Publicada em:25/10/2009
Montevidéu - Um general que governou de fato o Uruguai acabou de ser condenado a 25 anos de prisão por ser considerado culpado de 37 assassinatos no contexto da Operação Condor, de 1981 a 1984. Gregório Alvarez nem compareceu ao Tribunal que ditou a sentença justificando a ausência por estar com diarréia. O veredicto foi comemorado pelos militantes de entidades defensoras dos direitos humanos, que desejam que o ex-ditador de 84 anos tenha uma longa vida e deixe a prisão aos 109 anos.
A sentença foi divulgada cerca de 72 horas antes que os dois milhões e 463 mil uruguaios aptos a votar neste domingo (25) fossem às urnas escolher o sucessor do atual Presidente Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, que pela legislação do país está impedido de concorrer à reeleição, mas pode fazê-lo num próximo pleito presidencial.
Os últimos dias de campanha foram marcados por intensas mobilizações que se fossem convertidas em votos dariam uma vitória folgada para o candidato José Pepe Mujica, favorito nas pesquisas com 46% contra 30% de Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, 13% de Pedro Bordabery, 2% de Pablo Mieres, do Partido Independente e 7% de indecisos. Já o candidato da Assembléia Popular, Raul Rodriguez, com uma retórica mais a esquerda, apareceu com um traço.
Em termos de escolha dos 66 deputados e 33 senadores, a aliança de esquerda Frente Ampla está cotada com maioria absoluta, o que aparentemente pode significar uma contradição, já que Pepe Mujica não alcançou o percentual necessário, ou seja, 50% mais um, para vencer no primeiro turno. Das duas uma, ou as pesquisas estão manipuladas ou então o candidato frente amplista não está empolgando tanto quanto os aspirantes ao Parlamento. Neste domingo o mistério será esclarecido.
A campanha pela anulação da Lei de Caducidade (Impunidade) provocou uma mobilização massiva dos militantes pró-direitos humanos. Eduardo Galeano, por exemplo, escreveu um texto, lido por ele mesmo, no encerramento de uma passeata pela principal avenida do centro de Montevidéu, a 18 de julho, que reuniu cerca de 40 mil pessoas, conclamando os “caminhantes da justiça” a darem um basta à impunidade e também corrigirem uma outra injustiça, a que impede os uruguaios residentes no exterior – cerca de 600 mil – a votarem onde se encontram.
A mobilização pelos direitos humanos não se limitou à caminhada. Num colégio público, o Liceu 14, foi descerrada uma placa alusiva a vários alunos que lá estudaram e foram vítimas do terrorismo de Estado. O ato, em clima de muita emoção, reuniu alunos de hoje e de ontem, que lembravam os colegas mortos durante a ditadura e exortavam os jovens a aprofundarem o conhecimento sobre os dias tenebrosos advindos com o golpe de Estado de junho de 1973. Um culto à memória, que de um modo geral as ditaduras tentam apagar.
Ainda no contexto da defesa dos direitos humanos, uma entidade de nome Crisol (cores da esperança), que reúne ex-presos políticos, esteve presente nas inúmeras homenagens prestadas às vítimas do terrorismo de Estado, como na Associação dos Jornalistas Uruguaios, quando foram lembrados profissionais de imprensa assassinados pela repressão como Zilmar Michellini, também senador e Gerardo Gatti, entre outros. A ditadura uruguaia fechou 35 jornais sendo dez fora de Montevidéu.
Foram 172 ou mais as vítimas do terrorismo de Estado. O candidato do Partido Nacional, Luiz Alberto Lacalle, um misto de Paulo Maluf e Janio Quadros - por ser chegado à grana por métodos questionáveis e ainda ao copo – em uma declaração recente disse que só seis pessoas foram vítimas da ditadura, que o seu partido e o Colorado apoiaram ou se omitiram pelo silêncio. Lacalle fez este cálculo possivelmente sob os efeitos do álcool, garantem os críticos ao candidato do Partido Nacional.
Este Uruguai de pouco mais de três milhões de habitantes deve servir de exemplo para uma profunda reflexão dos brasileiros sobre o caráter da legislação o que logo após o fim da ditadura protegeu torturadores que praticaram crimes de lesa humanidade, portanto, imprescritíveis. Naqueles anos da metade da década de 80 falar nisso era quase um tabu. Mas hoje, passados muitos anos, no Cone Sul, com exceção do Brasil, a punição dos criminosos está sendo feita pouco a pouco. Todos os acusados têm direito de defesa garantida, o que não acontecia nos anos de chumbo.
Quanto ao tempo passado, o argumento não deve servir de pretexto para se manter a impunidade. Basta lembrar que até hoje, mais de 64 anos depois do fim da II Guerra Mundial, caçadores de nazistas ainda correm atrás dos últimos criminosos que se esconderam nas mais diversas partes do mundo, alguns sob a proteção de serviços secretos de países que combateram o Eixo e muitos batendo a casa dos 90.
É isso aí, Ministro Nelson Jobim!
Mário Augsto Jakobskind, Direto da Redação.
Montevidéu - Um general que governou de fato o Uruguai acabou de ser condenado a 25 anos de prisão por ser considerado culpado de 37 assassinatos no contexto da Operação Condor, de 1981 a 1984. Gregório Alvarez nem compareceu ao Tribunal que ditou a sentença justificando a ausência por estar com diarréia. O veredicto foi comemorado pelos militantes de entidades defensoras dos direitos humanos, que desejam que o ex-ditador de 84 anos tenha uma longa vida e deixe a prisão aos 109 anos.
A sentença foi divulgada cerca de 72 horas antes que os dois milhões e 463 mil uruguaios aptos a votar neste domingo (25) fossem às urnas escolher o sucessor do atual Presidente Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, que pela legislação do país está impedido de concorrer à reeleição, mas pode fazê-lo num próximo pleito presidencial.
Os últimos dias de campanha foram marcados por intensas mobilizações que se fossem convertidas em votos dariam uma vitória folgada para o candidato José Pepe Mujica, favorito nas pesquisas com 46% contra 30% de Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, 13% de Pedro Bordabery, 2% de Pablo Mieres, do Partido Independente e 7% de indecisos. Já o candidato da Assembléia Popular, Raul Rodriguez, com uma retórica mais a esquerda, apareceu com um traço.
Em termos de escolha dos 66 deputados e 33 senadores, a aliança de esquerda Frente Ampla está cotada com maioria absoluta, o que aparentemente pode significar uma contradição, já que Pepe Mujica não alcançou o percentual necessário, ou seja, 50% mais um, para vencer no primeiro turno. Das duas uma, ou as pesquisas estão manipuladas ou então o candidato frente amplista não está empolgando tanto quanto os aspirantes ao Parlamento. Neste domingo o mistério será esclarecido.
A campanha pela anulação da Lei de Caducidade (Impunidade) provocou uma mobilização massiva dos militantes pró-direitos humanos. Eduardo Galeano, por exemplo, escreveu um texto, lido por ele mesmo, no encerramento de uma passeata pela principal avenida do centro de Montevidéu, a 18 de julho, que reuniu cerca de 40 mil pessoas, conclamando os “caminhantes da justiça” a darem um basta à impunidade e também corrigirem uma outra injustiça, a que impede os uruguaios residentes no exterior – cerca de 600 mil – a votarem onde se encontram.
A mobilização pelos direitos humanos não se limitou à caminhada. Num colégio público, o Liceu 14, foi descerrada uma placa alusiva a vários alunos que lá estudaram e foram vítimas do terrorismo de Estado. O ato, em clima de muita emoção, reuniu alunos de hoje e de ontem, que lembravam os colegas mortos durante a ditadura e exortavam os jovens a aprofundarem o conhecimento sobre os dias tenebrosos advindos com o golpe de Estado de junho de 1973. Um culto à memória, que de um modo geral as ditaduras tentam apagar.
Ainda no contexto da defesa dos direitos humanos, uma entidade de nome Crisol (cores da esperança), que reúne ex-presos políticos, esteve presente nas inúmeras homenagens prestadas às vítimas do terrorismo de Estado, como na Associação dos Jornalistas Uruguaios, quando foram lembrados profissionais de imprensa assassinados pela repressão como Zilmar Michellini, também senador e Gerardo Gatti, entre outros. A ditadura uruguaia fechou 35 jornais sendo dez fora de Montevidéu.
Foram 172 ou mais as vítimas do terrorismo de Estado. O candidato do Partido Nacional, Luiz Alberto Lacalle, um misto de Paulo Maluf e Janio Quadros - por ser chegado à grana por métodos questionáveis e ainda ao copo – em uma declaração recente disse que só seis pessoas foram vítimas da ditadura, que o seu partido e o Colorado apoiaram ou se omitiram pelo silêncio. Lacalle fez este cálculo possivelmente sob os efeitos do álcool, garantem os críticos ao candidato do Partido Nacional.
Este Uruguai de pouco mais de três milhões de habitantes deve servir de exemplo para uma profunda reflexão dos brasileiros sobre o caráter da legislação o que logo após o fim da ditadura protegeu torturadores que praticaram crimes de lesa humanidade, portanto, imprescritíveis. Naqueles anos da metade da década de 80 falar nisso era quase um tabu. Mas hoje, passados muitos anos, no Cone Sul, com exceção do Brasil, a punição dos criminosos está sendo feita pouco a pouco. Todos os acusados têm direito de defesa garantida, o que não acontecia nos anos de chumbo.
Quanto ao tempo passado, o argumento não deve servir de pretexto para se manter a impunidade. Basta lembrar que até hoje, mais de 64 anos depois do fim da II Guerra Mundial, caçadores de nazistas ainda correm atrás dos últimos criminosos que se esconderam nas mais diversas partes do mundo, alguns sob a proteção de serviços secretos de países que combateram o Eixo e muitos batendo a casa dos 90.
É isso aí, Ministro Nelson Jobim!
Mário Augsto Jakobskind, Direto da Redação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário