Saber o que realmente aconteceu na fazenda temporariamente ocupada pelo MST no interior de São Paulo, onde a Cutrale planta laranjas, exigiria uma boa investigação jornalística, mas é pouco provável que os meios com condições de realizar esse trabalho se interessem por ele.
Depois que os sem-terra deixaram a área, foi exibido um cenário de destruição de peças, roubo de equipamentos e até de pertences das casas de funcionários da fazenda. Estes atos geraram um inquérito policial e o delegado local cogita indiciar 11 sem-terra suspeitos de vandalismo. Tudo dentro da lei, desde que a história tenha sido realmente essa.
Uma das máximas do jornalismo é desconfiar sempre. O cenário aponta claramente para a culpa dos sem-terra, mas certos elementos precisam ser verificados até a última hipótese. Em nota oficial, o MST pede uma investigação sobre o que ocorreu entre a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda. Os integrantes do movimento em São Paulo afirmaram que não houve depredação nem furto, e que representantes das famílias que ocuparam a fazenda foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área.
Podem estar mentindo? Podem. Mas levantaram uma suspeita que precisa ser devidamente esclarecida. O MST ressalta que os sem-terra deixaram a fazenda escoltados pela PM, em caminhões da Cutrale, e não teriam como roubar os produtos sem serem vistos pela polícia. Se o crime não foi cometido pelos sem-terra pode ter sido armado para incriminá-los.
O MST denuncia uma articulação entre forças conservadoras para atacar o movimento e a reforma agrária, que ganha mais força em períodos eleitorais. Se a defesa do movimento pode parecer uma inversão do caso, ela tem uma lógica que exige contradita.
Em sua nota, o MST lamenta os desvios de conduta que não representam a linha do movimento, mas ressalta que, em geral, eles acontecem pela infiltração de “inimigos da Reforma Agrária”.
A fazenda onde a Cutrale planta laranjas para exportação é reivindicada judicialmente pelo Incra, que argumenta se tratar de área da União. O MST acusa grandes empresas de grilarem terras públicas e considera seu papel denunciar isso, como fez em ocupações no Pará (Banco Opportunity) e sul da Bahia (Veracel/Stora Enso).
Ocupações são manifestações políticas legítimas, mas os excessos não se justificam por parte de um movimento organizado. O MST dá a cara a tapa e pede à Secretaria de Segurança de São Paulo e ao Ministério Público que apurem direitinho o que aconteceu . Este pleito merece o apoio da sociedade e um olhar atento dos jornalistas.
Mair Pena Neto, Direto da Redação.
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