terça-feira, 27 de outubro de 2009

Metendo a mão na massa


Eu fico querendo escrever algo muito diferente e acabo não escrevendo nada, esta é a verdade. Não tem jeito, tenho que rebater as bolas que vêm, sem escolher tanto. Por exemplo, essa entrevista do Roberto Freire, presidente do PPS, a um programa de tv lá do nordeste.

Freire é talvez uma das figuras mais odiadas do Brasil. Nem tem graça chutar esse cão morto. No entanto, vale a pena analisar, por puro interesse científico, a carcaça apodrecida de um político que já foi bastante respeitado.

Nessa entrevista, ele diz que Serra é mais esquerdista que Lula. Esse é um truque velho na América Latina, que é posar de socialista para angariar apoio popular. Mas isso passou de moda. A onda do momento, ou pelo menos tentou ser até agora, é estufar o peito e se declarar de direita sim, com muito orgulho. César Maia mesmo, há dias, publicou artigo falando de sua obsessão: de que a direita tem um grande futuro eleitoral no Brasil (os fatos sempre negam as teorias de César, lastreadas, entre outras coisas, num complicado cálculo linguístico sobre a preferência pela palavra "direita").

Freire é um cara-de-pau safado. Serra não representa esquerda nenhuma. Na entrevista, ele diz outro absurdo. Que a política do PSDB não será a de FHC, o que é uma incoerência tal, que somente um imbecil sem moral como Freire poderia pronunciar. Serra vem fazendo, em São Paulo, um governo ainda mais direitista e privatista que o de FHC. Toda a gestão tucana é ancorada em passar responsabilidades do Estado para empresas privadas. Não importam os resultados desastrosos. Há, por parte dos tucanos paulistas, uma fé ideológica no mercado tão grande, que parecem nem ter notado os trilhões de dólares que governos do mundo inteiro tiveram que gastar, nessa última crise, para corrigir esse ideologismo antirepublicano, vulgar e irresponsável.

Para ser de esquerda, é preciso combinar antes com as bases autênticas que formam as forças políticas do país: sindicatos, movimentos sociais, intelectuais. A partir do momento em que Serra não tem apoio de nenhuma força de esquerda, e que sua forma de governo permanece estacionada no mesmo terreno baldio e sujo antes ocupado pelo conservadorismo fernandista, afirmar que Serra seria esquerdista é não apenas tentar enganar o povo e o eleitorado, é também uma insuportável agressãoà inteligência alheia.

O papinho de que os banqueiros estariam rindo à tôa é outra artimanha boçal. Diante da quebradeira bancária registrada em dezenas de países, e que tiveram como consequência o desembolso, por parte dos contribuintes, de centenas de bilhões de dólares para salvar as instituições da bancarrota, o vigor financeiro dos bancos brasileiros representaram, no mínimo, uma enorme salva-guarda para a economia nacional.

Em virtude dos juros básicos terem atingido, no momento, o menor patamar da história, abriu-se o debate sobre a necessidade de pressionar os bancos, e possivelmente até aprovar uma nova lei nesse sentido, para que reduzam sensivelmente os spreads bancários. Por que as bancadas do PSDB e do PPS, já que são tão esquerdistas como diz Freire, não propõem algo assim?

Freire é um fantasma. Destituído de cargo político, sem qualquer popularidade, é sustentado por um jabá da prefeitura de São Paulo.Continue lendo o ótimo comentário de Miguel do Rosário, do Óleo do Diabo.

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