terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Eduardo Dutra:Programa fortalecerá instrumentos estatais



Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o futuro presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) disse que participou de sua primeira campanha eleitoral em 1965, aos oito anos. Foi a eleição para governador de Minas Gerais, disputada por Israel Pinheiro (PSD) e Roberto Rezende (UDN).

Por Raquel Ulhôa, no jornal Valor Econômico


Seu pai, José Araújo Dutra, filiado ao PSD, era prefeito de Caputira, Zona da Mata de Minas Gerais. A função de Dutra era pregar cartazes de Israel Pinheiro e rasgar os do adversário. A primeira “inflexão à esquerda” foi em 74, quando, já em Caratinga (MG), fez campanha para Itamar Franco (MDB), que disputou o Senado contra José Augusto Ferreira (Arena). Era uma campanha quase “clandestina”, já que Ferreira, então senador, era da cidade e Itamar, o candidato da oposição. O próximo passo foi a militância no Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP), uma das organizações de esquerda que deram origem ao PT.

Aos 52 anos e solteiro após quatro casamentos (dois filhos, de 27 e 24 anos), o ex-senador e ex-presidente da Petrobras prepara-se para assumir, no dia 19, a presidência do partido que amanhã completa 30 anos. No cargo, enfrentará o desafio de coordenar a campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. Ela será lançada no dia 20, no congresso partidário.

Integrante da mesma corrente política do PT que o ex-ministro José Dirceu — a Construindo um Novo Brasil (CND) —, o futuro presidente do PT preocupa-se em desfazer a ideia de que o programa de governo que o partido aprovará no congresso sinaliza uma gestão mais à esquerda do que a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O que o programa sugere, segundo ele, é “o fortalecimento dos instrumentos estatais que já existem”. Para Dutra, não há razão para o mercado se preocupar. O governo Dilma, diz, será de “continuidade e aprofundamento das conquistas e avanços sociais”. Ressalta, ainda, que o programa de governo da ministra não será do PT e sim da coalizão partidária que a apoia.

A Executiva Nacional do partido se reúne amanhã, em Brasília, para discutir as diretrizes do programa, que serão submetidas ao congresso partidário. No evento nacional (de 18 a 20 de fevereiro) também será discutida a estratégia da política de alianças eleitorais. À frente da campanha de Dilma, um dos maiores problemas que Dutra enfrentará é a divisão do partido e a dificuldade de coligação com o PMDB em Minas Gerais.

O futuro presidente nega que a possibilidade de o vice-presidente, José Alencar, se lançar candidato a governador seja articulação do PT. Mas admite que, se a hipótese se confirmar, poderá ser “uma alternativa de consenso”. Eleito no Processo de Eleições Diretas (PED), em novembro, Dutra confirmou que José Dirceu tem mantido negociações com aliados nos Estados e que tem liberdade para isso. O ex-ministro, segundo ele, “não é franco atirador”, mas não tem autorização para decidir pelo partido.

Para Dutra, Dilma, se eleita presidente, é candidata natural à reeleição. Ele acha que Lula não tem interesse em voltar – e correr o risco de fazer um mandato pior que esses, que já garantem ao petista um lugar na história.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

_______________

Valor: As diretrizes do PT para o programa de governo de Dilma Rousseff fortalecem a presença do Estado na economia. O PT quer um governo mais à esquerda?

José Eduardo Dutra: Não cabe esse conceito de esquerda ou direita no governo Lula. Com a crise, foi se buscar exatamente o Estado para salvar bancos, totens do capitalismo mundial. Todos os países estão atentos para reforçar organismos estatais que, em caso de crise, sejam necessários. É uma mera decorrência da evolução da economia mundial.

Valor: Que coincide com o pensamento do partido.

Dutra Essa crise confirmou os pressupostos que nós tínhamos. Não significa estatização da economia ou que vamos retomar um processo de desprivatização. Não estamos propondo estatizar mais nada. Esse fortalecimento do Estado a que nos referimos é fortalecer os instrumentos estatais que já existem.

Desde o início do governo Lula dizíamos que a Petrobras, por exemplo, que eu presidi, iria voltar a ter papel indutor da economia nacional. Quando adotamos a política de se exigir conteúdo nacional nas encomendas de plataforma diziam que seria impossível, que a indústria nacional não teria capacidade de atender e que ia ficar mais caro. Nada disso aconteceu. A indústria nacional vem se capacitando cada vez mais para atender às encomendas da Petrobras.

Valor: Então não há necessidade de uma nova versão da “Carta aos Brasileiros” para acalmar o mercado?


Nenhum comentário: