domingo, 1 de fevereiro de 2009

DERIVATIVOS DA MAIS-VALIA


Celso Horta

Na raiz da crise, está a engrenagem da mais-valia que deu origem a mercados especulativos como o de derivativos

São muitas os adjetivos para falar da crise: americana, global, financeira e assim por diante. A unanimidade, no entanto, é apontar sua origem nos derivativos do mercado imobiliário norte-americano. Para quem não quer aprofundar a discussão, o melhor é pensar a crise apenas a partir da economia norte-americana.

Nesta lógica, pode-se lavar as mãos e torcer para que o presidente recém-empossado tome providências. Mesmo que signifique intensificar a guerra no Iraque ou incentivar o Estado de Israel a continuar bombardeando a Faixa de Gaza. Com toda razão, o professor Luiz Roberto Alves, em artigo intitulado “No meio da crise, as armadilhas da desorientação”, publicado no site do ABCD MAIOR recusa-se a aceitar análises simplistas sustentadas no discurso econômico em uso. “Somente um discurso ecumênico poderá encontrar novos valores e sentidos de futuro”, sustenta o professor.

Com este objetivo, vale buscar na teoria da economia política, conceitos que explicam as crises cíclicas do capitalismo: elas nascem da mais valia acumulada em prejuízo do consumo dos trabalhadores. Ou seja, o regime do assalariamento significa concentração de renda. E concentração de renda é uma bola de neve: o excedente de produção resulta em redução da produção e da oferta de emprego, e mais redução de consumo. É daí que nasce a crise da indústria imobiliária, ou seja, a inadimplência do comprador da casa própria, um gênero de primeira necessidade para o trabalhador.

Na raiz desta crise, portanto, está a engrenagem da mais-valia, que se transfigurou, deu origem a mercados especulativos como o de derivativos. E, voltando aos conceitos básicos da economia política, cada vez que este processo se agrava, a produção capitalista entra em crise. No século XIX, século da hegemonia inglesa, estas crises ocorriam a cada 10 anos.

No século XX, este fenômeno se tornou mais complexo. As crises, menos frequentes, mas não menos violentas. Resultaram nas duas grandes guerras, inspirando outro conceito sobre a produção capitalista: ela só consegue resolver suas crises cíclicas queimando o excedente produtivo nos campos de batalha. Cada tanque queimado, cada obra de infraestrutura consumida pela guerra terá de ser reerguido, permitindo que a máquina produtiva continue rodando.

Ou seja, apesar da complexidade da economia global, dos muitos mecanismos da especulação financeira internacional, ao que parece, não há nada de novo na economia capitalista.

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