da CNT/Sensus traz também a opinião dos entrevistados em relação à situação de emprego, renda mensal, saúde, educação e segurança pública nos últimos seis meses e as expectativas a respeito dos mesmos temas para o próximo semestre. Uol

Homenagem do poeta Antônio Batista Marinho à Lula

Aviso aos navegantes


Amigos e amigas, logo mais vou viajar para terra dos meus velhos pais.Devo ficar por lá uns 15 dias.Levo comigo meu inseparável notebook, portanto, na medida do possível, vou continuar atualizando este blog sujo.Abraços a todos e a todas.Ótimo Ano-Novo e feliz ano novo para todos vocês.Beijão, para as mulheres, claro!

Na despedida, lágrimas



Silvia Bessa


Edição de quarta-feira, 29 de dezembro de 2010 Emoção marcou o último evento de Lula na sua terra natal, ontem à noite no Marco Zero, no Recife

No último discurso em Pernambuco antes de deixar a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chorou por três vezes e soluçou numa delas. ´Se eu falhasse, quem falharia era a classe trabalhadora, os pobres que iriam provar que não teriam competência para governar`, disse Lula em festa promovida no Centro do Recife, enquanto enxugava as lágrimas e justificava a cobrança que se impôs após vencer a eleição de 2002. O momento de maior emoção de Lula se deu ao lembrar do seguinte episódio narrado por ele: ´Eu lembro que um dia, aqui, uma mulher falou que não ia votar em mim porque eu ia tirar tudo dela. O que eu ia tirar dessa mulher? Eu falei: 'Marisa, estou assustado, que eu fui num barraco e uma pessoa que não tinha nada, tinha medo de mim. Marisa (a primeira-dama) me dizia: 'Não desiste que um dia você vai convencer' e isso aconteceu em 2002`.

Em seguida, ouvia-se pelo microfone Lula contendo o choro. Na plateia, dezenas de ouvintes o copiavam. A fala deLula durou 33 minutos. Cerca de oitenta mil pessoas estavam no Marco Zero, segundo o coronel Eden Vespaziano, da Polícia Militar; 300 policiais participaram do esquema de segurança. Ao escutar a rima do jovem poeta Antônio Marinho, um pouco antes, Lula já havia lacrimejado, passado a mão no rosto várias vezes e franzido a testa. Logo no início do discurso, mencionou a vergonha de chorar. ´Uma coisa que admiro no povo é que o povo chora para fora, o povo 'cafunga', lacrimeja e político chora para dentro com vergonha`. Com um rasgo de tempo, foi ele a 'cafungar'.

Lula cumpriu agenda longa em Pernambuco, durante todo o dia. À noite, anunciou o início das obras do Cais do Sertão-Memorial Luiz Gonzaga e a cessão de uso gratuito de um terreno para a Orquestra Cidadã Meninos do Coque. Recebeu como homenagem do governador Eduardo Campos (PSB) uma faixa da Comenda Ordem dos Guararapes. Vestindo-a, brincou, afirmando que irá dormir com a faixa da comenda depois que entregar a faixa presidencial sábado, 1º de janeiro.O presidente fez uma retrospectiva de sua trajetória pessoal ao sair do município de Caetés (Agreste do estado) em 1952 e das lembranças políticas. Relembrou as campanhas derrotadas de 1989, de 1994 e 1998 e afirmou que os insucessos permitiram a percepção que ´não era possível governar o país sem conhecer o Brasil na totalidade`. Lula disse que é agradecido a Deus porque, ´sem o dedo de Deus`, não teria chegado à Presidência. ´Não era normal que um retirante de Caetés, que saiu do Sertão para fugir da fome, se transformasse em presidente do Brasil`.

Duas frases marcaram o trecho final do discurso: ´Aprendemos a gostar de nós, conseguimos nos respeitar, acreditar em nós e quem acredita em si próprio nunca será derrotado`. Era uma avaliação emocional de quem chega ao fim de um ciclo de oito anos de administração tendo como marca a perseverança. A outra: ´A palavra de ordem é apoiar a companheira Dilma (Rousseff) porque ela fará mais e melhor por Pernambuco`. Apesar de pedir apoio para a presidenta eleita, elefrisou que permanecerá nas ruas (´Nem pensem que vocês vão se livrar de mim`).

