Celso Horta
Na raiz da crise, está a engrenagem da mais-valia que deu origem a mercados especulativos como o de derivativos
São muitas os adjetivos para falar da crise: americana, global, financeira e assim por diante. A unanimidade, no entanto, é apontar sua origem nos derivativos do mercado imobiliário norte-americano. Para quem não quer aprofundar a discussão, o melhor é pensar a crise apenas a partir da economia norte-americana.
Nesta lógica, pode-se lavar as mãos e torcer para que o presidente recém-empossado tome providências. Mesmo que signifique intensificar a guerra no Iraque ou incentivar o Estado de Israel a continuar bombardeando a Faixa de Gaza. Com toda razão, o professor Luiz Roberto Alves, em artigo intitulado “No meio da crise, as armadilhas da desorientação”, publicado no site do ABCD MAIOR recusa-se a aceitar análises simplistas sustentadas no discurso econômico em uso. “Somente um discurso ecumênico poderá encontrar novos valores e sentidos de futuro”, sustenta o professor.
Com este objetivo, vale buscar na teoria da economia política, conceitos que explicam as crises cíclicas do capitalismo: elas nascem da mais valia acumulada em prejuízo do consumo dos trabalhadores. Ou seja, o regime do assalariamento significa concentração de renda. E concentração de renda é uma bola de neve: o excedente de produção resulta em redução da produção e da oferta de emprego, e mais redução de consumo. É daí que nasce a crise da indústria imobiliária, ou seja, a inadimplência do comprador da casa própria, um gênero de primeira necessidade para o trabalhador.
Na raiz desta crise, portanto, está a engrenagem da mais-valia, que se transfigurou, deu origem a mercados especulativos como o de derivativos. E, voltando aos conceitos básicos da economia política, cada vez que este processo se agrava, a produção capitalista entra em crise. No século XIX, século da hegemonia inglesa, estas crises ocorriam a cada 10 anos.
No século XX, este fenômeno se tornou mais complexo. As crises, menos frequentes, mas não menos violentas. Resultaram nas duas grandes guerras, inspirando outro conceito sobre a produção capitalista: ela só consegue resolver suas crises cíclicas queimando o excedente produtivo nos campos de batalha. Cada tanque queimado, cada obra de infraestrutura consumida pela guerra terá de ser reerguido, permitindo que a máquina produtiva continue rodando.
Ou seja, apesar da complexidade da economia global, dos muitos mecanismos da especulação financeira internacional, ao que parece, não há nada de novo na economia capitalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário