quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A política (externa) de Lula

José Luiz Niemeyer dos Santos

Jornal do Brasil - 21/10/2009

RIO - Primeiramente, cumpre questionar: o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é agente ativo da atual política exterior do Brasil?

Sim.

É fato que o regime “superpresidencialista” brasileiro dá condições para que o chefe do Executivo atue como ator importante na defesa dos interesses externos do país. Lula reafirma esta tendência de uma maneira evidente.

O atual presidente da República, desde sempre, cria e recria canais formais e mesmo informais de interlocução com demais chefes de Estado. Esta conduta não segue, necessariamente, os ritos preestabelecidos pelo Itamaraty.

Num sentido quase simbólico, as linhas telefônicas da Presidência da República se configuram como os meios fundamentais da política externa do atual governo.

O presidente Lula trabalha constantemente sua imagem como líder.

Busca, a partir da sua origem e de sua trajetória política, criar e costurar relações múltiplas com outras lideranças internacionais.

Lula prioriza as pessoas “de carne e osso”; não nutre interesse pela assessoria burocrático-administrativa de tais lideranças.

Luiz Inácio da Silva privilegia, então, a chamada “diplomacia presidencial”; e exerce-a com desenvoltura.

Todavia, há, nestes procedimentos, um custo percebido: quando aquilo que é tratado é inexequível, quiçá se apresenta como retórica vazia; neste caso se estará deixando esvair dois recursos básicos da ação diplomática: a oportunidade e o tempo.

Também existe um claro benefício nesta forma de atuar como o “presidente da política exterior”: a demonstração das boas intenções do presidente do Brasil.

Todavia, cumpre dizer que a intenção demonstrada em interlocuções muito personalistas pode ser questionada, de novo, como simples retórica.

Cumpre colocar: até que ponto uma postura muito personalista do presidente Lula na seara dos negócios externos não impede um rito mais eficiente, a partir do processo amplo, multidisciplinar e potencial, de apro ximação do país com o sistema internacional?

A informalidade na área externa é interessante até um limite; pode sobressair o charme e a simpatia, principalmente de um líder como Lula, que possui e procura exibir seu carisma. Todavia, a informalidade, depois de certa medida, tende a se esgotar.

Oxalá aqueles mecanismos internos de controle e correção – estruturas da Chancelaria brasileira – que permitem o bom curso da política e dos interesses do Estado brasileiro na seara internacional continuem a existir.

José Luiz Niemeyer dos Santos é cientista político.

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