Ele aproveitou a despedida para mencionar obras, entre elas da Transposição do São Francisco e da ferrovia Transnodestina. Ao destacar esta, fez menção a Miguel Arraes - ex-governador e avô de Eduardo Campos. Citou também o nome do ex-governador, senador da bancada de oposição a Lula, Jarbas Vasconcelos (PMDB). Rápido, o tempo foi suficiente para uma vaia ganhar corpo. Diário de Pernambuco.

Brasil: da austeridade ao crescimento com redistribuição de renda



De uma economia em crise, com pouco crescimento e inflação em ascensão, para o maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em mais de duas décadas, com desemprego em queda e reconhecimento internacional. A política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em oito anos de governo, foi marcada pela busca do crescimento com distribuição de renda.
A atuação do governo Lula na área econômica pode ser dividida em duas fases: a austeridade fiscal durante a gestão de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, de 2003 a 2006, e o crescimento com reconhecimento internacional da administração Guido Mantega na pasta, que começou há quatro anos e continuará no governo da presidenta eleita Dilma Rousseff.

Com a necessidade de reorganizar a economia após o processo eleitoral de 2002, Lula iniciou o mandato por meio de um forte aumento de juros, que combinado com um ajuste fiscal mais rigoroso, resultou num crescimento do PIB de 0,5% em 2003. Inicialmente tinha sido divulgada queda de 0,2%, mas os números foram revisados posteriormente.

Em 2010, o presidente Lula termina o governo com um crescimento estimado da economia de pelo menos 7,5%. A média de crescimento até 2008, ano mais forte da crise econômica, chegou a 4,2% e entre 2010 e 2014 a expectativa para o crescimento médio está em torno de 6%, de acordo com estimativas do Ministério da Fazenda. Somente em 2009, por causa da crise econômica mundial, o PIB caiu.

A demanda interna que era de 0.2% no início do governo deve alcançar, em 2010, 10,3%. Quanto a demanda externa, que em 2002 era de 0,2%, tudo indica que deverá ficar negativa em 2,8%, com o Brasil exportando menos em consequência, ainda, da crise financeira nternacional.

Altos investimentos

Contidos no primeiro mandato de Lula, os investimentos deslancharam na segunda metade do governo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que em 2002 representava -7,8% do Produto Interno Bruto (PIB), deve fechar 2010 em 19,1% na mesma comparação, de acordo com o Ministério da Fazenda. Os destaques são os investimentos da Petrobras, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A alta dos investimentos e do consumo impulsionou a indústria. Exceto em 2009, quando o Brasil ainda sentia os efeitos da crise, e 2003, o setor teve forte expansão. De 2,75% em 2002, a indústria deve encerrar 2010 com 8,5% de crescimento. O reconhecimento internacional dessa política veio em 2008, quando o Brasil recebeu o grau de investimento, certificação das
agências de risco de que o país não dará calote na dívida pública.

O maior crescimento econômico também se refletiu em maior riqueza por brasileiro. O PIB per capita, que um ano após o início do governo era de R$13.931, fechou 2009 em R$ 16.414 e a estimativa do Ministério da Fazenda é que chegue a R$17.500 em 2011, em torno de US$ 10 mil. Os efeitos do aquecimento da economia, no entanto, não se concentraram na parcela mais rica da população e beneficiaram as camadas mais pobres da sociedade, motivada pela política de valorização real do salário mínimo e pelos benefícios sociais com o Programa Bolsa Família.

Redução da pobreza

Entre 2002 até 2010 mais de 75 milhões de brasileiros foram incluídos na classe C e a desigualdade de renda pelo índice Gini caiu de 0,58% para 0,54% em 2009, com dados na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Em consequência, houve redução da pobreza em 45%. Enquanto, o percentual de pobres em 2002 chegava a 26,7%, em 2009 caiu para 15,3% da população.

A criação de empregos também foi considerada recorde pelo governo. Em 2002, foram gerados 961 mil postos de trabalho. Para este ano, a estimativa do Ministério da Fazenda é de 2,2 milhões. Em novembro, a taxa de desemprego, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atingiu 5,7%, o menor nível da história.

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 12,5% para 5,85% (estimativa do boletim Focus do Banco Central, em 14 de dezembro). A meta a partir de 2006 foi definida em 4,5%, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Fonte: Agência Brasil

Uma justa homenagem

Petrobras batiza Tupi de Lula e anuncia reservas de 8,3 bi no bloco BM-S-11



A área de Tupi teve sua comercialidade declarada nesta quarta-feira pela Petrobras e os sócios Galp e BG. O novo campo será denominado Lula, e tem reservas estimadas em 6,5 bilhões de barris de petróleo e gás recuperáveis. Tupi era o nome provisório da área descoberta. Após a declaração de comercialidade, os campos recebem nomes de formas marinhas.

A área vizinha de Iracema também foi certificada. Batizada de Cernambi, tem 1,8 bilhão de barris de óleo e gás. Os campos de Lula e Cernambi fazem parte do bloco BM-S-11, e juntos, somam reservas de 8,3 bilhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás).

Quando um consórcio declara comercialidade, ele anuncia que a produção naquele campo é viável em escala comercial. Depois da declaração de comercialidade, as reservas do campo são integradas ao portfólio da companhia.

O BM-S-11 começou a ser perfurado em outubro de 2006. A área de Tupi foi a primeira grande descoberta do pré-sal. Anunciada no final de 2007, foi a partir dela que o governo identificou o grande potencial da nova fronteira exploratória brasileira. Desde então, os leilões na camada pré-sal foram suspensos e um novo marco regulatório para o setor foi desenvolvido, e sancionado na semana passada pelo presidente Lula.

A Petrobras tem 65% do consórcio, sendo a operadora do bloco. A britânica BG tem 25%, com os 10% restante a cargo da portuguesa Galp.

PRODUÇÃO

A Petrobras anunciou na última segunda-feira (27) que a sua produção de petróleo subiu 4,7% em novembro, para 2.030.924 barris/dia, na comparação com outubro. O número corresponde ainda a um aumento de 2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Esse resultado sinaliza uma produção sustentável acima de 2 milhões de barris diários, marca atingida por poucas empresas de petróleo no mundo.

O crescimento do volume extraído, segundo a estatal, se deve à normalização dos níveis de produção de dez plataformas da Bacia de Campos que estavam em manutenção periódica no mês anterior.

Além disso, o início de produção do Piloto de Tupi, no pré-sal da Bacia de Santos, no final do mês de outubro e a entrada de mais um poço produtor na plataforma P-40, no campo de Marlim Sul, na Bacia de Campos, também contribuíram.

Considerados também os campos no exterior, a produção total de petróleo e gás natural da Petrobras atingiu a média diária de 2.620.347 barris de óleo equivalente diários em outubro. O volume indica um aumento de 2,5% sobre o mesmo mês de 2009 e de 3,4% em relação à produção global da Petrobras no mês anterior, quando foram produzidos 2.534.274 barris diários.

Luis Carlos Antero: Profunda crise a superar (Final)


Desde a crise de abastecimento da energia em 2001, fruto dos investimentos não realizados, a população, que administrou o desgoverno naquele período, passou a pagar o passado e o futuro dessa crise na própria conta do consumo mensal. No governo Lula, sob o comando de Dilma Rousseff, o nível dos investimentos foi retomado e foram superados os riscos de novos apagões, prevendo-se ainda uma ampliação contínua das fontes energéticas de origem hidrelétrica e das diversas fontes renováveis.


A crise social de FHC e sua trupe neoliberal ampliou o crescimento do exército de excluídos para cerca de 50 milhões, generalizou a fome nessas faixas da população, ocasionou o ressurgimento das epidemias como a dengue — em articulação com outros aspectos, a exemplo do desvio dos recursos do Saneamento para os rentistas e da demissão em massa dos agentes sanitários — e acentuado agravamento das precárias condições de saúde para os que dependem do atendimento público.


Ao tratar do legado de FHC, Lula iniciou a construção de um país diferente daquele que encontrou à beira da ruína, com seu povo empobrecido, a economia estagnada, a soberania ferida e a democracia mutilada.


O crescimento do desemprego tornou-se vertiginoso: o IBGE concluiu que, entre 1995 e setembro de 2002, o índice de desemprego praticamente dobrou de 4,67%, para 8,25% ao ano, indicando a presença de cerca de 14 milhões de desempregados. Segundo o Dieese, a taxa média de desemprego total — desemprego aberto mais oculto — nas seis maiores regiões metropolitanas, aumentou de 14,6% em 1993 para cerca de 16,6% em 2001. Aproximados 60% dos brasileiros trabalhavam sem carteira assinada.

No Rio de Janeiro, escoando em 2002, os CIEPS foram reduzidos à função de grupos escolares de meio-expediente, e 15 deles foram transformados em delegacias de polícia que incluíam, entre seus presos, ex-alunos. Consumava-se então a mais ostensiva, perfeita e irreparável obra da elite brasileira desde seus primórdios coloniais: o crescimento vertiginoso da violência e da criminalidade.

Neste crepúsculo de 2010, quando o Estado, ainda no governo Lula, resolveu enfim oferecer combate aos narcotraficantes nas favelas, cabe lembrar o que dizíamos há oito anos, ao avaliar a herança maldita: “Hoje, os comandos do narcotráfico lideram a guerra civil branca em pleno curso nas grandes capitais como o Rio de Janeiro e São Paulo, governando literalmente os bolsões de miséria consolidados pela política neoliberal adotada pelo presidente FHC”.

No compasso da “marolinha”

Foi o gigantesco passivo social, ao lado da profunda dependência aos centros financeiros internacionais (e de um imenso passivo externo), que ofereceu a dimensão da tarefa a ser enfrentada pelo atual governo ao posicionar o País no rumo da busca de prosperidade. Lula, ao lidar com o legado de FHC, iniciou a construção de um país diferente daquele que encontrou à beira da ruína, com seu povo empobrecido, a economia estagnada, a soberania ferida e a democracia mutilada. Tratou de reconstruir com absoluta prioridade o Estado nacional, sob a égide da soberania, da democracia e do resgate dos direitos do povo brasileiro.

Os oito anos do governo Lula foram marcantes muito mais pelo êxito na tarefa de conter o desmonte do Estado e promover o resgate da soberania, com a retomada do pensamento nacional subjugado pela ditadura militar e pela era neoliberal.

O grau de estabilidade conquistado no mercado interno em seus governos, foi fundamental para o enfrentamento da crise econômica mundial de 2008. Em plena crise o País gerou cerca de 900 mil novos empregos, mantendo o mercado interno aquecido. O consumo impulsionou a economia num ritmo mais constante de crescimento. Pela primeira vez, o Brasil passou à condição de credor externo e ainda emprestou US$ 14 bilhões ao FMI. As reservas internacionais cresceram para US$ 285 bilhões somente no Banco Central.

Ao impedir a privatização de um sistema de bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, entre as instituições federais de maior relevância) e de empresas estatais de grande porte como a Petrobras e a Eletrobrás, Lula comandou audaciosamente este enfrentamento. O BNDES tornou as grandes empresas brasileiras competitivas no mercado internacional.

Enquanto os países do centro hegemônico, embrulhados na crise financeira, sugam a liquidez do mercado e bloqueiam a valorização salarial, o Brasil ampliou o acesso ao crédito, disponibilizando R$ 1 trilhão, elevou o salário mínimo acima da inflação, manteve sob controle os preços dos produtos básicos e desonerou eletrodomésticos, entre os bens de consumo. Hoje, 72% dos domicílios brasileiros possuem geladeira, televisor, fogão, máquina de lavar.

Lula pela inclusão e contra a fome

Desse modo, os oito anos do governo Lula marcaram muito mais pelo êxito na tarefa de conter o desmonte do Estado e promover o resgate da soberania, com a retomada do pensamento nacional subjugado pela ditadura militar e pela era neoliberal, do que pela consumação das significativas demandas e transformações sociais requeridas pelo País e seu povo. Entretanto, assentou-se no período as bases para a consolidação de um projeto nacional de desenvolvimento, visto que o Brasil navega ao encontro da perspectiva que permite atribuir ao desenvolvimento econômico os indissociáveis aspectos relacionados à busca da justiça social.


Assim, reassume-se o Estado como indutor do desenvolvimento e, em especial pela via dos programas sociais e da Previdência, enquanto artífice da distribuição de renda que aquece o mercado interno de consumo.


Com esse desempenho, Lula liberou para sua sucessora a possibilidade de ultrapassar os limites das políticas públicas “compensatórias”, estabelecidas nos marcos do tratamento emergencial do gigantesco passivo social.

A luta contra a fome e contra a estratificação de imensos contingentes na condição da miséria absoluta, converteu-se numa prioridade que, ao compreender a inclusão social como uma necessidade do desenvolvimento, possibilitou a conquista de alguns índices históricos: cerca de 27,9 milhões de pessoas saíram da pobreza de 2003 a 2009; 35,7 milhões brasileiros ascenderam às classes A, B e C, e, pela primeira vez, a classe média é maioria no país; a desnutrição infantil diminuiu 61% de 2003 a 2008; aproximados 15 milhões de brasileiros conquistaram empregos com carteira assinada.

Hoje, numa população de 190 milhões, 105 milhões formam o contingente dos trabalhadores, dos quais 59,6% possuem carteira assinada, ainda que carecendo de melhor qualificação profissional. Pela primeira vez há, portanto, mais trabalhadores formais do que informais, e mais trabalhadores incluídos do que excluídos na Previdência Social, enquanto as taxas de desemprego alcançaram o menor nível em décadas: 6,1%.

A agricultura familiar foi estimulada, beneficiando os moradores mais pobres do meio rural. Hoje, há maior disponibilidade de crédito, garantia de compra da produção, luz elétrica e programas como “Territórios da Cidadania” em expansão. Aproximadas 586 mil famílias se instalaram em 47,1 milhões de hectares, o equivalente a quase duas vezes o estado de São Paulo.

Com este desempenho, Lula liberou para sua sucessora a possibilidade de ultrapassar os limites das políticas públicas meramente “compensatórias”, estabelecidas nos marcos do tratamento emergencial do formidável passivo social.

Foi este passivo, oriundo da ação de sucessivos governos — de matriz excludente e vocação autoritária ou neoliberal — voltados para a gestão dos interesses privados e suas demandas por novos patamares de acumulação, que abrigou uma iníqua concentração da renda e o abandono de faixas crescentes da população à própria sorte, ampliando o exército de miseráveis à margem do processo produtivo.

Num ambiente assim, a saída imediata foi a adoção dos programas de transferência direta de renda, a exemplo do Bolsa Família e do Fome Zero, ainda que sem uma vinculação produtiva mais formal, voltada basicamente para atender a população mais vulnerável à fome. Tais políticas passaram a alimentar a expectativa da natural possibilidade de confluência entre os efeitos da indução ao crescimento econômico e a inserção desses contingentes atendidos no mercado de trabalho — um aspecto influindo sobre o outro, mas que, de fato, somente ocasionam resultados mais efetivos na medida em que a melhoria de vida se consolida como expectativa social sustentada.

De fato e de acordo com nossa avaliação, a consolidação dos programas de transferência de renda, aliada à geração recorde de novos empregos e aos aumentos reais do salário mínimo (74% acima da inflação), proporcionaram a dezenas de milhões de brasileiros determinadas condições reais de consumo. Além da melhoria da condição de vida de dezenas de milhões de brasileiros, as políticas de inclusão social efetivamente demonstraram que a luta pela redução das desigualdades no País teve reflexos consistentes no cenário de crescimento economia nacional.


O governo Lula ampliou o emprego formal sobretudo no Nordeste, onde crescem os espaços de desenvolvimento.

O Nordeste que, tradicionalmente, apenas recebia atenção do governo federal quando o flagelo da seca se abatia sobre a região, é um território onde o impulso ao desenvolvimento econômico se articula com a geração de empregos, passando a abrigar grandes refinarias, estaleiros e gigantescas obras de infraestrutura como a da integração do rio São Francisco ao Nordeste Setentrional, da Ferrovia Transnordestina e da Ferrovia Oeste-Leste na Bahia.

Hoje, Lula reafirma que 2012 promete ser um marco para a região Nordeste. É o ano em que serão inauguradas estas obras e outros projetos, a exemplo da refinaria de Fortaleza, também estarão em estado avançado. A região, com investimentos escassos em governos passados, atualmente cresce em oposição à postura que negava aos nordestinos as mesmas oportunidades verificadas nas demais regiões do país.

Em 2003, exemplarmente o Nordeste reunia menos de 3% de médicos e doutores; hoje, alcançou os 10%. Com a nova política de educação a meta é alcançar pelo menos os 30% compatíveis com a população regional.


Os movimentos sociais não mais são criminalizados e a democracia participativa foi impulsionada numa inédita interlocução com a sociedade sobre os rumos do governo.

Hoje, o Bolsa Família beneficia aproximadas 60 milhões de pessoas, contribuindo para a redução das desigualdades sociais, requerendo novos e substanciais avanços além daqueles que mostram, entre 2003 e 2008, a redução de 12% para 4,8% da pobreza extrema. Esses resultados, no entanto, além de mostrar em substancial alívio o fosso social maximizado da ameaça de continuidade neoliberal, indicam o início de uma prolongada jornada na conquista de uma sociedade compatível com o projeto do “Brasil de todos”, de um país para 190 milhões de brasileiros. Pois, de acordo com o mais recente levantamento do IBGE, 65 milhões ainda se encontram nas situações de insegurança alimentar leve, moderada e grave.

Cresce a participação popular

Hoje, os movimentos sociais não mais são criminalizados e, precisamente ao contrário dos anos neoliberais de FHC, a democracia participativa foi impulsionada numa inédita interlocução com a sociedade sobre os rumos do governo, com a elaboração e o acompanhamento das políticas públicas pelas organizações da sociedade.

No País, de acordo com José Carlos Ruy, foram realizadas 109 conferências nacionais desde 1941. Nos primeiros 62 anos, de 1941 a 2003, ocorreram 37, com uma média inferior a uma, a cada dois anos. Nos últimos oito anos, realizou-se 73, com uma média anual de nove eventos, com etapas regionais e locais que os antecederam, mobilizando mais de cinco milhões de pessoas, não obstante a oposição conservadora da grande mídia — que se deu com maior ênfase na Conferência Nacional de Comunicação.

Um aspecto destacado se verifica na influência legislativa das conferências, que resultou, até outubro de 2009, na tramitação de 3.750 projetos de lei no Congresso Nacional.

Também neste processo político o Brasil se posiciona na vanguarda da participação popular no mundo, influindo no aprofundamento da democracia e fomentando necessárias repercussões na formação ou consolidação de lideranças populares emergentes. Daí surge um perfil diferenciado de formadores de opinião, bem distinto daqueles que protagonizaram a mídia conservadora — o partido das elites “bem nascidas” e muito mal intencionadas que, ao longo de séculos, travaram o pleno desenvolvimento do País.

Educação em alta

Este novo perfil da participação popular corresponde, noutro aspecto, aos avanços significativos quanto à Educação. Não obstante um imenso atraso histórico e a demanda por substanciais investimentos, esta relevante e estratégica área conquistou novas posições no tabuleiro geográfico e social.

Enquanto o reinado tucano e neoliberal de FHC não criou nenhuma nova instituição acadêmica, em oito anos do governo Lula surgiram 14 novas Universidades e 126 campi no interior do país; 214 novas escolas técnicas foram inauguradas; com as bolsas de estudo do ProUni, 750 mil jovens passaram a cursar faculdades particulares; centenas de milhares de jovens negros e indígenas das periferias descortinam a possibilidade do diploma universitário.

Segundo a atual PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE, enquanto o total de estudantes oriundos da classe D matriculados na universidade saltou de 180 mil em 2002 para 887,4 mil em 2009, o número de matriculados da Classe A caiu pela metade no mesmo período, de 885,6 mil para 423,4 mil.

Lula enfatizou, na avaliação do PAC realizada em dezembro de 2010, que a Ciência e Tecnologia passou a constar do Programa com recursos de R$ 41 bilhões, “que foram integralmente aplicados, controlados, e hoje o Brasil ultrapassou a Rússia e a Holanda na publicação de artigos científicos em revistas especializadas, no mundo”.

Um Brasil mais republicano

Enfim, realizou-se um esforço voltado para tornar mais republicano o Estado, buscando-se voltar a estrutura governamental — antes, ao longo de mais de cinco séculos, devotada aos interesses de uma restrita elite de proprietários dos meios de produção e de seu anacronismo — para o povo trabalhador e necessidades de um novo projeto de desenvolvimento.

Enfrentou-se neste período de oito anos uma direita disposta a barrar os avanços democráticos no Brasil e a estruturação de um Estado sobre os escombros de um País demolido na década perdida dos anos ’90.

O ano de 2010 entrou para a História com um especial significado: o coroamento da vitória das forças progressistas e democráticas do País, desde o reconhecimento de um Presidente que bate na casa dos 90% de aprovação e que, entusiasticamente, advogou a eleição de sua sucessora. O ano de uma inesquecível vitória do povo brasileiro, quando, pela terceira vez consecutiva, o obscurantismo foi derrotado — num espectro que reuniu do papa aos manipuladores e articulistas do velho Consenso de Washington, passando pelos remanescentes do terror e da tortura no regime militar.

Somando-se aos oito anos de mandato de Lula, caminhamos para os 12 anos com a presença das forças progressistas no governo — em oposição ao predomínio secular conservador, largo período no qual conhecemos raros intervalos de gestões mais ou menos democráticas.

Nesta expressiva vitória, a candidatura do atraso, de marca tucana, assumiu uma face reacionária nunca vista, desmascarando-se completamente numa campanha sórdida, denunciada pelo bombardeio midiático que traduziu o ódio à democracia, no propósito de enganar o eleitor. Foi então que se revelou claramente a inclinação do povo brasileiro para o lado progressista, como explicitou José Reinaldo Carvalho, traduzido na aprovação do atual projeto e na eleição da primeira mulher para a Presidência da República, com suas origens de esquerda, passado revolucionário e cultura marxista.


O reaparelhamento das Forças Armadas deverá incorporar, além das condições mais favoráveis para cumprir sua missão constitucional de defesa da Nação, uma formação democrática oposta aos corrosivos princípios da doutrina de segurança nacional.

O resultado eleitoral reuniu aspectos favoráveis ao êxito do próximo governo, elegendo-se mais de 70% da Câmara Federal, uma margem mais significativa de apoio no Senado e 17 dos governadores em sintonia com o novo rumo do País. Temos, nesta colheita, uma conquista estratégica que simboliza avanços, além de barrar o retrocesso das forças de direita — alérgicas à ampliação da democracia, mas agora ainda mais isoladas no cenário político nacional.

No cenário mundial, nossa política exterior terá uma base de sustentação interna mais vigorosa para enfrentar uma situação de tendência conservadora e de instabilidade política do capitalismo — submerso em uma grave e mais profunda crise —, acentuada hoje por sérias ameaças à paz internacional.

