segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

2010 é um ano promissor



Juan Jensen


O Estado de S. Paulo - 25/01/2010


O ano de 2009 terminou melhor do que começou. No início do ano estávamos no auge da crise econômica mundial e seus efeitos sobre a atividade econômica doméstica eram, até certo ponto, desconhecidos. Hoje, vimos que as previsões mais pessimistas não se materializaram (esperamos que o PIB recue apenas 0,25% no ano) e que o Brasil se saiu razoavelmente bem na crise. Mas o melhor ainda está por vir, pois teremos um 2010 promissor.

No cenário internacional, após expressiva retração do PIB dos países desenvolvidos em 2009, observaremos uma retomada gradual das economias de EUA, Europa e Japão em 2010. Os efeitos das políticas monetária e fiscal expansionistas já se fazem presentes e devem aparecer em maior grau ao longo do próximo ano. Com isso, lentamente os estímulos devem começar a ser retirados a partir do segundo semestre. Nos emergentes, principalmente na China, o cenário é diferente. Apesar do forte impacto da crise, principalmente pelo canal das exportações, o PIB apenas desacelerou, pois o governo conseguiu substituir parte da demanda externa por um maior dinamismo doméstico. Essa situação deve permanecer em 2010, ano em que a economia chinesa se deve expandir ao redor de 9,5%. O mundo como um todo, após queda em torno de 0,8% em 2009, deve crescer 3% em 2010.

No Brasil a trajetória de recuperação econômica é bastante clara. Apesar de a nossa expectativa para o PIB de 2009 ser ligeiramente negativa (-0,25%), a economia brasileira está em expansão há três trimestres. Há que se destacar também o nível de consumo privado, que foi pouco afetado pela crise, por causa dos pequenos efeitos sobre o mercado de trabalho, com limitado impacto na ocupação e com a manutenção de ganhos reais expressivos na renda em razão da baixa inflação e da rápida recuperação do mercado de crédito.

Para 2010 esperamos expansão da economia de 5,2%. A fundamentação do elevado crescimento é, além de um carry over elevado - estimado em 2,4 pontos porcentuais -, dada pela demanda doméstica, que tem justamente seus pilares no mercado de trabalho (expectativa de elevação da massa real em 5,6%) e do crédito (expectativa de alta do saldo às pessoas físicas em 14,5%).

No campo inflacionário, o IPCA de 2010 deve ficar em 4,2% (abaixo da meta de 4,5%), apesar do forte crescimento econômico. As razões para o bom comportamento da inflação são diversas, e a principal é que o crescimento ocorre sobre capacidade ociosa. Adicionalmente, os preços administrados vão puxar a inflação para baixo, principalmente os regidos por contratos atrelados aos índices gerais de preços (IGPs). Os riscos de uma inflação mais alta estão associados aos fatores que o Banco Central vem apontando, como uma rápida utilização de fatores ociosos, setor externo com inflação de commodities, insuficiência de investimentos e estímulos fiscais em demasia.

Em termos de política monetária, o cenário demanda algum aperto ao longo do ano. Na nossa visão, se os riscos de desvios da inflação de 2010 não se materializarem, o que é mais provável, a elevação dos juros deve vir em setembro para combater riscos de desvios da inflação em relação à meta de 2011. Estimamos um ciclo total de 250 pontos, estendendo-se até abril de 2011. Este cenário tem como requisito uma mudança na condução da política fiscal, que, se não ocorrer, terá de ser compensada por um ciclo de aperto monetário maior.

Assim, é justamente a questão fiscal um dos temas que terão maior atenção em 2010. Se em 2009 houve redução da arrecadação e aumento dos gastos, 2010 será marcado pela retomada da arrecadação, mas os gastos vão continuar a se expandir em grande monta. Com isso, a situação fiscal, que poderia ser revertida em grande medida no ano, retrocederá apenas parcialmente. De qualquer forma, o cenário permite aumento do superávit primário, para 2,4% do PIB, aquém do desejado, mas suficiente para retomar a trajetória de queda das relações dívida líquida/PIB e dívida bruta/PIB.

Não podemos nos esquecer também de que 2010 será um ano de eleições presidenciais e, em razão disso, vislumbramos aumento de volatilidade em alguns mercados. A depender dos discursos dos candidatos à Presidência, podem surgir dúvidas sobre a condução futura da política econômica. E um dos mercados que tendem a ser mais afetados por esse aumento de incerteza é o cambial. Nossa expectativa é que o cenário político-eleitoral leve a alguma saída líquida de recursos de renda fixa e variável do País e, portanto, a uma depreciação momentânea da taxa de câmbio, que pode atingir valores médios próximos a R$ 1,90/US$ em setembro e outubro. Para o fechamento do ano, com o anúncio da equipe econômica do próximo governo, as incertezas devem diminuir e a cotação deve recuar para R$ 1,75/US$.

Em resumo, no próximo ano teremos alto crescimento e inflação sob controle, que fazem de 2010 um ano promissor. As incertezas em relação à situação fiscal e ao cenário eleitoral, com suas consequências sobre a economia, não serão suficientes para estragar o ano que está começando, mas podem minar os seguintes, a partir de 2011.

Nenhum comentário: