Por: João Peres, Rede Brasil Atual
São Paulo – Um dos traços centrais da política externa do governo Lula, a ampliação das relações brasileiras com outras nações do hemisfério Sul, tem enormes reflexos sobre a balança comercial e sobre o novo papel do país em âmbito mundial. O passar dos anos reforçou a possibilidade de olhar mais atentamente para as parcerias com nações em desenvolvimento.
O indicador mais claro disso é a balança comercial. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, a corrente de comércio entre o Brasil e os países emergentes passou de US$ 39 bilhões em 2002 para US$ 145 bi em 2009 – mesmo com o impacto da crise econômica internacional no comércio mundial. No mesmo período, o fluxo de negociações entre o Brasil e os países desenvolvidos passou de US$ 67 bilhões para US$ 132 bilhões.
O comércio brasileiro aumentou como um todo. A diferença se ancora no ritmo desta expansão: quase 400% no caso das nações em desenvolvimento, contra 79% no grupo dos mais ricos. Mais que isso, é simbólico notar que, em 2008, pela primeira vez, o comércio com os países em desenvolvimento foi maior que o comércio com as nações mais ricas.
Com os chineses, por exemplo, o volume de comércio brasileiro passou de US$ 4 bilhões em 2002 para US$ 36 bilhões em 2009, com os asiáticos assumindo a condição de principal parceiro comercial do Brasil, posto que historicamente cabia aos Estados Unidos. No caso do Mercosul, o fluxo de comércio passou, em oito anos, de US$ 8,9 bilhões para US$ 28,9 bi.
“Uma das razões pelas quais o Brasil enfrentou a crise econômica de modo menos grave do que outras nações no ciclo 2007-2009 foi a diversificação de parcerias. Embora elas se caracterizem às vezes por venda de produtos primários, realmente solidificaram as posições brasileiras”, afirma Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unesp.
A consolidação de novas parcerias comerciais é fruto direto das missões empresarias brasileiras ao exterior. Em viagens para 115 países (de 2003 a 2009), presidente e ministros levam, a bordo, executivos de empresas brasileiras exportadoras, que vêm consolidando negócios no exterior e ganhando peso no cenário mundial.
Fora da ordem
A entrada dos emergentes no mercado global criou um mercado comprador importante. "Esses atores mudaram de configuração do ponto de vista de inserção no capitalismo. O jogo geopolítico mudou”, resume Maria Regina Soares de Lima, coordenadora do Observatório Político Sul-americano e professora do Iuperj.
No pós-Guerra Fria, analistas apontam uma transição gradativa para uma multipolaridade – que se opõe à anterior bipolaridade Estados Unidos-União Soviética. Essa ordem com mais potências inclui, primeiramente, a emergência da União Europeia como bloco e, depois, com a China, que se consolida como potência e passa a disputar posto entre as maiores economias mundiais, ao lado de Japão e de Estados Unidos.
O advento de novas forças não deixa muita saída aos que estão no piso de cima: é preciso negociar mudanças de representatividade. Um dos passos mais importantes neste sentido foi o reconhecimento, em 2009, de que o G-8, grupo que reunia as sete nações mais ricas mais a Rússia, passa a incluir outras nações. O caminho natural seria a substituição pelo G-20 Financeiro, mas a solução intermediária encontrada para que algumas nações europeias não percam muita força é o G-14, que deve congregar Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Canadá, Itália, Rússia (os 8) mais África do Sul, Brasil, China, Índia, México e Egito.
Outros grupos foram formados nos últimos anos. Índia, Brasil e África do Sul (Ibas) constituem um fórum específicos e diversos pesquisadores apontam as economias dos chamados Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – como cada vez mais influentes.
Brasil e Índia atuaram conjuntamente na Organização Mundial de Comércio (OMC) pela maior liberalização em negociações. Nesse sentido, o centro da pauta é a ainda não concluída Rodada Doha, na qual os dois países pedem, especialmente, a derrubada de barreiras comerciais e subsídios na área de agricultura por parte de países europeus e Estados Unidos.