Entre as questões mais relevantes da “herança bendita”, evidencia-se a proteção do Brasil na ofensiva comercial movida pelos Estados Unidos, ao lado do enfrentamento da guerra cambial e da luta contra o protecionismo; da efetivação do fundo social (no qual se pretende a aplicação dos recursos na Educação, na Saúde e na Segurança, entre outras frentes e rubricas) articulado à exploração do petróleo do pré-sal e dos avanços no seu marco regulatório; de um salário mínimo que valorize ainda mais o poder aquisitivo dos trabalhadores; da aprovação da redução da jornada de trabalho para as 40 horas semanais, com a criação de milhões de novos postos de trabalho.

Trata-se também, no passivo herdado por lula, do sucateamento das Forças Armadas, visto que o governo de FHC acatou a determinação dos EUA de minimizá-las. Seu reaparelhamento ainda em curso deverá incorporar, além das condições mais favoráveis para cumprir sua missão constitucional de defesa da Nação, uma formação democrática incompatível com os corrosivos princípios da doutrina de segurança nacional — que ofereceram sustentáculo ao período de trevas do regime militar e ainda hoje alimenta a postura de preservação do obscurantismo e da proteção aos torturadores.

Também a Polícia Federal, igualmente desmontada nos anos 1990, quando, de acordo com J. C. Ruy, realizou apenas 28 operações, de 2003 até o começo de 2010, totalizou 1.033 iniciativas — quase quarenta vezes mais, prendendo 13.232 pessoas e 14.964 servidores públicos, entre eles 94 policiais federais. A Polícia Federal credenciou-se a prosseguir na linha de atuação na qual investigou, autuou e encarcerou juízes, policiais, auditores fiscais, agentes do Ministério Público Federal, prefeitos, governadores, parlamentares de todos os níveis, banqueiros, empresários — todos perfeitamente habituados e confiantes na tradição da impunidade.


Assim, avançamos para a consolidação do processo político iniciado em 2002. São sinais positivos que anunciam novos tempos para o Brasil e aproximam os brasileiros de um horizonte luminoso — de prosperidade e realização.

Um novo esforço hercúleo aguarda a primeira mulher presidente do Brasil, sob aspectos e desafios mais que lendários ou legendários, requerendo um sólido esforço de unidade à esquerda acerca de sua experiência histórica e a completa derrota do exclusivismo na política de construção de uma grande nação.

Os governos Lula foram insuficientes na realização de reformas estruturais inadiáveis, a exemplo da agrária, da política e da tributária; na determinação política e empenho quanto à abertura dos arquivos da ditadura em poder das Forças Armadas; nos avanços quanto ao Plano Nacional dos Direitos Humanos 3, bloqueado em seus aspectos inovadores pelo conservadorismo e por ministros com o perfil de Nelson Jobim; na federalização dos crimes contra os direitos humanos; numa agenda mais agressiva em defesa da preservação ambiental, em especial da Amazônia; na multiplicação dos investimentos em Educação, inclusive com a reforma das redes de ensino público municipais e estaduais; na Saúde, com a universalização do SUS (Sistema Único de Saúde) e na supressão das cadeias que submetem dezenas de milhões de brasileiros à dependência de convênios ou planos de empresas privadas; na Cultura, onde ainda campeia a indigência se dimensionada sua importância para um País soberano e socialmente avançado; na deficiência dos serviços de Saneamento básico, ausente de 52% dos domicílios brasileiros.

Não obstante tais desafios, entre inúmeros outros, é indiscutível que avançamos para a consolidação do processo político iniciado em 2002. Há, neste ambiente de significativas vitórias e notáveis dificuldades, um arcabouço de sinais positivos que anunciam novos tempos para o Brasil e aproximam os brasileiros de um horizonte luminoso — de prosperidade e realização.

*Luiz Carlos Antero é Mestre em Sociologia, Escritor, Jornalista e membro da Equipe de Pautas Especiais do Vermelho