sábado, 27 de novembro de 2010

Zé Trindade, Dilma e a transição



Luciano Siqueira *


Personagem do comediante Zé Trindade, em programa humorístico na Rádio Mayrink Veiga, entre os anos 50 e 60, convida os amigos para ajuda-lo a construir um galinheiro, numa manhã de domingo. Entre a fixação de um barrote e de uma ripa, tome pinga e cerveja – e muito palpite. Era palpite pra todo lado, e o galinheiro só ficou pronto ao final da tarde. Muita hidroxila na cuca, comemoravam a grande obra quando descobriram um detalhe: estavam todos presos no galinheiro porque, embriagados, haviam esquecido de fazer a porta.

Claro que as situações são muito diferentes. Mas uma coisa lembra a outra. Iniciada a transição para o novo governo, todos – partidos e personalidades influentes – dão palpites e apresentam pleitos, admissíveis certamente. A política é assim, a vida é assim.

Até a grande mídia, que perdeu a guerra eleitoral, se mete a “interpretar” os desejos da presidenta eleita na tentativa de pautar o novo governo. Sai Mirelles, entra Tobini na presidência do Banco Central. “Nada muda na política macroeconômica”, asseveram de pronto articulistas tucanóides. E assim por diante.

Dilma tem clareza de rumos e pulso suficiente para ouvir a todos e tomar as decisões necessárias. Não há risco de concluir a montagem do governo enclausurada e tonta, como os amigos pinguços de Zé Trindade. Nem permitirá que a pressão midiática a faça recuar em seus propósitos.

Agora cabe distinguir palpites e propostas consistentes; pleitos descabidos e reivindicações justas.

Caso do PCdoB, que levou à equipe de transição um documento conciso e certeiro. Medidas de enfrentamento da guerra cambial que resguardem o processo de industrialização do país e garantam o controle sobre o fluxo de capitais estrangeiros. Juros compatíveis com a necessidade de investimentos produtivos. Conclusão do marco regulatório do Pré-Sal. E, na outra face da economia, aumento real do salário mínimo, jornada de trabalho de quarenta horas semanais; melhoria dos serviços públicos, promoção da segurança do cidadão. E outros itens mais, sintonizados com a ideia de “continuar e avançar”.

Os comunistas têm autoridade para assim procederem, infensos a práticas fisiológicas e a disputas cegas por cargos e posições no governo. Na gestão que finda, quadros do PCdoB cumpriram com inquestionável êxito as missões que receberam do presidente Lula, notadamente no Ministério do Esporte e na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). E jamais arredaram o pé de uma correta postura ao um só tempo propositiva e crítica.


* Médico, vereador em Recife, membro do PC do B

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