terça-feira, 8 de junho de 2010

Cai fora, Jereissati!

Lula responde a Tasso Jereissati e defende chapa de aliados no CE
Ao passar por Fortaleza (CE) nesta semana — onde inicia uma longa agenda que cumprirá pelo Nordeste —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve participar da aula inaugural do programa Projovem Urbano. Mas outro assunto certamente deterá as atenções do presidente no estado: a formação de um palanque eleitoral de peso para a sua pré-candidata a presidente, Dilma Rousseff (PT).


A ampla composição, com mais de 10 partidos, é encabeçada pelo governador Cid Gomes (PSB), candidato mais do que favorito à reeleição. Apesar da heterogeneidade da aliança, Lula tenta evitar que a chapa abra espaço, na disputa majoritária, para partidos e candidatos que, no plano nacional, lhe fazem inconsequente oposição. É o caso do senador Tasso Jereissati, que enfrenta incontáveis dificuldades para se reeleger — mas tenta se pendurar no prestígio de Cid Gomes e do próprio Lula.

Em entrevista ao diário cearense O Povo publicada nesta terça-feira (8), o presidente defende que os dois nomes da chapa de Cid ao Senado sejam os de Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT), ambos da base aliada do governo federal. Os tucanos cearenses também devem participar da aliança costurada por Cid Gomes — mas Lula não vê razões para privilegiar Tasso, um de seus mais inoportunos opositores.

Segundo Lula, uma chapa com Eunício e Pimentel visa a “eleger os que estão comprometidos efetivamente com o projeto político que nós estamos implementando”. Ao jornal O Povo, Lula também “lembrou” a Tasso que há 98 obras do PAC no Ceará — e também citou as que estão concluídas, conforme lhe desafiava o tucano.

O presidente ainda provocou “os descrentes”, garantindo que eles ainda “beberão da água que traremos, com a transposição, do rio São Francisco e ainda andarão nos trens da Transnordestina”. Confira abaixo trechos da entrevista.

O Povo – O senador Tasso Jereissati, do PSDB, tem desafiado aliados do governo e, até, jornalistas, a apontarem uma obra do PAC que tenha sido concluída no Ceará, alegando que não existe uma só para ser citada. O senhor poderia respondê-lo?


Lula – O povo do Ceará é inteligente. Se as obras do PAC não existissem de fato, ele perceberia e não estaria apoiando cada vez mais o nosso governo, conforme mostram todas as pesquisas de opinião. O estado tem nada menos que 98 obras do PAC em diversas fases: em projeto ou licenciamento, em licitação, em execução e concluídas.

Em relação às obras concluídas, posso citar a Termoceará, usina a Gás Natural da Petrobras, com recursos de R$ 104,6 milhões; oito Parques Eólicos (que aproveitam a energia dos ventos): Beberibe, Canoa Quebrada Rosa dos Ventos, Foz do Rio Choró, Lagoa do Mato, Paracuru, Praia Formosa, Praias de Parajuru e Taíba Albatroz; Linhas de Transmissão Milagres-Tauá e Milagres-Coremas; Terminal de Gás Natural Liquefeito em Pecém; Usina de Biodiesel da Petrobras, em Quixadá; financiamentos liberados para a casa própria, no total de R$ 1,7 bilhão; o novo Terminal de Cargas e a Nova Torre de Controle do Aeroporto de Fortaleza, um investimento de R$ 25,6 milhões; os eixos de Integração Orós-Feiticeiro e Curral Velho-Pacajus; a meta original do programa Luz para Todos, de 112 mil ligações na zona rural, não só foi atingida como superada – hoje, já são 137 mil ligações concluídas.

Muitas outras obras estão em fase de conclusão e serão entregues ainda este ano aos cearenses. No total, são R$ 24,2 bilhões de recursos do PAC para o Ceará no período 2007-2010 e R$ 24,4 bilhões após 2010, de empreendimentos exclusivos e também regionais. Entre os regionais, isto é, que contemplam outros estados além do Ceará, citamos a Ferrovia Transnordestina e o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional, chamado também de Transposição do São Francisco. Os dois empreendimentos estão em obras.

Estamos também viabilizando pleitos históricos dos cearenses, como a Siderúrgica do Pecém e a Refinaria Premium II. Os descrentes — que quando governaram não realizaram obras significativas — ainda beberão no Ceará da água que chegará ao estado, graças à Transposição do São Francisco, e andarão nos trens da Ferrovia Transnordestina. O pior cego é aquele que não quer ver.

O Povo – Costuma-se ouvir, aqui no Ceará, que o fato de o senhor ter nascido em Pernambuco determina uma maior concentração de investimentos federais naquele estado. Há alguma relação entre as situações? O senhor admite que Pernambuco tem sido melhor tratado no Nordeste?


Lula – Não, isso é ciúme sem o menor motivo. Eu já disse várias vezes e vou repetir: tenho muito orgulho de ser caeteense, pernambucano e nordestino, mas esse fato conta muito apenas do ponto de vista pessoal, afetivo. No exercício da Presidência, tenho que olhar por todos os estados e por todos os brasileiros. Não posso privilegiar um município, um estado ou uma região porque sou natural dali ou então porque os governantes são da base de apoio do governo.

Só não trato a todos de maneira igual porque aí também seria injustiça. Privilegio aqueles brasileiros e aqueles locais que estão mais atrasados em relação aos demais. Busco o equilíbrio, atuo procurando reduzir as desigualdades sociais e regionais. Nesse ponto, levo em conta os ensinamentos de dona Lindu, minha mãe. Ela dizia que gostava de todos os filhos de maneira igual, mas que procurava dar mais atenção, alimentar melhor e botar para dormir com ela aquele que estivesse mais fraquinho, mais necessitado de cuidados. É essa a filosofia que sigo para o Nordeste como um todo.

Se você pegar os dados de emprego, vai perceber que, nos últimos 12 meses, foram gerados mais de 363 mil empregos com carteira assinada no Nordeste, número inferior apenas ao da região Sudeste. No Ceará, foram abertas 84 mil vagas nesse período — o segundo maior saldo da região, superando Pernambuco e ficando atrás apenas na Bahia.

O Povo– O palanque dos partidos aliados no Ceará enfrenta um problema relacionado às conveniências locais, quando parecem ameaçar as conveniências nacionais. O PT pode abrir mão da candidatura do deputado federal José Pimentel ao Senado para acomodar o interesse de aliados do porte do PSB do governador Cid Gomes e do PMDB do deputado Eunício Oliveira?
Lula – Todos esses nomes têm legitimidade e história para concorrer ao Senado. Em princípio, considero que não haverá dificuldade, uma vez que você citou dois nomes, Eunício Oliveira e José Pimentel, e estamos falando de duas vagas. A questão deve ser encaminhada e resolvida pelas lideranças e direções partidárias. O jogo ainda não acabou, e estou convencido de que, antes do apito final, será encontrada a melhor solução, de tal modo a manter unida a nossa base de apoio no estado. Dessa forma, seremos competitivos e conseguiremos eleger os que estão comprometidos efetivamente com o projeto político que nós estamos implementando e que conta com amplo apoio da população.

O Povo – De que forma o senhor avalia a saída do deputado federal Ciro Gomes da disputa presidencial em 2010 e como reage às especulações de que interveio junto a partidos aliados para que a candidatura dele não se viabilizasse?


Lula – Isso não existe. O PSB é um partido sério, formado por gente íntegra, comprometida com as mudanças e com o progresso econômico e social do nosso país. É um partido independente — eu posso garantir que seus dirigentes não se subordinariam a qualquer tipo de imposição que pudesse ter havido.

Ciro Gomes é um brasileiro formidável, foi um ministro muito eficiente e leal e reúne todas as condições para pleitear a Presidência. Ele é jovem e tem ainda um grande futuro pela frente. O que aconteceu foi que o PSB se reuniu e decidiu soberanamente que este ano o mais correto politicamente é apoiar a candidata que deve ser escolhida pelos partidos da base aliada.

Na verdade, estavam em jogo duas propostas: uma delas considerava melhor que a base aliada tivesse dois candidatos para enfrentar a oposição e forçar um segundo turno; e a outra, de que a base aliada deveria unir-se em torno de um só candidato desde o começo e não se dividir. A evolução dos acontecimentos deixou claro que essa última alternativa é a melhor. Não se trata de uma questão pessoal, mas de estratégia política.

Fonte: O Povo

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