sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dá para ganhar em São Paulo?



Fernando Borgonovi *


As pesquisas de intenção de voto para o governo do estado de São Paulo são desoladoras. De fio a pavio, todas dão de barato a vitória dos tucanos. Nenhum analista concede um misericordioso segundo turno às forças de oposição.

Como não sou analista, mas militante político, sinto-me à vontade para contrariar a unanimidade, pois acredito que os sinais de desgaste do PSDB se avolumam depois destes 16 anos ininterruptos sob abrigo do Bandeirantes.

Em todo este tempo, ficou patente a incapacidade dos seguidos governos em apresentar soluções duradouras para os graves problemas que assolam o estado. Nada indica - seja pelo não reconhecimento dos problemas, seja pela falta de vigor para implementar um outro programa - que este quadro seja revertido na atual campanha pelo consórcio governista representado na candidatura Alckmin.

Um rosário de problemas

Embora continue inquestionável, a participação paulista no PIB do país estagnou. O adensamento populacional e o crescimento desordenado das grandes cidades não encontrou adversários à altura. Não existiram, até agora, soluções urbanas eficazes em áreas nevrálgicas como habitação e transporte público.

Muito ao contrário, a expansão do Metrô, tão propagada, é tímida e coalhada de escândalos e tragédias - a cratera da linha Amarela não me deixa mentir.

A capital paulista, coitada, é vítima de seu próprio gigantismo e da recorrente opção pelo individual ante o coletivo. Este é o motivo que torna mais fácil abrir outra pista na marginal e roubar mais um trecho do leito do Tietê do que radicalizar no Metrô, nos ônibus, nas ciclovias e outras saídas que não mais asfalto e cimento.

As enchentes e as decorrentes mortes do final do ano passado e início deste mostraram, a quem quis ver, o resultado da combinação de falta de prioridade em política habitacional, impermeabilização irresponsável do solo e ocupação caótica. De certo, são problemas históricos, mas em uma década e meia de poderiam ter sido minimizados.

A despeito da truculência policial, a criminalidade também voltou a crescer. São Paulo também vive sob o signo da repressão. A resposta aos dramas juvenis dificilmente é dada por políticas públicas que valorizem o estudo, gerem emprego e renda, possibilitem a qualificação. Ao contrário, viraram moda os toques de recolher juvenis decretados em várias cidades pequenas e médias do interior. Ao horror do crack é contraposta a política de higienização do centro paulistano.

Sem contar os índices deploráveis na área educacional, na saúde pública, a falta de democracia com movimentos sociais e o rosário de problemas que assolam o estado.

Fissuras no condomínio governista

Outros fatores concorrem, ao meu ver, para que a eleição não seja um passeio para Alckmin. Dos mais graves é a coleção de desafetos no ninho tucano e adjacências e as fissuras no outrora indivisível condomínio de poder paulista.

Josias de Souza saiu com ótima caracterização do PSDB outro dia. Disse que é "um partido de amigos integralmente composto por inimigos". Nada mais verdadeiro. Serra não gosta de ninguém, mas gosta menos de Alckmin. Teve de ceder à candidatura do ex-governador para garantir um palanque forte, o que acabou gerando a derrota de Aloysio Nunes. Este, para ser compensado, escanteou José Aníbal da disputa ao Senado. Feridas que não se curam do dia para noite.

Mas o caso do prefeito da capital parece o mais grave de todos. Que vantagem Kassab leva com a eleição de Alckmin governador, posto que o próprio almeja para seu futuro político? Aparentemente...

Situação nova e melhor para a oposição

Some-se a tudo isso uma novidade: nunca se conseguiu reunir um leque tão amplo de apoios à candidatura oposicionista no estado. Uma aliança de 12 legendas sustentará Mercadante, dentre elas o PCdoB, o PDT, o PR e o PRB. Acredito que a chapa também jamais foi tão forte: as candidaturas de Marta e Netinho para o senado têm grande potencial eleitoral e podem agregar votos ao postulante a governador.

A boa situação nacional tem que entrar na conta. Se na eleição passada o campo do governo Lula atravessava a aridez de três desertos por aqui, a cena hoje é outra na terra dos bandeirantes. A colossal aprovação do governo e do presidente já se faz sentir no crescimento de Dilma no sudeste. No último Vox Populi, por exemplo, a ex-ministra já igualou Serra na região, o que seria impossível sem um desempenho pelo menos razoável em São Paulo. O mesmo levantamento assinalou que, ainda no sudeste, 56% dos entrevistados votariam com certeza (16%) ou poderiam votar (40%) num candidato a governador apoiado por Lula.

Sim, dá para ganhar em São Paulo

Considero que o momento é de animar a tropa e movimentar todos os esforços para colocar o maior, mais rico e mais populoso estado em sintonia com as mudanças que ocorrem no país. É preciso que a militância não esmoreça com pesquisas, mas seja alimentada de entusiasmo – tarefa política de primeira ordem e de responsabilidade dos candidatos, lideranças partidárias e movimentos sociais.

Por fim, em resposta à pergunta-título deste artigo, eu diria: sim, dá para ganhar em São Paulo.


* Jornalista, diretor de Comunicação da UJS


Portal Vermelho

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