sábado, 24 de novembro de 2012

O jornalismo podre da Folha

Edição/247
 
A Folha de S.Paulo faz, seguramente, o pior tipo de jornalismo do Brasil.A blindagem da Veja e Policarpo caneta na reportagem de hoje sobre o indiciamento de Andressa Cachoeira é vergonhosa.Até as calcinhas de Denise Abreu sabem que Andressa foi indiciada porque ameaçou o juiz Alderico Rocha dos Santos com a publicação de um dossiê em Veja. Policarpo Júnior, segundo Andressa, seria "empregado" de Carlos Cachoeira.Não obstante saber disso, a Folha omitiu eloquentemente essa informação.Ao invés de falar sobre o envolvimento de caneta, o sabujo da Folha escreve:ssegundo o relatório, Andressa anotou em um pedaço de papel o nome de pessoas que estariam com um suposto dossiê montado por Cachoeira com informações contra o juiz.Nomes de pessoas um caralho! Andressa Cachoeira disse expressamente no depoimento que Policarpo caneta é EMPREGADO DE CACHOEIRA.Esse fato justifica ainda mais o indiciamento de Policarpo caneta por formação de quadrilha, na CPMI do Cachoeira.Eu pergunto aos meus botões: será que o PiG pensa que a sociedade é repleta de idiota? Será que o PiG não entende que vivemos num momento em que as noticias correm como uma rastilho de pólvora?Será que esse tal de Fernando Mello noticiaria um fato desses-omitindo informação importante- sem ser por ordem do canalha Otávio Frias Filho?
 
 
Lria a matéria:
 
 

Veja e a máfia. Tudo a ver.

 

 
A CPI do Cachoeira acaba de divulgar o relatório final de suas investigações.
 
 
Aqui, provas valeram mais que suposições. Além do próprio bicheiro, condenado e solto (??!! alguém desenha pra mim?), de graúdos, foram indiciados: Policarpo Jr., editor da Veja em Brasília; Marconi Perillo, governador de Goiás; Demóstenes Torres, senador cassado e outros 40. O relatório ainda acusa de prevaricador o procurador Roberto Gurgel.
O mais importante, a meu ver, é indiciamento de Policarpo Jr.
 
Passamos anos acusando o PiG de agir como PiG. Principalmente por ter o domínio dos fatos (aqui, literalmente falando!) e a exclusividade da opinião publicada sobre eles. Chegou, enfim, a hora da verdade para uma das quatro famiglias que dominam a mídia no Brasil. As gravações entregues à CPI pela Polícia Federal, revelando o conteúdo de mais de duzentas conversas entre o editor da Veja e o bicheiro – trocando favores, definindo pautas e atacando adversários em matérias plantadas – não podiam passar em branco.
 
Cachoeira ainda aparece em “relacionamento íntimo” com o governador de Goiás, Marconi Perillo. E isso não é novidade. Afinal, o PSDB é campeão nacional de fichas-sujas. Marconi só vai engrossar o caldo.
 
Se, por um lado, a oposição e os juízes se agarram à condenação fraudulenta de José Dirceu para dar continuidade ao golpe contra o PT, por outro, a relação criminosa entre o editor da revista de maior circulação no país e um bicheiro cheio de tentáculos em elevadas esferas políticas, retira a Veja do saco das publicações mexeriqueiras e a afunda no dos criminosos lesa-pátria.
 
A inclusão de Policarpo Jr. e mais 4 jornalistas no grupo dos indiciados é um alívio. Corriam boatos de que o mafioso Civita intimidara os membros da CPI pelo livramento do editor de sua revista. Já Rupert Murdoch, o magnata da mídia mundial, mil vezes mais poderoso que Civita, foi obrigado a fechar um de seus jornais, o News of the World, por imposição das leis inglesas que regulam os meios de comunicação daquele país.
 
 
Nossa mídia rasteira classificou o relatório final da CPI do Cachoeira como retaliação pela farsa do julgamento da farsa do chamado mensalão do PT. O PiG foca somente os jornalistas envolvidos com a quadrilha de Cachoeira. Choraminga a mesma ladainha da liberdade de expressão de SUA famiglia. Mas o total de indiciados soma 34. Tem gente que recebeu coisa de R$ 1,8 milhões de Cachoeira. Em termos de valores em espécie, o que os jornalistas receberam é trocado perto do que movimentaram os graúdos. Mas se falarmos em reforços para a realização do debate pela Lei de Médios, é um argumento de peso.
 
Obviamente que o dono da Abril tem mais força política que os acusadores de Policarpo Jr. E pelo atual espírito de inconstitucionalidade que assola o STF – justo aqueles que deveriam proteger nossa Constituição com unhas e dentes –, Veja pode se safar nas páginas de toda a famiglia e nos tribunais. Mas não vai “apagar” sua associação com o crime organizado.
 
 
Nas manchetes, perdemos feio para a mídia corporativa. Mas existem outras frentes de batalha. Teremos muitas ações e eventos de apoio à Dirceu e Genoino. Mais adiante, quando partirem para cima de Lula, virá uma onda maior de protestos contra a criminalização do partido que não conseguem derrotar nas urnas desde 2002.
 
À partir do relatório desta CPI e somando-se as incontáveis falcatruas da publicação, Veja torna-se o exemplo mais cristalino da necessidade de regulação da mídia.
 
 
O PT ensaia uma nova postura. Anda trocando a indiferença conveniente e costumeira pelo enfrentamento e defesa de seus mais caros membros. Sabemos que é isso que a mídia golpista quer. Enfrentamento. Para que possa usar seus canhões assassinos de reputações contra os “insurgentes” sem dar chances de defesa – o que, aliás, ensinou aos capas-pretas do STF. Mesmo assim, a reação do PT é positiva e deve ser mais contundente.
 
 
Vem chumbo grosso do lado de lá. Se não mostrarmos agora nossa indignação contra a mídia e o STF, outros golpes, como o da 470, a roubarão de nós.
 
 

Blogueiro da Veja dissemina ódio racial ao PT com afirmações inventadas. Isso pode, Dr. Barbosa?


Deem uma olhada no título desta nota abaixo. Quando eu li, meu sangue ferveu. Entendi que alguém do PT tivesse dito isso.

Antes de mais nada, ninguém do PT disse isso. Quem escreveu essa coisa aí em cima por conta própria, como está registrado, foi o blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo.

No corpo do texto, Azevedo admite que ninguém do PT disse isso. Dá a entender que é sua "leitura do pensamento" alheio que o levou a essa conclusão.

O que é isso? Agora vale até inventar acusações dos outros terem "pensamentos" racistas? Tipo: "não disse, mas pensou"! Ainda mais com tamanha virulência? E publicar essas palavras incitando o ódio racial, entre uns e outros?

