quinta-feira, 21 de agosto de 2008

PEROBRÁS IRÁ CONTRATAR 40 MIL FUNCIONÁRIOS

Maior e mais poderosa

Para transformar o petróleo das profundezas do oceano em riqueza, a Petrobras terá, primeiro, de transformar a si própria

Por Malu Gaspar

EXAME -Desde janeiro, mais de 40 funcionários da Petrobras, todos com cerca de 20 anos de casa, trabalham numa ampla revisão do planejamento da companhia para 2020. Até setembro, eles devem apresentar à cúpula da estatal um plano para torná-la mais ágil e equipada para explorar reservas descobertas nas áreas do pré-sal, como é conhecida a formação geológica a 4 000 metros abaixo do fundo do mar. Especialista em retirar petróleo de grandes profundidades, a Petrobras sabe que está diante de um desafio inédito e gigantesco, capaz de elevá-la a um novo patamar num mundo cada vez mais ávido por petróleo e energia.
Por isso, embora oficialmente se fale apenas em uma revisão, as mudanças que estão por vir na maior empresa brasileira são, na prática, uma reinvenção. O ritmo de tomada de decisões terá de ser simplificado e acelerado. Mais de 40 000 novos funcionários serão contratados e treinados. As políticas de manutenção dos melhores profissionais terão de ser mais eficazes.
Toda a logística da exploração de petróleo deve ser revista. Os investimentos previstos — que já eram de impressionantes 112 bilhões de dólares até 2012 — serão redimensionados. A maneira de captar recursos também. “Estamos prestes a passar por uma transformação intensa e rápida”, disse a EXAME, em julho, o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli.
A empolgação com o futuro era tanta que, nos bastidores, falava-se que o pré-sal poderia transformar a Petrobras na maior companhia do mundo em reservas e produção de petróleo e gás. Mas, nas últimas semanas, esse ímpeto arrefeceu. A possibilidade de que o governo crie uma nova estatal para administrar as reservas do pré-sal caiu como água fria na fervura. “O clima não é bom. Toda essa incerteza desanimou o pessoal”, diz um dos executivos envolvidos na elaboração do plano.

Em tese, não há motivo para desânimo.
O novo planejamento estratégico da Petrobras leva em consideração apenas os 11 blocos do pré-sal já arrematados pela empresa, em parceria com outras sete petrolíferas estrangeiras. Apesar da grita dos acionistas, a Petrobras continua tendo ótimas perspectivas de lucros com o pré-sal. “Não passa pela cabeça de ninguém que a Petrobras possa perder as áreas que já tem”, diz um diretor. Segundo Gabrielli, a estatal começará a retirar óleo e gás para valer do pré-sal em 2015, quando, espera-se, a produção deverá passar do 1,9 milhão de barris diários para 4,1 milhões. Suas reservas, hoje em 14 bilhões de barris, podem mais que dobrar, dependendo da quantidade de óleo disponível no pré-sal. Tudo isso continua como está.
O que pode mudar, segundo o que foi dito até agora por membros do governo, é a perspectiva de novos ganhos. Caso seja criada uma estatal para ser dona do novo petróleo — o que, ressalte-se, ainda não passa de uma idéia defendida por setores do governo —, a Petrobras teria menos oportunidades de acrescentar novas reservas a seus ativos. A conta se baseia numa estimativa de que pelo menos três quartos do volume de óleo do pré-sal estão em áreas ainda não licitadas. “Sem novas reservas, a tendência é a companhia se desvalorizar”, diz David Zylberstajn, ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo, órgão regulador do setor.

A ironia é que o recente debate sobre um novo modelo para o petróleo decorre dos grandes avanços da Petrobras. Foi graças aos investimentos em pesquisa e tecnologia, por exemplo, que a empresa chegou ao pré-sal. A descoberta levou a Petrobras a atingir, em maio, o terceiro maior valor de mercado entre companhias abertas das Américas, superando a Microsoft. (Parte dessa valorização seria perdida posteriormente devido às oscilações no preço do petróleo, aos temores de um desaquecimento da economia mundial e às incertezas em relação ao futuro da estatal.) O presidente Lula tem dito a seus interlocutores mais próximos temer que a estatal se torne “poderosa demais”, mais até do que o próprio governo, caso detenha o comando da exploração das novas reservas.
Esse tipo de afirmação, sempre feita sob anonimato por pessoas próximas ao presidente, irritou profundamente os executivos da Petrobras nos últimos dias. Procurado por EXAME, o presidente da estatal, que havia dado entrevista sobre o pré-sal em julho, não quis comentar as últimas declarações vindas de Brasília.
A Lula também não agrada o fato de a Petrobras ter de prestar contas a acionistas no Brasil e no exterior, donos de 68% de seu capital. “Graças a eles, a Petrobras ganhou competitividade e transparência”, diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Estudos de Infra-Estrutura. “São eles que impedem que a companhia seja usada como instrumento político, como acontece com a PDVSA, na Venezuela.”
Fonte: Exame.
Comentários.
Enquanto isso, empresas privatizadas demitem funcionários em massa.

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