sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A FABRICAÇÃO DE SERRA


12/12/2008

Mauricio Dias

A dois anos da eleição presidencial é aconselhável olhar com mais prudência os resultados da pesquisa Datafolha, divulgados na segunda-feira 8, sobre o confronto de 2010. Entre as quatro paredes do Palácio dos Bandeirantes, o governador José Serra certamente terá sido mais comedido do que os meios de comunicação que celebraram o resultado que deu a ele 41% das intenções de voto, ante 15% de Ciro Gomes, 14% de Heloísa Helena e 8% de Dilma Rousseff.

Há uma tentativa de fabricar um presidente, o presidente Serra, com o objetivo de influenciar o eleitor.

É preciso olhar com mais atenção tudo o que a pesquisa revela. Não dá para ignorar, por exemplo, o voto espontâneo, que, apesar do desapreço dos analistas amestrados, é considerado um resultado importante. O nome na ponta da língua revela o que está guardado na cabeça. O sociólogo Marcos Coimbra, do instituto de pesquisas Vox Populi, considera o voto espontâneo uma possibilidade mais consistente do que o voto induzido. A resposta espontânea expressaria mais do que uma manifestação da memória recente.

Vejam o que esses porcentuais revelam: descartado o nome de Lula (com 25% das citações), os tucanos ocupam o espaço seguinte. O paulista José Serra tem 6%, o mineiro Aécio Neves atinge 4% e o também paulista Geraldo Alckmin fica com 2%. Nesse patamar de 2% também estão presentes Ciro Gomes, Heloísa Helena e Dilma Rousseff.

Os tucanos unidos somam 12% das menções. Alckmin está fora da disputa. Serra e Aécio beneficiam-se do cargo que ocupam. O governador paulista conta ainda com o recall de uma passagem bem-sucedida pelo Ministério da Saúde (com FHC) e duas disputas eleitorais. Em 2002, perdeu para Lula e, em 2006, ganhou o governo estadual.

Os dois tucanos gozam também da vantagem de governar os maiores colégios eleitorais do País. Isso pesa nas pesquisas. São Paulo tem pouco mais de 23% do colégio eleitoral brasileiro. Minas Gerais detém em torno de 11%, menos da metade do contingente paulista. Projetada essa votação no colégio eleitoral do País, os 4% de Aécio são mais expressivos do que os 6% de Serra.

Tem mais. O porcentual de 41% alcançado pelo governador paulista na pesquisa induzida, com apresentação dos nomes para a escolha do entrevistado, reafirma que não houve efeito das eleições municipais no comportamento do eleitor, embora os torcedores tenham batido lata, anunciando Serra como o grande vitorioso no primeiro e no segundo turno. A variação para mais obtida agora é pouco maior do que ele tinha antes da “vitória municipal”. Uma situação “que já ocorria”, segundo o Datafolha, na pesquisa realizada em março deste ano.

Serra é um nome forte. Lidera agora a corrida para a Presidência. Mas em eleição nem sempre quem larga na frente chega em primeiro, como atestam três das quatro eleições para a Presidência da República disputadas por Lula. O embate em 2010 vai ser duro.
CartaCaptal.

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