Ao que me consta, a liberdade de expressão na Constituição é para as pessoas expressarem seus próprios pensamentos, e não permite a um jornalista inventar pensamentos criminosos na cabeça dos outros, por mera "imaginação" do jornalista.

No fundo, o texto do blogueiro acaba usando terceiros como bucha-de-canhão, para resultar num texto repleto de impropérios racistas, sem que ninguém tenha feito declarações sequer próximas do que está escrito. E se ninguém fez tais declarações, é o autor que responde pelo que escreveu.

Acho eu que o portal da revista ultrapassou todos os limites do tolerável em sua guerra política contra um partido.

O que você acha, amigo leitor? O que acha a Procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público? O que acham os órgãos, inclusive estaduais sob domínio tucano, de defesa da dignidade humana e da igualdade racial?

Quem tiver estômago e quiser ler a íntegra dessa estrovenga de texto, está no site da Veja (não adianta mudar o texto, porque já copiei na manhã de sábado, 24 de novembro de 2012):

Vamos comparar o que Reinaldo Azevedo escreveu "que Lula pensa" (segundo a imaginação dele), com as palavras pronunciadas pelo próprio presidente Lula, quando ainda estava na presidência, durante o encontro com os blogueiros no Palácio do Planalto. Ele respondeu uma pergunta sobre os critérios para nomeação de ministros do STF:



Esse vídeo você nunca verá no subjornalismo panfletário da Veja, nem na Globo, porque desmente tudo o que Azevedos, Jabours, Mervais e outros vem falando e escrevendo durante anos. Porque prova o quanto Lula é estadista e republicano.

Com certeza, Lula deita e dorme o sono dos justos, com a tranquilidade de quem fez a coisa certa a seu tempo, dentro do possível, independentemente de uma ou outra coisa dar errado no final das contas.

Não falo pelo PT, nem por ninguém do PT, muito menos pelo presidente Lula; falo como um cidadão, lulista, que repudia esse tipo de texto do blogueiro da Veja porque acaba por disseminar o ódio racial e político. Aliás repudio veemente o uso de pessoas por sua etnia para panfletagens políticas, em assuntos que nada tem a ver com a luta por igualdade racial, principalmente como mero escudo ou bucha-de-canhão. No fundo é instrumentalizar os preconceitos com segundas intenções.

Para todos nós que defendemos a igualdade racial de verdade, jamais criticamos Joaquim Barbosa por causa de etnia e repudiamos quem critica. As críticas ao julgamento do "mensalão" são as mesmas feitas a outros ministros do STF "brancos". Quanto à etnia, o fato do presidente do STF ser negro só é motivo de orgulho, porque é prova de que o Brasil está mudando na democracia racial, mesmo discordando de boa parte da sentença de Joaquim Barbosa no julgamento. E continuamos lutando para que num futuro próximo isso seja tão rotineiro, que nem precisaremos ter o orgulho de sentir que o Brasil está mudando, porque o Brasil já estará mudado quando Joaquim Barbosa não for uma exceção. Haverá muitos outros ocupando qualquer alta posição, como ele.

Nossas críticas são às atitudes, não só dele, mas também dos outros ministros do STF, de condenar sem comprovar, de transparecer agir mais como acusador do que como juiz, a ponto do julgamento não pacificar as dúvidas sobre os acontecimentos reais, nem deixar claro a responsabilidade de cada um nos fatos.

Também é mentira dizer que havia cobrança por submissão politiqueira de ministros do STF nomeados pelo presidente Lula. A cobrança sempre foi por um julgamento justo, equilibrado e independente de pressões externas, sobretudo livre da "faca no pescoço do STF" colocada pela mídia, que já havia pré-condenado e estigmatizado os réus, jogando nas costas de uns, co-autoria inexistente de supostos crimes de outros, dentro do contexto eleitoral radicalizado desde 2006.

Também, em nome da verdade, é preciso registrar que, mesmo discordando de parte do resultado do julgamento da AP-470, diversos parlamentares, governadores e ministros filiados ao PT prestigiaram a posse do presidente do STF, como todos puderam ver na TV. Joaquim Barbosa foi escolhido para o STF por Lula, pelo seu mérito de ter currículo acadêmico admirável, por suas obras escritas, e pelo seu currículo profissional. Mas, ao contrário do que diz Reinaldo Azevedo, ninguém nega que houve também vontade política de promover igualdade racial no governo Lula. Pelo próprio fato de Barbosa viver mais nos meios acadêmicos e boa parte do tempo no exterior, ele não integrava as listas dos principais nomes candidatos a nomeação na época. Com as mudanças que o Brasil está passando desde 2003, em um futuro próximo, nas listas de candidatos a ministros ao STF haverá tantos juristas negros como brancos, e ninguém precisará se preocupar com a etnia de ninguém.

Nenhum ministro do STF nomeado por Lula deve favores escusos a ninguém. O que sempre foi e será reclamado de todo ministro do STF é fazer Justiça com independência de pressões, sobretudo da "opinião publicada". Reclama-se apenas o dever de lealdade à Constituição e aos direitos fundamentais assegurados a qualquer cidadão. Reclama-se imparcialidade partidária e o zelo pela soberania do voto popular contra pressões golpistas. Reclama-se a lealdade à verdade dos fatos como eles aconteceram e não como foram noticiados e interpretados na imprensa com objetivos eleitoreiros. Ninguém reclama de condenações provadas. Reclama das que deixam dúvidas em aberto. Não se pode julgar um copo cheio e outro vazio, como se ambos estivessem meio cheios e meio vazios. Nem interpretar um copo meio cheio, meio vazio, como se tivesse transbordando.Os Amigos do Presidente Lula

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Aviso aos amigos "terroristas"

 


 
Pessoal, estou com minha mãe-mais uma vez- doente aqui em casa, por isso não atualizei mais o blog.Mamãe está dormindo no meu escritório, daí a dificuldade de postar no blog.Não é fácil você compartilhar o mesmo local com uma pessoa que passa quase o dia todo deitada e gemendo com dores fortes(ela vai fazer uma ressonância magnética ainda hoje ou na segunda-feira, ainda não foi descoberta a causa das dores, mesmo ela já tendo se submetido a tês exames)). Os únicos momentos que posso postar é quando ela vai tomar banho ou fazer refeições, e, no mais das vezes, nesses momentos estou trabalhando fora de casa ou estou ocupado com outros afazeres.Sei que o PiG está desesperado com o relatório de Odair Cunha, que indiciou  Policarpo Caneta, Perillo, Cachoira, Cavendish e cia.Na mina volta, vou falar sobre tudo isso que está ocorrendo.Até breve.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os ministros de STF e as suas sentenças; simples e ridículo assim

 

 
Já estava inscrito na escolha da data do julgamento. Os ministros brasileiros dali em diante inscreveriam seu juízo na máxima de Voltaire: eles "só se serviram do pensamento para autorizar as suas injustiças e só empregaram as palavras, para disfarçar seu pensamento".

 
Parece haver um certo consenso de que o STF extrapolou, às raias de um golpe, no julgamento da ação 470. A data em que foi marcado o início e o fim do debate da ação, de modo a coincidir com o começo do primeiro e do segundo turno das eleições municipais, convenhamos, por si só, já configuraria uma aberração. Estranha-se que os advogados dos réus não tivessem insistido em adiá-lo. Para uma instituição, que se diz neutra, e que, pela Constituição, deveria sê-lo, o comprometimento político, a partir daí, deixou de ser uma hipótese. A condenação quase unânime dos réus não deveria, sob este aspecto, espantar ninguém. Já estava inscrito na escolha da data do julgamento. Os ministros brasileiros dali em diante inscreveriam seu juízo na máxima de Voltaire, eles "só se serviram do pensamento para autorizar as suas injustiças e só empregaram as palavras, para disfarçar seu pensamento".

Houve coisa igual em qualquer época democrática do Brasil?

Diante da verborragia algo inútil dos senhores ministros - para fazer de conta de que tudo era para ser considerado verdadeiro, sincero - talvez se encontre alguma coisa mais ou menos parecida no ajuizamento das penas a serem brandidas contra os escravos fugitivos nos séculos que antecederam a Abolição. Conjeturar o que virá a seguir, pode ser um exercício kafkiano, ou uma recorrência à mais desvairada fantasia - não terá nada de realmente conseqüente. E o Senado ao qual está de alguma forma afeto o STF - já que é o Senado que pode ou não cassar um ministro -deveria por suas barbas cãs de molho. Fica claro que viveremos num sociedade de vulnerabilidade jurídica sem precedentes na incipiente história da democracia brasileira. Mas fica assim: os ministros se fazem de isentos e nós fingimos que acreditamos.

Valha-nos Nossa Senhora, quem sabe. Na medida em que o ensaio de golpe do STF reduz o Brasil a Honduras e ao Paraguai, dois países que, com todo o respeito, ainda ontem eram ditaduras sem freios, o que advirá talvez só possa ser o pior, ou o mais ridículo dos mundos.

No fundo, deveríamos temer que nos levassem a sério como país. Desde que qualquer jornalista ou jurista estrangeiro resolvesse seguir pari passo a ação 470, a premissa da data do julgamento já levaria um observador isento, a considerar especioso o aprofundamento do estudo da ação. Para ser minimamente objetivo, o tal observador se perguntaria em que recanto do hemisfério, um tribunal imparcial de qualquer país civilizado, aceitaria iniciar uma ação, contra políticos de um determinado partido, justamente às vésperas de uma eleição qualquer. Certamente, só encontraria um país - o Brasil. Somos desmedidamente sérios com algumas coisas, dentre elas o futebol e o carnaval. Talvez nos valha que encentemos a ajuizar tais atividades com jurisprudências que nos dêem alguma credibilidade - já que em outras atividades, mais sérias ou realmente sérias, a essas alturas, não temos muito a acrescentar.

A questão, na verdade, nos humilha. Beethoven tinha uma franca desconsideração pela Áustria que o abrigou desde a juventude ( tinha nascido em Bonn, na Alemanha). Dizia, sem rebuços, que enquanto tivessem salsicha e cerveja, os austríacos adiariam sine die a sua revolução. Não tinha os austríacos muito em alta conta e, de fato, as seguidas surras que os exércitos austríacos levaram de Napoleão, no inicio o modelo "par excelence" do revolucionarismo então vigente, davam uma razão genérica ao compositor. Mas eram tempos de guerras. E Beethoven certamente exagerou na forma derrisória com que julgou os austríacos em face da Revolução de 1789 na França.

O caso brasileiro, talvez, risivelmente, seja pior. Nem menos superamos uma ditadura, deparamo-nos com vários tipos de tentativa de golpe. Seria de se lembrar a eleição de Collor, com a manipulação escandalosa da mídia - sempre ela? Seria de se rememorar que o ex-presidente que sofreu o impeachment encontrou o beneplácito deste mesmo tribunal que hoje faz de conta que se redimiu e que, por fim, decidiu jogar duro contra políticos? Se era para ser isso, por que exatamente começar com alguns políticos, e não com todos? E por que a data do início de tudo, justamente durante o período pré- eleitoral? Será que isso é para ser levado realmente a sério? Evidentemente que não, embora se dê, como certa, a tragédia da prisão de inocentes.

O incrível, contudo, do julgamento do chamado "mensalão"é que até gente de esquerda diz e repete de que "alguma coisa houve", como se isso dispensasse o que, afinal ficou consagrado, já na marcação da data do início do julgamento da ação 470: a necessidade de provas concretas para condenar os réus.

Em 1762, ano que marcou o centenário do massacre dos huguenotes na França, um protestante foi supliciado e morto sob a acusação de ter matado o próprio filho. O julgamento foi feito sob a pressão da opinião pública francesa, majoritariamente católica e que considerou procedente a acusação de que o pai matara o próprio filho, já que este se dispusera a adotar a fé católica, contra a vontade de Jean Calas - que este era o nome do homem, que se dizia inocente e que foi morto, "por suspeitas". Voltaire soube do caso e se esforçou o quanto pôde para provar a inocência de Calas. Não adiantou - os juízes, muito convictos de que o suspeito era realmente culpado, não apenas dispensaram as provas. Recusaram-se a imaginar que as evidências não são suficientes para condenar ninguém.

Não são muitas as semelhanças com a ação 470, mas lá, como cá, o que moveu os juízes - no caso francês, contra a opinião de Voltaire - foram, de novo, as malfadadas "evidências". Para os juízes católicos franceses que seguiam a escolástica", evidências não precisam ser provadas; existem em si. E, no fim das contas, em nome principalmente da intolerância religiosa, foram coerentes e condenaram um inocente. Em relação ao julgamento do mensalão, não parece ter havido intolerância alguma. Ao marcar o julgamento da ação 470 para antes das eleições, os juízes do STF, disseram ao que vieram - nada de intolerância - pura e simplesmente a decisão de interferirem no pleito. Na França foi o pior que existe - que é o princípio da intolerância. No Brasil não parece ter sido isso de modo algum. Foi antes o desejo de influenciar nas eleições. O resto foi o que tinha de ser feitos: as sentenças suntuosamente severas.

Simples e ridículo, assim.


Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

Bomba na CPI: Policarpo, de Veja, será indiciado

Quem viver, verá!


Edição 247:

Diretor da sucursal da revista em Brasília, o jornalista Policarpo Júnior é apontado pelo relator Odair Cunha (PT-MG) como integrante da quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira; senadores da oposição tentam adiar apresentação do relatório; procurador Gurgel, também citado no relatório, é acusado de prevaricar no caso Demóstenes e de vazar depoimento secreto de Marcos Valério à revista Veja; clima vai esquentar

 

Processo de improbidade contra Lula é extinto


O PiG não escreveu uma úncia linha sobre a absolvição de Lula.

 
O Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em decisão divulgada nesta segunda-feira, extinguiu um processo contra o ex-presidente Lula e o ex-ministro da Previdência Amir Lando. Ambos eram acusados de utilizar a máquina pública ao encaminhar cartas a segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) anunciando novas condições de empréstimos consignados em 2004. Conforme o TRF-1, a ação foi proposta após o término do segundo mandato de Lula, em 2011, e por isso não pode ser aceita.

"A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo", afirmou o despacho do TRF. A suposta promoção social, que segundo o Ministério Público (MP) - que entrou com a açãofoi julgada ainda pela 13ª Vara da Justiça Federal no DF e envolveu o Banco BMG, apontado pelo governo como a única instituição particular apta a operar na época a nova modalidade de empréstimo.

De acordo com a denúncia, entre outubro e dezembro de 2004, foram enviadas mais de 10,6 milhões de cartas informando sobre o empréstimo, embora, para o MP , não houvesse "interesse público" na divulgação daquele tipo de benefício. Na época, o MP pediu na ação até o bloqueio dos bens de Lula e do senador Amir Lando.Os Amigos de Lula

Imprensa em crise

      
Por: Lalo Leal
 
 
O próximo dia 7 é o dia “D” na Argentina: “D” de dezembro, de diversidade e de democracia. É o que diz um anúncio veiculado pela TV pública durante os jogos de futebol para lembrar a data da entrada em vigor da nova Lei de Meios Audiovisuais, aprovada há três anos pelo Congresso. Lembra também que apenas um grupo de comunicação insiste em não acatar a lei, aquele que reúne o conglomerado de veículos encabeçado pelo jornal El Clarín. São 240 TVs a cabo, quatro TVs abertas, nove estações de rádio AM e uma de FM. A nova lei impõe limites: uma empresa pode ser proprietária de, no máximo, 24 licenças para TV a cabo e dez para emissoras abertas de TV e rádio (AM e FM).
 
 
O objetivo é ampliar a liberdade de expressão dando voz a setores da sociedade emudecidos pela força do monopólio. Pela lei, as licenças de rádio e TV serão destinadas em partes iguais a emissoras estatais, comerciais e de “gestão privada sem fins lucrativos”, algo parecido com as nossas comunitárias.
 
 
Ao se negar a cumpri-la, o grupo Clarín afronta o Executivo, autor do projeto; o Legislativo, que o debateu e aprovou; e o Judiciário, que, ao considerar constitucional a nova lei, deve zelar pelo seu cumprimento. Além do combate interno, o grupo busca apoio internacional, como ficou demonstrado na recente reunião da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), realizada em São Paulo.
 
 
No encontro, o caso argentino foi apresentado como atentado à liberdade de imprensa, servindo de mote para condenações de outros governos populares, como os da Venezuela, Bolívia e Equador. O curioso é que nesses países a mídia comercial é majoritariamente oposicionista e atua com total liberdade. Basta ver as manchetes e os destaques diários de jornais como o El Universal, de Caracas, o El Universo, de Guayaquil, o El Diário, de La Paz, o próprio El Clarín, de Buenos Aires, e grande parte dos programas de TV.
 
 
Mas a vida para seus proprietários não está mesmo fácil, e não é por causa dos governos. A razão está na crescente perda de credibilidade de suas publicações, cada vez mais descoladas dos avanços sociais inegáveis que ocorrem nesses países. A população, ao votar, leva muito mais em conta as melhoras que sente no dia a dia do que as imprecações estampadas nas páginas de jornais e revistas.
 
 
Ao lado, é claro, do apoio de novas formas de comunicação capazes de mostrar o outro lado da moeda, e não só a internet. Diante do cerco imposto pela mídia comercial, governos populares passaram a impulsionar meios alternativos. Foi a forma encontrada para respeitar a diversidade de opiniões e dialogar com a população sem filtros conservadores. Reside aí, ao que tudo indica, o maior desespero dos empresários. Sua verdade, antes única, passou a ser confrontada com outras ideias e informações, em alguns países. Trata-se de um abalo.
 
 
Em todos os encontros empresariais de comunicação sobram interrogações sobre o futuro dos veículos impressos. Aparecem da noite para o dia gurus pagos a preço de ouro para indicar novos caminhos. Falam em “paywall”,“muro de cobrança”, em que o internauta acessa os conteúdos até um determinado limite de matérias. Depois disso, se quiser seguir, tem de pagar. A maioria mantém ainda edições impressas e virtuais simultâneas, enquanto outros tomam decisões mais radicais, como fez há pouco a tradicional revista Newsweek, ficando apenas na internet. De imediato esse parece ser o maior desafio da mídia tradicional. Mas a médio prazo a questão do conteúdo será o problema mais grave, não importando o suporte a ser usado, seja papel, seja tela. À medida que os níveis de renda e de escolaridade das populações latino-americanas crescem, suas exigências tornam-se maiores.
 
 
Partidarizações em campanhas eleitorais disfarçadas de “jornalismo independente”serão mais notadas e refutadas. Assim como erros de informação e pautas descartáveis, tão comuns hoje, serão desprezados. Como já começa a acontecer em alguns de nossos vizinhos, para desespero dos“donos da mídia”. Brasil de Fato

Sobre a entrevista de Dilma ao El País

 

O risco de lutar a batalha do dia anterior

O macartismo excretado pelo dispositivo midiático está corroendo os alicerces de uma cultura petista sedimentada desde os tempos de gestação e nascimento do partido. A inércia de uma tradição acomodatícia em relação à chamada grande imprensa chegou a um ponto de exaustão.

Marmorizada de ódio conservador e desrespeito pedestre no caso de alguns veículos e expoentes do colunismo demotucano, a guerra fria cabocla impõe uma experiência de acuamento até certo ponto nova na existência do partido - ainda que virulenta para saturar um ciclo.

Círculos dirigentes e militantes mais antigos não experimentaram nada parecido nem mesmo na sua origem, nos anos 70/80, quando operários do ABC se colocaram frontalmente contra o regime militar, em desafio aberto ao poder armado e empresarial.

