terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pesquisas esfarelam a candidatura de José Serra


Na véspera do início da propaganda eleitoral na televisão,nesta terça-feira (17), a unanimidade entre as pesquisas de opinião é o esfarelamento da candidatura do candidato da oposição, o tucano José Serra: todos eles mostram a queda persistente do apoio ao ex-governador de São Paulo, e o crescimento da preferência por Dilma Rousseff, a candidata das forças progressistas.

O instituto DataFolha, de propriedade da família Frias (dona da Folha de S. Paulo) foi retardatário no reconhecimento da dianteira de Dilma, mas divulgou na semana passada resultados avassaladores para a campanha tucana: 41% para a candidata da esquerda e 33% para seu adversário conservador. Uma diferença de oito pontos. Na simulação do segundo turno a situação é reafirmada e Dilma aparece com 49%, contra 41% para Serra. O instituto Sensus dá uma diferença maior: 41% para Dilma e 31% para Serra, uma distância de 10 pontos entre os dois candidatos.

Era de se esperar que isso acontecesse devido aos altos níveis de aprovação do governo Lula e do estado de espírito da população que muitos analistas descrevem como "sentir-se bem". A economia cresce, elevando os níveis de emprego, a renda do trabalhador e o consumo, uma conjunção de fatores que se reflete na percepção do eleitorado de que, usando uma imagem futebolística, em time que está ganhando não se mexe: Dilma representa a continuidade, e Serra o retrocesso neoliberal.

A tendência indicada pelos institutos de opinião permite algumas conclusões. Uma diz respeito à ilusão tucana a respeito dos chamados formadores de opinião. Seus sonhos foram naufragando ao longo dos últimos meses. Tentaram atrair Aécio Neves como vice de José Serra; perderam e não conquistaram sequer o entusiasmo do tucano mineiro, e o resultado é o pântano em que a candidatura da direita neoliberal vive em Minas Gerais, onde as pesquisas de opinião mostram Dilma com dez pontos percentuais à frente de José Serra.

Depois, imaginaram que o crescimento de Dilma seria lento, dando larga margem para a consolidação da candidatura de José Serra; isso não aconteceu e, na medida em que o nome de Dilma e sua postulação à Presidência da República foram ganhando público, sua aceitação foi sendo traduzida no crescimento revelado pelas pesquisas de opinião.

Apostaram também no diversionismo representado pela candidatura de Marina Silva, do PV, que tiraria o caráter plebiscitário da eleição presidencial e forçaria a comparação entre as pessoas dos candidatos, e não os programas que defendem e os governos a que serviram. A ilusão era de que o crescimento de Marina tiraria votos de Dilma Rousseff, levando a eleição para o segundo turno. Isso também não aconteceu e ela patina nos 10 pontos percentuais.

Outra ilusão tucana que vai virando pó é a crença no papel da classe média e da televisão como formadores de opinião. A perda de consistência desse papel já havia sido revelada pela eleição de 2006, e agora é ressaltada. O eleitorado brasileiro está em processo de amadurecimento e a velha hierarquia que colocava amplos setores populares a reboque da opinião das camadas "mais esclarecidas da população" (a classe média) vai sendo deixada para trás justamente pela presença de um governo focado em políticas sociais favoráveis aos mais pobres. E detestadas por aquelas camadas privilegiadas que, cada vez mais, são forçadas a se defrontar de igual para igual com seus subordinados, mesmo com a permanência da profunda desigualdade social e de renda.

Os oito anos de governo Lula foram marcados por um aprendizado democrático que o povo não despreza. São lições que vão roendo o prestígio dos antigos formadores de opinião e o povo ousa fazer sua própria experiência política, rejeitando a linguagem daqueles que falam de cima para baixo e escondem, em discursos "esclarecidos", seus próprios interesses na manutenção de uma ordem social que garante seus privilégios.

Vivendo nas redomas dos bairros "nobres", de setores das academias e das salas de comando das grandes empresas, os tucanos não perceberam a mudança que ocorreu entre o povo. Falam uma linguagem que o povo não entende e não aceita mais, a linguagem de José Serra para esconder seu verdadeiro programa, neoliberal, privatizante, antidemocrático e antinacional, que fica escamoteado pelo discurso “moralista” envelhecido e sem ressonância popular, passando uma imagem falsa em que o eleitor, com razão, não confia.

Pesquisas de opinião não decidem eleição. Elas não têm o significado legal dos números que saem das urnas, embora os dados atuais sejam muito favoráveis a Dilma Rousseff, indicando inclusive que a eleição pode ser decidida já no primeiro turno. Mas toda prudência é bem-vinda, sinalizada pelo próprio comando de campanha da candidata da esquerda, que recomenda o uso de mocassins, não de salto alto pois o caminho para o Palácio do Planalto vai sendo pavimentado, mas ainda é pedregoso e irregular. Portal Vermelho

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