terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Difamado, ex-preso diz que artigo de César Benjamin é “um horror


O eletricista João Batista dos Santos, ex-militante do MEP (Movimento pela Emancipação do Proletariado) e um dos homens que estiveram presos com o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva em 1980, durante a ditadura militar (1964-1985), chamou de “um horror” o artigo do colunista César Benjamin, publicado pela Folha de S.Paulo na semana passada. Segundo Benjamin, Lula teria dito que tentou subjugar o “menino do MEP” quando foram companheiros de cela.

Procurado pela Folha no final da noite de domingo, em sua casa, em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo, Santos recusou dar entrevista formal ou ser fotografado. “Não tenho nada para comentar sobre o assunto”, disse, a princípio.

Posteriormente, o ex-militante contou sua história. Disse que se tornou metalúrgico em São Bernardo (ABC paulista). Na década de 1970, teve contato com o MEP, organização de esquerda que lutou contra a ditadura e, mais tarde, disse que ajudou a fundar o PT.Sua função no MEP era "fazer a conscientização política" de trabalhadores em algumas fábricas da cidade.

Além dos 30 dias de prisão em 1980, disse que já havia passado um período de dois dias preso no Dops, em 1978. Quando deixou a prisão pela segunda vez, mudou-se para São José dos Campos e foi "cuidar da vida." Militou ativamente pelo PT e, em 1983, ajudou a eleger um dos 14 irmãos, Braz Cândido Santos, hoje com 62 anos, vereador na cidade. Em 2003, obteve a anistia e, há cerca de um ano e dez meses, mudou-se para o litoral.

Ainda filiado ao PT, mas sem militância, Santos soube do artigo de Benjamin no dia seguinte à sua publicação, quando passou a receber telefonemas de jornalistas e antigos companheiros. Segundo ele, a situação foi "constrangedora".

Santos disse que não conhece Benjamin e afirmou acreditar que Lula "deve estar chateado" com o relato feito pelo colunista no artigo. Também falou que voltou a encontrar o ex-companheiro de cela apenas uma outra vez, antes da vitória nas eleições de 2002, mas não soube precisar a data. Para Santos, o jornal deveria tê-lo procurado antes da publicação do artigo.

Santos conta ainda que conheceu o ex-publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira, morto em 2007, quando prestou serviços em uma granja mantida pela família em São José dos Campos, na década de 1990. Segundo ele, nas conversas entre os dois, o publisher elogiava Lula e se mostrava simpático a um governo do petista. Já os herdeiros de Frias, diz Santos, “não seguem o exemplo do pai”. Segundo Santos, se o publisher ainda estivesse no controle do jornal, "este artigo não teria sido publicado".

A mulher de Santos, Márcia Cristina Muniz — que nunca tinha ouvido relatos sobre uma possível tentativa de abuso na prisão — chamou o artigo de “baixaria”. Ela disse temer que os filhos, em idade escolar, possam ser vítimas de chacotas por parte dos colegas.Vermelho.

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