São Paulo – Um dos traços centrais da política externa do governo Lula, a ampliação das relações brasileiras com outras nações do hemisfério Sul, tem enormes reflexos sobre a balança comercial e sobre o novo papel do país em âmbito mundial. O passar dos anos reforçou a possibilidade de olhar mais atentamente para as parcerias com nações em desenvolvimento.
O indicador mais claro disso é a balança comercial. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, a corrente de comércio entre o Brasil e os países emergentes passou de US$ 39 bilhões em 2002 para US$ 145 bi em 2009 – mesmo com o impacto da crise econômica internacional no comércio mundial. No mesmo período, o fluxo de negociações entre o Brasil e os países desenvolvidos passou de US$ 67 bilhões para US$ 132 bilhões.
O comércio brasileiro aumentou como um todo. A diferença se ancora no ritmo desta expansão: quase 400% no caso das nações em desenvolvimento, contra 79% no grupo dos mais ricos. Mais que isso, é simbólico notar que, em 2008, pela primeira vez, o comércio com os países em desenvolvimento foi maior que o comércio com as nações mais ricas.
Com os chineses, por exemplo, o volume de comércio brasileiro passou de US$ 4 bilhões em 2002 para US$ 36 bilhões em 2009, com os asiáticos assumindo a condição de principal parceiro comercial do Brasil, posto que historicamente cabia aos Estados Unidos. No caso do Mercosul, o fluxo de comércio passou, em oito anos, de US$ 8,9 bilhões para US$ 28,9 bi.
“Uma das razões pelas quais o Brasil enfrentou a crise econômica de modo menos grave do que outras nações no ciclo 2007-2009 foi a diversificação de parcerias. Embora elas se caracterizem às vezes por venda de produtos primários, realmente solidificaram as posições brasileiras”, afirma Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unesp.
A consolidação de novas parcerias comerciais é fruto direto das missões empresarias brasileiras ao exterior. Em viagens para 115 países (de 2003 a 2009), presidente e ministros levam, a bordo, executivos de empresas brasileiras exportadoras, que vêm consolidando negócios no exterior e ganhando peso no cenário mundial.
Fora da ordem
A entrada dos emergentes no mercado global criou um mercado comprador importante. "Esses atores mudaram de configuração do ponto de vista de inserção no capitalismo. O jogo geopolítico mudou”, resume Maria Regina Soares de Lima, coordenadora do Observatório Político Sul-americano e professora do Iuperj.
No pós-Guerra Fria, analistas apontam uma transição gradativa para uma multipolaridade – que se opõe à anterior bipolaridade Estados Unidos-União Soviética. Essa ordem com mais potências inclui, primeiramente, a emergência da União Europeia como bloco e, depois, com a China, que se consolida como potência e passa a disputar posto entre as maiores economias mundiais, ao lado de Japão e de Estados Unidos.
O advento de novas forças não deixa muita saída aos que estão no piso de cima: é preciso negociar mudanças de representatividade. Um dos passos mais importantes neste sentido foi o reconhecimento, em 2009, de que o G-8, grupo que reunia as sete nações mais ricas mais a Rússia, passa a incluir outras nações. O caminho natural seria a substituição pelo G-20 Financeiro, mas a solução intermediária encontrada para que algumas nações europeias não percam muita força é o G-14, que deve congregar Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Canadá, Itália, Rússia (os 8) mais África do Sul, Brasil, China, Índia, México e Egito.
Outros grupos foram formados nos últimos anos. Índia, Brasil e África do Sul (Ibas) constituem um fórum específicos e diversos pesquisadores apontam as economias dos chamados Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – como cada vez mais influentes.
Brasil e Índia atuaram conjuntamente na Organização Mundial de Comércio (OMC) pela maior liberalização em negociações. Nesse sentido, o centro da pauta é a ainda não concluída Rodada Doha, na qual os dois países pedem, especialmente, a derrubada de barreiras comerciais e subsídios na área de agricultura por parte de países europeus e Estados Unidos.
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