terça-feira, 22 de março de 2011

Lições da primeira pesquisa sobre o governo Dilma


A presidenta Dilma Rousseff pode comemorar. Mesmo tem ter o carisma do ex-presidente Lula, transcorridos três meses do início do seu mandato, ela obteve aprovação superior à conquistada por seu antecessor. Segundo pesquisa do Datafolha, enquanto Lula atingiu 48% de avaliações ótimo/bom e 14% de ruim/péssimo, marcando o recorde de aprovação até ali, Dilma atingiu 47% de ótimo/bom e apenas 7% de ruim/péssimo. Feitas as contas, o saldo positivo de Dilma é de 40 pontos percentuais enquanto o de Lula foi de apenas 34 pontos.


Nenhum presidente eleito desde 1989 obteve aprovação equivalente em igual período. Sempre se considerando as pesquisas realizadas pelo Datafolha, subtraindo-se os percentuais de ótimo/bom dos percentuais de ruim/péssimo, todos os presidentes, exceto FHC, obtiveram saldos positivos no início de seus segundo mandato, mas conquistaram índices bastante distantes dos conquistados por Dilma. O saldo de Collor de Melo foi de 17 pontos positivos, o de Itamar Franco de 21 pontos positivos, o de FHC de 26 positivos no primeiro mandato e de 15 pontos negativos no segundo e o de Lula de 36 pontos positivos em seu primeiro mandato.


Há alguns indicadores, no entanto, que devem servir de alerta para os estrategistas do Planalto e que devem orientar a atuação futura da presidenta. O primeiro deles é o de que nenhum dos outros presidentes citados apresentou percentual tão elevado de eleitores que não souberam avaliar os primeiros meses de seus governos. Foram 2% os que não souberam opinar sobre o desempenho de Collor de Melo, 11% de Itamar Franco, 5% de FHC 1, 4% de FHC 2, 7% de Lula 1 e apenas 1% de Lula 2.


É significativo o fato de que Itamar Franco tenha sido o único presidente em início de mandato que tenha apresentado percentual de eleitores indecisos ou incapazes de opinar semelhante ao de Dilma Rousseff. Itamar sucedia um presidente que foi exonerado do seu cargo e saiu execrado por grande parte da população. Muitos estavam temerosos do que adviria ao impeachment e se o novo presidente teria condições de governar. Dilma enfrenta situação inversa, mas que resulta em condição semelhante. Ela sucede um presidente que terminou seu mandato com o maior índice de aprovação já registrado em pesquisas de opinião pública no Brasil e no mundo. Desconhecida do grande público e do eleitorado até o início da campanha presidencial, Dilma foi eleita em grande parte devido ao prestígio de Lula. Muitos estão ainda na expectativa de que ela prove que tem condições de governar.
 
O segundo conjunto de indicadores que deve ser considerado diz respeito aos setores que a população entende terem sido os mais beneficiados e os mais prejudicados durante os três primeiros meses do governo Dilma Rousseff. Comparativamente a igual período do governo Lula da Silva, percebe-se uma inversão de posições entre categorias sociais emblemáticas. Enquanto no início do governo Lula os trabalhadores, com 31% das indicações, eram os que apareciam como os mais beneficiados e os políticos, com 18%, os mais prejudicados, no início do governo Dilma os trabalhadores aparecem como os mais prejudicados, com 22% das indicações, e os políticos como os mais beneficiados, com 23%.


Sem dúvida que a votação do aumento do salário mínimo exerceu influência na avaliação dos beneficiados e dos prejudicados, mas é importante observar que ocorreu também uma inversão na ordem de classificação dos cinco problemas considerados mais importantes pela população no início dos governos Lula e Dilma. O desemprego, que aparecia em primeiro lugar com 31% no governo anterior, passou a ocupar o quarto lugar com 11% no atual governo. A fome e a miséria, que apareciam em segundo lugar com 22%, aparecem agora em quinto lugar com 7%. A saúde, que aparece agora em primeiro lugar com 31%, aparecia em quarto lugar com 6%. A violência, que aparece em segundo lugar com 16%, aparecia em terceiro com 18%. A educação, que permaneceu em terceiro lugar no início de ambos os governos, apresentou agora um aumento expressivo, passando de 4% para 12%.


Pode-se concluir que a população entende que alguns problemas já foram superados minimante e que a resolução de outros problemas passou a merecer agora tratamento prioritário. Não mais a preferência no enfrentamento do desemprego e da fome e da miséria, que afligem especialmente os trabalhadores, mas a melhoria das condições de saúde, segurança e educação, que atingem mais intensamente os trabalhadores, mas afetam também o restante da população. Inseridos no mercado de trabalho e de consumo, os trabalhadores e o conjunto da população anseiam agora por melhorias significativas nos serviços públicos cuja responsabilidade cabe prioritariamente ao governo federal.


Responder a estes anseios será a prova de fogo do governo Dilma Rousseff. Melhorar a qualidade e tornar eficientes os serviços de saúde, segurança e educação exigirá disposição e talento do atual governo para realizar reformas nas estruturas mais profundas do Estado brasileiro. Além da revisão das políticas e das práticas adotadas nas áreas específicas da saúde, da segurança e da educação, exigirá modificações significativas no sistema tributário e fiscal, no funcionamento do aparato burocrático do estado e nas diferentes carreiras de seus servidores, bem como no sistema previdenciário. Sem que estas reformas sejam realizadas, não existirão recursos suficientes nem instrumentos adequados para a satisfação dos anseios populares.


Diante deste quadro, é alvissareira informação fornecida pela pesquisa do Datafolha de que 78% dos eleitores têm expectativas positivas no desempenho da presidenta Dilma Roussseff. Expectativa positiva que, com variações mínimas, se distribui de modo equilibrado entre homens e mulheres, em todas as faixas etárias, de renda e de escolaridade, nas diferentes regiões, nas áreas metropolitanas e no interior do país e é elevada mesmo entre os entrevistados que declararam não ter votado em Dilma para presidente. Com tanto apoio de opinião pública, a presidenta terá respaldo para realizar as reformas necessárias e urgentes e que serão imprescindíveis, tanto para promover o desenvolvimento do país quanto para manter elevado o prestígio popular conquistado por ela até aqui.

Fonte:Sul21

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