segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

DE BELÉM, UM RECADO PARA DAVOS


Pedo Wilson
O mundo se encontrou em Belém, no Brasil. O mundo se encontrou em Davos, na Suíça. Duas visões diferentes; uma social, humana, ecológica; outra econômica, capitalista. Os temas, os mesmos; a crise econômica, o aquecimento global, a paz, a guerra, a segurança. O que pensam os militantes da utopia, em Belém? O que pensam os senhores do poder econômico, em Davos? Por que tanta diferença entre os iguais? Por que tanta diferença entre os opostos? Um outro mundo é possível? Tudo merece reflexão, de ambos os lados, mesmo na diferença, com muita profundidade.

É possível afirmar que os dois temas de fundo, a crise econômica e a ambiental, atingem a humanidade por igual e merece uma abordagem mais profunda, tanto lá como cá. De Belém, um recado para Davos: a sociedade civil globalizada está atenta e esperançosa de que o fracasso do capitalismo possa atingir também a consciência daqueles. Queremos contribuir de forma singela com um olhar sobre os direitos humanos, sobre a periferia mundial. Queremos debater as carências e as angústias do povo, com o objetivo de buscar respostas para as questões que nos afligem.

Participar do encontro de Belém que se encerrou dia 30, foi para nós uma lição a mais de vida, plenamente. Um foro de debate fecundo. Temas como orçamento público, educação, cultura, comunicação, diversidade, juventude, populações indígenas, comunidades quilombolas, meio ambiente, Amazônia, direitos da mulher, da criança e do idoso. Enfim, durante toda essa semana buscamos respostas para algumas perguntas que nos angustiam como a cultura da paz. Em que medida nossas ações estão contribuindo, de fato, para a paz e implementando os paradigmas dos direitos humanos no Brasil, na América Latina e no mundo? No Oriente Médio, por exemplo?

É possível afirmar que a realização da 9ª edição do Fórum Social Mundial, mereceu, desta vez, uma atenção maior, da imprensa, da mídia, da classe política e até dos governantes. A presença de cinco de importantes presidentes da América Latina, Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chaves, Evo Morales, Fernando Lugo e Rafael Correa. A participação de deputados e senadores, do Brasil, do Parlamento do Mercosul, do Parlamento Europeu, foi bastante significativa. Mas, a presença do povo, dos militantes de direitos humanos, dos ativistas ambientalistas, a marcha que promove a união dos povos, a diversidade de rostos, o encontro dos movimentos sociais do planeta, a emoção vivida na Praça da República, o calor dos debates, tudo isso é inominável.

Os fóruns paralelos marcaram a amplidão dos temas debatidos. A participação das ONGs, dos grupos temáticos, a articulação, renderam para nós todos um aprendizado generoso das propostas para a construção de uma nova sociedade. É possível afirmar, sem medo de ser feliz, que já vemos uma esperança: Um outro mundo é possível. A eleição de Barak Obama para a maior economia do mundo, o seu discurso, suas primeiras atitudes, aumentam ainda mais nossa esperança.

O mundo está mudando. Embora seja um fórum apenas propositivo, Belém manda um recado para Davos: a crise econômica, a crise energética e ambiental, o modelo de produção e de consumo, precisam de uma urgente reflexão porque se tornaram insustentáveis. O modelo capitalista, as desigualdades sociais e a destruição do planeta, precisa parar. É preciso buscar outras respostas, de uma nova ordem capaz de resgatar a dignidade humana.

Davos precisa ouvir o recado de Belém para se salvar. A humanidade precisa seguir Belém, onde todos os temas foram debatidos de forma interativa, entre a linguagem da arte e do discurso. No meio dos representes dos índios, um líder quilombola, dos povos da floresta, uma líder feminista européia, um padre, um pastor. A língua de todos os povos, de todas as crenças, de todas as raças, de todas as cores, culturas e religiões. De todos os falares. Afirmamos categoricamente que a utopia continua, que não é uma quimera, mas sim um desafio, na construção diária da política como arte do possível, necessária, como o pão de cada dia. Davos precisa ouvir Belém.


Pedro Wilson é deputado federal do PT-GO

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