Ao completar 20 anos, o Foro de São Paulo, que agrupa as esquerdas latino-americanas, se reúne entre 17 e 20 de agosto, em Buenos Aires, para passar em revista sua trajetória, comemorar conquistas e debater desafios. De acordo com Valter Pomar, secretário executivo do Foro e dirigente do PT, a principal tarefa que a organização tem pela frente é articular partidos, movimentos e governos, “na batalha contra as elites de cada pais, a pressão dos EUA e a herança deixada pelo neoliberalismo”.
Em entrevista ao Vermelho, ele fala sobre os avanços das forças progressistas nessas duas décadas, mas, em ano eleitoral no Brasil e na Venezuela, alerta para uma contra-ofensiva da direita. “Temos que evitar qualquer tipo de postura triunfalista. Não devemos, nunca, subestimar a direita local e os seus aliados, seja na Europa, seja nos Estados Unidos”, coloca.
Pomar fala ainda da iniciativa do Foro de criar um observatório de governos progressistas, disponibilizando, na internet, textos que permitam acompanhar o que ocorre nos países e debatendo sobre esse material.
Na entrevista, concedida por e-mail, Pomar afirmou que o conflito envolvendo Bogotá e Caracas deve ser avaliado no encontro. Ele defendeu um acordo de paz na Colômbia e opinou que, da parte da guerrilha, “um sinal poderia ser um cessar fogo unilateral, libertar os prisioneiros e informar se aceitam a mediação, por exemplo, da Unasul”. Leia abaixo:
Vermelho: O FSP está fazendo 20 anos. O que mudou nesse período na e para a esquerda latino-americana?
Valter Pomar: Quando começamos o Foro, o socialismo estava em colapso, o neoliberalismo em ofensiva e os Estados Unidos reinando solitário. Hoje, os EUA estão tentando evitar seu próprio declínio, o neoliberalismo está em retirada e o socialismo volta a ser debatido. Como síntese disto, muitos países da América Latina hoje são governados por partidos de esquerda.
Vermelho: Qual o objetivo do XVI Encontro do Fórum?
VP: Debater como aprofundar as mudanças, acelerar a integração regional, derrotar a direita, acentuar a unidade entre as distintas esquerdas da região e dotar o Foro de mecanismos organizativos que permitam fazer dele um espaço de reflexão e articulação, para construir e implementar uma estratégia que, no limite, visa a criar um novo modelo de desenvolvimento para a região, um modelo democrático-popular, articulado com o socialismo.
Vermelho: Quais os desafios e perspectivas do Fórum?
VP: O desafio fundamental do Foro é articular os partidos de esquerda na região, com os movimentos e governos, na batalha contra os três principais problemas que enfrentamos: as elites de cada pais, a pressão dos EUA e a herança deixada pelo neoliberalismo, do desenvolvimentismo conservador e do colonialismo.
Vermelho: O novo encontro ocorre num momento em que Bogotá e Caracas tentam superar o conflito provocado por acusações de que a Venezuela teria abrigado guerrilheiros das Farc. Esse assunto deve ser pauta das discussões? Na programação há um debate sobre defesa regional...
VP: Certamente o assunto será tratado. A título pessoal, gostaria que o Foro aprovasse uma resolução indicando claramente que não existe saída militar para o conflito na Colômbia; que a saída é um acordo de paz; que o novo governo colombiano e as guerrilhas devem tomar medidas práticas neste sentido; e que, da parte da guerrilha, um sinal poderia ser um cessar fogo unilateral, libertar os prisioneiros e informar se aceitam a mediação, por exemplo, da Unasul.
Verrmelho: A reunião também acontece a um mês da eleição venezuelana e a dois da disputa brasileira. Qual a importância desses dois eventos para o trabalho desenvolvido no FSP? Também estarão em debate?
VP: Em debate, propriamente, não, uma vez que o Foro não tem nenhum tipo de ingerência sobre a tática eleitoral adotada no Brasil e na Venezuela. Mas certamente haverá informes a respeito, uma vez que o resultado destas duas eleições afeta o conjunto da esquerda latino-americana.
Vermelho: Depois de uma década de muitas conquistas para a esquerda, nota-se uma reação da direita (vide o golpe de Honduras e as eleições no Panamá, no Chile e na Argentina). Qual deve ser a posição do Fórum sobre o tema?
VP: Primeiro, reafirmar a existência desta contra-ofensiva e evitar qualquer tipo de postura triunfalista. Não devemos, nunca, subestimar a direita local e os seus aliados, seja na Europa, seja nos Estados Unidos. Segundo, o Foro deve, respeitada a legislação de cada país, identificar como pode ajudar a esquerda no México, no Peru, na Colômbia, no Chile, no Panamá, em Honduras, etc. No caso da Argentina, minha impressão é que o quadro virou e que as forças de centro-esquerda já estão achando o caminho para vencer as próximas eleições presidenciais.
Vermelho: O encontro pretende criar uma espécie de observatório de governos progressistas. O que é e como funcionará?
VP: Nós falamos muito, mas na verdade conhecemos pouco o que estão fazendo, em termos práticos, cada um dos governos progressistas e de esquerda. O Observatório tem este propósito. O primeiro passo é disponibilizar, numa página web, os documentos e os links que permitam a qualquer um acompanhar o que ocorre nos países, seus dados fundamentais etc. O segundo passo é iniciar um processo de debate e reflexão sobre o que fazem os atuais governos.
Vermelho: Acontecerá também o segundo encontro da Juventude do FSP. Qual a importância dele?
VP: A esquerda vive do futuro, não do passado. E o futuro dependerá, em boa medida, de nossa capacidade de integrar as novas gerações ao processo político, à formação cultural e ideológica.
Vermelho: A imprensa, em geral, não dá muito espaço para o Fórum. Desta vez está sendo assim também? Por quê?
VP: O problema é duplo: não dão espaço, mas quando dão, é para distorcer. Os motivos são variados, o principal dos quais é que eles encaram o Foro de SP como uma espécie de "internacional" que estaria por trás das conquistas da esquerda desde 1998. Há colunistas e articulistas que têm uma visão meio conspirativa das coisas. Não percebem que o grande responsável pelas vitórias da esquerda, na América Latina, é a própria direita, sua cupidez, seu conservadorismo, sua submissão aos modelos neoliberais. Foi contra isto que o povo votou, foi por causa disto que o povo votou na esquerda.
2 comentários:
Ferreira Gular escreve: «O Brasil está atravessando um momento crucial. A América Latina, de maneira geral, está vivendo uma experiência que pode ter como consequência grave um renascimento do populismo. Num momento em que, no mundo, o socialismo real acabou e a visão socialista deixou de ser a grande utopia, de repente, aqui na América Latina surge um pseudo-socialismo que, na verdade, muda a relação que havia entre o socialismo que era um conflito entre a classe operária e a burguesia. Agora é entre pobres e ricos. E isso resulta na criação de governos populistas que, na verdade, enganam a opinião pública e que cerceiam as liberdades. E uma das tendências é reduzir ao máximo a liberdade de opinião, como se está vendo na Venezuela. Aqui no Brasil não aconteceu, pelo menos por enquanto, mas houve tentativas de controlo da opinião pública, de criar conselhos de imprensa sobre controlo do governo. O Lula sonhou em fazer, mas não consegue porque o Brasil é um país muito mais complexo e muito mais avançado. Mas não se sabe o que vai acontecer se a Dilma [Rousseff] for eleita, porque eles já se estão apropriando de muitos sectores.»
Joshua, FG se vendeu ao capital internacional.Ele não sabe o que diz.
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