terça-feira, 9 de outubro de 2012

Elitismo transparente no artigo de FHC

 
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a principal liderança nacional sem mandato na oposição, continua ativíssimo, o que é ótimo, na sustentação do grande debate político nacional. Além de entrevistas, palestras, seminários etc., quase diários, ele ressurge a cada 15 dias com seu artigo nos grandes jornalões, O Globo e O Estado de S.Paulo.
 
 
É o caso deste fim de semana em que ele fala que o Brasil montou o arcabouço, já tem as instituições democráticas, mas falta espírito e exercício de cidadania democrática por parte da população. O ex-presidente FHC dá alvíssaras ao julgamento da AP 470 em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), mesmo reconhecendo que esse julgamento "quase parou o país em pleno período eleitoral."
 
 
Até parece que a direita, os conservadores - com a mídia à frente -, não fizeram de tudo e não pressionaram para que o julgamento se desse na data e forma como ocorre até agora para chegar até o dia da eleição. "A condenação clara e indignada (pelos ministros da Corte) do mau uso da máquina pública revigora a crença na democracia", diz em certo trecho o ex-chefe do Estado brasileiro.
E a compra de votos para a reeleição?
 
 
Já sobre o fato de a compra de votos para a reeleição (mudança da qual ele foi o primeiro beneficiário) não ter sido apurada, de o "engavetador" Geral da República do tempo dele não ter aberto processo e nem feito a denúncia, e dos parlamentares que venderam o voto terem renunciado ao mandato para não serem investigados pelo Congresso etc., ele não diz uma palavra.
 
 
Tampouco fala da não apuração do "mensalão" de Minas (do deputado Eduardo Azeredo - PSDB-MG), parada há anos. Nem dos mais de 40 escândalos não apurados no governo dele. Mas o que FHC queria mesmo neste seu artigo quinzenal está no final do texto: propor uma aliança PSDB-PSB em 2014.
 
 
"Faz falta agora, mirando 2014, que os partidos que poderão eventualmente se beneficiar do sentimento contrário ao oportunismo corruptor prevalecente, especialmente PSDB e PSB, se disponham, cada um a seu modo ou se aliando, a sacudir a poeira que até agora embaçou o olhar de segmentos importantes da população brasileira", diz FHC ao defender a aliança PSDB-PSB para as eleições nacionais daqui a dois anos.
 
 
Não acredito nessa aliança PSDB-PSB para 2014.
 
 
Sucesso para o ex-presidente em suas empreitadas em torno da formação desde já de uma aliança nacional PSB-PSDB - o que duvidamos. Mas, se vingar e acontecer, não será a primeira vez que o PT enfrenta uma eleição sem o PSB e outros aliados.
 
 
Só para ficar em um exemplo, o presidente Lula foi eleito em 2002 disputando com o tucano José Serra (que era apoiado pelo PMDB), com o ex-ministro Ciro Gomes, da coligação PPS-PTB-PDT e com o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, então do PSB.
 
 
Agora, o artigo de FHC deste fim de semana é de um elitismo e de uma hipocrisia lamentáveis. No fundo, em seu texto o ex-presidente termina dizendo que, como sempre, o povo não sabe o que faz. Que seu governo não foi acusado de corrupção e uso dessa máquina. E que o PSDB não usa a máquina pública. Isto tudo com seu partido campeão de ficha-sujas impugnados nesta eleição pela Justiça Eleitoral.Blog do Dirceu

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