Análise
Asdrúbal Figueiró
Da BBC Brasil em São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, terminaram nesta sexta-feira uma caravana por áreas afetadas pelas obras da transposição do São Francisco.
A viagem, que passou por alguns dos principais redutos eleitorais de Lula, acontece em um momento oportuno para a pré-candidatura à Presidência de Dilma Roussef – que, depois de um período de crescimento quase contínuo, enfrenta alguns contratempos.
Nas pesquisas de intenção de voto mais recentes, os índices da ministra caíram ou estacionaram.
Nos seis cenários divulgados pelo Ibope no dia 22 de setembro, por exemplo, Dilma recuou de três a quatro pontos percentuais em relação ao levantamento anterior.
A ministra tem dito que pesquisa é apenas um "retrato do momento" e argumentado que o que vale é a eleição, em outubro do ano que vem.
Mas, neste momento em que os partidos estão discutindo as alianças, uma boa posição nas pesquisas faz diferença.
Quanto maiores os índices de intenção de voto, maiores também são as chances de atrair aliados ou de, no mínimo, reduzir o custo político da negociação.
Alianças são importantes para todos os candidatos, mas, no caso de Dilma Rousseff, uma política que nunca disputou uma eleição e é menos conhecida do que seus adversários mais prováveis, elas ganham mais relevância.
Além de palanques nos Estados, as alianças garantem mais tempo no programa eleitoral gratuito – uma ferramenta-chave para tornar Dilma Rousseff mais conhecida e facilitar a sua associação ao presidente Lula, sobretudo no eleitorado com menos acesso à informação impressa.
Nas últimas semanas, a ministra passou a enfrentar também a sombra cada vez mais forte de outras duas possíveis candidaturas com potencial de disputar fatia do seu eleitorado e de seu tempo de TV: Marina Silva (PV) e Ciro Gomes (PSB).
Um crescimento de Dilma Rousseff nas pesquisas neste momento – crucial para a definição de alianças – também seria uma forma de desestimular ou enfraquecer candidaturas concorrentes.
Neste contexto, a visita ao sertão nordestino, onde Lula tem um eleitorado fiel e índices de aprovação recorde, não deixa de ser no mínimo conveniente.
A viagem de Lula à região já estava prevista há algum tempo e, segundo uma fonte do Planalto, não ocorreu antes por conta da intensa agenda internacional do presidente.
Quando questionado sobre se a viagem não era uma maneira de promover a candidatura de Dilma em seus redutos eleitorais, o presidente negou.
"Eu acho que, em uma obra dessa, a gente não pensa em fazer lançamento de candidatura, até porque a eleição está muito longe", disse na quarta-feira, em Barra, na Bahia.
Mas, em outro momento da viagem, Lula deixou escapar uma menção espontânea, se não ao caráter, pelo menos à aparência eleitoral da iniciativa.
"No nosso projeto original de fazer essa viagem, não estava previsto fazer comício. Estava previsto fazer visitas às obras."
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