Luciano Siqueira *
Como antigamente. Afinal, a História se repete, mesmo como farsa, não é? Tal como a UDN, partido da elite direitista articulada com o grande irmão do norte, a oposição demo-tucana faz muito barulho, carece de propostas consistentes para o país e adora seguir o império norte-americano, mesmo quando se trata de defender golpes de Estado, esse anacronismo que teima em recrudescer de vez em quando em nosso subcontinente.
A UDN (União Democrática Nacional), que teve presença ativa na cena política da redemocratização, em 1946, ao golpe militar de 1964, adotava a consigna “o preço da democracia é a eterna vigilância”. E vigiava toda e qualquer possibilidade de avanço no sentido da afirmação do Brasil como nação soberana, da ampliação dos processos democráticos ao povo e de novas conquistas sociais. No auge do movimento pelas reformas de base, fim dos aos 50 e início dos anos 60, pregava abertamente o golpe. Daí se tornar conhecido, o partido, como vivandeira dos quartéis. Um dos seus próceres mais proeminentes, Carlos Lacerda, chegou a dizer de Juscelino que não podia ser eleito; se fosse eleito não deveria tomar posse; e se tomasse posse teria que ser derrubado. Até que conseguiu, de mãos dadas com os militares e sob as tutela do Departamento de Estado dos EUA, o golpe de 1964.
Mas o mundo dá muitas voltas e o Brasil também. Após 25 anos de regime militar, sob pressão popular e de amplos segmentos da sociedade e mediante penoso “acordo por cima”, restaurou-se nossa tênue democracia. E por caminhos tortuosos, chegamos aonde chegamos: sob o governo de centro-esquerda liderado pelo operário metalúrgico, o país enfim envereda pela superação do neoliberalismo e dá passos no rumo antes interrompido (em 1964) e vislumbra um futuro soberano, mais democrático e socialmente menos injusto. Aí a velha UDN reaparece enrustida no PSDB e no Democratas, reproduzindo com feição semelhante, o discurso e a prática de outrora.
Alguma proposta alternativa ao rumo que o país segue? Não. Alguma contribuição efetiva para que o processo democrático avance? Nada disso. Importa paralisar o governo, se possível o país, no desejo de que desse modo se instaure o impasse político e social e, quem sabe, tenha alguma chance de recuperar as rédeas da nação no pleito de 2010. Daí a gritaria demagógica em prol da moralidade pública (sic), o manejo de CPIs desprovidas de fundamento e inócuas, a obstrução parlamentar não como exceção mas como regra de conduta na Câmara e no Senado.
E para completar, os neo-udenistas acabam de receber o sinal verde de Washington e passam a desancar o presidente deposto Zelaya, de Honduras, como se fosse ele o golpista! Como corrente política, retomam o fio da própria História e encurtam o caminho para a cesta do lixo.
* Médico, vereador em Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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