quarta-feira, 20 de agosto de 2008

DURMA COM UM BARULHO DESSE

20 DE AGOSTO DE 2008

Luciana Genro e Democratas: "festa estranha com gente esquisita"

O acompanhamento das eleições municipais pode trazer surpresas aos leitores e internautas que acompanham o noticiário político nacional. As alianças municipais são voltadas para os interesses locais. Muitas vezes, partidos adversários no campo nacional se aliam em torno de propostas específicas para as suas cidades. Isto faz parte do jogo. Entretanto, algumas disputas têm um caráter muito mais simbólico e fogem da lógica local. Seria impensável assistir uma aliança entre a esquerda e o Carlismo na Bahia, entre tucanos e petistas em São Paulo, e por aí vai.

por Gustavo Alves*

Mas, nestas eleições, as surpresas começaram em Minas Gerais, com a insólita aliança entre o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Estas duas lideranças políticas de forças antagônicas, em nome de um acerto para 2010, costuraram a mais estranha aliança. Deixando as propostas ou plano de governo em último plano, ungiram o desconhecido Márcio Lacerda como candidato de união. As pesquisas têm mostrado que o povo, que não foi convidado para este "casamento", não aceitou assistir passivamente e está apostando na candidatura de Jô Moraes. A força da candidatura de Jô tem resistido às pressões ancorada num apoio que reúne petistas insatisfeitos e aliados históricos.

Uma outra aliança que tem arrepiado os analistas políticos é a recente afinidade entre a candidata do P-Sol à prefeitura de Porto Alegre, Luciana Genro, e o vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó, do DEM. A afinidade entre os dois políticos começou no auge da crise do governo Yeda Crusius (PSDB), quando o vice divulgou conversas gravadas entre ele e o ex-chefe da Casa Civil.

Luciana se aproximou de Feijó com o claro objetivo de derrubar a governadora tucana, que corria o risco de ser impedida pelas denúncias que atingiam seu governo. É desnecessário lembrar que a perigosa mistura de arrogância e incompetência de Yeda resultaram numa grave crise que paralisou o governo estadual.

A gestão tucana no Rio Grande do Sul, que do ponto de vista administrativo já era um descalabro, perdeu seu apoio político.

A possibilidade de que o governo fosse impedido não era pequena, pois as denúncias atingiram gravemente o núcleo duro do staff de Yeda.

Portanto, a possibilidade de se apoiar o vice Feijó para que ele abrisse seu arquivo de gravações e desse o "beijo da morte" na sua ex-aliada Yeda tinha sentido na lógica do P-Sol.

É importante destacar que os demais setores da esquerda reiteraram que se fosse votado o impeachment de Yeda, seu vice cairia junto.

Mas o que parecia "oportunismo político", tem se transformado num relacionamento sincero.

A escolha do Partido Verde como companheiro de chapa de Luciana já mostrava uma abertura inédita para os padrões do P-Sol. O PV participa da base do governo Lula, alvo preferencial do partido de Heloísa Helena, além de ter uma postura muito mais ampla no quesito alianças (apóia Kassab em SP, o PT em Florianópolis, os tucanos e petistas em BH e é aliado dos tucanos no Rio).
Esta semana, a relação Luciana-Feijó se tornou pública e notória, com a divulgação de agendas conjuntas, com Feijó na condição de governador em exercício.

Você, leitor pode e deve achar que isto é um exagero do autor deste artigo, eu mesmo custei a acreditar, mas basta uma consulta ao link: http://www.psolrs.org.br/lucianagenro/?p=395, para ver que não se trata de exagero.

Luciana Genro e seu partido podem finalmente se livrar da alcunha de raivosos, esquerdistas e intransigentes. Podem ser agora taxados de "surpresa" nesta eleição, não pelas propostas, mas pelo ineditismo de se aliarem ao herdeiro histórico da ARENA.

Mais do que interesses locais, estamos assistindo uma mudança profunda no quadro político, só que sombreado e oculto pela bruma das disputas eleitorais nas cidades.

2010 será muito diferente do que apostam nossos analistas políticos e suas "vãs" filosofias.

*Gustavo Alves é jornalista.
Sem comentários, literalmente.

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