sábado, 10 de novembro de 2012

Ao falar sobre Hollande, professor da Sorbonne elogia governo Lula

Prometeu, não cumpriu

 
 
Completados seis meses na Presidência, François Hollande tornou-se o mais impopular chefe de Estado da V República. Com apenas 36% de cidadãos a confiar no atual presidente socialista, segundo enquete realizada pela TNS-Sofres, ante 53% que ainda admiravam no mesmo prazo seu antecessor, o direitista Nicolas Sarkozy (ao cabo o presidente menos popular da V República), vale indagar: por que essa decepção com Hollande, o social-democrata que parecia inflar as velas rumo a uma mudança em uma morosa França, faz três décadas?

 
Quando eleito, em maio, Hollande, prometia aderir ao tema “crescimento” em uma Europa que só considerava planos de austeridade para combater a crise econômica. Este – o tema “crescimento”, para aumentar a competitividade e, por tabela, fomentar a criação de empregos – foi, sem dúvida, a carta determinante para a vitória de Hollande. Mas a promessa-mor do atual presidente, a de gerar “crescimento” na França e na Europa, não tem, por ora, vingado.
 
 
“Infelizmente, precisamos de austeridade para lidar com a crise”, argumenta Mokhtar ben Barka, professor da Universidade de Valenciennes. Ben Barka diz ter votado, “sem grande entusiasmo”, em Hollande. Seu voto, como a maioria daqueles a escolher o candidato socialista foi, antes de tudo, contra Sarkozy. No entanto, Ben Barka entendia que Hollande e seu Partido Socialista não dispunham de um programa convincente para lidar com a crise econômica.
 
 
Yves Sintomer, professor da Sorbonne, concorda: os franceses votaram contra Sakorzy, e não em Hollande. No entanto, Sintomer discorda de Ben Barka no plano econômico. Para ele, a austeridade provoca a contração da demanda na Europa. Estamos, diz Sintomer, “seguindo a mesma linha econômica da América Latina dos anos 1980, quando fundamental era diminuir as despesas públicas e, ao mesmo tempo, aumentar as exportações”. Esta política econômica, pondera o acadêmico, não funciona quando todos os países de um bloco econômico a adotam.
 
 
Autor do livro A Esperança de uma Nova Democracia (Lisboa: Campo das Letras, 2003), Sintomer alega que falta um modelo para a França escapar da crise. Para ele, um exemplo vem do Brasil. Os mandatos de Lula criaram um novo modelo que não é socialista, mas também não é neoliberal. “Trata-se de buscar desenvolvimento econômico fundado no consumo interior, e com o objetivo de diminuir as desigualdades sociais.” Mas na França não há uma proposta similar para tirar o país e o continente da crise.
 
 
Enfim, também a França vai mal. O país, martelam economistas de todas as tendências ideológicas, precisa de reformas estruturais para criar confiança pública e global. Há, inclusive, quem diga que a França poderá ficar na mesma situação da Espanha, e mesmo da Grécia. E os franceses, e o humor tangível nas ruas e na mídia, começam a duvidar de seu futuro como economia forte na Europa.
 
 
De fato, a situação das relações entre a chanceler alemã Angela Merkel e Hollande deixa claro quem segura as rédeas, a despeito dos planos de “crescimento” do presidente francês. A França é tida, na Europa, como a líder dos países em crise do Sul. Merkel, em contrapartida, é a líder da Europa que funciona.
 
 
Há 3 milhões de desempregados na França e 23% dos jovens de 19 a 25 anos não têm emprego desde o início da década passada. Fábricas francesas fecham. Suicídios, como na crise de 1929, ocorrem diariamente. É comum pessoas se jogarem diante de trens como se atiravam de edifícios, em 1929, nos Estados Unidos. De acordo com uma recente enquete da TNS-Sofres, 70% dos franceses creem que a situação só pode piorar.
 
A indústria automobilística francesa tornou-se, como disse François Sargent em um editorial no diário esquerdista Libération, “a metáfora da crise da indústria francesa”. Embora o custo da mão de obra na França seja equivalente ao da Alemanha, a indústria nesse país emprega duas vezes mais do que na França.
 
 
Os motivos? A França não produz carros da qualidade dos alemães – ou dos japoneses e coreanos. As empresas automobilísticas francesas são pequenas, se comparadas às estrangeiras. E não fazem reformas estruturais. Além disso, oferecem produtos menos variados e inferiores em termos de desempenho.
 
 
Nesse contexto, os cidadãos franceses estão, com razão, pessimistas. E, em grande parte, são estimulados a tanto pela mídia. A capa do semanário conservador L’Express desta semana indaga: “Existe realmente um presidente na França?” Ocorre que a mídia de esquerda é igualmente pessimista.
 
 
Hollande é, sem a mínima sombra de dúvida, um social-democrata, diz o cientista político Alain Duhamel. Ao contrário de seu antecessor e mentor François Mitterrand, eleito pela primeira vez em 1981, Hollande não é ideologicamente ambíguo. Mitterrand se dizia socialista, mas tinha relações com a direita, inclusive com o partido nazista na juventude. A questão, indaga Duhamel, é se “em uma situação de crise nunca vista, Hollande vai agir com a necessária determinação”.
 
 
Ao contrário de Sarkozy, Hollande é cidadão modesto. Secretário do Partido Socialista, tornou-se, em parte graças à mídia, candidato ideal. Há quem diga que se trata de alguém dotado de imenso senso de humor. Perdeu 10 quilos no último ano, trafega de moto por Paris. Trata-se de uma figura abordável.
 
 
Fica a recordação do mau comportamento da companheira de Hollande, Valérie Trierweiler, em relação a Ségolène Royal, a ex-candidata socialista às eleições presidenciais de 2007 e mãe dos quatro filhos de Hollande. Trierweiler, acham muitos franceses, foi grosseira em seu Twitter contra Ségòlene.
 
 
Na França, a vida privada das celebridades, incluindo políticos, costuma ser preservada. Houve mudança, porém, com Sarkorzy. O ex-presidente chegou ao Palácio do Élysée com sua mulher, e logo ela o deixou. Sarko casou-se então com Carla Bruni. Passou a ser visto como o presidente bling-bling, aquele que age rápido e gosta de dinheiro.
 
E eis que Hollande, mais discreto, também é alcançado pelas luzes dos holofotes sensacionalistas. Ele, ex-parceiro de Ségòlene, candidata socialista nas eleições de 2007, cala-se diante dos venenos da nova companheira. Segundo uma pesquisa, 67% dos franceses tiveram uma “impressão negativa” de Trierweiler. E até isso tem influência na baixa cotação do presidente.
 
Gianni Carta

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