segunda-feira, 28 de junho de 2010

O choro do sabujo

Crise na oposição lembra França


Cristian Klein
Jornal do Brasil - 28/06/2010

UM DOS MAIORES NÓS da oposição, desde o ano passado, é a falta de nomes para o posto de vicepresidente na chapa de José Serra (PSDB). O problema foi empurrado com o bico dos tucanos e agora, diante da completa falta de opções, a decisão foi anunciada da pior forma possível. Tanto tempo de espera e o indicado – devido à demora e à imposição dos prazos legais – surge exatamente em meio ao anticlímax da última pesquisa eleitoral, a primeira em que Serra aparece atrás de Dilma Rousseff (PT), descontando-se a margem de erro.

O vice de Serra vem de forma tão atabalhoada, mal-ajambrada, sem a convicção necessária, que sua confirmação, se é que se pode dizer assim, é o retrato de todo o processo de escolha – ou melhor, de indecisão – dos últimos meses. Diante da repercussão negativa, ocorrida entre os aliados, no fim de semana, o nome do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) passou a ser tratado não como uma escolha definitiva, mas uma opção ofertada pelos tucanos ao escrutínio dos partidos do campo oposicionista.

Foi um recuo necessário para não esticar a corda com o DEM, parceiro que se sente no direito de indicar o candidato a vice. Os demistas são os protagonistas do último grande escândalo da política brasileira, o mais memorável para o eleitor, e com eles os tucanos não querem formar par. De posse de pesquisas qualitativas, o PSDB tem a noção do estrago que um vice do DEM poderia causar. Mas não importa.

Os demistas insistem em entrar na chapa. Ou pelo menos ter o tratamento de aliado preferencial, indispensável, do qual parece não mais desfrutar.

No imbróglio, contou mais para a indignação do DEM o sentimento de rejeição e de rebaixamento no arranjo oposicionista, de ter ficado praticamente alijado da decisão, do que de se ver obrigado a aceitar a chapa puro-sangue, com a qual já havia concordado, desde que fosse com Aécio Neves.

O mensalão do DEM é episódio por demais comprometedor para a imagem dos tucanos? OK.

Mas e a companhia de Roberto Jefferson, responsável por soltar a fumaça branca e bradar pelo Twitter o “Habemus vice”? Com essa imagem na cabeça e o espaço ocupado pelo controverso líder do PTB, os demistas saíram enfurecidos e ameaçam até romper com os tucanos, tirando-lhes o já escasso tempo de TV. No desespero, algumas frases fortes demonstram a que ponto está a relação e a confiança da oposição. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), também pelo Twitter, reagiu: “Se na campanha nos tratam assim, imaginem se o PSDB ganhar”. O presidente do partido, Rodrigo Maia, foi além, e teria dito: “A eleição nós já perdemos, não podemos perder o caráter”.

Desmotivação, brigas nos bastidores, a oposição parece até a conturbada e eliminada França de Raymond Domenech na Copa do Mundo.

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