sábado, 24 de outubro de 2009

Mujica: Lula é modelo


Líder das pesquisas de intenção de voto para governar o Uruguai por cinco anos a partir de 2010, o ex-guerrilheiro José "Pepe" Mujica disse neste sábado (24) em entrevista a jornalistas estrangeiros que vai se inspirar em conquistas recentes do Brasil se for eleito, mas ponderou que trabalhará com o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mesmo que não seja um candidato do campo governista.

No domingo (25), os uruguaios vão às urnas para escolher um novo presidente e Mujica é o candidato do partido do presidente Tabaré Vázquez, cuja gestão tem aprovação de 60% da população graças a avanços econômicos e a políticas sociais e de direitos humanos. O esquerdista pode vencer já no primeiro turno ou, de acordo com as sondagens, sair como favorito para a segunda votação contra o ex-presidente conservador Luis Alberto Lacalle. Os 10% de indecisos podem pesar nessa equação.

"Conheço Lula desde muito antes de ele ser presidente. É claro que não podemos comparar um país pequeno como o Uruguai com o Brasil, que é enorme. Mas alguém que consegue governar mesmo sem maioria parlamentar tem que ter alguma qualidade. É um governo vitorioso, que também aliou política econômicas responsáveis e tirou milhões de pessoas da pobreza", disse Mujica em um hotel do centro de Montevidéu, ao lado de seu candidato a vice, Daniel Astori.


"O Brasil é um modelo para a América Latina. O país melhorou muito. Deus não é uruguaio, mas parece ser brasileiro", afirmou com um sorriso no rosto o ex-combatente Tupamaro, que diz ter vestido um terno pela primeira vez na vida para encontrar Lula em Brasília em julho. Neste sábado vestiu roupas modestas e conservou o tom de voz lento e as graves balançadas de cabeça - destoando da sobriedade de seu candidato a vice, que era o preferido do presidente para encabeçar a chapa da Frente Ampla.

Moderação


Mais esquerdista que Vázquez, principal líder da Frente Ampla, Mujica tem feito elogios ao presidente brasileiro para neutralizar críticas de que, se eleito, teria mais proximidade com o mandatário venezuelano, Hugo Chávez, por quem já disse ter "grande respeito e admiração".

Apesar da proximidade com Lula, o presidenciável de 74 anos de idade disse que "nenhum governo uruguaio pode se dar ao luxo de não conversar com o Brasil" ao responder se teria a mesma facilidade de conversa no caso de um oposicionista vencer as eleições no país do qual o Uruguai se separou oficialmente em 1828.

Nas pesquisas de intenção de voto para a sucessão ao Palácio do Planalto, em outubro de 2010, o líder é o governador José Serra, do oposicionista PSDB, um crítico do bloco comercial Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A candidata preferida de Lula, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disputa espaço com rivais que já integraram o governo: os ex-ministros Ciro Gomes (Integração Nacional) e Marina Silva (Meio Ambiente).

Para Mujica, embora haja "problemas a serem discutidos com os países gigantes do Mercosul", o Uruguai não pode abrir mão de participar dele. "O Mercosul é estratégico para um país pequeno como o nosso. Ele é nossa plataforma de lançamento. Não é nosso ponto final, porque queremos mais acordos de comércio com mais países, mas é estratégico", disse ele, que em 2004 foi o senador uruguaio mais votado.

O favorito para as eleições uruguaias só aceitou fazer comentários sobre outros dois países latino-americanos: Argentina e México. Ao primeiro, chamou de "irmão gêmeo" do Uruguai apesar da pendenga entre os dois países por conta da instalação de uma fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia às margens do rio que dá nome ao país.

O governo argentino alegou que a indústria pode contaminar o rio que os separa e houve protestos que bloqueiam há dois anos e meio a ponte que liga a cidade argentina de Gualeguaychú (230 km ao norte de Buenos Aires) a Fray Bentos (300 km ao noroeste de Montevidéu), onde a fábrica foi erguida. "Ah, se fosse tão fácil resolver...", suspirou. "O impossível sempre custa um pouco mais, vamos ter que ter paciência para resolver."

Sobre o México, cujo presidente é o conservador Felipe Calderón, deu um sinal do pragmatismo do qual pode se valer se for eleito. "Durante a ditadura no Uruguai os mexicanos sempre nos receberam. Naquela época acho que o governo deles também não tinha presidentes com histórias parecidas com as dos nossos governantes, como pode ser o caso agora. O México é o único país com quem temos um acordo de livre comércio. Seja quem for o presidente, vamos trabalhar porque o mundo é interdependente e o Uruguai não depende só de si para crescer." Uol.

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