Sedimentou-se então a suposição de que haveria da parte da imprensa se não apoio, ao menos respeito com o avanço da luta dos trabalhadores. E tolerância na criação de um partido próprio, de recorte socialista ecumênico.

Ancorada na intensidade histórica de um período de convergência democrática criou-se assim uma jurisprudência petista: a mediação com o conjunto da sociedade, embora marcada pela má vontade de alguns editores e donos de jornais e a rejeição aberta de outros, estava sendo feita à contento pelos meios de comunicação.

A avaliação pragmática, apoiada nas determinações do momento específico, excluiu das prioridades do partido a criação de um sistema de mídia próprio e abrangente. Até o 2º governo Lula, quando o ex-ministro Franklin Martins tomou a iniciativa adormecida agora na gaveta do acanhamento, o PT não incluía entre suas prioridades efetivas regulamentar o sistema de comunicação existente.

O projeto de um jornal de circulação nacional esteve sempre em pauta. E por isso mesmo nunca esteve. A rigor, nenhum dirigente histórico deu a ele a prioridade política, financeira e mobilizadora devotada, por exemplo, a uma campanha eleitoral.

A política de comunicação acabou se especializando na arte da conversa reservada com os donos dos grandes grupos de comunicação na reiterada tentativa de firmar armistícios em torno da isenção --de resto episódica e quebradiça.

O PT nasceu em fevereiro de 1980 com a simpatia abrangente dos jornalistas brasileiros. As greves históricas dos anos 70 e 80 no ABC paulista magnetizaram as redações e toda uma geração de profissionais formada na resistência à ditadura.

Os levantes metalúrgicos criaram o sujeito histórico do novo período acalentado. São Bernardo do Campo simbolizava o protagonista e o lugar da mudança. Era uma pauta de apelo avassalador.

Estabeleceu-se uma camaradagem solidária entre repórteres e os destemidos metalúrgicos de Lula. A intimidade com o baixo clero das redações trouxe apoios, informações e contatos. Era um tempo em que a luta operária carecia de escala e organização política.

A proximidade com os jornalistas - muitos dos quais renunciaram a cargos e carreiras para se engajar na luta sindical e depois, na do PT - criou também ilusões.

O trânsito fácil com a imprensa sugeria haver espaço a ocupar na caixa de ressonância da grande indústria da notícia. Formou-se um consenso: a margem de manobra existia, bastava habilidade e bons contatos para explorá-la.

Marcaria uma inflexão nesse entendimemto a derrota para Collor em 1989. A Globo editou o debate final da campanha; deu quase dois minutos adicionais ao 'caçador de marajá' no compacto que levou ao ar no Jornal Nacional; estigmatizou as falhas de Lula, selecionando-as em contraponto aos melhores momentos do rival. Não havia trégua nem isenção quando se tratava do poder. O alerta foi claro, mas não construiu uma novo diagnóstico político a ponto de renovar a agenda em relação ao aparato midiático.

Pesaria mais naquele momento a autocrítica das falhas da campanha do que a percepção do novo adversário de peso - com poderes para exacerbar a relação de forças e disposto a fazê-lo. Até o limite da manipulação, se necessário.

A 'união' nacional no impeachment de Collor, ato contínuo à derrota, e a vitória em 2002, num ambiente de hostilidade aberta, mas contrastado pelo racha que a inoperância tucana promoveria no interior da próprio empresariado, atalharam o conflito entre as convicções históricas do partido e a postura abertamente anti-petista da mídia.

A liderança de massa de Lula atingiu seu auge e reverberou no país durante os oito anos que esteve à frente de um governo exitoso no plano social e econômico.

O prestígio esmagador dentro e fora do país empalideceu o cerco midiático e coagulou o debate sobre o tema no interior do partido.

Parecia desnecessário.

Lula falou todos os dias, algumas vezes por dia, durante os 2.920 dias em que exerceu a Presidência da República.

O instinto político comandava a garganta. A voz rouca abria espaço na opinião pública estabelecendo uma linha direta com o imaginário popular, a contrapelo da má vontade dos veículos de comunicação.

Não eram apenas palavras como alvejavam os editoriais raivosos. Elas carregavam políticas bem-sucedidas que entravam na casa dos mais humildes, sentavam-se à mesa, mudavam a rotina. A voz rouca falava do que o povo vivia e queria viver. Tinha o que mostrar. A mídia era obrigada a repercutir e Lula falava sem trégua. Todos os dias. Pautava a conversa nacional: era uma estratégia militante de ocupação de um espaço que se tornara esfericamente adverso. Eles chamavam a isso de 'lulo-populismo'.

Paradoxalmente, a exuberância do ciclo de Lula na Presidência veio revalidar a ingenuidade dos que ainda apostavam na existência de um espaço de tolerância no interior das redações.

Escaparia a esses dirigentes petistas a brutal transformação em marcha no interior da mídia e na própria composição das redações. Ao longo de duas década de polarização entre a agenda afuniladora do neoliberalismo e as urgências sociais do país, o jornalismo brasileiro sofreria uma mudança qualitativa de pauta e estrutura.

A tentativa de impeachment de Lula em 2005, já no ciclo da chamada crise do 'mensalão' - que culminaria neste 12 de novembro com a condenação de José Dirceu e Genoíno à prisão, sacudiu a inércia petista com força, pela primeira vez.

O espaço de tolerância acalentado ainda por emissários autonomeados, que traziam recados dos donos da mídia sobre o preço a pagar por uma trégua na escalada golpista, perdeu eco na cúpula do governo.

Lula recorreu então ao movimento sindical. A palavra 'golpe ' foi entronizada no discurso da resistência - para horror dos que insistiam em um acordo com o dispositivo que costurava a derrubada do governo.

A reeleição em 2006 - quando se imaginava que ele sangraria até morrer - e o êxito em eleger a sucessora, em 2010, pavimentaram o espaço para o conservadorismo colocar em prática aquilo que já se esboçava há anos: seria necessário a eliminação política de Lula, do seu entorno - incluindo-se a destruição de lideranças petistas e a desmoralização do partido - para que a direita pudesse aspirar a dirigir o país novamente.

Numa quadra de clamorosa falência do projeto neoliberal, o tridente udenista da corrupção e a demonização da esquerda como sujeito histórico degenerado pôs-se a campo. Tornou-se a pauta-jogral do dispositivo midiático reestruturado para esse fim.

Instalou-se um "termidor" nas redações nesse período de acirramento programático. A fratura acalentada originariamente pelo PT, entre o baixo clero feito de jornalistas solidários e as direções conservadoras, foi cicatrizada a ferro e fogo com depurações e rupturas.

Profissionais íntegros e isentos não faltam nas redações. Mas os sistemas de controle, a pauta e o torniquete da edição, sob comando de robespierres que compartilham do diretório demotucano, esmagaram o espaço da isenção, sem a qual não há contraditório.

A grande mídia como ambiente democrático permissivo à formação da consciência crítica e progressista da sociedade brasileira não está em vigor no país. Pouca dúvida pode haver de que isso ameaça a democracia e a equidistância das instituições, do legislativo ao judiciário.

A percepção dessa ruptura, e os desdobramentos políticos que ela acarreta, cristalizou-se no linchamento midiático que subordinou as togas à cenoura dos holofotes, no julgamento da Ação Penal 470.

A tradição acomodatícia do PT em relação à chamada grande imprensa - seu descuido histórico com iniciativas para contrapor a pluralidade ao monólogo - tornou-se perigosamente anacrônica.

Quando a Presidenta Dilma diz que prefere o excesso de uma mídia ruidosa ao silêncio das ditadura não está dizendo nada de novo para a história do PT. Mas a frase soa insuficiente para as circunstâncias que se modificaram.

O PT sempre perfilou entre os partidos pluralistas, antagônicos à voz única, ao poder absoluto e à intolerância política, ideológica ou religiosa.

O que se discute agora é outra coisa.

Como fazer prosperar a democracia, o senso crítico e a pluralidade num ambiente em que um poder não eleito e sem rival à altura em sua abrangência e decibéis, dá voz de comando até mesmo à Suprema Corte --diz quem deve ou não ser julgado, como, com que precedência, as penas a cumprir e onde?

Condenado Dirceu, o poder pantagruélico não saciará.

São previsíveis os seu alvos, ele não os dissimula. Como contrapor a esse ruído despótico um contrapeso equivalente de vozes democráticas?

Essa é a pergunta que a mídia jamais fará à Presidenta Dilma. Nem por isso a história a exime de responder.

O monólogo conservador quer permanecer na privilegiada condição de árbitro acima de qualquer sentença ou regulação. E, sobretudo, blindado de qualquer contraponto crítico.

Não por acaso, a nova campanha macartista em curso tem como meta consagrar o interdito da publicidade federal aos sites e blogs progressistas, aqueles que semeiam a referência de um ponto de vista alternativo ao círculo de ferro conservador.

Por certo, a Presidenta não convalida em sua concepção de ruído a narrativa de uma nota só evocada por aqueles que sobrepõem a liberdade de empresa à liberdade de expressão.

As lideranças progressistas, e a Presidenta Dilma se inclui entre elas, não podem mais declinar de dar às causas as suas consequências.

As causas da crispação autoritária que lateja na vida política do país decorrem em grande parte do desequilíbrio avassalador cristalizado no seu sistema de mídia e comunicação. Os 50 dias de julgamento da Ação 470 tornaram isso autoreferente. Não enxergar é pagar o crediário do suicídio político.

Um governo democrático, que pretende fazer do Brasil um país de classe média - supõem-se que não simplesmente de consumidores de tablets, não pode mais lutar a batalha do dia anterior.

A disjuntiva que se coloca não é mais entre ditadura ou monólogo conservador. Não estamos nos anos 60 ou 70. Estamos diante de um aparato claustrofóbico de difusão que se avoca o direito de enclausurar a formação da opinião pública brasileira em pleno século XXI.

Não se constrói um país de classe média esclarecida sem as condições efetivas ao esclarecimento e à formação da consciência crítica. Não basta o crédito à aquisição de tablets. É obrigação de governo, também, assegurar espaço para que seu conteúdo seja plural e democrático.
 
 
Saul Leblon-Carta Maior

O jeito do PSB, de Eduardo Cmpos, combater a violência:mais um homossexual morto em Pernambuco

 

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De acordo com informações do ativista Luciano Freitas, do grupo pernambucano Leões do Norte, no mesmo final de semana da morte do jornalista goiano Lucas Fortuna, a polícia encontrou o corpo de outro homossexual, morto possivelmente a pedradas, na mesma região

 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O golpe de Gurgel

 

Sob a permanente e severa fiscalização do senador Fernando Collor, o procurador Roberto Gurgel adotou a velha lição de que o seguro morreu de velho e cuidou de blindar a retaguarda no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que ele, por lei, preside.
Lerdo para agir em certos casos, ele é ágil quando é preciso. Foi rápido, por exemplo, ao promover reforma no regimento interno, na última sessão do CNMP, realizada no dia 24 de outubro e, com isso, o Ministério Público Federal passou a ter 8 dos 14 votos nesse conselho. Gurgel controla a maioria. Um golpe típico.
 
 
Não bastou, para ele, a liminar concedida pela ministra Rosa Weber, do STF, em mandado de segurança impetrado por Gurgel. Ela suspendeu a apuração no CNMP em representação encaminhada pelo senador Collor, que acusa o procurador-geral por “inércia ou excesso de prazo” nas investigações sobre o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
 
 
Para Collor, tanto Gurgel quanto a subprocuradora-geral da República, Cláudia Sampaio Marques, “teriam permanecido inertes quanto ao dever de investigar, permitindo que os delitos atribuídos ao grupo chefiado por Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Cachoeira, continuassem a ser praticados”.
 
 
De fato, Gurgel “sentou” sobre as investigações e só mesmo a força natural de uma CPI o fez sair de cima. Em decisão que ainda será apreciada no mérito, Rosa Weber guarneceu Gurgel apoiada no princípio da “simetria”. A “preeminência” do CNMP equivaleria à do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ou seja, a exoneração cabe ao presidente da República com apreciação do Senado.
 
 
A propósito, Collor fez da tribuna do Senado um lugar especial para fustigar o poder de Gurgel. Um poder fácil de ser percebido diante do silêncio, de descaso ou cumplicidade, da maioria dos senadores.
 
 
Collor voltou ao ataque na segunda-feira 12. Acusou Gurgel de vazar informações sigilosas para a imprensa e incorrer, assim, em crime “contra a administração pública, tipificado como Violação de Sigilo Funcional”. Da tribuna ele lamentou o fato de o CNMP não “tomar as devidas providências” contra o procurador-geral, que, segundo Collor “se recusa a ser investigado”. O senador atirou no que viu e acertou no que não viu. Há o dedo de Gurgel na reforma. A digital é visível.
 
 
Nas mudanças havia a ideia de eliminar a inconstitucionalidade que havia quando o procurador-geral estava ausente nas votações do CNMP. Votava o vice-procurador-geral. Vários conselheiros sustentavam que somente a Constituição poderia autorizar a introdução de um “corpo estranho” na composição do Conselho.
 
 
Gurgel passou a ter poderes que nenhum dos antecessores dele teve. A prática disso fica assim: o Ministério Público Federal (MPF) passa a ter dois votos ordinários: o do próprio procurador-geral (Gurgel) e o do nome indicado pelo MPF (Mario Bonsaglia). E ainda, no caso do procurador-geral, ele mantém o chamado voto de Minerva, exercido em caso de empate.
 

Mas o grande final dessa história não é aquele. É este: nas questões disciplinares, a lei requer, em caso de condenação, a maioria absoluta. Exatamente os oito votos que o procurador-geral passou a ter. Ficou quase impossível condenar administrativamente um membro do Ministério Público Federal.
 
 
É essa a ameaça que a representação de Collor faz a Gurgel.
 
 
Mauricio Dias-CartaCapital

Ayres Britto poderia ser condenado se fosse tratado como foi o 'mensalão'?




De quem vocês acham que são estas frases abaixo?
... nessas horas o que eu posso dizer é o seguinte (...) eu tenho uma vida pregressa, eu tenho uma biografia, eu tenho um histórico de vida que é muito conhecido.
1 - ( ) De José Dirceu se defendendo das acusações no chamado "mensalão".

2 - ( ) De um ministro do STF se defendendo de suspeitas sobre seu genro envolvendo seu nome.

Em setembro de 2010, faltavam poucos dias para o julgamento de um recurso do ex-governador Joaquim Roriz no STF, sobre estar inelegível com base na lei da ficha limpa.

Um dos votos no STF era do ministro Ayres Britto, relator do caso e contado como voto contra Roriz.

No dia 3 de setembro de 2010 o advogado Adriano Borges, genro do ex-ministro do STF Ayres Britto (e sócio da filha dele em um escritório de advocacia), teve uma reunião com o ex-governador Joaquim Roriz para tratar de sua contratação para defendê-lo (o processo já estava no fim, há poucos dias do julgamento). A conversa foi filmada e vazou para a imprensa. Conversaram sobre o impedimento do sogro participar do julgamento, eliminando um voto contra.

O vídeo traz forte suspeita de maracutaia, conforme amplamente noticiado na época, levando o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-DF a abrir processo ético, ao genro de Britto renunciar a 11 processos que corriam no STF, e o próprio ex-ministro viu-se obrigado a pedir uma investigação sobre o genro ao Ministério Público, onde o vídeo já havia sido encaminhado por outros.

Porém, o contrato não foi consumado, o genro não defendeu Roriz e Ayres Britto votou contra o ex-governador. Portanto, apesar de tudo o que está registrado no vídeo, não há nenhuma prova irrefutável que justifique incriminar Ayres Britto. Ele tem o benefício da dúvida.

Mais complicado é o caso do ex-senador Expedito Júnior.

A Justiça Eleitoral havia determinado a perda do mandato do ex-senador Expedito Junior por irregularidades eleitorais. Deveria assumir a cadeira no Senado, em seu lugar, Acir Gurgacz. O Senado decidiu esperar o esgotamento de recursos para cumprir a troca. Gurgacz entrou com mandato de segurança no STF em março de 2008 visando fazer a mesa do Senado cumprir a sentença da Justiça Eleitoral.

Com o processo já em curso no STF (MS 27613), Expedito Júnior contratou o genro de Ayres Britto para substituir o antigo advogado e assumir a causa a partir de julho de 2009.

Em outubro de 2009 o mandato foi julgado e Ayres Britto não votou.
Clique para ampliar
 
MS 27613
Neste caso, ainda que Expedito Júnior tenha perdido a causa, sem o voto de Britto, consumou-se o ingresso do genro na causa para impedir o sogro de votar. Isto é proibido pelo Código de Processo Civil, no parágrafo único do artigo 134:
Dos Impedimentos e da Suspeição
Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:
...
IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;
...
Parágrafo único. No caso do no. IV, o impedimento só se verifica quando o advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém, vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz.
Portanto, neste processo, não era Ayres Britto quem tinha que se considerar impedido. Era seu genro que não poderia ingressar na causa depois do processo já estar aberto no STF.

Em um trecho do vídeo gravado, o genro do ex-ministro fala que cobraria R$ 4,5 milhões pela defesa de Expedito Júnior (1,5 independente do resultado e mais 3 em caso de êxito).

Apesar da filha e netos de Britto serem beneficiários dos polpudos honorários de seu genro, e do quadro suspeito formado, não há provas contra o ex-ministro e ele não responde pelos atos de terceiros.

Mas e se esse quadro geral fosse tratado como no caso do "mensalão"?

A teoria do "domínio do fato" poderia ser aplicada a Britto?

O fato dele deter o poder de voto que criaria dificuldades no processo, e do genro ingressar na causa provocando seu afastamento, não caracterizaria as agora famosas "provas indiciárias que gritam por si"? E não obrigaria Britto a "provar sua inocência"? Afinal não é isso que foi dito e feito no julgamento do "mensalão"?

O agora aposentado Ayres Britto, ao fazer a barba, poderia olhar bem fundo em seus próprios olhos no espelho e se perguntar se ele não teria que condenar a si próprio e seus entes queridos pelos mesmos motivos alegados contra os réus do "mensalão". Ou teria que fazer uma mea-culpa admitindo que deveria absolver os outros pelos mesmos motivos que julga os seus parentes apenas como feitores de "maluquices".

Em tempo: As frases citadas no início e a "maluquice" estão nesta entrevista de Ayres Brito ao portal Ig, em setembro de 2010.Fonte:Os Amigos do Presidente Lula

Dilma: receitas da troika levarão Europa à recessão brutal



Duras críticas à política econômica europeia, aliadas à defesa do modelo brasileiro de desenvolvimento com inclusão social, marcaram a entrevista da presidenta Dilma Rousseff em destaque no El País, neste domingo (18). “Distribuir renda é uma exigência moral, mas também uma premissa para o crescimento”, defendeu. Ela também falou sobre à oposição da mídia brasileira ao seu governo: “O povo não se deixa manipular em absoluto”. E, pela primeira vez, sobre o julgamento do “mensalão”. “Como presidente da República, não posso me manifestar sobre as decisões do STF. Acato suas sentenças, não as discuto. Mas isso não significa que nada neste mundo de Deus está acima dos erros e das paixões humanas”
 
Brasília - Em visita oficial à Espanha, a presidenta Dilma Rousseff foi destaque, neste domingo (18), no maior jornal espanhol, o El País. Na terra do euro, ela criticou duramente a política econômica adotada pelos países da União Europeia, que apontou como a responsável por provocar recessão em todo o mundo. “Eu não creio que o problema da Europa seja seu modelo de bem-estar social. O problema é que se tem aplicado soluções inadequadas para a crise e o resultado é um empobrecimento das classes médias. A este passo, se produzirá uma recessão generalizada”, destaca a reportagem do jornalista Juan Luis Cebrián.

A presidenta brasileira ressaltou que a má condução do enfrentamento à crise na Europa ameaça, inclusive, o desenvolvimento dos países emergentes. E sustentou que o modelo de austeridade adotado está fadado ao fracasso, com base na própria experiência latinoamericana dos anos 1980. “A Europa passa por algo que já conhecemos na América Latina. Há uma crise fiscal, uma crise de competitividade e uma crise bancária. E as receitas que se estão aplicando levarão a uma recessão brutal. Sem investimentos será impossível sair da crise”, disparou.

Para ela, é necessário pagar as dívidas, fazer o ajuste fiscal, mas é preciso tempo para que os países o façam em condições sociais menos graves. “Não somente por uma questão ética, mas também por exigências propriamente econômicas”. De acordo com a presidenta, o euro é um projeto inacabado e, se a Europa quer resolver seus problemas, tem que concluí-lo, através de supervisão e união bancária. “Na realidade, o euro não é uma moeda única hoje. O mercado distingue entre o euro espanhol, o euro italiano, o francês, o grego e o alemão”, justificou.

Modelo brasileiro
A entrevista também abordou as mudanças efetivadas no Brasil, desde a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, segundo o entrevistador, por ser o primeiro trabalhador a chegar à presidência da República, propiciou que “as classes baixas experimentassem um sentimento de autoestima como nunca haviam tido”. Para Cebrián, a eleição de Lula foi o anúncio de um novo projeto de inclusão social que, agora, Dilma aprimora: fazer do Brasil um país de classe média, não só no que diz respeito à renda, mas também em relação ao nível educacional da população.

O jornalista também apontou os gargalos do desenvolvimento brasileiro, os quais a presidenta foi apontando um a um como pretende resolver. Minimizou os atrasos nas obras de infraestrutura para a Copa do Mundo que, de acordo com o jornalista, tanto preocupam os turistas que se espantam com a precariedade dos aeroportes e rodovias. Dilma rebateu que não há com o que se preocupar: novos estádios serão inaugurados a tempo e alguns aeroportos, privatizados. A presidenta assegurou que também haverá os investimentos necessários em portos, ferrovias e rodovias.

Questionada sobre como superar o desafio da educação, em um país com 10% de analfabetos funcionais entre a população com mais de 15 anos, Dilma falou sobre os investimentos em creches, educação infantil, sistema integral, ensino profissionalizante e universitário. E destacou a aprovação da lei que reserva 50% das vagas das universidades para estudantes de baixa renda, escolas públicas e negros. A presidente falou também sobre a necessidade de industrializar o país e os esforços nesse sentido.

Questionada sobre o futuro da democracia brasileira, ela exaltou a capacidade de diálogo. “Em alguns países pode causar estranheza que a presidenta da República converse com as centrais sindicais. Para nós, é o normal. Algumas vezes estamos de acordo e outras vezes, não”, provocou Dilma. “Por que não ensina aos espanhois?”, sugeriu o jornalista. “Cada um tem seu sistema, não? Mas países complexos como os nossos exigem diálogo e participação. A experiência diz que é bom para enfrentar os conflitos”, acrescenta a presidenta.

Mídia e “mensalão”
O repórter também questionou a presidenta sobre as dificuldades que a mídia tradicional e o que ele chamou de “os novos sistemas de opinião pública”, as redes sociais, impõem a quem ocupa o poder. Dilma reiterou seu conceito de “liberdade de imprensa”, mas assegurou que nem governo e nem sociedade se deixam mais influenciar pela imprensa como ocorria antes. “Sempre digo que a imprensa brasiliera comete excessos, mas os prefiro ao silêncio da ditadura. De qualquer maneira, no país já não existe algo que era tradicional entre nós: o formador de opinião. Há 10 anos tomamos as decisões políticas em função do que beneficia aos brasileiros, e não por preocupações ideológicas de qualquer tipo. O povo não se deixa manipular em absoluto”, avaliou.

Dilma lembrou ao repórter que não contou com o apoio da imprensa durante a campanha presidencial, mas ainda sim conquistou 56% dos votos. Em um momento anterior da entrevista, o próprio repórter observou que seu governo conta com mais de 70% da aprovação dos brasileiros, índice maior do que contava seu antecessor e mentor político, o ex-presidente Lula. Ele citou também que a imprensa internacional considera Dilma uma das três mulheres mais poderosas do mundo, ao lado da chanceler alemã Angela Merkel e da secretária de Estado norteamericana, Hillary Clinton.

Embora publicada no domingo, a entrevista “Dilma, a forte” foi feita no último dia 12, quando o STF definiu às duras penas impostas às lideranças petistas acusadas de envolvimento no “mensalão”. O repórter a questionou sobre a condenção do ex-ministro José Dirceu, seu antecessor no comando da Casa Civil do governo Lula e um dos fundadores do seu partido. E, na entrevista, teve o cuidado de lembrar seus leitores de que Dirceu assegura ter sido condenado sem provas, em um julgamento eivado de interesses políticos e sob uma forte campanha midiática contra os acusados, cujo objetivo seria desgastar a figura do ex-presidente Lula.

Dilma, primeiro, destacou o esforço feito pelo governo Lula para combater a corrupção. “Poucos governos fiszeram tanto pelo controle do gasto público como o do presidente Lula. Abrimos o Portal da Transparência com todas as contas públicas ao alcance de quem quiser consultá-las. Também fizemos uma Lei de Acesso à Informação que obriga a divulgar os salários dos dirigentes”, afirmou. A presidenta mostrou seu empenho em combater a corrupção, não só na esfera pública como também na privada. “Sou radicalmente a favor de combater a corrupção, não só por uma questão ética, mas também por um critério político. (…) Um governo é dez mil vezes mais eficiente quanto mais controla, mais fiscaliza e mais impede [a corrupção]”, acrescentou.

A presidenta disse também que, como tal, não pode questionar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Entretanto, não avalizou as condenações feitas pela mais alta corte brasileira. “Como presidente da República, não posso me manifestar sobre as decisões do STF. Acato suas sentenças, não as discuto. Mas isso não significa que nada neste mundo de Deus está acima dos erros e das paixões humanas”, ressaltou dilma. “As paixões humanas e as políticas”, apontou o jornalista. “Talvez, estas [políticas] sejam as maiores”, acrescentou ela.


Fotos: Roberto Stuckert Filho
 
Carta Maior